Bananas no setembro verde-oliva

A arte da dissimulação é algo que, goste-se ou não, os militares sabem fazer muito bem.

E não é de hoje.

Recentemente foi lançado em português o livro ” O método Jakarta”, do premiado jornalista Vincent Benkins. O título remete ao sangrento golpe militar de 1965 na Indonésia. Um golpe sanguinário em que os militares fizeram uso de milícias civis fanatizadas para fazer o trabalho sujo, um verdadeiro genocídio. Milhares de opositores foram eliminados. Uma história que permaneceu abafada por muitos anos e que só veio à tona após os chocantes documentários do cineasta Joshua Oppenheimer: “O Ato de Matar” e “O Peso do Silêncio”, ambos disponíveis com legendas em português no Youtube.

Os CACs, clubes de atiradores que proliferam nos últimos quatro anos, são hoje verdadeiras milícias prontas para cometer barbaridades. Tem em seu poder mais de um milhão de armas. É importante ter essas informações em mente quando se fala na possibilidade de um golpe no Brasil.

É verdade que essa turma dos CACs não tem articulação nem inteligência para promover um golpe. Porém o Exército, de forma canalha, tem atuado de forma intensa para desacreditar as urnas eletrônicas e assim atiçar as milícias golpistas. Elas serão capazes de criar um caos e dar o pretexto para uma intervenção militar que “restitua a lei e a ordem”. Não duvidem que esta oportunidade seja usada para alterar o calendário eleitoral e mudar as regras do jogo. Os militares não ficariam com pecha de golpistas no cenário internacional. São cínicos o suficiente para isso.

Não pensem que uma intervenção militar desta natureza seria para preservar o Bozo. Ele já cumpriu o seu papel e a elite econômica – aquela que detem de fato o poder – poderão descartá-lo facilmente. Os pequenos e médios empresários, a parte fascista do agronegócio e outros alucinados do whatszap não estarão a frente deste processo. Porém esta turminha se prestará ao mesmo papel que o Bozo se prestou: o de cavalo de Tróia para a casta militar avançar sobre o poder civil. O Bozo deverá se contentar com a tradicional impunidade que a caserna reserva para os seus, por gratidão aos serviços prestados.

Um golpe terceirizado, é isso o que se planeja. A conivência da caserna com a liberação desenfreada de armas pesadas e a insistência em colocar em dúvida a confiabilidade das urnas eletrônicas fazem parte deste roteiro.

O que mais deve nos preocupar é a dimensão do caos que os militares estão fomentando, o quanto de sangue inocente que poderá ser derramado. Mas para as FFAA, artífices dos fracassados planos do Para-Sar e do atentado do Riocentro, isto pouco importa. Se consideram “patriotas”, mesmo quando provocam o derramamento do sangue de seu próprio povo.

Mais um vez o dia 7 de setembro será um momento de tensão. Mesmo depois de fazerem  circular a informação da “inteligência militar” sobre o risco de atentados, as FFAA concordaram em promover uma celebração com oito horas de duração em Copacabana.

A inteligência militar monitora os “soldados do Bozo” e sabe perfeitamente quem planeja, o que se planeja e para quando se planeja. Mas vão usar essa informação a seu favor, para, ao invocar um suposto “fervor patriótico”, garantir os seus privilégios. Na maior República das Bananas do mundo, desde 1889, sempre foi assim.

A bomba está armada. Só nos resta torcer para que, mais uma vez, ela exploda no colo deles.

Sobre a inteligência militar (Fonte: jornal GGN)

A Secretaria de Operações Integradas (Seopi) do Ministério da Justiça e o Comando de Defesa Cibernética do Exército (ComDCiber) investiram pesado nos últimos anos na compra de  sistemas de vigilância cibernética.

Foram adquiridos o programa espião israelense DarkMatter e as ferramentas Harpia Tech e Córtex para pesquisa em bancos de dados abertos. Da israelense Cognyte foi adquirido  o Webint, tecnologia que permite pesquisar e  recolher dados de qualquer pessoa, seja na surface web ou na deep web.

Estas ferramentas tecnológicas, que usam de IA,  são capazes de extrair dados de qualquer cidadão, sem nenhum tipo de fiscalização. Além de acessar com facilidade bancos de dados abertos, usam perfis falsos e  bots para acessar  redes sociais e grupos privados de trocas de mensagens.

Foi daí que brotou em 2020 uma lista de 574 funcionários federais “antifascistas”, o que chamou a atenção da sociedade civil para o fato.

Além da aquisição destas ferramentas e mais outras centenas de softwares , foram celebrados contratos sigilosos com empresas de cybersegurança israelenses CySource e Cellebrite UFED, com acesso ao temido software Pegasus, capaz de invadir qualquer celular sem ser detectado.

O Exército também contratou a empresa brasileira Kryptus que, além de fornecer equipamentos para criptografia, fabrica componentes de segurança das urnas eletrônicas.

Todas estas ferramentas permitem hoje que a inteligência militar possa monitorar milhões de cidadãos, acessar seus dados pessoais e monitorar suas redes privadas. Podem extrair textos, áudios e imagens, monitorar sites visitados e pesquisas do google, rastrear os deslocamentos em tempo real de um cidadão seguindo o geolocalizador das redes de telefonia móvel  e sabe-se lá o que mais. 

Não é ficção científica. É fato.

Tanto poder adquirido através de contratos sigilosos chamaram a atenção do Tribunal de Contas da União e do  Ministério Público Federal. Entre as irregularidades identificadas, o TCU citou  “a contratação de um sistema capaz de monitorar e perfilar cidadãos sem qualquer justificativa prévia, a ausência de mecanismos de controle e fiscalização e a própria modalidade de licitação adotada, absolutamente inadequada para o tipo de serviço pretendido”

O MPF alertou para o perigo do uso indevido destes sistemas, por serem inauditáveis  e sem qualquer controle externo. Nas palavras no MPF, ” um grave risco de violação à intimidade e privacidade, à liberdade de expressão e manifestação, ao devido processo legal e a diversas outras garantias fundamentais da pessoa humana, como a integridade física e psíquica e, até mesmo, a vida.”

© 2022 , Zezeca Brasil.

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Bananas Terroristas Terceirizadas

Circulam na imprensa, com certa regularidade, declarações supostamente advindas de “fontes militares” de que as FFAA não apoiarão um golpe convocado pelo Bozo. Mas é difícil dar credibilidade a estas informações.

É difícil crer na honestidade da recente manifestação do General Villas Boas, arquiteto da ação militar no impeachment da Dilma, na prisão de Lula e na articulação para fazer o Bozo presidente. Historicamente, no dialeto da caserna, “golpe militar” na prática é traduzido como “compromisso com a democracia” e “respeito à legalidade”. Desde a queda do Império é assim.

A insistência dos militares em interferir no processo eleitoral – em particular no que diz respeito às urnas eletrônicas –  já ultrapassou todos os limites do bom senso. São inúmeros questionamentos sem fundamentos e propostas de “aperfeiçoamento” desprovidas de razoabilidade.

