Bananas is my Business

 

O resultado eleitoral mais aguardado do ano, da eleição dos EUA, foi uma vitória esmagadora de Trump. Para os norte-americanos será uma era de inúmeros retrocessos. Com maioria nas duas casas legislativas, vai liquidar de vez com o agonizante modelo de democracia liberal  instaurado pela Revolução Americana.

Para os demais países do mundo as consequências são imprevisíveis. Neste momento, proliferam muitas especulações. Alguns analistas dizem que será uma gestão pragmática e mais protecionista. Resta saber o que se entende por esse “pragmatismo”. 

Putin, pelo que se diz, sempre preferiu Trump. Afinal, falam uma linguagem parecida. Um quer restaurar a Grande Rússia. O outro quer fazer a “América grande”  outra vez. Putin sabe que o grande adversário dos EUA é a China. Essa é que será a grande briga de cachorro grande. São grandes as chances da Ucrânia ser entregue à própria sorte. Já o apoio ao genocídio praticado pro Israel prosseguirá. Resta saber se continuará a despejar recursos até a “solução final” ou se optará por uma pausa, mantendo uma guerra de atrito menos dispendiosa.

Por outro lado, as garras do Tio Sam serão mais agressivas naquilo que ele considera o seu quintal. E é aí que entra o destino da maior República Bananeira do planeta. Mas já dá para especular que, para o Brasil, o cenário futuro é muito ruim. Assim como para toda a América Latina. Golpes à vista na Colômbia e Bolívia, risco de guerra civil e intervenção  na Venezuela, ações de desestabilização em diversos países (México que se cuide).

A língua solta de Lula já criou um problema de saída: declarou torcer por Kamala e chamou Trump de nazista. Isso não será esquecido pelo recém-eleito.

O nazifascismo brazuca está em polvorosa. Já estavam animados com os resultados anêmicos da esquerda nas eleições municipais. Sabem que, na hora de uma “escolha difícil”, o Centrão pula no barco deles. Agora contam que terão o apoio dos EUA  para seus intentos. Sonham com a anistia dos golpistas e que Elon Musk voltará a desafiar o Xandão, o único agente institucional que, de fato, impõe limites ao neofascismo. Os próximos dois anos serão tenebrosos.

Naquela encenação do Trump servindo hamburgers num McDonalds, a inclusão de uma brasileira no roteiro não foi aleatória. Vem chumbo grosso por aí. 

Lula é hábil o suficiente para negociar com o novo governo dos EUA. O problema é que, sem grande poder de barganha,  o preço cobrado será caro, muito caro. As concessões feitas aos democratas (veto à Venezuela no BRICS e a preferência por “sinergias” com a nova rota da seda) serão fichinhas perto do que será exigido. 

Diante disso tudo, o mundo democrático refaz agora a clássica pergunta: O que fazer?

Eleições municipais na Bananolândia:

Tudo (quase tudo) como dantes no quartel de abrantes” na nossa República das Bananas.

Tivemos análises para todos os gostos acerca das eleições municipais. Até os derrotados usaram a famosa “teoria da pilha” em suas avaliações (sempre tem um lado positivo…). Porém, na essência, pouca coisa mudou na república bananeira. Conforme o entendimento deste blog, o que caracteriza uma república das bananas é um tripé formado por uma elite dominante de corte agrário-exportadora, instituições militares anacrônicas e uma classe política patrimonialista-paroquial.  Analisando os resultados das urnas, vemos que essa hegemonia se manteve, com ligeiras variações. 

O grande vencedor foi o patrimonialismo paroquial, impulsionado pela ampliação do controle do Congresso sobre orçamento via emendas  PIX. Nada muito diferente do que sempre foi. Os velhos PMDB e PFL agora se diluem nas novas legendas fisiológicas do “Centrão” (PSD, União Brasil, Republicanos, etc). 

A extrema-direita, o neofascismo, fincou o pé em 30% do eleitorado, além de ter vencido em cidades importantes com candidatos bizarros (Cuiabá é um exemplo).  E colocou candidatos com desempenhos inacreditáveis no segundo turno, até mesmo em cidades que viveram tragédias por conta do negacionismo (Porto Alegre e Manaus). Uma nova e intrigante realidade que veio para ficar por um longo período.

Os partidos de esquerda poderiam comemorar um pequeno avanço numérico em número de vereadores e prefeituras. Só que tomou uma coça nas grandes cidades do país. Em Belo Horizonte, foi um fiasco histórico. Nas cidades maiores onde chegou ao segundo turno, ganhou apenas em Fortaleza, e por uma margem mínima.  No simbólico ABC, perdeu em todas, salvando apenas Mauá. No “novo ABC”, Resende e arredores, lugar em que as novas montadoras estão se instalando, não foi eleito um vereador de esquerda sequer.  Em Belém, o candidato à reeleição nem foi ao segundo turno, superado por um negacionista climático, logo na cidade que irá sediar a COP2025. Resta “comemorar” as vitórias das coligações “frente ampla”, que derrotaram os candidatos da extrema direita em algumas cidades grandes. Convenhamos, é pouco, muito pouco.

O mais preocupante, no entanto, é que vimos o fisiologismo e o neofascismo cacifarem muitos de seus nomes para a disputa do Senado em 2026. Se esse projeto for vitorioso, a governabilidade do próximo presidente ficará totalmente refém do que existe de pior na sociedade brasileira. Sem falar na ruína do sistema de “pesos e contrapesos”, caso o Senado tenha maioria para avançar na destituição de ministros do STF. Retrocessos gigantescos à vista. A vitória folgada de Trump, com o Elon Musk de cabo eleitoral, é um prenúncio de que poderemos voltar a viver situações dramáticas por aqui.

