Dias imperfeitos

O acaso, as coincidências ou, como diria Maquiavel, a fortuna, prega peças inesperadas. Essa semana os roteiristas da ópera bufa Brasil ficaram atordoados. Foram muitos os acontecimentos inesperados.

– Os neofascistas do Congresso, avessos a qualquer regulação das bigtechs, se viram em apuros. A defesa da “liberdade de expressão” (que eles entendem como “liberdade de difamação”) foi atropelada pela explosiva denúncia da exploração de menores de idade, atividade que enche os cofres das redes da Meta e do Google. Apesar da resistência dos neofascistas, a  lei de “desadultização” foi aprovada. Ficou ruim para boa parte dos que se auto intitulam “defensores da família” compactuarem publicamente com facilidades para pedófilos;

– Uma operação da Polícia Federal desbaratou um esquema bilionário do PCC nas fintechs da Faria Lima. A falácia de acusar a esquerda de defender o crime organizado perdeu força. Descobriu-se que a cúpula do crime está encastelada na meca dos financiadores das campanhas dos neofascistas. A PF só não descobriu isso antes por conta  das dificuldades criadas pelos mesmos neofascistas do Congresso, que usaram  fake news para sabotar a proposta de fiscalização do PIX.  A pergunta que não quer calar: – Teria sido uma ação encomendada para aqueles parlamentares?;

– A revista internacional que é a bíblia dos neoliberais, em matéria de capa, deu um esculacho fenomenal no ex-presidente golpista. Na verdade, mandou um recado: colaboradores dessa estirpe não queremos mais. Nem que prometa entregar a direção da economia para o Campos Neto, o Paulo Guedes da vez. Escolham alguém que não seja tão deplorável e abjeto. Esqueçam a ideia de anistiá-lo. Tratem de deixar o caminho livre para o MAGA-Thorsício e seu martelo privatizador;

– Às vésperas da ação policial, e de forma quase cronometrada, ocorreu um movimento intenso da bancada neofascista para aprovar uma PEC que sujeitaria qualquer investigação de crimes comuns dos parlamentares à aprovação prévia de seus pares. Ou seja, um mandato parlamentar seria um caminho para a garantia de impunidade não só para os corruptos do orçamento secreto, mas também para estupradores, assassinos e traficantes.  Em paralelo, soubemos que a ação da PF vazou, o que permitiu que muitos mandatos de prisão não fossem efetivados. “Coincidências” às vezes são fulminantes. A PEC que estava pronta para ser votada foi abandonada abruptamente, até por alguns de seus patrocinadores. Vai que o eleitorado junta lé com cré, não é mesmo?

Enfim, muito material a ser explorado no combate ao neofascismo. Mas o otimismo deve ser moderado.  O fascismo conquistou corações e mentes muito além de qualquer racionalidade. Pelo menos 45% do eleitorado seguirá fiel ao neofascismo. Porque ele se alimenta de um caldo cultural que está na base da formação do nosso país. Os que atuam de forma inescrupulosa continuam a colher seus frutos, independente dos fatos. 

Atribui-se ao general Jarbas Passarinho uma frase que demoveu os que ainda resistiam à edição do AI-5, o ato que radicalizou a ditadura militar em 1968. Teria dito ele ao general presidente Costa e Silva, “– Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência.” Eram tempos em que, até mesmo os generais, tinham algum escrúpulo a ser descartado. Não muitos, é bem verdade. Mas na atualidade já não há mais qualquer pudor. Vivemos uma era no Brasil que está muito mais além de simplesmente mandar os escrúpulos às favas.

Para os bolzofascistas, civis ou militares, vale tudo, qualquer golpe baixo, qualquer ataque covarde, baseado em mentiras e deturpações. Tudo é uma questão de oportunidade. “Vale tudo” aliás, é um remake em cartaz de novela que bem retrata o “espírito do tempo”, o nosso “zeitgeist”. Só que, na novela da vida real, nada garante punição para os vilões e redenção para os virtuosos ao final. Assistimos ao abandono de quaisquer escrúpulos e, pior, a naturalização destas ações pela grande imprensa “isentona”.   

