Dilemas Bananeiros

Ao final do dia 2 de outubro de 2022 os militares bananeiros enfrentarão um grande dilema.

O que alguns analistas políticos passaram a chamar de “Partido Militar” – que este blog prefere chamar de “Banana Mamata” – estará diante de uma escolha difícil. A posição tomada pelos militares repercutirá de forma crucial sobre o futuro de seus privilégios e posições de poder.

Os militares foram uma força política decisiva na construção do desastre Bolsonaro, este ser abjeto que foi o grande “cavalo de tróia” que a caserna utilizou para voltar ao poder. Com uma construção teórica pra lá de medíocre, traduzida recentemente num tal “Plano Brasil”, tentaram ocultar o que nada mais é do que o projeto corporativo de uma casta. Uma soma de exortações nacionalistas e patrióticas para o próprio autoconvencimento. Tentam convencer a eles mesmos de que almejam algo diferente da pura e simples mamata.

Há uma grande possibilidade de que Lula vença no primeiro turno. Obviamente, Bolsonaro alegará fraude e incitará os seus seguidores alucinados a tomar as ruas e provocar o caos. Como os militares se comportarão diante disso é o grande dilema. Até aqui eles tem trabalhado em total sintonia com o presidente para semear dúvidas em relação às urnas eletrônicas. A tal ponto que o TSE concordou em permitir uma bizarra “apuração paralela” em zonas eleitorais selecionadas.

Finda a apuração eles terão que se pronunciar: se os resultados foram legítimos ou não. Eles serão os grandes responsáveis pelos desdobramentos que se seguirão.

Podemos considerar duas hipóteses básicas:

1) Os militares dão aval à legitimidade e veracidade da votação eletrônica;

2) Os militares apontam falhas e colocam em dúvida o resultado.

Na primeira hipótese, além de esvaziar a reação das milícias bolsonaristas, os militares terão optado pela negociação, ao invés da via golpista. Ganhariam poder de barganha ao atuar para conter eventuais distúrbios causados pelas hordas de fanáticos. A maioria dos analistas parece apostar nesta via. Citam a posição firme da diplomacia norte-americana que promete reconhecer o eleito no primeiro momento. Como os militares são sabujos históricos do Tio Sam, não apostariam numa aventura arriscada. O ponto frágil aqui é um só: podemos confiar no Tio Sam ou estaremos caindo nas artimanhas do tão falado deep state?

A segunda hipótese é a aposta descarada no golpe. Como a tese já enunciada aqui neste blog, será um “golpe terceirizado”. Ao questionar o resultado, os militares abrirão as porteiras para a violência das milícias, clubes de atiradores e fanáticos armados de toda a espécie. Teremos dias de caos, de muita violência nas ruas, atentados contra lideranças populares e autoridades legalistas. Difícil dizer de antemão quanto sangue será derramado.

Diante do caos, as milícias fardadas colocarão suas tropas nas ruas para garantir a ordem pública e a segurança da população, na falaciosa “intervenção militar constitucional”. Cinicamente, se apresentarão como os “pacificadores”, não como golpistas. Mas terão o poder de alterar o calendário eleitoral e as regras do jogo em favor dos interesses de suas castas. É uma opção arriscada, de desdobramentos imprevisíveis.

Como dissemos, são duas hipóteses básicas que, combinadas, poderão gerar novos cenários.

No caso de não ocorrer a vitória em primeiro turno, o dilema bananeiro ganhará tempo para novas articulações e movimentações. Porém uma coisa é certo: o Brasil viverá dias tensos e difíceis a partir da próxima semana.

Conforme o ativismo de cada um, preparem seus corações, seus kits de primeiros socorros, decorem telefones de advogados de direitos humanos e, para os mais pessimistas, separem os passaportes.

Bananas no setembro verde-oliva

A arte da dissimulação é algo que, goste-se ou não, os militares sabem fazer muito bem.

E não é de hoje.

Recentemente foi lançado em português o livro ” O método Jakarta”, do premiado jornalista Vincent Benkins. O título remete ao sangrento golpe militar de 1965 na Indonésia. Um golpe sanguinário em que os militares fizeram uso de milícias civis fanatizadas para fazer o trabalho sujo, um verdadeiro genocídio. Milhares de opositores foram eliminados. Uma história que permaneceu abafada por muitos anos e que só veio à tona após os chocantes documentários do cineasta Joshua Oppenheimer: “O Ato de Matar” e “O Peso do Silêncio”, ambos disponíveis com legendas em português no Youtube.

Os CACs, clubes de atiradores que proliferam nos últimos quatro anos, são hoje verdadeiras milícias prontas para cometer barbaridades. Tem em seu poder mais de um milhão de armas. É importante ter essas informações em mente quando se fala na possibilidade de um golpe no Brasil.