As candidaturas baseadas em “bandeiras identitárias” tiveram alguns avanços. Porém também demonstraram os limites deste tipo de estratégia política. Foram eleitos 231 dos 3.040 candidatos registrados no TSE como LGBTQIA+. Dos  27 trans eleitos num universo de 967 candidaturas, 19 foram eleitos por partidos de centro-direita e extrema-direita (PP, PL, União Brasil e Republicanos). 

Houve um ligeiro aumento entre as mulheres eleitas vereadoras e prefeitas,  que ocuparão cerca de 17% destes cargos eletivos. Só que 80% delas também por partidos de centro-direita ou extrema direita.

Cerca de 53% dos candidatos se declararam ao TSE como pretas ou pardas (56% da população do país segundo o IBGE), porém somam apenas 1/3 dos candidatos eleitos. A preferência partidária seguiu o mesmo padrão conservador dos demais grupos.

Ou seja,  fascismo pode obter hegemonia política nas representações de  LGBTQIS+, mulheres e negros, por mais esquizofênico que isso possa parecer.

A articulação de movimentos sociais, com as iniciativas recentes de construir redes de apoio para algumas candidaturas,  experimentou algum avanço. O MST elegeu 133 vereadores em 19 estados, dos quais 43 são militantes do próprio movimento. A articulação “Vote pelo Clima”, que começou nas eleições de 2020, elegeu 135 candidatos em 78 cidades brasileiras. E algumas dezenas de prefeitos e vereadores indígenas e quilombolas foram eleitos em pequenos municípios. Pode não ser muita coisa, mas é uma senda a ser mais e melhor explorada. Num universo de 58 mil vereadores e 5.600 municípios, ainda há muito espaço para avançar..

Por outro lado, centenas de líderes religiosos fundamentalistas e de militares de todas as forças conquistaram mandatos em todo o país. E tivemos ainda a novidade dos coaches– influencers e dezenas de médicos cloroquiners. E dúzias de prefeitos e vereadores armamentistas e/ou negacionistas climáticos. 

Porém teve algo de muito mais grave e temeroso nesta eleição: a consolidação do crime organizado nas disputas. Depois das milícias, o tráfico também entrou no jogo político e elegeu candidatos. Dinheiro sujo financiando campanhas, controle territorial de feudos eleitorais controlados pelo crime, coação de eleitores, assassinato de adversários e outras formas de violência política. Só em São Paulo foram 70 candidatos, sendo eleitos 10 vereadores e 2 prefeitos, segundo informações repassadas pelos órgãos de inteligência ao TRE. Em outros estados ocorreram fatos similares, com candidatos e eleitos com mandato de prisão em aberto, indicando que as leis em vigor têm sido pouco eficazes para impugnar candidaturas de criminosos. 

Enfim, as perspectivas continuam sombrias para a maior república bananeira do mundo. Aproveitemos a pausa que ganhamos para respirar e que não sabemos até quando vai durar.  Há que se buscar alternativas, e urgentemente.

República Bananeira de Gilead-Brasil

Vai se desenhando um futuro sombrio para a maior república das bananas do planeta. O resultado das eleições municipais, conforme se previa, foi péssimo para a democracia, ainda que menos pior do que o esperado. Mas não altera o rumo das coisas. Um batalhão de líderes religiosos fundamentalistas e de militares de todas as forças conquistaram mandatos em todo o país. O crime organizado também avançou. Depois das milícias, o tráfico também entrou no jogo político e elegeu candidatos. E tivemos ainda a novidade dos influencers de reputação pra lá de duvidosa.
O neofascismo, mesmo ficando aquém de suas próprias expectativas, consolidou um espaço relevante no jogo político, enquanto se prepara para conquistar o Senado em 2026. Como serão eleitos dois senadores por unidade da federação, tudo indica que colherão frutos expressivos. Ao lado do patrimonialismo do Centrão, poderão ferir de morte a democracia brasileira. E liquidar com o único poder que lhes coloca freios : o STF.
A maior surpresa desta eleição foi a votação de um coach criminoso, completamente inescrupuloso e amoral, alcançando quase 1/3 dos votos na maior cidade do país. Se ele permanecer impune, em 2026 teremos muitos outros iguais a ele em todos os estados brasileiros. Não bastará tirar os direitos políticos dele por 8 anos. Ele tem que ser preso e permanecer na cadeia por um bom tempo. Vamos ver se o Xandão banca mais essa, já que a grande imprensa, porta voz da Faria Lima,  normaliza esse tipo de criminoso. São funcionais para eles.
Seja como for, a governabilidade do Poder Executivo vai encontrar muitos mais obstáculos nos próximos dois anos.
Como se toda essa lama não fosse suficiente, temos um cenário externo pra lá de preocupante.  A eleição do Trump irá piorar em muito as coisas para a nossa bananolândia. Mesmo sabendo que os democratas também não nos darão uma vida fácil.