Pouco tempo atrás, tivemos uma grande polêmica após o ataque a uma estátua do Borba Gato. O bandeirante é a personificação do impulso predador do colonizador que invadiu, matou e estuprou o gentio sem dó nem piedade, sempre em busca de riqueza pessoal (há cínicos que os chamam de desbravadores que ajudaram a  construir a nação…). O mito dos bandeirantes sintetiza um traço na cultura dos nossos empreendedores-predadores, que ainda hoje invadem, matam, estupram e escravizam, mesmo ao arrepio da Lei e do Estado de Direito. São garimpeiros e grileiros, sonegadores e fraudadores, devastadores do meio-ambiente, fascistas e golpistas de todas as estirpes. Atuam sempre para eliminar os limites à sua predação. O recém aprovado PL da devastação é fruto disso, assim como foi o desmonte da CLT e a liberação desenfreada de agrotóxicos no governo passado. Os exemplos são muitos.

E essa característica bandeirante infelizmente rasga, de cima para baixo, todo o nosso tecido social. O sucesso eleitoral da familícia deve-se a isso. Ela está presente não só nos tubarões, mas também na arraia-miúda, que nos últimos tempos vem sendo chamada de “pobre de direita”. Aquele pobre que se espelha nos “bem sucedidos” para fugir da sua condição social vulnerável. E o faz porque vê a ausência de escrúpulos naturalizada e premiada. Na base da pirâmide social os pastores evangélicos oferecem a libertação do sentimento de culpa dos católicos e pregam a busca de prosperidade individual.  Aliados aos neofascistas, se apegam a bandeiras de ordem moral para tirar o foco das causas reais dos problemas sociais. Só que o falso moralismo deles  transborda diariamente. Dizem defender os valores da família, mas relativizam a misoginia, o feminicídio, o abuso e a exploração de crianças e adolescentes. Vez por outra são flagrados em situações constrangedoras, dando razão à genial máxima de Nelson Rodrigues: “– Tarado é um sujeito normal pego em flagrante”. Vai do bizarro caso da Flordelis ao pastor investigador de peruca e calcinha.

Os microempreendedores-predadores tem forte antipatia pelo bolsa família e demais  programas sociais. Porém, inescrupulosos que são, adeptos do vale tudo, não perdem a oportunidade de recorrer a fraudes para usufruir dos benefícios que condenam. Os exemplos vão dos milionarios que se declaram pobres para cursarem uma universidade gratuitamente aos que, depois de alugarem um carro, urinam no tanque de gasolina para devolver à locadora o veículo totalmente “abastecido”.

Não se trata de um comportamento novo ou desconhecido de nós. Nos anos 70 publicitários exploraram o mote “- O negócio é levar vantagem em tudo, certo?” , que ficou conhecida como “Lei de Gérson” (o craque da Copa de 70 que protagonizou o anúncio de marca de cigarros ficou com essa pecha, coitado). 

Sim, os espertos voltaram com tudo. Naturalizada a esperteza, perderam a vergonha e expressam a sua hipocrisia sem qualquer pudor. Expressam indignação diante da corrupção, mas de forma seletiva. Só a veem em agentes públicos que colocam limites ao seu empreendedorismo-predador.  Qualquer regulação é acusada de “inibir investimentos que geram empregos”. Essa revolta desaparece diante das incontáveis falcatruas de empresários que são exemplos de sucesso. Cedo ou tarde, emergem fatos reveladores sobre a construção de seus negócios: mestres da sonegação de impostos, corruptores de agentes públicos, especialistas em fraudes contábeis, uso desenfreados de isenções e subsídios do mesmo Estado que dizem que “atrapalha”. Fiquemos só nos casos famosos: Eric Batista, Lojas Americanas, Havan e os recentes casos da Ultrafarma e Colombo. Corruptos são somente os outros, principalmente se estiverem ao lado de quem defenda a redução da desigualdade social. Para esses não há perdão.

