BANANAS FOREVER?

Não é fácil enquadrar os militares nas repúblicas bananeiras.
O plano B dos militares bananeiros parece ter dado certo. Depois da derrota eleitoral, permitiram que fosse amplamente alimentada a ideia de um golpe militar entre as vivandeiras dos quartéis.
Tudo um grandíssimo blefe. Não que o golpe não fosse (sempre é) um desejo deles. Mas sem o apoio do Tio Sam, a quem batem continência acima de tudo e de todos, sabem que haveria um grande risco de um final infeliz para os chefes militares. Vide os recentes acontecimentos na vizinha Bolívia.
Aliás, a vinda de assessores diretos do presidente Biden ao Brasil parece incluir o recado com todas as letras. Se Trump tivesse vencido, estaríamos em plena catástrofe.
O fato é que o grande blefe funcionou. A milicada bananeira celebra agora uma grande vitória: um ministro civil dócil, bem ao seu agrado, um bibelô decorativo, vai assumir o Ministério da Defesa.
Assim, a milicada eleitoralmente derrotada irá recuar, porém sem abrir mão das suas posições estratégicas. A principal delas: continuar a funcionar sem qualquer supervisão civil de fato, sem qualquer controle social externo. E, dessa maneira, acumular forças para um novo golpe futuro.
Porém, como diz o título do clássico filme de faroeste, “meu ódio será a tua herança”. Uma analogia que vem bem a calhar. Graças a ações irresponsáveis com a cumplicidade dos militares, criou-se nos últimos quatro anos uma legião de degenerados, muito bem armados e hidrófobos, que imaginam viver numa terra sem Lei na qual podem agir impunemente.
Como diz o ditado espanhol, “cria cuervos que te sacan los ojos”.
Não duvidem que lunáticos armados estejam tramando algo neste momento (o vandalismo do dia 12 de dezembro em Brasília pode ser apenas um ensaio) . O terromismo militar tem raízes profundas no seio das forças armadas (vide este artigo aqui). E, cedo ou tarde, periga dar o ar de sua graça criminosa. Muitas vidas inocentes podem estar em risco.
Apesar da inação da maioria das nossas instituições, uma ação terrorista (para)militar nos dias de hoje – que torcemos para que tenha o mesmo desfecho da bomba que explodiu no colo de um militar – não terá o mesmo destino das que ocorreram no passado.Se a milicada bananeira não controlar os monstros que ela própria criou, poderá ser desmascarada e, o pior temor dela, pagar pelos crimes cometidos.
Será que o Brasil vai ter que sofrer um desastre humanitário, provocado pela insanidade dos fardados,  para se livrar de vez da sina de estarmos condenados a ser uma eterna República das Bananas ?
Que eles saibam: se tentarem algo,a bomba vai explodir no colo deles novamente. E com muito mais intensidade.
PS1: O choro do derrotado só engana aos incautos. Chora-se de dor física ou por fortes emoções. Nesse último caso pode ser de tristeza, felicidade ou de raiva e ódio. Para um sujeito totalmente desprovido de empatia/compaixão, sobra somente a opção da raiva. O fato é que “o imbroxável” broxou e, seja babando de ódio ou se remoendo por dentro, deseja intensamente uma vingança. Nada fará para demover seus seguidores alucinados de cometerem toda sorte de crimes. Só se preocupa em salvar a própria pele.
PS2: Não é possível confiar nas instituições militares e seus comandantes. Queriam muito dar um golpe, mas o Tio Sam já os “aconselhou” a não fazerem isso. Disciplinados e respeitosos diante da hierarquia a qual se submetem, estão segurando os seus impulsos. Mas não seria prudente confiar neste fato. Há dissidências que são capazes de cometer insanidades, confiantes na histórica impunidade que o corporativismo castrense garante aos seus. Vide a ameaça de comandantes militares de se recusarem a bater continência para o Presidente eleito, as mensagens de estímulo à resistência do vice-presidente às vivandeiras dos quartéis, e a estapafúrdia afirmação do genocida do Haiti de que Lula não subiria a rampa (depois desmentida, para manter aparências).
PS3: Não é infundado o temor de que as FFAA  sejam condescendentes com atos golpistas/terroristas, ou que os fomente em benefício de seus projetos políticos. Quem leu o tal “Projeto de Nação”, elaborado pela “intelectualidade militar”, certamente ficou em estado de choque diante da profunda mediocridade do documento, da pobreza das ideias, que chega às raias do grotesco em muitos trechos. É um retrato fiel da indigência intelectual dos militares, enquanto instituição (porque resiste alguma inteligência em alguns núcleos marginalizados pelos comandantes).  Triste constatar que uma das nossas instituições permanentes se transformou em algo tão bizarro.
PS4: Uma bela matéria jornalística da revista The New Yorker sobre como nos Estados Unidos os militares atuaram para manter a ordem democrática dá uma boa noção da gravidade da nossa situação. Foi traduzida para o português neste portal: https://apublica.org/2022/12/questoes-da-transicao-por-dentro-da-guerra-entre-trump-e-seus-generais/