Porém o que aparece de mais grave é o risco de um conflito global. Nove entre cada dez analistas de relações internacionais afirmam sem pestanejar: a deflagração de um novo conflito de abrangência mundial é quase certa nos próximos anos. Para alguns, a guerra até já começou, apenas não passou para um cenário de guerra aberta entre as potências mundiais. De um lado, os que se consideram os donos do mundo, os EUA e a Europa Ocidental submissa à OTAN. Do outro, China e Rússia.
A guerra já estaria em seus primeiros movimentos na Ucrânia e no Oriente Médio. Se alguma das partes cruzar uma linha vermelha, o caos será instalado. Se as escaramuças entre Israel e Irã fugirem ao controle, poderemos ter uma nova crise do petróleo que arrastará todo o ocidente para uma crise econômica sem precedentes. Bom lembrar que essas crises sempre funcionam como alimento para o fascismo.
Se mísseis de longo alcance fornecidos pelo ocidente atingirem a Rússia causando estragos, será o fim da estratégia de “guerra de atrito” e a Ucrânia poderá ser arrasada.
Enfim, o mundo caminha no fio de uma navalha.
Nesse cenário, surge a maior preocupação: o uso de armas nucleares. Não sabemos qual será o alcance e a intensidade do uso destas armas. Poucos duvidam que elas serão usadas em algum momento. Resta saber até que ponto irá a estupidez dos meios militares e belicistas. O fato é que a humanidade poderá retroceder décadas, séculos, ou mesmo se extinguir. O número de mortos poderá chegar à casa das centenas de milhões ou mesmo bilhões.
Diante de um conflito mundial, os países periféricos serão chamados a um alinhamento. Nossa república bananeira terá que escolher o seu lado. Ou melhor, não terá escolha. Tio Sam não admitirá dissensos no que considera como o seu quintal, a América do Sul e Central. Aos governos dessa parte do mundo só restará barganhar de forma pragmática a sua posição. Uma adesão à “nova rota da seda” será torpedeada, seja pelos meios políticos seja “a la nordstream“.
Na segunda grande guerra, Getúlio Vargas, com habilidade, negociou indústrias de base em troca do abandono de uma posição de neutralidade. Foi o que tornou possível a nossa industrialização.
A ainda indefinida eleição norte-americana pouco irá alterar esse horizonte. Se Trump vencer, certamente vai bancar o retorno do neofascismo ao poder, o que significará um caminho livre para a destruição da civilidade na vida social brasileira. Se vencerem os democratas, talvez seja menos pior, mas não muito. Porque poderá haver, quem sabe, uma solução negociada para a redução de danos.  O preço, no entanto, será alto: abdicar de qualquer possibilidade de desenvolvimento soberano.
Nossos militares já abriram mão da soberania política há tempos (refletem, apenas sobre a territorial, e mal). Já deixaram isso claro isso numa das mais patéticas publicações já patrocinadas pela caserna: o Plano Brasil 2035.
Para nossos militares bananeiros bastam os privilégios corporativos para a alta oficialidade e acesso a  armamentos modernos, sem transferência de tecnologia, para brincarem em seus exercícios militares. A inquestionável submissão ao Comando Sul dos EUA é de uma viralatice vergonhosa. E o minúsculo “ministro da defesa” reclama da suspensão da compra de equipamentos militares de Israel, por ser uma decisão “ideológica”.
Resta torcer para que, num futuro breve, surjam outras lideranças políticas com alguma habilidade para lidar com esse cenário difícil que se avizinha. Mas não há evidências que nos permitam ser otimistas. Os próximos dois anos serão decisivos, para o Brasil e para o mundo.

Novas mudas de banana da república bananeira

A retirada do ar “X” de Elon Musk no Brasil foi a grande polêmica das últimas semanas. O “Xandão”, mais uma vez,  demonstrou coragem em contrariar interesses poderosos. Enquanto os neofascistas urraram de raiva, outros saudaram o ato como uma demonstração de que não seríamos uma república das bananas.  Ledo engano.
Musk acatou decisões similares em inúmeros outros países sem reclamar. Por que esperneou tanto no Brasil? Simples: ele nos vê exatamente como somos, uma república bananeira. Xandão é uma rara – e, no momento, salvadora –  exceção.
Subitamente, descobrimos que parte substancial de nosso sistema de defesa é dependente da Starlink, ou seja, do Musk. Com tal descaso com a soberania tecnológica por  parte da nossa milicada, Musk raciocinou corretamente.  Compreendeu, com razão, a essência bananeira da nossa república. Não esperava uma reação não submissa. Até porque tem como advogado no Brasil o filho do Comandante do Exército. Por isso dobrou a aposta, coisa que não fez em situações similares em outros países.
Isso não ocorre à toa. A formação dos nossos militares é completamente anacrônica. Um portal de notícias independente divulgou recentemente o conteúdo de trabalhos acadêmicos de futuros comandantes. E o retrato foi deprimente. Defesa do golpismo, teorias conspiratórias, fake news tratadas  como fatos, referências a teses anacrônicas dos tempos da guerra fria. Nossa milicada se contenta em ser um mero apêndice do Comando Sul do Tio Sam. Indignações ficam reservadas para quem ameaça seus privilégios previdenciários.
Por isso nossas bananeiras não param de frutificar.
A derrota do Bozo nos deu um tempo para respirar, mas o neofascismo avança. Na maior cidade do país, duas chapas neofascistas disputam a eleição com o apoio descarado da elite quatrocentona. Seus jornalões normalizam um “coach” pra lá de pilantra e divulgam falsas acusações contra a única chapa capaz de derrotá-los. Como sabemos, esses órgãos de imprensa tem know-how na fabricação de falsos dossiês incriminatórios. Essa elite não se importa com o futuro da cidade ou do país. Típica elite da república bananeira. Nem o céu e o ar poluído os fazem refletir o quão desastroso é o seu proceder. Para eles basta uma polícia truculenta para cercar os pobres e a garantia de oportunidades para multiplicar os seus lucros.
A normalização do “coach” pilantra é o maior exemplo. Sequer precisava estar nos debates, pois seu partido não tem representação parlamentar. Ele fala as maiores abominações impunemente.  Nem Trump contou com tamanha condescendência, pois foi desmentido várias vezes em tempo real pelo mediador no debate com Kamala.
No resto do país, o cenário das eleições municipais não é nada animador. O fascismo ameaça tomar até mesmo algumas capitais importantes do nordeste.
Enquanto isso, nossa esquerda no poder, porém quase impotente, se anima com uma virada dos democratas, com a possibilidade de vitória da Kamala Harris sobre Trump. Lula, desnecessariamente, externou sua preferência por Kamala.  O republicano não esquecerá disso se ganhar. Se o neofascismo vencer nos EUA, os próximos dois anos serão ainda mais difíceis por aqui.