Por que tanta insistência em tutelar o processo eleitoral? Existem algumas hipóteses que têm sido consideradas. A primeira delas é o desejo dos militares de avançar cada vez mais no terreno do poder civil. Com esta intromissão, também querem passar um recado: não estão dispostos a retroceder no espaço conquistado durante o governo de seu cavalo de tróia (o Bozo). Na verdade, é um projeto do que já chamam de “Partido Fardado”, que tem a ambição de impor a visão de mundo da caserna até 2030, conforme o patético plano de ação amplamente divulgado.

Sim, os fardados das repúblicas bananeiras se acham o “ó do borogodó”. Nem se dão conta da vergonha que passamos no plano internacional por conta dos delírios deles.

A segunda hipótese é a mais preocupante: ao disseminar uma falta de confiança nas urnas eletrônicas, sinalizam que não pretendem aceitar os resultados das urnas, caso não sejam favoráveis aos seus projetos. E este é o maior perigo.

Conforme a opinião dominante dos cientistas políticos, as quarteladas não são mais viáveis no mundo de hoje. Mas isso não significa que a milicada bananeira não tenha táticas e estratégias para viabilizar os seus projetos. Com sólida formação teórica na arte da guerra, sabem formular bem planos ofensivos e defensivos e fazer a leitura de cenários de combate.

Vamos então a uma das teorias conspiratórias que circulam por aí.

Muito já se falou da postura displicente dos militares com a liberação de armas com alto poder de fogo para a população civil, inclusive com desregulamentações que dificultam o rastreamento do uso de armas e munições. Nenhuma força armada do mundo estimula este tipo de política. Significa enfraquecer uma de suas principais prerrogativas, que é o uso da violência legítima do Estado.

Porém, o que é uma aparente negligência, pode ser apenas parte de um projeto.

O golpismo é parte do DNA das FFAA brasileiras desde a Proclamação da República. Sempre recorrem a ele quando se sentem ameaçados pela perda do poder ou de seus privilégios, travestidos de um cínico furor patriótico. E tivemos no Brasil dois momentos em que, por obra do acaso, os militares não perpretaram atentados terroristas contra a população brasileira. Falamos do caso PARA-SAR e do atentado frustrado ao RIOCENTRO, já comentados neste blog.

Mas o que eles podem fazer agora, já que não existe mais espaço para quarteladas? A resposta é a terceirização do terror. Deixar que os Clubes de Tiro e Caça, milicianos e alucinados em geral façam o trabalho sujo.  A tão falada “invasão do Capitólio” tupiniquim poderá dar o pretexto que os militares bananeiros tanto querem, de retomar o poder em nome da ordem pública.

Por isso permitiram que os monstros fossem fartamente alimentados com munição e armamento pesado, muito além do necessário para uma suposta “defesa pessoal”.

Os militares investiram de forma pesada em equipamentos de última geração para a guerra cibernética. Tais tecnologias estão sendo usadas não contra os inimigos externos – que nosso país não tem – mas contra o “inimigo interno” desta casta bananeira.

Eles já sabem muito bem do que se passa no submundo miliciano. Monitoram bem de perto. E vão usar isso não para proteger a cidadania, mas para apresentarem-se como os salvadores da pátria, como uma reserva moral da sociedade num momentos de crise. Cambada de hipócritas.

Nas próximas semanas poderemos ter um “incêndio do Reichstag” 4.0. A conferir. O fascismo bananeiro é capaz de tudo. Só nos resta torcer para que, mais uma vez, a bomba exploda no colo deles.

BANANAS AGEM NAS SOMBRAS

A tática dos golpistas de dissimulação de seus planos e intenções prossegue a todo vapor. A grande imprensa, de maneira cúmplice ou não, segue o script. Diante dos “consensos fabricados”, é preciso fazer o papel de advogado do diabo, mesmo que isto pareça mera teoria conspiratória.

Nas últimas semanas tivemos alguns atos que foram saudados com uma reação contundente aos golpistas. A leitura da Carta pela Democracia, a posse e o discurso do novo presidente do TSE e a busca e apreensão na casa de empresários que alimentam a ideia de golpe no whatszap.

A mídia, em uníssono, vem noticiando estes eventos como duros recados ao Bozo e uma demonstração do isolamento crescente dos golpistas. A falácia de que “as instituições estão funcionando” ganhou novo fôlego. O custo do golpe aumentou muito, afirmaram uns e outros. O projeto de um 7 de setembro golpista estaria esvaziado.

Mas o que interessa neste cenário é observar o comportamento do grupo que é o “x” da questão numa república bananeira: os militares. Porque em paralelo a tudo isso, prossegue o cabo de guerra dos milicos com o TSE. Após uma sugestão esdrúxula de filmagem da cabine devotação (!!!), a milicada veio com novas exigências e a indicação de mais militares para analisar o código-fonte das urnas eletrônicas.

São citados rumores de que, para selar a paz, os militares exigem que algumas de suas sugestões sejam contempladas. Ou seja, oferecem a paz em troca de um cavalo de tróia. Porque o objetivo deles é, desde o início, desacreditar as urnas e abrir o flanco para contestação dos resultados das eleições.

Um pouco fora do script, tivemos as notícias dos supersalários dos militares, com uma cobertura moderada. Nenhum jornalista do mainstream ousou insinuar que farra dos supersalários é a grande motivação da caserna para um golpe “patriótico”. Carregada de eufemismo, em outra matéria recente “especialistas” dizem que os militares não aceitarão retrocessos no espaço conquistado. Querem mesmo é fincar o coturno da tutela do poder civil de forma permanente.

Surpreendentemente, os militares cancelaram pela primeira vez na história o tradicional desfile militar, e justo na data altamente simbólica do bicentenário da Independência. Não querem ser usados numa manifestação que ataca as instituições democráticas, não querem a pecha de golpistas (que são!). O que eles querem mesmo é posar de guardiões da democracia, intervindo para colocar ordem num caos por eles fomentado.

Já dizem que não há risco de golpe no 7 de setembro, mas que é preciso tomar cuidado com atentados dos “lobos solitários”, um perigo detectado pela “inteligência militar”. A velha tática do “incêndio do Reichstag”.  Não satisfeitos com os fracassos do caso Para-Sar e do Riocentro, parece que cogitam repetir esta mesma via criminosa, agora de forma terceirizada para milicianos, CACs ou outro tipo de tresloucados.

Porém, como toda ação movida por táticas de dissimulação, sempre fica uma ponta de fio desencapado. Em paralelo à defesa dos empresários do grupo de whatszap golpista, que estariam sendo vítimas de uma inadmissível invasão de privacidade, uma agressão à liberdade de expressão, um oficial da reserva afirmou: nos grupos da alta oficialidade falam coisas muito piores, e com efeitos práticos desde 2015!

Ora, a ação policial contra os empresários não é pelas ideias que propagam, mas pela suspeita de que financiam os atos antidemocráticos que visam um golpe. O mesmo que fazem altos oficiais bolsonaristas nas sombras. E os tais “efeitos práticos” destes bem conhecemos: a prisão do Lula, o impedimento da Dilma, a eleição do Bolsonaro e a ocupação massiva do Poder Executivo pelos fardados.

Os militares bananeiros são limitados intelectualmente, é certo. Mamas não são burros. Principalmente quando se trata de defender, com unhas e dentes (e golpes!), seus pornográficos privilégios. Montaram um sofisticado QG de guerra cibernética, com equipamentos de tecnologias de ponta, só pra isso.