Porém não devemos reduzir os nossos dilemas a uma questão meramente moral. O aviltamento do ser humano oprimido decorre das suas condições materiais da sua existência. E a dita esquerda, de uma forma geral, tem se mostrado por demais incompetente para disputar uma hegemonia no campo das ideias e conquistar uma ampla maioria que empurre o neofascismo de volta para dentro do armário.

Oportunidades para desfraldar bandeiras emancipadoras não faltam. O recente sucesso do professor comunista nas redes sociais acaba de demonstrar isso. O que falta é a virtu maquiaveliana.

Ainda há tempo, mas não muito.

Não seremos o quintal de ninguém! Ou seremos?

No momento em que esta postagem é escrita, os  EUA ameaçam intervir militarmente na Venezuela, com o deslocamento significativo de poderosíssima força naval para a costa atlântica da América do Sul. Como sempre,  apresentam uma desculpa esfarrapada, como sempre fizeram ao longo da história. Já foi a ameaça comunista, a posse ou desenvolvimento de armas químicas ou nucleares, a presença de supostos terroristas ou conluio com narcotraficantes, esta última a falácia da vez.
Este blog tem alguns palpites:
1) a intervenção militar vai ocorrer. Não foi a troco de nada que há pouco mais de um mês a embaixada dos EUA em Caracas recomendou fortemente que os cidadãos norte-americanos deixassem o país. Se vai ser algo pontual, somente para intimidar, para assassinatos cirúrgicos ou para entregar o poder a um capacho local, não se sabe. A Venezuela é o alvo principal, mas a ameaça é um recado para nós também.Logo saberemos se estamos diante de mais uma bravata de Trump ou testemunhando o início de uma nova onda de intervenções militares ianques.
2) Não sabemos o que Putin negociou com Trump. Publicamente foi dito que nenhum país será punido pela compra de produtos russos. E que os EUA aceitam que eles incorporem territórios tomados da Ucrânia.Ótimo para o Putin. Mas o que foi negociado em troca? Teria sido o direito de cada um se impor sobre o seu quintal? OK, pode ser especulação deste blog, mas é bom ficar atento. O BRICS não é uma aliança política, mas um acordo de relações comerciais pautado pelo pragmatismo. Nem Putin ou qualquer outro líder do BRICS irá nos oferecer um apoio que vá além da simples retórica.  A briga com o Tio Sam é nossa, e só nossa.
Se a via escolhida por Trump para dominar as Américas for a militar, o Brasil poderá ser um alvo futuro. Por enquanto devem prosseguir as ações de guerra híbrida. Com a já certa submissão da Bolívia, e após a vitória de um aliado no Equador, os EUA sabem que tem boas chances de terem vassalos eleitos na Colômbia e no Chile. Faltará apenas o Brasil, a maior jóia da coroa a ser conquistada. Porque é o único país da América do Sul que conta com um líder de expressão popular reconhecido nacional e internacionalmente, além de não ser submisso ao império.
Fora isso, sabem que não haverá resistência interna relevante. Se Trump não recuar, não tenham dúvidas de que  a nossa elite neocolonial vai se ajoelhar e jogar a culpa de uma eventual crise no atual presidente. Vão se dobrar fácil, fácil. Aliás, já estão se envergando.
Os bancos com negócios internacionais sugeriram que os alvos da Lei Magnitsky transferissem seus ativos para salários para cooperativas de crédito, que atuam fora do sistema financeiro internacional.  Ou seja, uma completa capitulação. O governador de São Paulo sugeriu dar a Trump o que ele quer, “uma vitória”. Uma submissão rastejante, quase inacreditável. Mas é esse tipo de “patriota” que as nossas academias militares formam.
Outros segmentos da elite nacional já estão prontos para ficarem de quatro, sem qualquer constrangimento. Se não impedirem o governo federal de dar subsídios para as suas exportações para a China, a turma do Agro aceitará de bom grado uma intervenção estrangeira. Pelo mesmo motivo, mantidos os subsídios e as isenções fiscais generosas, a maioria do setor industrial também não se importará.
E a maioria dos deputados e senadores se venderão facilmente na hora da xepa. Para eles bastam as emendas secretas e impositivas no bolso.
Ademais, não existe nenhuma possibilidade de resistência militar por parte das FFAA brasileiras, subordinadas que são ao Southcom (Comando Sul dos EUA). Se mantidos os treinamentos e a “cooperação técnica” que lhes dê acesso aos brinquedinhos de guerra de alta tecnologia, também não se importarão. Topam bater continência pra bandeira norte americana igual ao monstrinho que criaram em sua academia militar, sem o menor constrangimento. O patriotismo meramente retórico é a marca dessas forças que mataram mais cidadãos brasileiros do que estrangeiros ao longo de sua história.
We are your Backyard, Uncle Sam! Come on!,  dirão todos eles… E ainda terão o cinismo de dizer que é em prol de uma suposta “pacificação” do país…
Sim, porque essa turma não tem qualquer projeto de nação. Com seus ganhos e privilégios garantidos e protegidos, vale tudo. Até abrir mão da independência e soberania nacional.Todos esses grupos só se importam com seus lucros ou interesses patrimonialistas.
Se não for organizada – e rapidamente – uma forte resistência popular ao domínio imperial, o futuro do nosso país estará comprometido por décadas.