É verdade que essa turma dos CACs não tem articulação nem inteligência para promover um golpe. Porém o Exército, de forma canalha, tem atuado de forma intensa para desacreditar as urnas eletrônicas e assim atiçar as milícias golpistas. Elas serão capazes de criar um caos e dar o pretexto para uma intervenção militar que “restitua a lei e a ordem”. Não duvidem que esta oportunidade seja usada para alterar o calendário eleitoral e mudar as regras do jogo. Os militares não ficariam com pecha de golpistas no cenário internacional. São cínicos o suficiente para isso.

Não pensem que uma intervenção militar desta natureza seria para preservar o Bozo. Ele já cumpriu o seu papel e a elite econômica – aquela que detem de fato o poder – poderão descartá-lo facilmente. Os pequenos e médios empresários, a parte fascista do agronegócio e outros alucinados do whatszap não estarão a frente deste processo. Porém esta turminha se prestará ao mesmo papel que o Bozo se prestou: o de cavalo de Tróia para a casta militar avançar sobre o poder civil. O Bozo deverá se contentar com a tradicional impunidade que a caserna reserva para os seus, por gratidão aos serviços prestados.

Um golpe terceirizado, é isso o que se planeja. A conivência da caserna com a liberação desenfreada de armas pesadas e a insistência em colocar em dúvida a confiabilidade das urnas eletrônicas fazem parte deste roteiro.

O que mais deve nos preocupar é a dimensão do caos que os militares estão fomentando, o quanto de sangue inocente que poderá ser derramado. Mas para as FFAA, artífices dos fracassados planos do Para-Sar e do atentado do Riocentro, isto pouco importa. Se consideram “patriotas”, mesmo quando provocam o derramamento do sangue de seu próprio povo.

Mais um vez o dia 7 de setembro será um momento de tensão. Mesmo depois de fazerem  circular a informação da “inteligência militar” sobre o risco de atentados, as FFAA concordaram em promover uma celebração com oito horas de duração em Copacabana.

A inteligência militar monitora os “soldados do Bozo” e sabe perfeitamente quem planeja, o que se planeja e para quando se planeja. Mas vão usar essa informação a seu favor, para, ao invocar um suposto “fervor patriótico”, garantir os seus privilégios. Na maior República das Bananas do mundo, desde 1889, sempre foi assim.

A bomba está armada. Só nos resta torcer para que, mais uma vez, ela exploda no colo deles.

Sobre a inteligência militar (Fonte: jornal GGN)

A Secretaria de Operações Integradas (Seopi) do Ministério da Justiça e o Comando de Defesa Cibernética do Exército (ComDCiber) investiram pesado nos últimos anos na compra de  sistemas de vigilância cibernética.

Foram adquiridos o programa espião israelense DarkMatter e as ferramentas Harpia Tech e Córtex para pesquisa em bancos de dados abertos. Da israelense Cognyte foi adquirido  o Webint, tecnologia que permite pesquisar e  recolher dados de qualquer pessoa, seja na surface web ou na deep web.

Estas ferramentas tecnológicas, que usam de IA,  são capazes de extrair dados de qualquer cidadão, sem nenhum tipo de fiscalização. Além de acessar com facilidade bancos de dados abertos, usam perfis falsos e  bots para acessar  redes sociais e grupos privados de trocas de mensagens.

Foi daí que brotou em 2020 uma lista de 574 funcionários federais “antifascistas”, o que chamou a atenção da sociedade civil para o fato.

Além da aquisição destas ferramentas e mais outras centenas de softwares , foram celebrados contratos sigilosos com empresas de cybersegurança israelenses CySource e Cellebrite UFED, com acesso ao temido software Pegasus, capaz de invadir qualquer celular sem ser detectado.

O Exército também contratou a empresa brasileira Kryptus que, além de fornecer equipamentos para criptografia, fabrica componentes de segurança das urnas eletrônicas.

Todas estas ferramentas permitem hoje que a inteligência militar possa monitorar milhões de cidadãos, acessar seus dados pessoais e monitorar suas redes privadas. Podem extrair textos, áudios e imagens, monitorar sites visitados e pesquisas do google, rastrear os deslocamentos em tempo real de um cidadão seguindo o geolocalizador das redes de telefonia móvel  e sabe-se lá o que mais. 

Não é ficção científica. É fato.

Tanto poder adquirido através de contratos sigilosos chamaram a atenção do Tribunal de Contas da União e do  Ministério Público Federal. Entre as irregularidades identificadas, o TCU citou  “a contratação de um sistema capaz de monitorar e perfilar cidadãos sem qualquer justificativa prévia, a ausência de mecanismos de controle e fiscalização e a própria modalidade de licitação adotada, absolutamente inadequada para o tipo de serviço pretendido”

O MPF alertou para o perigo do uso indevido destes sistemas, por serem inauditáveis  e sem qualquer controle externo. Nas palavras no MPF, ” um grave risco de violação à intimidade e privacidade, à liberdade de expressão e manifestação, ao devido processo legal e a diversas outras garantias fundamentais da pessoa humana, como a integridade física e psíquica e, até mesmo, a vida.”

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