Quem quiser que se engane. Vem bomba – talvez literalmente – por aí.

PS: Os que desafinam das interpretações majoritárias são raros. Tem até que pedir desculpas antes de apresentar argumentos. O historiador Eduardo Borges trouxe alguns dados muito relevantes, num artigo em que nos pede um olhar mais realista, . Destaca que apenas 18 dos 131 sindicatos filiados à FIESP, assinaram a tal carta pela democracia. Nem a FIRJAN, nem a CIESP, nem a OAB assinaram, apenas para ficar em alguns exemplos mais relevantes. O ex-ministro do STF Marco Aurélio Mello assinou, porém declarou voto no Bozo no segundo turno. Historicamente as nossas elites sempre aderiram ao golpe, desde a Proclamação da República. Fonte: JORNAL GGN

Bananas históricas

Da aprazível cidade de Aracati-CE, vem uma importante lição de História. Esta cidade costeira do Ceará é mais conhecida pela sua paradisíaca praia turística (Canoa Quebrada). Porém foi palco de alguns eventos bem simbólicos.

Foi lá que, em 1881, o jangadeiro e abolicionista Francisco José do Nascimento (ou Chico da Matilde) liderou um boicote ao transporte de escravos para os navios que os levariam para o Rio de Janeiro, onde seriam revendidos. Pela sua bravura neste episódio, passaria a história com o título de “Dragão do Mar”, o “Jangadeiro Nascimento”.

Após a Abolição, a jangada do Chico, batizada com o nome de “Liberdade”, foi trazida para o Rio de Janeiro. A princípio, seria exposta no Museu Nacional como uma peça histórica. Mas deram a infeliz ideia de levá-la para o Museu da Marinha. Desde então, o destino da embarcação é ignorado.

Entregar o destino da “liberdade” aos militares foi um imenso equívoco. Anos antes, em 1869, um jovem jornalista da mesma Aracati já tinha feito um alerta. O abolicionista e republicano Júlio Cesar Fonseca Filho publicou em seu jornal: “-Façamos a República! Fora o rei! Cuidado com o Exército: onde ele predomina, a liberdade é uma mentira”. (ver Nota final).

Dito e feito: militares monarquistas deram um golpe “republicano” que traiu os ideais da república.

Até hoje o Brasil não aprendeu a lição deixada por aqueles cidadãos de Aracati.

Benjamin Constant, mentor e ideólogo do movimento republicano, disse certa vez, de forma profética, que era preciso tomar cuidado com a ignorância no seio do Exército: ela seria uma espada de dois gumes, uma delas pronta para ferir o próprio povo.

Nesta nossa infeliz república bananeira, parece que pouca coisa mudou desde então. As FFAA dirigem suas armas para o “inimigo interno”, ou seja, concidadãos que não se submetem à sua pretensa superioridade moral.

Nota 1: O jornal era o “Barrete Phrygio” (nome do gorro vermelho que se tornou símbolo dos revolucionários franceses). Impresso em papel vermelho, é considerado o primeiro jornal republicano do Brasil. Teve a sua primeira e única edição apreendida e destruída, e o jornalista teve que fugir e se esconder, para não ser preso e levado à força ao front da Guerra do Paraguai.

 

 

Ilusões da República Bananeira

A intelligentsia das repúblicas bananeiras tem grandes esperanças de libertar o seu país de um destino trágico num curto prazo. Talvez por isso alimente algumas ilusões sobre a realidade em que vivem. Por vezes acreditam que parte das elites são nacionalistas, “republicanas” e tem um projeto de nação. Acreditam que existem militares legalistas, que o país pode ter um desenvolvimento soberano e democrático e ser bem aceito pelos países hegemônicos como um forte protagonista no cenário mundial.
No Brasil, embora exista um sociólogo que chamou a atenção para este fato (Jessé de Souza, em “A tolice da inteligência brasileira”), ele não foi levado muito a sério.  A vaidade presente em sua argumentação se chocou com a vaidade do meio acadêmico. Na guerra de egos, uma boa  provocação caiu no limbo.
Parece que a máxima de uma poesia do compositor Aldir Blanc não se confirma: “o tempo vence toda a ilusão” (em Agnus Sei, parceria com João Bosco).
Na maior república bananeira do planeta, a ilusão continua vencendo, e de goleada.
Talvez por isso, quando se fala de um golpe no Brasil, três argumentos que subestimam essa possibilidade são frequentes:
1) as FFAA não entrariam numa aventura;
2) o bozo já não é mais funcional para a elite econômica;
3) Não haveria apoio internacional (leia-se EUA, a quem os milicos brasileiros lambem as botas).
Obs: não citamos aqui o clássico argumento “as instituições estão funcionando”, por ser óbvio o quanto ele é ridículo.
Comecemos por desmontar o último argumento.
Os EUA, com os democratas no poder, não tem interesse na permanência do atual presidente, um sabujo trumpista, o que é uma verdade. Porém isto é só metade da história. A permanência de um ogro no poder é bem conveniente para os interesses geopolíticos e econômicos dos EUA.
O BRICS permanecerá em banho-maria e a manutenção da nossa matriz energética em mãos privadas estará assegurada. O ataque ao meio-ambiente daria aos democratas a chance de continuar com suas condenações retóricas e posar de bom moço para o público interno e externo.
Ora, quanto aliados bizarros o Tio Sam não apoiou ao longo da história?
Se quisessem pôr um fim a este personagem repulsivo que ocupa a presidência, certamente o fariam. A NSA tem material de sobra pra isso (o caso do assassinato da Marielle seria só um exemplo). Se a oposição fosse a tal “terceira via” sonhada pela elite brasileira, o dito cujo já teria sido destroçado.
O fato é que um golpe aqui seria duramente condenado, mas seria funcional para os EUA. O jogo político seria reconfigurado e poderiam surgir alternativas, dependendo do desenlace do putsch.
A resistência da elite econômica ao bozo deve ser lida com muitas reservas. Nos últimos quatro anos empresários, agroexportadores e farialimers aplaudiam efusivamente o presidente nos eventos em que ele participava. Afinal de contas, as reivindicações destas classes foram em grande parte contempladas. O SUS só não foi desmontado por conta da pandemia. No restante, a privatização dos serviços públicos está em pleno andamento.
Nossas elites recuam pensando muito mais na sua imagem perante as elites globais. Se incomodam com o fato de serem vistas como o que são: uma elite colonial caricata. Claro que tem também o cálculo econômico, no risco que poderia trazer para os seus lucros astronômicos. Nestes últimos anos muita coisa sumiu da pauta econômica dos colonistas (termo criado pelo saudoso jornalista Paulo Henrique Amorim). Responsabilidade Fiscal e Risco Brasil, que era o foco de todos os dias, viraram apenas observações um tanto incômodas. Os lucros da elite pouco foram afetados
Deixamos a parte grotesca para o final: o que pensam os militares. No caso, os da ativa, que possuem o comando das tropas. Reza a lenda que militares da ativa não podem se manifestar politicamente. Porém, em tempos de redes sociais, este pensamento fica difícil de ser ocultado. E o que isto revela é que os militares da ativa pensam exatamente igual aos da reserva, que se manifestam sem pudores nas publicações dos clubes militares. Não chega a surpreender, pois todos foram doutrinados pela mesma escola, a mesma formatação foi aplicada ao cérebro de toda a oficialidade.
A insistência em desacreditar as urnas eletrônicas chega a ser impressionante. O discurso hipócrita de “contribuir para aperfeiçoar o sistema” já caiu por terra . É uma clara ação de sabotagem. No caso de uma provável derrota eleitoral desta casta, as portas estariam abertas para o caos de fanáticos e milicianos, hoje fortemente armados pela complacência deliberada das FFAA.
Com o improvável sucesso do “Plano A”, ganhar as eleições dentro das regras, só resta tumultuar e provocar uma virada de mesa. É exatamente isto que está em gestação. Nenhuma carta com milhões de assinaturas vai impedir isto, por mais louvável que seja a iniciativa.
A recusa veemente dos militares em se juntarem ao ato do 7 de setembro é somente para não comprometer a imagem de “isenção” quando tiverem que conter a sedição dos fanáticos e milicianos (incitados e armados pela omissão deliberada dos militares). Afinal, eles estão do mesmo lado. Uns com farda, outro sem.
Talvez este blogueiro esteja delirando. Citando outro verso do compositor Aldir Blanc, “não tenho o vício da ilusão/hoje eu vejo as coisas como são” (Vitória da Ilusão, em parceria com Moacyr Luz).
PS: Muitos leitores poderão achar que este blog está semeando “teorias da conspiração” que em nada ajudam ao processo democrático. É uma questão de perspectiva. Teoria conspiratória seria afirmar que os milicos planejam uma operação Jacarta: um golpe que deixa o trabalho sujo para as milícias. Para saber o que seria isso, sugiro o premiado documentário “O Ato de Matar”, de Joshua Oppenheimer, legendado no youtube. O golpe na Indonésia em 1965 é o sonho dourado do celerado que acha que a ditadura militar deveria ter “eliminado  uns 30 mil”. Na Indonésia foram 500 mil. Se uma barbárie dessa dimensão é algo impensável nos dias de hoje, isto não impede uma versão clean, um método “Jacarta 4.0”. A conferir.

