BANANAS AGAIN

Os elementos que caracterizam um país como uma república das bananas já foram expostos aqui neste blog. Uma aliança entre uma elite agraria exportadora/extrativista, uma classe política cleptocrata e militares autoritários e limitados intelectualmente.

Mas além das forças das armas, existe uma construção ideológica para sustentar estas bananeiras. Esta construção não é obra da elite agrária, nem de empresários predadores que só pensam em maximizar lucros, nem dos políticos cleptocratas que só querem aumentar o patrimônio e consolidar sua dinastia familiar. De uma forma geral, a ideologia bananeira é obra dos militares, auxiliado por alguns serviçais civis.

O humorista Gregório Duvivier, certa vez dedicou uma edição de seu programa semanal para o que chamou de “ideologia de gene…ral”, um chiste com o delírio da “ideologia de gênero”.

No Brasil, durante a ditadura militar a ideologia bananeira foi explicitada em um livro que ficou conhecido pela sigla ORVIL (livro de trás pra frente), obra “intelectual” da ditadura militar. É um retrato de uma época, marcada pelo contexto da guerra fria. Sem qualquer papel relevante num mundo dividido entre duas potências, os nossos militares se voltaram para um suposto “inimigo interno”, inimigos da potência do ocidente a qual se alinhavam.

Agora temos uma nova versão, mais atualizada. O recém-lançado Plano Brasil, um patético retrato da ideologia bananeira do Brasil atual.

Curioso é que, antes, havia um substrato nacionalista nas formulações dos militares.  Agora ele é meramente retórico, um patriotismo vago, pois abraçaram o liberalismo na sua pior versão. Afinal, o que sempre predominou no Brasil foi um liberalismo mal ajambrado, na verdade um “darwinismo social” disfarçado por uma retórica liberal simplória.

O documento é uma pérola de indigência intelectual. Infelizmente, as instituições (de)formadoras dos militares na atualidade não permitem que surjam um novo Golbery. Mesmo sendo um sustentáculo intelectual do regime ditatorial, havia uma inteligência refinada nos escritos daquele general. Uma qualidade completamente ausente nos documentos militares atuais.

Inúmeros estudiosos e jornalistas tem publicado textos onde desancam as teses deste documento bizarro. É uma tarefa relativamente fácil, convenhamos. Não vamos perder tempo aqui comentando as inúmeras sandices do tal Plano.

Porém, o mais deprimente nas 93 páginas do tal plano é arrogância de seus autores. Nas entrelinhas do documento fica nítido que os militares se veem como uma elite, uma casta superior, acima do bem e do mal, uma reserva moral do país, que por essa razão tem a missão de tutelar a sociedade brasileira.

Eles não tem um pingo de caráter para assumir seus erros e se desculpar pelas inúmeras tentativas de golpes contra a democracia, pelas torturas e execuções, pelo caso Para-Sar, pela bomba do Riocentro. Muito menos pelas compras superfaturadas, de picanha ao Viagra, nem pelo tráfico de cocaína em avião presidencial, do dinheiro público jogado fora na sabidamente ineficaz cloroquina, nem pela gestão estúpida e genocida do Ministério da Saúde em plena pandemia.

São esses que se acham uma elite, uma autodeclarada “reserva moral” que se julgam no direito de tutelar o poder civil e usufruir de benesses que são negadas aos demais cidadãos brasileiros.

Um caso gravíssimo de autismo institucional, quase inacreditável, que seria risível se não fosse trágico.

Nossas FFAA são um caso perdido. Teriam que ser refundadas. Até lá, continuaremos a ser motivo de chacota mundial como a maior República Bananeira do planeta.