O golpe vem aí. O que fazer?

As reiteradas manifestações oficiais do governo dos EUA, diretamente endereçadas ao governo do Brasil, não deixam a menor sombra de dúvidas. Eles vão intervir em nosso país. Não com a quinta frota, mas com ações desestabilizadoras tramadas no submundo do ambiente digital. Uma versão 4.0 da “operação Brother Sam”.

Por enquanto, atacam o nosso Poder Judiciário e chantageiam as elites econômicas do nosso país com os tarifaços. Exigem que ambos, obedientemente, se ponham de joelhos.

E eles vão ceder logo, logo. São muitos interesses empresariais, bancários e pessoais em jogo, ao lado de uma clara e vergonhosa covardia. Veremos segmentos econômicos e altas autoridades da República jogando a toalha em breve, escudando-se nas mais esfarrapadas desculpas. Os editoriais de seus jornalões sutilmente já antecipam a rendição.

Dos nove juízes do STF supostamente independentes (dois não contam, pois são vassalos), um já demonstrou que nele “them trust”. Outro, “o iluminista”, já acusou o golpe e cogita a aposentadoria como uma saída que, supostamente, para ele seria honrosa. Entre os demais há aqueles que, em momentos críticos do passado recente, fraquejaram facilmente diante de pressões mais poderosas. Enfim, tudo indica que poucos resistirão. Xandão corre o risco de ser fritado pelos próprios colegas do tribunal.

Lá pelos idos de 1962, o então jovem cientista político Wanderley Guilherme dos Santos publicou um pequeno livro que deu o alerta para o golpe que estava a caminho e sugeriu caminhos para a resistência (Quem dará o golpe no Brasil ).

Passados mais de 60 anos, muita coisa ali escrita permanece atual. Há que se relativizar a retórica própria daquela época, algumas que hoje soam um tanto ingênuas. Porém, o método de análise deve ser resgatado. Os capítulos concebidos em forma de perguntas para as quais se apresentam possíveis respostas. Taí um exercício a ser feito no contexto atual, e urgentemente.

Há trechos que, mais de 60 anos depois, apresentam coincidências perturbadoras. Nesse momento, em que a soberania do nosso país é alvo de ataque, uma delas é fundamental:

(…)o golpe, para ser vitorioso, tem como elementos essenciais o inesperado e a rapidez com que for executado, rapidez e surpresa que supõem, como condição necessária, a traição. Em todo golpe há sempre alguém que trai alguém ou alguma coisa, pois não há golpe sem traição (…)”

Não se trata aqui da traição da familícia e seus seguidores neofascistas. Esta é a perfídia óbvia e sabuja. O que vai pesar é a traição que virá dos pseudo-defensores da nossa soberania, daqueles que irão capitular de forma vergonhosa diante do agressor. Em breve veremos Ministros do STF, Governadores de Estados e parlamentares de diversos matizes se deslocando com os pés e as mãos no chão.