BANANAS TERRORISTAS: UM ALERTA

Em continuidade a publicação anterior: percebemos que o jogo de dissimulação dos militares golpistas (perdão pelo pleonasmo) continua: Um militar reformado condena a realização de ato político no dia do bicentenário da independência; um comandante da ativa volta a  pedir ao TSE o acesso ao código fonte da urna eletrônica que já possuem; avança no Congresso Projeto de Lei que esvazia poder dosGovernadores sobre ocomando das Polícias Estaduais; o serviço de inteligência do governo “vaza” que há risco de atentados terroristas no 7 de setembro, cuja convocação nas redes sociais se dá com a imagem de uma granada  e mm pedido para o “capitão” soltar o pino…O golpe dos generais da maior república bananeira do mundo segue a todo vapor. A grande imprensa finge que não é sério…

O PERIGO DO TERROR MILITAR

Em 1968, a ditadura militar brasileira estava sob forte pressão. Várias manifestações pediam a devolução do poder para os civis e a volta da democracia. Num único dia, 21 de junho, a sexta-feira  sangrenta, 28 manifestantes foram mortos pela repressão.

Em reação à crescente mobilização popular, militares montaram uma operação para realizar atos terroristas. O plano incluía explodir bombas em lojas, bancos e embaixadas para, num ato final, explodir o Gasômetro do Rio de Janeiro e a represa de Ribeirão da Lajes. Seriam milhares de mortos.

O plano era colocar a culpa na oposição. As principais lideranças seriam presas e assassinadas.

Este crime macabro só não foi colocado em prática graças a resistência do Capitão da Aeronáutica Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho (conhecido como Sérgio “Macaco”). Ele se rebelou e impediu este atentado bárbaro.

Nenhum militar foi punido. Somente o heróico capitão, que foi cassado e expulso das forças armadas.

Frustrado o plano terrorista dos militares, logo a seguir foi decretado o Ato Institucional No. 5, que deu poder para que os militares pudessem prender, torturar, cassar e exilar milhares de brasileiros nos anos seguintes.

Em 1981 a história se repetiu.  A sociedade brasileira exigia a volta da democracia mas muitos militares não queriam que o poder voltasse para os civis.

Mais uma vez planejaram uma escalada terrorista para colocar a culpa na oposição. Explodiram bombas em bancas de jornal, na Câmara de Vereadores e na Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro.

O ato final dos militares terroristas seria o atentado no Riocentro, onde vários artistas e mais de vinte mil jovens estavam em um show pela volta da democracia. O plano falhou porque uma das bombas explodiu no carro onde estavam os militares que iriam lançar os explosivos no público. Um sargento morreu na hora e um capitão ficou gravemente ferido.

Os militares abafaram e arquivaram o caso. O sargento foi enterrado com honras de herói e o capitão terrorista se aposentou como coronel.

Em 1986 um outro oficial, um tenente insatisfeito com os salários da carreira militar, planejou explodir bombas em quartéis e na adutora do Guandu. Em vez de ser punido com a prisão e a expulsão do Exército, foi reformado com a patente de capitão. Ele entrou para a política e fez carreira como Deputado.

Em 2018 os militares decidiram apoiá-lo  na eleição para a Presidência da República. Vitoriosos, ocuparam mais de seis mil cargos civis no governo, algo inédito na história do Brasil. No Ministério da Saúde foram os responsáveis pela gestão desastrosa durante a epidemia de Covid 19,  que tirou a vida de milhares de brasileiros.

Agora teremos novas eleições. Para tumultuar o processo democrático,as Forças Armadas  lançam dúvidas sobre as urnas eletrônicas.

Será que os militares, confiantes na impunidade para os seus crimes,  planejam recorrer mais uma vez ao terrorismo?  Para preservar os seus privilégios às custas do sofrimento do povo brasileiro serão capazes de sacrificar vidas inocentes?

O celerado que preside o país, programou para a comemoração do bicentanario da independência, um ato político com intenção golpista. Espera-se que, no dia 7 de setembro próximo, ocorra uma grande manifestação que descambe para a violência aberta. Não é um temor desprovido de razão.

O terror de direita, que já havia atuado em períodos anteriores à ditadura, voltou a agir a partir de janeiro de 1980, coincidindo com o retorno dos anistiados à atividade política. Como aconteceu em 1968, com os ataques do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), e em 1976, com a Aliança Anticomunista Brasileira (AAB), os atentados deste período ficariam impunes. Abaixo, uma lista dos ataques da “direita explosiva” em 1980 e 1981.