Não deu no New York Times…

O saudoso humorista Henfil, no único filme que dirigiu ao longo da vida (TANGA – Deu no New York Times), fez uma interessante paródia da nossa república bananeira. Num país fictício (tal como a Anchúria e Bruzundanga) a única coisa que incomodava a elite bananeira era a imagem negativa estampada no principal jornal da metrópole. Porque, na imprensa local, as bananices sempre geravam manchetes convenientes.

Como pouca coisa mudou na cabecinha das nossas elites bananeiras, as donas dos grandes meios de comunicação da imprensa local, a história sempre se repete. Criaram um factóide em torno do Ministro do STF que enfrentou a escumalha golpista, com a clara intenção de livrar a cara nos neofascistas e dar fôlego para a negociação de uma anistia aos golpistas. O recado é claro: vão apoiar de novo o fascismo caso o governo não desista de desviar recursos que engordam as suas contas com juros estratosféricos. Não querem que se invista no bem-estar da população mais sofrida (saúde e educação públicas, seguridade social e habitação popular). Além disso, cobram privatizações tão escandalosas quanto foi a da SABESP. Tudo para engordar ainda mais suas obesas fortunas.

Os jornalões já emprestaram seus veículos para a sequestro, tortura e morte de opositores durante a ditadura militar, já divulgaram fichas sabidamente falsas de pessoas indesejáveis para as nossas elites (muito antes da epidemia de fakenews), deram palco a agentes públicos vergonhosos quando operaram fraudes jurídicas. Ainda são os mesmos, como os nossos generais, com sua velha farda verde-oliva que pode lhes servir ainda mais (Perdão, Belchior!).

E também mandam um recado para aqueles que comem de garfo e faca, supostamente defensores das conquistas civilizatórias da democracia liberal. Como a clássica cena de outro filme que parodiou a nossa república bananeira (a república de Eldorado, de Terra em Transe, do Gláuber Rocha):

http://<iframe width=”683″ height=”384″ src=”https://www.youtube.com/embed/90oZOkiTNwc” title=”&quot;Qualé a sua classe?&quot; cena de Terra em Transe (1967)” frameborder=”0″ allow=”accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share” referrerpolicy=”strict-origin-when-cross-origin” allowfullscreen></iframe> https://youtu.be/90oZOkiTNwc

https://www.youtube.com/watch?v=90oZOkiTNwc

Usando conceitos de Gramsci, faltam lideranças orgânicas entre as classes subalternas para resisitir com mais vigor a esse ataque neofascista.

BOLÍVIA, VENEZUELA, BRASIL.

BOLÍVIA, VENEZUELA, BRASIL.

Bem que os milicos bolivianos tentaram mais uma vez. Atingiram a incrível marca de 194  quarteladas na história da Bolívia. Algumas bem sucedidas, mas quase sempre com vida curta. Desta vez o fracasso foi imediato. Ou melhor, nem tão imediato assim, já que durou o suficiente para a escória do golpismo brasileiro celebrar com aquela típica euforia do torcedor antes do VAR assinalar que o gol foi anulado. Mas a turma verde-oliva dos andes ainda está longe de nos roubar a taça  de maior república bananeira do planeta. E é fácil dizer o porquê.

Lá os golpistas foram em cana. Aqui, os fardados golpistas seguem impunes, alguns sequer são investigados, apesar das inúmeras evidências, há ainda aqueles golpistas que permanecem ocupando cargos e funções de relevo na corporação.  E, para os que foram escolhidos para servir de “boi de piranha”, no silêncio dos bastidores vai sendo articulada uma anistia ou, no máximo, alguma punição simbólica. A grande imprensa  – porta voz das classes dominantes – finge que não vê. O golpe é um recurso que querem sempre ter ao seu alcance. Parlamentares golpistas celebraram a quartelada dos vizinhos no primeiro minuto, algo tratado com a maior naturalidade pela mídia e pelas instituições ditas republicanas.

A elite bananeira não se escandaliza. Enquanto se chafurda nos juros pornográficos que lhes dá rendas  astronômicas, exige cortes e maior austeridade nos gastos públicos. Nos editoriais de seus jornalões clamam por uma nova reforma da previdência, mas omitem o peso da previdência dos militares. Usam a fragilidade da democracia para que o governo não enfrente privilégios. Os milicos bananeiros são os seus cães de guarda e não cogitam desagradá-los.

Desiste, milicada da  Bolívia. Vocês podem chutar mais ao gol, mas o que conta é a bola balançando a rede pelo lado de dentro.. Essa taça do mundo é nossa, ninguém tasca. O título de maior república bananeira do mundo ainda é nosso.