E não nos esqueçamos dos militares. Apesar do atual comandante do exército fazer com frequência juras de amor à legalidade e à ordem democrática, sabemos que este apego ao legalismo está longe de ser confiável. No frigir dos ovos sabemos que o exército não consegue ir contra a sua própria e histórica natureza golpista, que faz parte do DNA deles, forjado nas academias militares. Sabem recuar de uma batalha quando as condições no campo não lhes são favoráveis. Aí se mantém aquartelados de forma dissimulada, mas não hesitam em contra-atacar assim que vêm uma oportunidade. Pinochet era tido como legalista e declarou lealdade a Allende até a véspera do golpe.

O alto comando militar é uma clube de marechais Pétains em potencial. Estão prontos para servirem à República de Vichy Brazuca. Dispostos a ficar de joelhos ao furher Trump.

O golpe pode ser evitado? Sim, claro, sempre pode. Porém quando se sofre o bullying de uma valentão muito mais forte há que se ter serenidade. Não se deve cair no jogo de provocações. Por isso a mis-en-scene diplomática é importante, mesmo que não tenha resultados práticos. Demonstrar que tem amigos fortões, também vale. Vimos nos últimos dias conversas públicas com os primos fortes do BRICS. Não que eles virão em nosso socorro, não se deve ter ilusões quanto a isso. Mas é uma fatura que a agressor sabe que, de alguma forma, será cobrada no futuro.

Só quem pode derrotar um golpe patrocinado pelo agressor estrangeiro é a mobilização do povo da nação agredida. E a bandeira pela soberania nacional é um valor com grande potencial de mobilização. O sete de setembro está chegando e, ao que tudo indica, vamos deixar mais uma vez a data para a expressão do falso patriotismo fascista.

Não tem como deixar de dar razão ao filósofo que recentemente constatou a morte da esquerda. Tantas bandeiras mobilizadoras prontas para serem empunhadas e nada acontece. Ninguém pra gritar, em alto e bom som, que não somos o quintal deles. Que não queremos as bigtechs ganhando bilhões corrompendo nossas crianças e adolescentes, que não aceitamos que os agiotas internacionais da Visa e do Mastercard faturem bilhões em cima dos nossos suados ganhos. Que Brasil com “Z”, jamais!

Ainda há tempo para reagirmos. Seremos capazes?

Brasil com “Z” jamais!

A guerra, a agressão dos EUA contra o Brasil continua. Logo sofreremos mais um ataque. Trump sabe que pode contar com o apoio dos traidores da nossa pátria, os bolzofascistas, os quinta-colunas que tentaram dar um golpe dentro do Congresso nos últimos dias.

Uma das principais características dos fascistas de todas as épocas e lugares é a mais completa e total ausência de escrúpulos. A guerra dos fascistas é suja. Para atingir os seus objetivos são capazes de tomar as atitudes mais torpes e vis. O único limite é a reação firme da sociedade aos seus atos infames. E eles vivem a testar estes limites todo o tempo. A cada “passada de pano” que normaliza e naturaliza os seus atos deploráveis, eles avançam mais algumas casas no seu jogo.

O problema é que essa forma de agir dos fascistas é frequentemente eficaz. É o que acabamos de ver no sequestro Congresso Nacional pelos bolzofascistas, os quinta-colunas do imperialismo ianque.

São bestas insaciáveis e obstinadas. Já não se contentam com injúrias, calúnias, ameaças pessoais, fakenews e disseminação de discursos de ódio. Recorrem também a abomináveis atuações teatrais. Vale levar um tombo e acusar quem estava ao seu lado de agressão. Vale usar o próprio bebê como escudo humano e afirmar esse uso com orgulho. Não há limites. Estamos a poucos passos do terror, de “noites dos cristais”, das “facas longas”, da queima de livros.