1980

  • 18/01 – desativada bomba no Hotel Everest, no Rio, onde estava hospedado Leonel Brizola.
    ·  27/01 – bomba explode na quadra da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, no Rio, durante comício do PMDB.
    ·  26/04 – bomba explode em uma loja do Rio que vendia ingressos para o show de 1º de Maio.
    ·  30/04 – em Brasília, Rio, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Belém e São Paulo, bancas de jornal começam a ser atacadas, numa ação que durou até setembro.
    ·  23/05 – bomba destrói a redação do jornal “Em Tempo”, em Belo Horizonte.
    ·  29/05 – bomba explode na sede da Convergência Socialista, no Rio de Janeiro.
    ·  30/05 – explodem duas bombas na sede do jornal “Hora do Povo”, no Rio de Janeiro.
    ·  27/06 – bomba explode na sede do Sindicato dos Jornalistas, em Belo Horizonte.
    ·  11/08 – bomba é encontrada em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, num local conhecido por Chororó. Em São Paulo, é localizada uma bomba no Tuca, horas antes da realização de um ato público.
    · 12/08 – bomba fere a estudante Rosane Mendes e mais dez estudantes na cantina do Colégio Social da Bahia, em Salvador.
    ·  27/08 – explodem três cartas-bombas no Rio: na OAB, matando a secretária da presidência, Lyda Monteiro; no gabinete de um vereador do PMDB e na redação do jornal “Tribuna da Luta Operária”.
    ·  04/09 – desarmada bomba no largo da Lapa, no Rio.
    ·  08/09 – explode bomba-relógio na garagem do prédio do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, em Viamão.
    ·  12/09 – duas bombas explodem em São Paulo: uma fere duas pessoas em um bar no bairro de Pinheiros e a outra danifica automóveis no pátio da 2ª Cia. de Policiamento de Trânsito no Tucuruvi.
    ·  14/09 – bomba explode no prédio da Receita Federal em Niterói (RJ).
    ·  14/11 – três bombas explodem em dois supermercados do Rio.
    ·  18/11 – bomba explode e danifica a Livraria Jinkings, do ex-deputado e dirigente comunista Raimundo Jinkings, em Belém.
    ·   08/12 – bomba incendiária destrói o carro do filho do ex-deputado Raimundo Jinkings, em Belém.

1981

  •  05/01 – outro atentado a bomba em supermercado do Rio.
    ·  07/01 – bomba explode em ônibus a serviço da Petrobras na Cidade Universitária, no Rio.
    ·  16/01 – bomba danifica relógio público instalado no Humaitá, no Rio.
    ·  02/02 – bomba colocada no aeroporto de Brasília é encontrada antes de explodir.
    · 26/03 – atentado às oficinas do jornal “Tribuna da Imprensa”, no Rio.
    · 31/03 – bomba explode no posto do antigo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), em Niterói (RJ).
    ·  02/04 – atentado a bomba na residência do deputado Marcelo Cerqueira, no Rio.
    ·  03/04 – explosão de uma bomba destrói parcialmente a Gráfica Americana, no Rio.
    ·  28/04 – grupo Falange Pátria Nova destrói, com bombas, bancas de jornais de Belém.
    ·  30/04 – explosão mata um agente do DOI-Codi e fere outro, no momento em que preparavam atentado contra 20 mil pessoal no show de 1° de Maio no Riocentro.
  • FONTE: http://memorialdademocracia.com.br/card/direita-explosiva-faz-ataques-em-serie#card-215

Bananas Traiçoeiras (a arte da dissimulação militar)

Há décadas – desde a campanha da FEB (Força Expedicionária Brasileira) na Itália – que o Brasil não combate em guerras. Apenas esteve em missões de paz ONU e atuou de forma vergonhosa e subserviente na invasão da República Dominicana pelos EUA em 1965. Sem participar de combates efetivos, os atuais comandantes militares brasileiros só conhecem a guerra pelos livros. São estudiosos de estratégias e táticas militares, mas que nunca as colocaram em prática num campo de batalha.

Na falta de um inimigo externo real, praticam os seus conhecimentos contra o que eles chamam de “inimigo interno”. Na verdade, apenas uma desculpa esfarrapada para assegurar a permanência deles no poder e para a garantia de privilégios corporativos negados à maioria da população civil. Este é o verdadeiro objetivo estratégico da “guerra” que eles travam no Brasil, travestidos com uma anacrônica retórica de combate ao comunismo.

Entre as táticas utilizadas, está a dissimulação. Ocultar suas reais intenções para induzir os seus adversários a subestimá-los e incorrer em erros.

Neste mês de julho foram disseminadas (melhor dizer “plantadas”) na imprensa várias notícias com esta finalidade de distração. E esta indução ao erro parece estar surtindo efeito. Lamentavelmente.

Primeiramente, o Ministro da Defesa manifestou-se de forma patética, duvidando da confiabilidade das urnas eletrônicas. A análise superficial diz que foi apenas um reflexo da ambição prosaica das FFAA de tutelar o processo eleitoral, algo inédito na história.  Na verdade, a intenção era muito mais a de desacreditar o STF e TSE perante o fanático eleitorado bolsonarista.

Provocada esta cizânia, vieram outros atos coordenados (que nada têm de aleatórios ou impensados)

– Comandantes militares não vão a encontro com os Embaixadores convocado pelo Presidente que atacou as urnas eletrônicas. Para os analistas de plantão, seria um sinal de que não há da parte deles concordância com o ataque à lisura do processo eleitoral;

– Circula uma notícia de que os militares estariam negociando com o Lula a manutenção do orçamento de suas pastas e as condições privilegiadas da aposentadoria militar. A imprensa viu nisto o avanço na corporação militar de uma aceitação da vitória do Lula;

– Segue-se uma nota conjunta dos comandantes militares em que refutam a existência de divisões internas e reafirmam um respeito, meramente retórico, às regras democráticas;

– É emitida nota da Embaixada dos EUA reafirmando a confiança no processo eleitoral brasileiro. Para a grande imprensa seria um recado aos militares de que o Tio Sam não apoiará um golpe militar;

– São publicadas notas de associações da Polícia Federal e da ABIN afirmando a sua confiança nas urnas eletrônicas;

– Banqueiros e empresários assinam um manifesto pela democracia. Por outro lado, circulam notícias de que setores do agronegócio se aproximam de Lula;

– O Ministro da Defesa comunica que irá assinar uma carta compromisso da OEA de respeito à democracia.

Finalmente, a voz e o pensamento da elite brasileira – os editoriais dos jornalões – passaram a condenar com mais veemência os arroubos golpistas do Presidente. Tudo em consonância com as análises de seus “especialistas”, que afirmam que não existem condições para um golpe. Argumentam que as FFAA não vão entrar numa aventura, que o capital financeiro e industrial também não, o agronegócio estaria se movimentando na mesma direção, uma condenação internacional é tida como certa (leia-se EUA) e as instituições seguirão firmes na defesa do sistema eleitoral (STF e TSE).

Quem não te conhece é que te compra, diz o ditado.

De uma hora para outra, todos os apoiadores que até dias atrás riam e urravam diante das bravatas do Presidente em eventos públicos (dos Faria Limers, do Agronegócio, da FIRJAN, das Associações Comerciais e outros mais), parecem ter mudado de opinião.

Não vamos nos debruçar sobre o oportunismo e hipocrisia da grande imprensa e destes atores políticos “recém-convertidos” (“-Acredite, se quiser”, diria Jack Palance). São apenas as classes frustradas com a “terceira via” que não vingou. E as críticas que fazem ao Presidente são até leves, se comparadas ao massacre midiático que dirigiram à Lula e à Dilma num passado recente. No fundo, eles queriam um Presidente com uma agenda neoliberal igual a do governo atual, mas que respeitasse um mínimo de regras de etiqueta e soubesse comer de garfo e faca.