Diante da quartelada fracassada, a reação do Tio Sam foi reveladora. Nenhuma condenação contundente. Seguramente seus órgãos de inteligência sabiam da articulação golpista. Continuam os mesmos. Com o avanço do neofascismo no cenário internacional, os prognósticos para as nossas frágeis democracias não é nada animador.

O caso da Venezuela, com suas inúmeras versões e contraversões, desnuda uma contradição que poucos analistas têm a coragem de expor com franqueza: que a democracia liberal não dá conta de garantir  a soberania de nações periféricas diante dos interesses econômicos do imperialismo ianque. Hugo Chavez, inverteu a lógica militar ao reestruturar as forças armadas numa orientação nacionalista (além de conceder benesses corporativas, claro). Assim, privou o Tio Sam de seu principal ator golpista. Sem eles, as tradicionais ações de desestabilização – sanções econômicas e outros atos de guerra híbrida – têm sido insuficientes. Tudo indica que o governo Maduro aparelhou todas as instituições para trabalharem a seu favor. Porém as elites bananeiras sempre fizeram isso, de forma sutil ou não, sem nunca despertar qualquer indignação nos “formadores de opinião”, pelo contrário.

Não há lugar para republicanismo ingênuo na luta de classes. As instituições da república sempre foram objeto de disputa política. Agentes públicos nunca são isentos.  Quando muito, agem com honestidade, mas só quando o custo político da parcialidade é muito alto.

Pode ser que as eleições da Venezuela tenham sido fraudadas, mesmo reconhecendo que o chavismo ainda possui relevante base social. Talvez o governo Maduro seja realmente desastroso. Mas o que acontece lá não é uma disputa democrática, é um confronto geopolítico, uma guerra híbrida em andamento. Em que a situação tenta preservar a soberania sobre a principal riqueza da nação – o petróleo – e uma oposição neofascista (fato omitido e naturalizado pela mídia) opera a serviço dos interesses econômicos dos EUA.

O mesmo EUA que silenciou no golpe boliviano, reconheceu quase de imediato o opositor venezuelano como presidente. O neofascismo não é o inimigo dos EUA; é um instrumento para garantir a sua hegemonia no seu quintal. Se no plano interno Trump é um problema para a democracia deles, no plano externo o neofascismo é funcional e, quando conveniente, um importante aliado.

O  mais preocupante é que, o fiel da balança nessa disputa, são os militares. Herança bananeira que até hoje infesta as nações latinoamericanas. As elites venezuelanas têm tentado cooptá-los, até agora sem sucesso. Difícil a situação da Venezuela. Tem tudo para terminar em mais uma sangria pelas veias abertas da américa latina, como escreveu Galeano.

O grande desafio que se coloca é a reinvenção da democracia para as nações do sul global, diante da evidente falência do modelo liberal.

Novo Cavalo de Tróia

Antes das últimas eleições, as classes dominantes lançaram vários balões de ensaio para a sucessão do Bozo, em busca de um possível “anti-Lula”. Vários nomes foram tentados, de Luciano Hulk a outras novidades.
Fracassaram rotundamente. Tiveram que engolir um Lula 3.0.  Porém, mal começou o novo governo, voltaram com os seus ensaios: Zema, Eduardo Leite e Tarcísio foram selecionados para test-drive. Tentaram até ressuscitar o “primeiro a ser comido”.  Porém o governador de São Paulo vai despontando como o favorito dos farialimers. Para os militares bananeiros, a alegria é absoluta: um dos seus “irmãos por escolha”, um novo cavalo de tróia, ideal para que voltem a mamar nas tetas da viúva, com toda a sua comprovada incompetência para a gestão civil.
A ameaça é séria, bem planejada e, se não for desconstruída, o desastre é certo. Há que ser observado com muito cuidado o que está sendo colocado na vitrine do governo de São Paulo. Conta com a cobertura generosa de toda a grande mídia  A inspiração, não se enganem, vem do salvadorenho Bukele. A estratégia é manipular o medo e a insegurança pública, oferecendo ordem e vingança. Escolas militarizadas para a juventude branca pobre e extermínio como política de estado para a juventude negra periférica.
O tema segurança pública sempre foi um calcanhar de aquiles para as ditas “esquerdas”. Já a  direita, que sempre soube usar isso a seu favor, de forma demagógica e populista, agora o faz de forma estratégica.
Enquanto isso, o governo segue de mãos atadas, sem recursos para promover ações de impacto no cotidiano da população, seja por conta das limitações do arcabouço fiscal, seja pelas emendas parlamentares impositivas, que tiraram do Executivo boa parte da governança do orçamento público.
Tá feia a coisa.  Soma-se a isso a impunidade aos golpistas do 8 de janeiro que vai se desenhando, o avanço da extrema direita no mundo, e uma possível vitória de Trump. As hostes fascistas estão excitadas..
O governo Lula vai ter que se reinventar, usar de muita a criatividade para chegar em 2026 em condições de fazer um sucessor democrata. Mas não vemos nada disso no horizonte.
Lembrete. Muito se fala que Hitler e os nazistas usaram a democracia para destruí-la. Mas se esquecem de dizer  que a via golpista foi a primeira opção. Os nazistas tentaram dar um putsch na Bavária e fracassaram. Hitler e Hesse foram presos, Goring, Rohm  e outros se exilaram na Áustria. A prisão de Hitler durou apenas alguns meses, saiu na condicional com o compromisso de não fazer discursos públicos por cinco anos. Pouco tempo depois, os golpistas foram anistiados. Aprenderam com o fracasso e o resto da história todos conhecem. Conquistaram a maioria na eleição e recorreram a um pretexto (o incêndio do Reichstag) para implantar o terror.
Tudo se articula para que uma farsa semelhante aconteça na nossa república bananeira, a maior do mundo. O Ogronegócio e os Farialimers já até escolheram o próximo Ministro da Fazenda, o servil Bob Field Neto. E parece que estão com pressa de empossá-lo. Logo os golpistas voltarão a ficar assanhados, animados pela nova conjuntura na União Europeia e, possivelmente, nos EUA..