Sim, eles venceram uma batalha. Queriam pautar a anistia para o seu Fuhrer e o impeachment do Xandão. Não conseguiram de imediato, mas evitaram que essas propostas fossem definitivamente enterradas. Elas permanecem ao alcance do radar, prontas para ressurgir na primeira oportunidade. Por outro lado, conseguiram negociar para que seja colocada em votação uma PEC que visam blindar o “banditismo parlamentar”. Segundo essas propostas, parlamentares só poderão ser investigados com autorização do Congresso. Vejam bem, não se trata de impedir o processo, prisão ou a cassação, mas a simples investigação! Como cereja do bolo, se depois disso tudo ainda forem indiciados, o processo começa na primeira instância, não mais no foro privilegiado do STF. Uma mudança processual que garantirá, no mínimo, uma impunidade quase vitalícia. A corrupção com farra das emendas secretas fica garantida. Além de um sem número de outros crimes comuns (feminicídios, homicídios perpetrados por motoristas embriagados, estupros, etc.).

A cobertura da imprensa, generosa, permitiu que eles saíssem vitoriosos. A falácia da isenção jornalística é um grande trunfo para os golpistas. Afinal, é preciso ouvir todos os lados, dizem os editores chefes. Esses editores que, afinal “não são de esquerda, nem de direita, muito pelo contrário”. Hipocrisia sem fim.

Curioso é que, quando se tratam de temas como a reforma da previdência, arcabouço fiscal e outros assuntos de interesse do rentismo, só há espaço para “especialistas” que cantem em uníssono. Fazem questão de ouvir todos…todos que estão do mesmo lado. Se a palavra é dada a alguma voz dissonante, o jornalista transgressor é advertido e ainda fica com o emprego ameaçado.

Mas tudo isso se explica. Como este blog sempre relembra: a grande imprensa é o Diário Oficial da elite econômica. E essa elite, quando vê os seus interesses ameaçados, tem no fascismo uma arma funcional. Por isso ela o tolera, se recusa a contribuir para isolá-lo completamente. Podem precisar deles num futuro próximo. Mesmo que isso nos custe a soberania nacional. Afinal, soberania nunca foi importante para essa elite neocolonial. Desde que sejam mantidos seus lucros e privilégios, se submetem bovinamente ao domínio da metrópole.

O sete de setembro se aproxima. Os patriotas, de verdade, tem que assumir a convocação das manifestações, com o lema BRASIL com “Z” jamais!

É preciso demarcar nitidamente que há dois campos: os bolzofascistas traidores e os que defendem a soberania nacional.

À espera do próximo ataque ianque

 

Como já comentamos em postagem anterior: o nacionalismo da nossa elite neocolonial não passa da segunda página. Um dirigente de entidade empresarial já pede para dobrarmos os joelhos, sugerindo que, para preservarmos a parceria com o irmão do norte, ofereçamos a exploração conjunta dos nossos minérios e uma tributação generosa para as bigtechs. Nada que já não venha sendo articulado por lobbistas locais nos bastidores há algum tempo. Ou seja, oferecem música para os ouvidos do Tio Sam. Tudo com a esperança vã esperança de que, quem sabe, talvez assim eles se acalmem e nos deixem continuar a fazer negócios com a China.

Coincidentemente, ou não, a British Petroleum anuncia que encontrou uma mega reserva no bloco de pré-sal entregue a ela…Quase um propaganda da “Fatal Model”, rodando a bolsinha para os nossos agressores e exibindo suas terras raras….

Fosse nos tempos do Bush ou Obama, tava tudo certo. Eles só queriam impor os interesses econômicos deles. Sempre encontraram aliados por aqui, dispostos a “firmar parcerias”. Porém com Trump é pior, porque ele não quer apenas impor; além de querer nos submeter ao seu domínio, o quer de forma humilhante. O CEO de um dos maiores bancos privados do Brasil já entendeu o recado e afirmou que está pronto para cumprir a lei…dos EUA…

Portanto, sinto informá-los: veremos os representantes da nossa elite econômica e da classe política em franco processo de conversão de bípedes em quadrúpedes servis, fenômeno que vai se acentuar nas próximas semanas.