Bolsonaro se tornou disfuncional. Foi útil para o trabalho de desmonte da seguridade social e trabalhista, da liberação da grilagem e da mineração, do desmonte da regulação estatal. Mas agora ele se tornou um péssimo cartão de visitas para os negócios da elite econômica.

O que vale a pena considerar mais seriamente é aquele personagem que sempre é o fiel da balança numa república bananeira: as Forças Armadas (sempre é bom lembrar que somos a maior República das Bananas do planeta, como já foi dito aqui).

Não é de hoje que o atual presidente expressa claramente as suas intenções golpistas e sugere que terá o apoio das FFAA, das quais é o “comandante supremo”. Para garantir esta fidelidade, ele teria trocado todo o comando militar no ano passado, algo que nunca ocorreu na história da República.

Não há razão para ilusões. Os atuais comandantes militares são bolsonaristas até o último fio de cabelo. Basta ler as diversas manifestações públicas deles, tanto na imprensa quanto nas redes sociais. São limitados cultural e intelectualmente, mas não são burros. Existe sim uma inteligência militar. Não devemos subestimá-los. Sabem muito bem o que fazem. [i]

Se o assunto é política, a palavra dos militares não tem qualquer credibilidade.  E quando reafirmam o compromisso com a legalidade, não tem como deixar de ver nisto um tanto de cinismo e deboche.

Vamos recordar alguns fatos históricos. O primeiro golpe militar do Brasil – a Proclamação da República – foi liderada por marechais monarquistas, que traíram o Imperador. Queriam mais poder para os militares na máquina do Estado.

No livro de memórias de Almino Afonso, sobre o golpe de 1964, o autor reproduz um diálogo de Jango com seus chefes militares. Eles lhe informaram que estava tudo normal, que o risco de sublevação não existia. O chefe da Casa Militar, General Assis Brasil, era um legalista que não tinha acesso aos planos golpistas e foi traído pelos colegas de farda. O mesmo que aconteceria do Chile de Salvador Allende, cujo general legalista Carlos Prats – depois assassinado – acreditava que Pinochet era confiável. Os exemplos são muitos para quem quiser se debruçar sobre este tema.

Os golpistas militares agem nas sombras e dissimulam permanentemente suas intenções.

Os militares sabem que, no mundo de hoje, não há mais espaço para um golpe militar clássico, as típicas quarteladas que infestaram a América Latina nos anos 60/70 do século passado. Para este tipo de golpe, não há qualquer chance de obter apoio dos EUA e das maiores democracias ocidentais.

Também sabem que a continuidade de Bolsonaro é inviável. Ele já cumpriu o papel que lhe cabia e pode ser descartado. Cavalo de Tróia das FFAA, ganhará a impunidade por gratidão pelos serviços prestados. A mesma impunidade que foi dada ao Brigadeiro Burnier, ao Coronel Ustra, para centenas de torturadores e aos terroristas militares do atentado ao Riocentro.

Vamos ao X da questão: O golpe planejado não é para manter Bolsonaro no poder, mas para impedir um novo governo do Lula.

Os militares sabem que teriam o apoio entusiasmado da elite econômica para isso. E, em tese, até mesmo dos EUA. O Partido Democrata repudia a sabujice de Bolsonaro ao Donald Trump, é certo.  Mas também não gosta da ideia de ver um líder com o carisma de Lula de volta ao cenário internacional. Um presidente que fortaleça a soberania nacional e o BRICS, num momento em que a unipolaridade norte-americana está ruindo, é algo que deixa o Tio Sam de cabelo em pé.

Aí vocês podem se perguntar: Como fariam isso sem recorrer a uma clássica quartelada? Ora, em tempos de guerras híbridas, são muitas as alternativas. Articulistas na web já fizeram várias especulações: da cassação do registro do Bolsonaro para dar lugar a uma terceira via até o assassinato do Lula. De todas as teses que circulam, a mais plausível é a que diz que os militares deixarão de forma proposital que Bolsonaro estimule a insurreição de seus seguidores fanáticos e armados. Diante do caos, a s FFAA se apresentariam como garantidoras da Lei e da Ordem.  [ii]

Faz todo sentido. Nos últimos anos assistimos a livre disseminação de armamentos pesados e munição entre a população civil. Foram eliminados inclusive formas de rastreio do uso de munições, além de um relaxamento nas licenças que permitiu até que pessoas com ficha criminal tivessem acesso a estas armas.  Em pouco tempo, os CACs – clubes de colecionadores de armas, atiradores profissionais e caçadores – se multiplicaram e adquiriram um poder de fogo inimaginável. E isto não se deu por irresponsabilidade, incompetência ou negligência das FFAA: era este mesmo o plano. [iii]

No momento em que este artigo está sendo escrito, realiza-se em Brasília a 15ª Conferência de Ministros da Defesa das Américas. Uma insólita coincidência.  Na abertura, o ministro da Defesa do Brasil, bolsonarista roxo, anunciou que ao final do encontro será assinada uma declaração em que será reafirmado o compromisso com a “Carta Democrática Interamericana, e seus valores, princípios e mecanismos”, da Organização dos Estados Americanos, OEA.

Curiosamente, a mesma OEA que, de forma quase pornográfica, avalizou o golpe na Bolívia com base numa falsa acusação de fraude eleitoral, desencadeada por grupos armados de extrema-direita e motins das polícias. Após um ano, o golpe fracassou. Inicialmente conseguiu afastar a esquerda do poder, mas as eleições lhe devolveram o mandato.

A guerra híbrida teve sucesso em Honduras, no Paraguai, no Brasil e na Bolívia. Porém, com exceção do Paraguai, foram vitórias efêmeras. As últimas eleições no continente demonstram que esta estratégia já não funciona mais. Até a antes inexpugnável Colômbia surpreendeu. Uma versão 4.0 do “método Jacarta” está em elaboração. [iv]

Se a oposição e os movimentos populares não se anteciparem, uma intentona golpista acontecerá. No dia 7 de setembro ou no dia 2 de outubro, com consequências imprevisíveis e alto risco de derramamento de sangue.

Teoria da conspiração? O tempo dirá.

Conhecemos este filme e o seu final. Sabemos o que eles fizeram no verão passado.

Charge do genial André Dahmer:

PS: No momento em que este artigo era finalizado, um jornalista do UOL –  outro reconvertido que difundiu falácias num verão passado, não devemos esquecer – foi muito feliz ao demonstrar a tática de dissimulação dos militares: https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo-azevedo/2022/07/28/nao-caiam-na-conversa-do-general-sua-declaracao-e-golpista-nao-garantista.htm

[i] A nota do General Luiz Eduardo Rocha Paiva expressa bem o pensamento do generalato brasileiro https://jornalggn.com.br/politica/eleicoes-politica/a-comprovacao-dos-propositos-golpistas-do-ministro-da-defesa/

[ii] Um bom resumo destas especulações pode ser lida no artigo de Manuel Domingos Neto : https://www.brasil247.com/blog/futuro-duvidoso

[iii] Alguns artigos publicados recentemente na grande imprensa são preocupantes: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2022/07/26/cacs-ja-superam-total-de-pms-e-de-integrantes-das-forcas-armadas-em-todo-o-pais.htm

https://oglobo.globo.com/politica/acao-coordenada-por-grupos-bolsonaristas-no-telegram-no-whatsapp-impulsionou-postagens-contra-moraes-nas-redes-sociais-24410853

[iv] Jacarta, capital da Indonésia, denomina o método que em 1996 embasou um golpe brutal e um genocídio sem precedentes pelas mãos de militares e milícias. Para saber mais sobre o método Jacarta é imperdível ver o premiadíssimo documentário “O Ato de Matar”, disponível no Youtube. Aquele país se tornou o “paraíso das milícias”. Também é o título de um livro recentemente lançado no Brasil : https://outraspalavras.net/historia-e-memoria/o-metodo-jacarta-outra-historia-da-guerra-fria)

(c) Livre reprodução, parcial ou integral.