 

Pizza de banana saindo!

Vai se confirmando mais uma vez a expressão que diz que, no Brasil,  tudo acaba em pizza No caso da nossa república, pizza de banana. E isso tem uma tem uma razão de ser. Os ingredientes desta pizza são periodicamente separados e preparados sem fazer alarde.

A classe dominante brasileira e seus asseclas, a elite econômica bananeira com seu DNA escravocrata, nunca irão aceitar que um projeto de nação inclusivo e soberano possa ter sucesso.  Se fez algumas concessões, se aceitou a libertação e eleição do Lula, foi porque a entrega do comando político do país a um fascista, apesar de útil , teve efeitos colaterais indesejáveis para a nossa elite colonial.  Além do risco de prejuízos financeiros, trouxe danos à imagem internacional dos farialimers, principalmente por terem apoiado o negacionismo ambiental escrachado do governo Bozo. Quando o humorista Henfil fez o filme “Tanga – Deu no New York Times”, ele apontou bem esse temor da burguesia brasileira: ela não suporta que as elites das metrópoles expressem o que pensam sobre elite colonial brazuca: uma turma endinheirada, porém tosca. O ego dessa turma se ressente.

Pode ser que o Bozo permaneça inelegível, talvez até seja condenado pelos crimes que cometeu – como um alerta aos fascistas –  mesmo que seguida de uma anistia negociada. Uma mis-en-scene, para avisar que, se insistirem em atacar a democracia, numa próxima oportunidade talvez, e põe talvez nisso, não sejam perdoados. 

No portal de receitas de uma grande multinacional da indústria alimentícia, há uma reveladora receita de pizza de banana. Os ingredientes e modo de preparo, se lidos pelo viés da ciência política, servem de metáfora do que está sendo assado no forno do poder. Após enfatizar o cuidado para garantir uma massa homogênea que “não grude nas mãos” do cozinheiro, finaliza a fornada com leite condensado…

O fato é que o bolsonarismo é útil, é funcional para elite econômica, uma arma que não querem abrir mão. Pode ser necessário acioná-la de novo. Por isso promovem aqueles que, minimamente, sabem algumas regras de etiqueta..

Um grande jornal dedicou três páginas inteiras para promover o governador neofascista de São Paulo; O telejornalismo abriu um generoso espaço ao governador hiper-neoliberal do RS, não para questioná-lo sobre suas omissões na prevenção da tragédia, mas para promovê-lo. A imprensa faz ressurgir das tumbas um ex-candidato à presidência que julgava-se politicamente morto (o “primeiro a ser comido”). E o STF, cansado de ser o único poder a pagar o alto preço de enfrentamento do fascismo, resolveu fazer concessões, libertando terroristas do 8 de janeiro e relaxando na punição aos lavajatistas. Paralelamente, Tribunais eleitorais decidiram passar pano para crimes eleitorais, com argumentos de que os crimes não interferiram decisivamente no resultado. Porteira aberta para beneficiar os de sempre. Tudo em nome de uma suposta pacificação e conciliação entre os poderes.

Enquanto isso, os militares, em silêncio tático, aproveitaram a tragédia gaúcha para tentar recompor a imagem pública arranhada  e esfolada pela tentativa de golpe.  Mas devem ter ficado felizes com a visita do seu superior hieráquico de coração: o Comando Militar do Sul dos EUA. A bordo de um super porta-aviões, uma General deu uma entrevista que parece ter saído do bizarro Projeto de Nação 2023-2035 dos “intelectuais” militares. Em entrevista a um jornal de economia, disse com todas as letras que cabe ao Brasil  “alimentar e abastecer o mundo com  a soja, o milho, o açúcar, o petróleo bruto pesado, o petróleo bruto leve, as terras raras, o lítio, a Amazônia”  . Ou seja, um papel periférico numa ordem neocolonial. Música para os ouvidos dos nossos militares bananeiros. No íntimo, devem ter tido sonhos e delírios com uma nova operação “Brother Sam”.

Com ou sem Trump, um novo golpe ainda nos ameaça

Atenção: postagem escrita antes da catástrofe climática que atingiu o sul do nosso país.