Trump muito provavelmente vai prosseguir na defesa da familícia Bolzo, aplicando punições a outras autoridades brasileiras (líderes do Senado serão possivelmente os próximos alvos). Não por amor ao sujeito. Trump, no íntimo, o deve olhar Bolzo com desprezo, pela descarada sabujice que demonstra. Mas continuará em sua defesa por duas simples razões. A primeira, porque é um elemento de desestabilização interna, já que o Bolzo mantém uma base fiel, nas ruas e no parlamento, capaz de fazer muito ruído nas negociações. E em segundo lugar, porque ele ainda tem um capital político para alavancar a candidatura de um vassalo do império para a presidência no próximo ano – o grande objetivo estratégico do governo dos EUA.

Então, preparem-se para um violento bombardeio nos próximos dias, quando uns e outros irão mais uma vez faturar alto na compra e venda de dólares.

A bandeira da soberania nacional tem um grande potencial de mobilização, de arregimentar forças sociais para a nossa resistência. Transformar esse potencial em força real é o grande desafio.

E tivemos mais um final de semana de manifestações bolzofascistas. Parte da blogosfera se divertiu reproduzindo imagens do habitual desfile de criaturas bizarras, tipo aquelas que rezam para pneus. Outros difundiram avaliações que fazem uso frequente do adjetivo “flopou”, para depreciar o quantitativo de público das manifestações. A decretação da prisão domiliciar do Bolzo levou alguns a um quase-orgasmo.

Nada contra a se divertir com isso. Mas há que se relativizar esses acontecimentos. Como se dizia antigamente, nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

A mitologia clássica nos deixou de legado várias lições. Uma delas é a da caixa de Pandora: depois de aberta, não há muito o que fazer. Temos que conviver com os males que foram liberados, enfrentá-los, contando apenas com a esperança, a única coisa que nos restou da caixa aberta. Esperança, porém sem otimismo.

O fenômeno Bolzo libertou da vergonha as mais deploráveis características humanas. E vamos ter que conviver com essa turba pelas próximas décadas.

Porque a vergonha só reaparece depois do estrago feito. Os alemães que abraçaram o nazismo só se recolheram após a a catástrofe instalada e o projeto ariano fracassado. Derrotados, os nazistas voltaram pra dentro do armário e foram contidos por décadas em que o ideário deles foi institucional e socialmente condenado e criminalizado. Porém, como bem escreveu o dramaturgo Bertold Brecht, a cadela do fascismo está sempre no cio, pronta para ressurgir sempre que vê uma oportunidade. O fascismo já germina novamente na Alemanha, assim com em todo o mundo.

O que chamamos genericamente de fascismo é um fenômeno internacional. Não podemos ignorar essa característica. Quando os nazistas ocuparam várias nações europeias, delegaram aos fascistas destes países a execução do trabalho sujo, de extermínio de judeus, ciganos, gays e comunistas. E eles o fizeram com fervor. Nunca se viam como traidores da pátria.  No Brasil, eles estão entre nós. Inclusive entre deputados e senadores, como vimos nessa semana.

Umberto Eco inventariou o modus operandi do que ele chamou de UR-fascismo. Não um fenômeno a-histórico, mas trans-histórico. Primo Levi, sobrevivente do holocausto, já havia dito que cada época tem o seu fascismo a ser combatido.

Portanto, a guerra que estamos vivenciando não é somente pela soberania nacional. Ela também é da civilização contra a barbárie.

Saldo da primeira batalha da guerra

Terminou a primeira batalha da guerra pela independência soberana do Brasil. Não sabemos como os historiadores do futuro irão denominar o embate que estamos vivendo nos próximos anos. O certo é que estamos em uma guerra para nos emancipar do quintal dos EUA. E que foi deflagrada por eles. Pelo visto, manter o domínio imperial sobre as nações da América Latina neste momento é uma questão “existencial” para os EUA (do ponto de vista geopolítico do conceito). A nossa adesão ao BRICS é inaceitável para eles.

O tigre, que para nós não é de papel, rugiu e mostrou suas garras. Porém fez um ataque menos agressivo do que o anunciado. Um recuo que se deu não por conta dos protestos brasileiros, mas pelas queixas domésticas de alguns setores econômicos nos EUA. Se não atendidas, seria um baita tiro no próprio pé.