BANANAS AGAIN

Os elementos que caracterizam um país como uma república das bananas já foram expostos aqui neste blog. Uma aliança entre uma elite agraria exportadora/extrativista, uma classe política cleptocrata e militares autoritários e limitados intelectualmente.

Mas além das forças das armas, existe uma construção ideológica para sustentar estas bananeiras. Esta construção não é obra da elite agrária, nem de empresários predadores que só pensam em maximizar lucros, nem dos políticos cleptocratas que só querem aumentar o patrimônio e consolidar sua dinastia familiar. De uma forma geral, a ideologia bananeira é obra dos militares, auxiliado por alguns serviçais civis.

O humorista Gregório Duvivier, certa vez dedicou uma edição de seu programa semanal para o que chamou de “ideologia de gene…ral”, um chiste com o delírio da “ideologia de gênero”.

No Brasil, durante a ditadura militar a ideologia bananeira foi explicitada em um livro que ficou conhecido pela sigla ORVIL (livro de trás pra frente), obra “intelectual” da ditadura militar. É um retrato de uma época, marcada pelo contexto da guerra fria. Sem qualquer papel relevante num mundo dividido entre duas potências, os nossos militares se voltaram para um suposto “inimigo interno”, inimigos da potência do ocidente a qual se alinhavam.

Agora temos uma nova versão, mais atualizada. O recém-lançado Plano Brasil, um patético retrato da ideologia bananeira do Brasil atual.

Curioso é que, antes, havia um substrato nacionalista nas formulações dos militares.  Agora ele é meramente retórico, um patriotismo vago, pois abraçaram o liberalismo na sua pior versão. Afinal, o que sempre predominou no Brasil foi um liberalismo mal ajambrado, na verdade um “darwinismo social” disfarçado por uma retórica liberal simplória.

O documento é uma pérola de indigência intelectual. Infelizmente, as instituições (de)formadoras dos militares na atualidade não permitem que surjam um novo Golbery. Mesmo sendo um sustentáculo intelectual do regime ditatorial, havia uma inteligência refinada nos escritos daquele general. Uma qualidade completamente ausente nos documentos militares atuais.

Inúmeros estudiosos e jornalistas tem publicado textos onde desancam as teses deste documento bizarro. É uma tarefa relativamente fácil, convenhamos. Não vamos perder tempo aqui comentando as inúmeras sandices do tal Plano.

Porém, o mais deprimente nas 93 páginas do tal plano é arrogância de seus autores. Nas entrelinhas do documento fica nítido que os militares se veem como uma elite, uma casta superior, acima do bem e do mal, uma reserva moral do país, que por essa razão tem a missão de tutelar a sociedade brasileira.

Eles não tem um pingo de caráter para assumir seus erros e se desculpar pelas inúmeras tentativas de golpes contra a democracia, pelas torturas e execuções, pelo caso Para-Sar, pela bomba do Riocentro. Muito menos pelas compras superfaturadas, de picanha ao Viagra, nem pelo tráfico de cocaína em avião presidencial, do dinheiro público jogado fora na sabidamente ineficaz cloroquina, nem pela gestão estúpida e genocida do Ministério da Saúde em plena pandemia.

São esses que se acham uma elite, uma autodeclarada “reserva moral” que se julgam no direito de tutelar o poder civil e usufruir de benesses que são negadas aos demais cidadãos brasileiros.

Um caso gravíssimo de autismo institucional, quase inacreditável, que seria risível se não fosse trágico.

Nossas FFAA são um caso perdido. Teriam que ser refundadas. Até lá, continuaremos a ser motivo de chacota mundial como a maior República Bananeira do planeta.

Bananas & Cia Ltda.

Recentemente, um dos principais cientistas políticos do país na atualidade, ao comentar o livro do general Villas Boas, se disse impressionado com a limitação intelectual demonstrada pelo oficial que alcançou o mais alto posto da corporação.

O comentário é bem ilustrativo de como é desconhecida a realidade da formação intelectual dos militares brasileiros. O fato detectado pelo cientista não lhe deveria causar surpresa.

Não que não exista uma, digamos assim, “inteligência militar” na caserna: a capacidade de pensar estrategicamente e formular ações táticas. O problema é que o exercício intelectual dos militares, por conta da formação que recebem, opera em limites muito estreitos.

Militares são preparados para a guerra. O binômio hierarquia e disciplina, fundamental para o funcionamento da cadeia de comando, obviamente limita o desenvolvimento da atividade intelectual. Estimular em demasia o pensamento crítico é a base para motins, e nenhum comandante militar deseja correr este risco.

Não há lugar para dissensos numa instituição militar, ao menos para as questões de fundo. Nunca houve e nunca haverá. No Brasil, esta prerrogativa é de um minúsculo “núcleo duro” que, sem qualquer supervisão civil, define conteúdos e métodos da formação militar.

Por isso que as democracias saudáveis só podem existir com a submissão do poder militar ao poder civil. A tutela militar, baseada no mito de uma superioridade moral das FFAA, é coisa típica de repúblicas bananeiras. E o Brasil é a maior de todas.

Nélson Rodrigues dizia que os jovens eram umas bestas, que um Rimbaud só aparecia a cada 300 anos. Parafraseando o dramaturgo, também poderíamos dizer o mesmo dos militares brasileiros, que um Golbery do Couto e Silva só aparece a cada 400 anos.

Num depoimento para o filme documentário “Jango”, do cineasta Silvio Tendler, o general Mourão, que precipitou o golpe partindo com suas tropas de Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro, revela bem a distância intelectual que separava os típicos oficiais do exército do general Golbery. Disse ele que os generais estavam preparados para enfrentar um longa resistência (pra bom entendedor: estavam preparados para matar muitos brasileiros). E salientou que só Golbery discordava desta avaliação e acertou as previsões. Teria dito: “cai que nem um castelo de cartas”.

Golbery foi um personagem complexo da nossa história. Mentor e cúmplice de muitos crimes, de forte conservadorismo, de alinhamento férreo com a doutrina da guerra fria, Golbery tinha uma formação intelectual sofisticada para os padrões militares. Isso lhe dava a capacidade de fazer uma análise política mais acurada. Sem ele, a barbárie da ditadura militar no Brasil teria tido uma dimensão similar à da praticada no Chile e na Argentina. Graças a ele, o pensamento estreito e vulgar da Escola de Chicago não teve vez por aqui, com Roberto Campos, Simonsen e Delfim Netto no comando da economia. A modernização industrial foi promovida e, com o acordo nuclear assinado com a Alemanha, demonstrou que o alinhamento político não se atrelava à submissão econômica e tecnológica.

