“Mitos” da nossa república bananeira

O Brasil tem uma classe dominante ranzinza, azeda, medíocre, cobiçosa, que não deixa o país ir pra frente”. Darcy Ribeiro

Mula sem cabeça, Saci-Pererê, Curupira, militar legalista e liberal com preocupação social. Estes são os principais mitos da nossa república bananeira, a maior do planeta.

Dito isso, resta saber se aqui no Brasil, em 2026, repetiremos o filme que já vimos e sabemos no que vai dar. Pelos sinais que os diários oficiais da elite neocolonial nos mandam em seus editoriais, mais uma vez eles vão apoiar o neonazifascismo. Fazem uma chantagem descarada, para que o governo se submeta aos seus interesses financistas. O recado é um só: essa é única maneira de, quem sabe, um governo de “esquerda” ser tolerado por mais quatro anos. Mas não se deve contar com isso. O que eles querem mesmo é um “libertário” tal qual o bizarro Milei. Nossa elite econômica neocolonial, seguidora das ideias de Mises, entende que, em momentos críticos para os interesses deles, o fascismo é salvador e não hesitarão em fomentar e patrocinar um novo golpe. Não por acaso, um candidato a Milei tropical, o atual governador de São Paulo, se rasgou de elogios ao presidente argentino em entrevista recente.

Por falar em Mises, uma das suas seguidoras nos EUA, que escreve num jornalão paulista, recentemente defendeu o “voto em Jair” para garantir o livre mercado. A tal “colonista” se declara antitrumpista, mas só por conta dos maus modos e pela equipe de lunáticos e criminosos que ele montou. Ao ser alertada de que o “Jair” tramou o assassinato das maiores lideranças da república, se desculpou na coluna seguinte. Igualzinho ao seu mestre Mises, que só condenou o fascismo após o barbárie se consumar (mesmo que claramente anunciada bem antes). Puro suco da hipocrisia neoliberal. Enfim, para eles o fascistas são toleráveis, desde que sigam algumas regras básicas de etiqueta. E, claro, respeitem a plena “liberdade do mercado”.

Por isso, de nada adiantarão os bilhões do Plano Safra para o agronegócio. Tampouco o arcabouço fiscal. Nem a tolerância e as benesses reservadas para os militares. Nem fechar os olhos à farra das emendas parlamentares. Nem privatizações, concessões, mais e mais. A fome de acumulação da elite neocolonial brasileira é insaciável. Tanto que articulou os seus prepostos no Congresso Nacional para barrar as isenções fiscais para os pobres e a taxação para os super-ricos.


Os “operadores do mercado” prosseguirão em suas ações para sabotar a economia. Não querem um governo que sequer questione a aberrante discrepância na distribuição das riquezas em nosso país. Pra complicar, a dobradinha Trump/Musk deverá atuar para desestabilizar as democracias nos países que questionem o domínio imperial dos EUA

Como se dizia antigamente, é a luta de classes, filho. E ela vai se acirrar nos próximos anos. Um mega-empresário disse certa vez: “- Marx tem razão, a luta de classes existe. E nós estamos ganhando!”

Apesar de tudo, não devemos perder as esperanças, que é sempre a última a morrer. Que venha 2025!

Futuro Sombrio

(…)Somos os camisas verdes no Brasil, os camisas pretas na Inglaterra, os camisas azuis na França!…Anauê! Anauê! …As cidades nos uniram! Somos os Camisas Cáquis nos Estados Unidos, os Camisas Douradas no México, os Camisas Amarelas na China!…(fala de Castro Cott, personagem integralista da peça teatral  “Rasga Coração”, de Oduvaldo Viana Filho).

Se nos países ditos democráticos a democracia está em risco, o cenário não é nada animador nas repúblicas bananeiras. Com a gestão Trump liderando uma nova internacional fascista, talvez vejamos em 2025 fortes movimentos para desestabilização da Bolívia, Colômbia e Honduras, além das demonizadas Venezuela, Cuba e Nicarágua. E, obviamente, o nosso patropi.

Após a primeira eleição do Trump, vários cientistas políticos anglo-saxões lançaram livros sobre o perigo de “morte” da democracia. Bons em suas constatações, porém frágeis nas suas explicações. A falha, segundo estes estudiosos, estaria no sistema político, que não teria mecanismos para impedir o ingresso daqueles que querem usar a democracia para sabotá-la. O problema destes cientistas políticos é que não conseguiram explicar como surgem esses líderes ditos “iliberais” e o que favorece a sua ascensão no eleitorado e no sistema político.