De forma apressada, alguns estão comemorando com os já famosos memes TACO (Trump Always Chickens Out -Trump sempre amarela). Pelo que se diz, esse tipo de deboche irritaria profundamente o presidente norteamericano.

Os memes nos divertem, mas não se deve perder o foco. A guerra apenas começou. Vamos sorrir, porque o riso é uma forma de desafiar e ridicularizar opressores. Porém ainda não temos razões para comemorações efusivas. Até porque os recuos são parte da estratégia de negociação do diabo laranja, pois não se retorna ao ponto de partida e sim algumas casas à frente (o que já é um ganho pra ele).

A punição aos magistrados do STF é uma mensagem clara: vocês não podem nos desafiar, não podem nos vencer. Lembra a frase de uma série trash de ficção-científica: “– vocês serão assimilados, é inútil resistir”. Não há resposta diplomática para este tipo de agressão. Não reconhecem nossa soberania, nem do ponto de vista político, nem econômico e nem cultural.

Na verdade, não há nenhuma novidade nisso. Esse sempre foi o pensamento do establishment norte americano em relação a nós. Só que raramente foi demonstrado assim, de forma tão explícita e desavergonhada. O que mudou é que agora eles tem um presidente com transtorno narcísico grave, que faz questão de ostentar as ideias das quais se orgulha, a essência do movimento MAGA.

A familícia Bolzo e seus seguidores estão radiantes. Ignoram que servem apenas como uma bucha de canhão, um instrumento vulgar a serviço de outros interesses. São os idiotas úteis do momento. Não haverá declaração de amor ou de fidelidade canina que os livrem de serem descartados num futuro próximo, quando já tiverem servido ao papel que lhes foi reservado.

A imprensa, o governo, a classe política, todos apelam à negociação. Porém, numa guerra, não há negociação pelos canais convencionais. Só conversas com interlocutores intermediários. É o que vem acontecendo, com os grupos econômicos sediados nos EUA que se sentiram prejudicados. Pelo menos é isso o que a imprensa nos informa.

Relevante foi a reunião que ocorreu nessa semana em Brasília, na qual o vice-presidente recebeu representantes da Meta, Google, Amazon, Apple, Visa e Expedia, acompanhados de um enviado da Secretaria de Comércio dos Estados Unidos. Na agenda pública, apenas temas genéricos: segurança jurídica, inovação tecnológica e ambiente regulatório. Em outras palavras, Alckmin ouviu os pleitos (ou ameaças veladas) das empresas dos oligarcas que sustentam o projeto MAGA do Trump.

Não é dificil imaginar o que querem as bigtechs: mínima regulação e portas (e pernas) abertas para ganhos financeiros em nosso país.

Enfim, aguardemos a próxima batalha. E o ataque virá na forma de guerra híbrida, com CIA, NSA e bigtechs trabalhando juntas. Vão jogar bombas pesadas até a eleição de 2026. As questões comerciais serão meras escaramuças. A prioridade deles é eleger um capacho para presidir o nosso país. Não faltam candidatos.

Enfim, apesar da coragem política, o governo brasileiro tem poucas cartas na manga. E as bigtechs tem todas as nossas informações estratégicas na “nuvem” que elas controlam.

A sociedade pode ajudar. Se não temos alternativas no curto prazo para substituir nossas redes sociais, podemos ao menos boicotar as operadoras de cartões bancários deles. As mudanças trazidas pelo PIX eles terão de engolir. E outros boicotes a setores sensíveis podem ser considerados. A nossa elite neocolonial detesta o anti-americanismo e não vai alimentar essa forma de resistência. Nem os partidos do governo, reféns do teatro da “negociação profissional e diplomática”.

Enfim, é uma guerra muito difícil de vencermos. Mal comparando, vale lembrar que também não era fácil para os veitcongs. Há que se explorar as contradições e conflitos internos no território do inimigo. Porém, com criatividade e disposição para resistir, nada é impossível.