Enquanto viveu, Golbery agiu para colocar limites na chamada “linha dura”. Mas não impediu que a mediocridade reinante no generalato acabasse por dominar a formação dos oficiais que hoje comandam o Brasil.

O que torna mais dramático o caso brasileiro é o autismo da caserna, a auto imagem de uma superioridade moral que eles não tem nem nunca tiveram, que faz com que eles se julguem no direito de tutelar o poder civil. Não arredam pé desta visão nem depois de expostos pela gestão criminosa no Ministério da Saúde em plena pandemia. Este autismo, esta falta de noção, é o que permite os frequentes espetáculos bizarros como a tanqueciata, outra demonstração patética de bananismo. Mais uma vez, fomos motivo de piadas pelo mundo afora.

Agora de doer mesmo é a pretensão intelectual destes fardados no poder. O recém-criado IGVB – Instituto General Villas Boas é um exemplo disso. O conteúdo do portal web é um caso clássico de “vergonha alheia”. Começa promovendo um webnário com notórios negacionistas da pandemia. E apresenta um suposto “projeto de nação”, uma coletânea de clichês que parecem ter saído dos artigos da anacrônica revista do Clube Militar.

Alguns incautos tentam separar o pensamento dos oficiais da ativa daqueles que já estão reformados, ignorando que ele é essencialmente o mesmo. Os oficiais da reserva, livres dos constrangimentos e das responsabilidades a que estavam submetidos quando na ativa, expressam sem travas o que pensam.

As patacoadas dos militares brasileiros, se não ocupassem o poder da forma incompetente e irresponsável como o fazem, até seriam engraçadas. Mas elas são apenas o retrato de nossa tragédia, que condena as nossas atuais gerações a um futuro sem perspectivas. Em grande medida, graças à indigência intelectual desta casta de, agora autopromovidos, Marechais.

Yes, nós temos bananas.

BANANA MAMATA

Um famoso filme de animação tornou popular a expressão Hakuna Matata, retirada do idioma suaíli, que é comum na Tanzânia e o Quênia. A tradução encontra paralelos em outras expressões idiomáticas populares como o “no problemou o don’t worryanglo-saxão. Ou seja, uma recomendação para não se preocupar com pequenos problemas, não se aborrecer com as críticas, não esquentar a cabeça com cobranças públicas por seus atos. Pra usar uma expressão mais atual, trata-se do “ligar o foda-se”.

Os militares que se articularam para voltar ao poder com a candidatura do Bolsonaro estavam com esta postura tranquila até bem recentemente. Afinal, sempre foram protegidos pelo véu da impunidade. Mas bastou uma tímida insinuação de que eles poderiam ter esta posição de conforto ameaçada para que, indignados, subissem em seus coturnos, Isto ficou muito evidente na nota completamente estapafúrdia e desproporcional dos comandantes militares diante da manifestação do Senador que preside a CPI da Covid19, numa reação que beirou a histeria. Ele apenas manifestou publicamente a constatação do claro envolvimento de militares com a corrupção criminosa para a compra de vacinas.

Desta forma eles mandaram a “hakuna matata” às favas, tal como fizeram com os escrúpulos ao editar o AI-5 em 1968. A “banana mamataparece estar acima de tudo, acima de todos. Até um general, hoje na reserva, tido como íntegro e sensato, veio a público dizer que não existe “banda podre” nas forças armadas. Declaração que não chega a ser surpreendente, pois o mesmo foi fiador deste governo até ser defenestrado dele de forma humilhante.

Isto acontece porque os militares brasileiros, desde sempre, se julgam como uma elite, um grupo à parte entre os cidadãos, uma reserva moral da sociedade brasileira, sempre prontos a sacrificar a própria vida na defesa da nação. De tanto repetirem esta baboseira nas academias, acreditam nela como num dogma.

Verdade que a vida militar pode ser dura, impondo dificuldades à vida pessoal e familiar de seus integrantes. Mas é uma escolha de cada um, não um sacrifício imposto à revelia, que justifique ou minimize a gravidade de qualquer deslize que venha da caserna. A opção pela carreira militar não torna nenhum cidadão superior aos outros. As FFAA não são instituições transcendentes, com se algum manto divino as protegessem das fraquezas e vilezas que afligem qualquer outra instituição pública.

Portanto, reina na caserna um profundo falso moralismo. Pois estes profissionais, que se julgam tão competentes, honestos e dedicados a nação, de forma direta ou indireta foram cúmplices descarados do negacionismo que fez milhares de vítimas.

Muitos tentam explicar o fenômeno dizendo que os militares fingem que nada acontece para obter mais benesses enquanto ocupam milhares de cargos. Alguns até mesmo se locupletando com vencimentos acima do teto constitucional. Mas a explicação não é tão simples, ainda que haja muito de verdade neste argumento.

O buraco é mais embaixo. O negacionismo sempre fez parte do pensamento da caserna, habituado a negar tudo que contraria os dogmas da instituição, mesmo tendo de recorrer a contorcionismo argumentativos (como na defesa dos agentes de estado que praticaram torturas). E um dos dogmas mais arraigados é o que diz que a corrupção não grassava nos seus governos pós 1964.

Talvez ao contrário do que esperavam, a nota desastrada dos comandantes militares acabou tendo o efeito de quem sacode um vespeiro. Logo o TCU tornou público a grande quantidade de processo de irregulares nas licitações das FFAA. Nada muito diferente do que acontece em outros órgãos públicos. Todos tem as suas bandas podres sim, e se escudar no negacionismo e na garantia de impunidade não ajuda em nada. Muito pelo contrário, até incentiva ousadas práticas criminosas, como foi o caso de tráfico de drogas no avião da comitiva presidencial. Fato este que reforçou na Europa a percepção de que continuamos a ser uma grande república bananeira.

Porém o tapa de luva na nota dos comandantes militares veio dos diplomatas recém-formados, que escolheram homenagear um de seus quadros, o Embaixador José Jobim, assassinado quando pretendia tornar pública a corrupção na Itaipu Binacional, em pleno regime militar. E esta foi apenas a ponta mais saliente do iceberg da corrupção do regime pós-64, nos quais se fartaram os malufs da vida e outros mais. Com a imposição de uma violenta censura à imprensa, a ditadura selou com civis e militares corruptos um pacto não declarado de impunidade, e só muito recentemente os historiadores começaram a trazer à luz os casos escandalosos daquela época.

Foi muita a sujeira jogada pra baixo do tapete, com a desculpa esfarrapada de que as denúncias eram táticas subversivas dos comunistas. Nem mesmo apelaram para a clássica desculpa de que roupa suja se lava em casa (ou melhor, na caserna). Sobrou muita farda emporcalhada que nunca foi lavada.

A corrupção no Brasil, como muitos já assinalaram, é sistêmica e endêmica. Nenhum instituição está livre dela. Porém generais moralistas insistem em negar este fato. Parafraseando o velho dito popular, agora podemos dizer: Os generais estão nus. Só eles não enxergam isso.