BANANAS EM DISPUTA

O Equador parece que deseja tirar do Brasil o status de maior república bananeira do mundo. Acaba de eleger para a presidência um grande empresário exportador de bananas. Apesar da piada pronta, o Brasil segue na dianteira, e com folga.

Muita gente recusa a ideia, se ofende ou trata com desdém o mote deste blogue, que afirma que o Brasil é a maior república das bananas do planeta. Afinal, nosso país possui muitas áreas de excelência que nos enchem de orgulho. Temos o domínio da tecnologia aeronáutica, da exploração de petróleo em águas profundas, do desenvolvimento de vacinas e fármacos, de serviços bancários modernos como o Pix, sem falar da imensa riqueza da nossa diversidade cultural, entre muitas outras virtudes. O que acontece é que o senso comum associa a ideia de “república das bananas” a um estágio de subdesenvolvimento colonial, a um certo arcaísmo simplório. Porém, o que caracteriza de fato a “bananidade” é outra coisa: é o papel desempenhado pelos atores políticos hegemônicos num país, a qualquer tempo: a elite agrário-extrativista-exportadora, os militares que insistem num papel tutelar sob o poder civil, uma classe política patrimonialista e paroquial  sem qualquer compromisso programático com o desenvolvimento soberano de um país. No Brasil,  em tempos recentes isso foi sintetizado no trinômio “boi, bala e bíblia” (existiriam ainda outros “b” – de bancos, de brancos – que são transversais a essa tríade). E tudo isso pode conviver tranquilamente com uma modernidade tecnológica em diferentes campos.

No primeiro dia do julgamento dos primeiros acusados pela intentona de 8 de janeiro de 2023, uma coisa ficou clara: ainda estamos muito longe de deixarmos de ser uma típica “república bananeira”.

O subprocurador-Geral da República afirmou na abertura dos trabalhos: “- É importante registrar também que o Brasil há muito deixou de ser uma República das Bananas, e hoje goza de prestígio Internacional nas grandes democracias. Golpe de estado é página virada na nossa história“, disse ele.

Infelizmente, isso é uma meia verdade. A imagem internacional do Brasil foi seriamente abalada e ainda vai demorar muito para se restaurar. Se algum prestígio foi recuperado, isso se deve somente à habilidade e ao carisma do Presidente Lula. O espectro do golpismo permanece latente. Porque a nossa democracia se mostrou extremamente frágil e permitiu a consagração de um neofascista tosco, que não se reelegeu por uma margem muito pequena, mesmo após um governo desastroso. O mundo civilizado nos olha com certo alívio, mas sabe que retrocessos não estão fora do horizonte.

Iniciado o julgamento, o Ministro relator, a quem reconhecemos o mérito de ter enfrentado corajosamente o golpismo, também deu a sua “patinada” em relação aos militares: “– O fato de eventuais militares terem participado de ações golpistas e estarem sendo investigados não macula uma verdade histórica, que deve ser proclamada: o Exército brasileiro não aderiu a esse devaneio golpista de vários, inclusive políticos que estão sendo investigados”, disse o relator.

Ora, as digitais dos militares estão por todo lado. É óbvio que tramaram e executaram uma ação clandestina visando o golpe. Nas publicações anteriores já comentamos exaustivamente sobre isso. A fala do relator deixa claro que a impunidade dos militares foi negociada nos bastidores. Ao que parece, serão imolados apenas os “patriotários”, pessoas com profundas limitações cognitivas que se prestaram a massa de manobra de uma casta neofascista, porém esperta. Serão punidos também alguns bodes expiatórios fardados que ficaram numa situação indefensável e, talvez, poucos políticos do baixo clero e financiadores dos atos também serão chamados a pagar o pato. Uma anistia num futuro breve provavelmente os espera, em nome da “união nacional”. Os grandes mentores da intentona golpista provavelmente escaparão ilesos ou sofrerão punições simbólicas. Resta saber o destino do ex-presidente. Se será punido severamente ou se será apenas vitimizado para servir de mártir e manter acesa a causa golpista. Infelizmente, é a segunda opção que se desenha.

Enquanto o julgamento decorria, na casa legislativa ao lado, com ampla margem de votos,  era aprovado um novo regulamento para as disputas eleitorais, abrindo a porteira para todo tipo de fraude e manipulação do processo eleitoral.  O Senado adiou a iniciativa, mas o fato demonstra que a república bananeira não descansa em serviço.

Ou seja, “tudo como dantes no quartel de abrantes”.  Ou, tudo na mesma pasmaceira na república bananeira. As condições que nos mantêm atrelados ao passado seguirão intactas, ao que tudo indica. O governo segue sitiado, com a política econômica submissa ao aval dos Faria Limers, enquanto tenta emplacar programas sociais compensatórios. Nada de mudanças estruturais.

Difícil a situação do Brasil. Enquanto não reconhecermos e aceitarmos o fato de que somos uma república bananeira, não sairemos desse lodo no qual estamos atolados, não iremos superar essa nossa triste situação.

A psiquiatra Kubler-Ross concebeu uma teoria do luto em que a superação de algo doloroso passava pela vivência de cinco estágios emocionais, não necessariamente sequenciais: negação – raiva – negociação – depressão – aceitação.  Comportamentos facilmente identificáveis em que se envolve no embate político. Reconhecer uma realidade desagradável é a última etapa para poder superá-la.

Como já dissemos, é preciso desbanananificar o Brasil. O desafio é descobrir como fazer isso.