De lá para cá, a situação só piorou. Após um breve interregno, Trump foi reeleito com sobras. A extrema direita mundo afora copiou os seus métodos – a disseminação do pânico moral, de mentiras deslavadas e do ódio contra os supostos inimigos – que não é nada mais do que uma versão 4.0 do nazifascismo. Com a concentração das riquezas atingindo níveis pornográficos, o avanço da precarização do trabalho, o desmonte do estado de bem estar social e o aprofundamento das desigualdades formou-se a tempestade perfeita para o ascenso do fascismo.

Claro que, por razões óbvias, neofascistas rejeitam furiosamente tal adjetivação (fascista) Mas é disso que se trata. Como a imagem do holocausto é algo muito presente e frequentemente veiculado pela mídia, os neonazifascistas dissimulam a sua natureza. Mas não muito. Usam as mãos para fazerem o símbolo do supremacismo branco (white power), traduzem lemas e adaptam slogans, usam acessórios inconfundíveis (tiaras de flores), fazem manifestações nacional-patrióticas, rejeitam a diversidade étnica, fazem motociatas e apelam para outras simbologias consagradas pelo fascismo.

Para os mais chegados aos rigores acadêmicos, que se arrepiam com o uso indiscriminado do conceito de fascismo, claro que entendemos que as condições históricas atuais são bem diferentes daquelas que engendraram o nazifascismo no século passado. Mas o uso deste adjetivo não difere muito do uso, a torto e a direito, do conceito de populismo. Só para ficar num exemplo.

O que importa é que se tratam de práticas sociais, métodos de ação e estratégias de comunicação muito similares, aquilo que Umberto Eco chamou de Ur-fascismo, um fascismo eternamente presente. Ou, nas palavras do dramaturgo Bertold Brecht, a besta que permanece sempre no cio, pronta para ser fecundada e dar novas crias. É o espectro da barbárie que resiste aos avanços civilizatórios, que ressurge sempre que encontra uma oportunidade.

Dessa forma, em todo o mundo criaturas bizarras estão sendo eleitas ou, na pior das hipóteses, cacifando-se para serem eleitas num futuro breve. Até mesmo as tradicionais democracias europeias estão sob risco. E agora contam a reedição do trio Hitler-Goebbels-Gaetano Mosca – na forma de Trump-Bannon-Elon Musk – para apoiá-los. Aliás, depois de prometer apoio financeiro ao candidato de direita na Grã-Bretanha, o bilionário declarou em sua própria rede X que somente o partido de extrema-direita neonazista poderá salvar a Alemanha.

A democracia dita “liberal”, definha. O mundo caminha para regimes iliberais, comandados por autocratas. Este é o cenário provável para as próximas décadas. Até que os que lutam pela emancipação humano consigam criar outro imaginário que conquiste as multidões.

Aqui, na maior república bananeira do mundo, as ameaças ainda pairam no ar. Os neofascistas estão se articulando para 2026. A prisão de oficiais não vai mudar esse movimento. Um novo quartel golpista se instalou na Faria Lima. Agentes do caos econômico, o rentismo atua para sabotar o crescimento industrial e inviabilizar programas sociais que poderiam impedir o retorno do neofascismo. Sonham com um Campos Neto ministro da Fazenda e tudo farão para que isso ocorra.

Enfim, mesmo que o cenário que se desenha nos cubra de pessimismo, não podemos perder a esperança. A batalha é duro, porém, relembrando Maquiavel, é necessário ter a virtu necessária para tirar proveito dos momentos de fortuna que surgem diante de nós.

Uma virtu tem tem faltado, e muito, nas nossas lideranças democráticas.

Mídia Bananeira

Já se gastou muita tinta sobre o papel da mídia bananeira nos golpes e sabotagens à democracia. Ninguém tem dúvidas de que ela tem um histórico de atuar neste sentido. Mas não como um ator político autônomo. Ela é só um instrumento da elite econômica neocolonial, a porta-voz dos interesses dessa elite, o seu diário oficial. A cobertura é geralmente tendenciosa. Vez por outra dá voz ao contraditório, mas é só um engodo para dar a aparência de uma prática jornalista honesta. Tudo o que ela não é.