Na postagem anterior dissemos que uma provável eleição de Trump dará um novo ânimo ao golpismo na nossa república bananeira. Aliás, os neofascistas brazucas estão apostando todas as suas fichas nessa via. Com a desmoralização temporária dos militares que, de trapalhada em trapalhada, perderam temporariamente o seu protagonismo para afiançar um golpe, os golpistas civis arregaçaram as mangas e foram em busca do apoio internacional que lhes faltou. Para isso, contam com uma rede articulada de líderes e grupos de extrema-direita espalhados pelo mundo.
Buscam um apoio que não tiveram para violentar os resultados das últimas eleições presidenciais. Pelo contrário, a quartelada recebeu uma mensagem explícita de veto do Departamento de Estado dos EUA . E esse foi o fator decisivo para desarticular o golpe. A tal ponto que Biden chegou a cobrar de Lula demonstrações de gratidão por essa ajuda, na forma de alinhamento a posições norte-americanas no plano multilateral.
Mês passado o Comitê Judiciário da Câmara dos Representantes dos EUA,  controlado pelo Partido Republicano, divulgou o relatório  “O ataque à liberdade de expressão no exterior e o silêncio do governo Biden: o caso do Brasil”. Em suma, em plena sintonia com os ataques recentes do bilionário trumpista Elon Musk ao STF. No momento, o relatório é uma peça inócua, que faz muito barulho por nada, a não ser servir de apito de cachorro para uma matilha raivosa. Porém, no caso de uma eleição do Trump, poderemos ter ração de sobra para alimentar as bestas golpistas.
Isso não quer dizer que uma vitória dos democratas vá melhorar o cenário para a democracia brasileira. Com a ameaça trumpista afastada por quatro anos, a desestabilização do elo mais fraco do BRICS poderá ganhar um novo impulso. O que está em jogo é a resistência do Império diante das ameaças à sua hegemonia. E um projeto de nação soberana num país gigante como o Brasil será, mais cedo ou mais tarde, sabotado.
As tempestades estão anunciadas. Resta saber se virão na forma de fortes tormentas tropicais ou de furacões catastróficos.Tempos difíceis virão, em qualquer caso. Se alguém tem alguma dúvida, sugerimos a leitura do recente relatório do Centro de Estudios Geopolíticos Multidisciplinarios-CEGM: América Latina en el ojo de la tormenta – La posible victoria de Estados Unidos y la recolonización de América Latina (Plan Simón Bolívar). Tio Sam segue de olho no controle daquilo que ele acha que é o seu quintal.
O que resta ao Brasil, então? Nossas lideranças políticas devem usar da sabedoria de Maquiavel, atuando com virtú diante do contexto que a fortuna nos oferece ou não. E isso nunca é fácil. Os dados estão sempre rolando nesse jogo da política. As regras limitam as chances de vitória. Porém sempre existe a possibilidade de obter alguns ganhos ou minimizar as perdas.
A milicada bananeira observa a janela de oportunidade para voltar à cena. Cinicamente, lutam para vincular o orçamento de defesa a um percentual mínimo de 2% do PIB. Um de seus líderes ditos “legalistas”, no afã de defender a bufunfa pra caserna, 85% destinada  ao custeio de pessoal, demonstrou a mediocridade castrense. Afirmou que as FFAA fazem mais entregas que as universidades. E soltou a seguinte pérola: “Grama cortada, quartel limpo, arrumado. Vamos entrar em uma universidade qualquer para ver como está, em termos de manutenção, e ver quanto se gasta para manter um quartel e quanto se gasta para manter uma universidade.” É a esse tipo de pensamento que a nossa defesa territorial está sujeita…
Triste sina de República das Bananas!
O Comandante da Marinha se refere à “Revolta da Chibata” como ato de delinquentes; crescem as articulações para uma anistia aos golpistas da intentona do 8 de janeiro de 2023; de forma articulada, a mídia hegemônica propugna por um “bolsonarismo moderado”. Enquanto isso, uma bancada de deputados golpistas viajam para pedir ao Congresso dos EUA sanções econômicas contra o Brasil. Em resumo: a elite econômica brasileira, sem qualquer projeto de nação, depois de tudo que passamos, reafirma a sua bananice. Temos um imenso passado pela frente, como disse o saudoso humorista.
A catástrofe climática que atingiu o RS está retratando como nunca o DNA bananeiro das nossas elites, agora turbinada pela produção industrial de fake news.  Mas isso é assunto para a próxima postagem.

Enquanto TRUMP não vem….

Este blog se manteve em silêncio nos últimos meses. Muita coisa aconteceu, mas foi sempre mais do mesmo do que vínhamos publicando aqui desde o início. Não quisemos ser por demais repetitivos. Desde o início deste blog falamos que o golpismo militar é uma doença crônica do Brasil, o que nos faz a maior república bananeira do planeta. Avisamos que um golpe seria tentado e alertamos para o risco de ações (para)militares terroristas. Para quem nos via como simplórios adeptos de teorias conspiratórias, o tempo nos deu razão.

Fracassada a intentona golpista, o que vimos nos últimos meses foram as FFAA golpistas negociando impunidade e manutenção do seu status quo até a próxima oportunidade de dar uma quartelada. Tudo com a mediação pública de um ministro fantoche, para evitar expor as fardas sujas e manchadas.

As revelações da PF sobre a investigação da intentona de 8 de janeiro, a partir dos áudios e vídeos deixados incólumes pela imprudência do ajudante de ordens da presidência, nos permitiu chegarmos a algumas conclusões:

1- A quase totalidade dos militares estava disposta a bancar um golpe. A  pressão do Departamento de Estado dos EUA, a quem prestam obediência, jogou um balde de água fria no projeto golpista. Parte majoritária do alto comando das FFAA avaliou que seria uma aventura com grande risco de fracassar. Muito a contragosto, porém obedientes e resignados, decidiram não levar a quartelada adiante. Porém um grupo de golpistas convictos não se submeteu às ordens superiores e seguiu agindo em paralelo. Outros assumiram uma posição cômoda, colaborando com os preparativos de sedição num estilo low-profile, torcendo pra dar certo, mas não se envolvendo abertamente, a fim de se preservarem em caso de fiasco.Se desse certo, estariam dentro; se desse errado, diriam cinicamente não ter nada a ver com isso (como de fato fizeram). Estes são os supostos “legalistas”, que não agiram para frear o golpismo. Deixaram os subalternos se articularem livremente, fizeram vista grossa, se omitiram vergonhosamente. Se o golpe vingasse, mesmo com vida curta em razão de seu isolamento internacional, os tais “legalistas” entrariam em cena como os pseudorestauradores da ordem democrática. Mas só após terem afastado do poder todos os adversários inconvenientes. Talvez este fosse até mesmo o Plano B dos golpistas, Fracassada a intentona, o alto comando agiu para abafar o caso e garantir a impunidade de seus pares, seus “irmãos por escolha”, no bom e velho corporativismo da caserna. Sempre com a velha e esfarrapada desculpa de preservar a instituição militar.

2 – O que não estava nos planos foi o descuido do ajudante de ordens da presidência, que permitiu a descoberta da trama e expôs os dissensos entre os generais e alto oficiais A revelação das conversas dos golpistas escancarou uma ferida grave no meio militar: o veneno da insubordinação. Chamar um “irmão” de “cagão”, foi além dos limites toleráveis. Sem respeito à hierarquia e à disciplina, a instituição militar desaba. E isso abriu uma brecha para a punição de alguns golpistas mais empedernidos. Agora os comandantes  já  aceitam a punição individual de alguns oficiais, que serão entregues à própria sorte. Afinal, alguém terá que pagar o pato. Que não se espere uma punição dura e abrangente. Mas alguma penalização haverá, o que não deixa de ser alguma coisa. Em troca, parece que foram muitas as negociações de bastidores para frear a execração pública dos militares: Comissão da verdade enterrada, nada de ordens do dia em 31 de março, nenhum ato oficial em defesa da democracia. E não perderão uma oportunidade de anistiar os envolvidos, em nome de uma “pacificação nacional”.

3 – Dessa forma, o “coração golpista” das instituições militares seguirá vivo, ainda que momentaneamente recolhido, na defensiva. Porém o golpismo continuará a ser uma sombra a nos ameaçar, com as academias militares despejando centenas de “golpistas do amanhã” a cada ano. A maior república das bananas do globo ganha tempo para a sanha golpista recuperar o seu fôlego.  A sociedade política demonstra ser incapaz, além  de covarde, para enfrentar a chantagem militar. E a sociedade civil, fragilizada, tampouco é capaz de reagir à altura. Nossa sina de permanecermos como a maior república das bananas do planeta segue intacta.

4 – O respeito à hierarquia, no caso a externa, a submissão ao comando militar do sul dos EUA, provocou uma cisão nas FFAA. E o golpe  só não ocorreu não pela intervenção de “legalistas” mas, como disse um golpista descaradamente, pela inação de generais “cagões”. É certo que, se tivesse sido implementado, a quartelada bananeira não teria vida longa. Mas provavelmente causaria prisões e assassinatos de autoridades e lideranças populares, com alto risco de derramamento de sangue pelas ruas, numa violência provavelmente terceirizada para os CACs. Esse era o projeto por trás da liberação desenfreada das armas e munições, que ninguém se engane quanto a isso.

5- Neste cenário, chega a ser patético e risível a atenção dada à decisão do STF que “esclarece” que o artigo 142 da Constituição não permite que os militares interfiram no poder civil. Tudo não passa de mais um ato do teatro de conciliação com a milicada golpista.Alguns poderão argumentar que esta decisão tem um significado simbólico e outros bla-bla-blás. Como se nas repúblicas bananeiras o ato de rasgar e pisotear a Constituição não fosse a primeira ação das quarteladas.

6 – Como o fascismo segue vivo e atuante, com alguns de seus líderes consagrados com votações expressivas, o risco de novas conspirações não está descartado. Que os órgãos de inteligência acompanhem de perto possíveis ações terroristas organizadas por oficiais militares ou paramilitares dos CACs. Aliás, um oficial tinha um verdadeiro paiol em casa, que explodiu acidentalmente. Não é difícil imaginar com que intenções ele mantinha esse armamento. E certamente existem  outros paióis espalhados pelo país. Prova disso é que outro “cidadão do bem”, defensor da família tradicional, após matar a amante foi descoberto com 80 armas e mais de 16 mil munições em casa. Que ninguém se iluda: esses episódios revelam apenas a ponta do iceberg.

7 – Enquanto isso, o Governo Lula segue sitiado e sabotado pela oposição, com sérias dificuldades de implementar mudanças que provoquem algum impacto relevante no cotidiano dos cidadãos brasileiros, seja no curto ou médio prazo. O Presidente, cujo carisma nos salvou da tragédia que seria a reeleição do inominável, vê a sua popularidade ser lentamente corroída.

8 – Uma provável vitória de Trump poderá ser o estopim de uma nova ofensiva golpista. Resta, pois, pouquíssimo tempo para desarmar as inúmeras minas espalhadas pelo caminho pelos fascistas nos quatro anos sob domínio do capetão.

Para finalizar

  • A intentona golpista recebeu o apelido de “golpe tabajara”. De fato, houve trapalhadas inacreditáveis. Mas sejamos francos: o golpe só não se consumou por detalhes. E a investigação da PF só revelou a trama por conta do descuido do Mauro Cid, que relaxou por estar muito seguro do sucesso da empreitada. O buraco em que estamos metidos, que nos condena ao republicanismo bananeiro, é muito mais profundo do que se supõe.
  •  A marionete da caserna que ocupa o cargo de Ministro da Defesa proferiu uma atrocidade: afirmou que os militares impediram o golpe de 2024. Se foram os artífices do golpe de 1964, estariam agora assim redimidos, com a história da ditadura militar podendo ser enterrada e esquecida. Triste papel para um Ministro de Estado.