A recente entrevista do Presidente foi, de forma escancarada, ilustrativa dessa forma de atuar. Quando o Presidente se queixou da perseguição judicial que sofreu, a entrevista foi editada para, de forma pouco dissimulada, chamá-lo de mentiroso, negando todo o lawfare que o jornalismo daquela organização defendeu durante todo o processo da lava-jato. E sem qualquer direito a réplica. Pior: a parte da entrevista em que o presidente defendeu a ampliação da isenção do imposto para os mais pobres e o aumento da taxação dos mais ricos foi….OMITIDA. Desde a fatídica edição do debate de 1989 que não víamos canalhice igual.

Não poderia haver forma mais didática de demonstrar como a elite econômica bananeira é cruel, torpe, vil, repugnante e neoescravocrata.

Aquilo que sempre foi claramente exposto nos editoriais dos grandes jornais, se travestiu de matéria jornalística de envergonhar qualquer profissional que tenha compromisso com a ética e a honestidade intelectual.

O contorcionismo dos jornalistas e especialistas convidados da grande mídia é impressionante A isenção de imposto de renda para quem ganha até cinco mil reais vira algo que pode prejudicar a economia, assim como a taxação dos dividendos e lucros dos super-ricos. Taxas de juros absurdas são vistas como algo positivo para equilibrar a contas do país, bem como a supressão direitos trabalhistas, a privatização de empresas lucrativas e a inviabilização da aposentadoria para os mais pobres (que vão contribuir até morrer, sem usufruir). Desde a escravidão o comportamento da elite bananeira é o mesmo. Deplorável. Apoiaram o neofascismo do Bozo e estão prontas para apoiá-lo de novo ou outro do mesmo naipe, como bem demonstrou a pesquisa feita recentemente entre os farialimers.

Até 2026, esse comportamento das grandes corporações de mídia só vai piorar.

A inédita prisão de um general 4 estrelas – articulador de um golpe de estado, foi um sopro de esperança na república das bananas. E pela obra e graça de um ministro do STF indicado por um golpista, quem diria. Será que, finalmente, quebraremos as amarras que nos impedem de fugir do destino bananeiro? Sem dúvida, a prisão de um general estrelado foi um passo importante, além de inédito. Mas ainda é preciso ir além. Punir os empresários financiadores desta aventura insana também é vital. Mas dificilmente saberemos o que os três juízes do STF foram debater no planalto na véspera do golpe planejado. Nem teremos os golpistas da classe política devidamente responsabilizados.

Sim, há uma esperança no ar. Mas que não nos permite ser demasiado otimistas.

No momento as FFAA estão envergonhadas, na defensiva, disposta a entregar alguns anéis (não todos) para não perder os dedos. Ao que parece, os “irmãos por escolha”, vão lançar ao mar alguns de seus brothers para preservar a instituição militar. A saída que pretendem “honrosa” será atribuir a alguns CPFs a responsabilidade individual pelo plano golpista, aqueles que desafiaram a hierarquia e a disciplina, pilares da instituição militar.

Querem vender a ideia pouco crível de que a oficialidade é majoritariamente legalista, uma falácia absoluta. Nas investigações da PF foi localizada uma apresentação interna de powerpoint no qual fica claríssimo que a caserna se vê como poder tutelar, moderador, ator político e dona de uma superioridade intelectual e moral diante dos civis. Um complexo de superioridade dos narcisos fardados.

Se não fosse o “papo reto” dos emissários do governo Biden, nosso país teria vivido outra página infeliz da nossa história, essa é a verdade. Há exceções? Como sempre, existem umas poucas, mas só para confirmar a regra. E que não são convidadas para fazer comentários na Globonews et caterva.

Enquanto tudo isso se passa, o exército anuncia a construção uma cidade cenográfica do Centro de Instrução de Operações Urbanas (CIOU), para treinar militares para atuar em “sequestros, ataques terroristas, desastres naturais e protestos violentos”. A grave disfunção das FFAA de atuar na segurança pública permanece e nem é questionada.

As academias militares diplomam anualmente algumas centenas de futuros oficiais que saem com uma visão deformada de seu papel na sociedade, que é reforçada por instruções e treinamentos ao longo de suas carreiras. São os bolsonaros do amanhã. Enquanto isso não for modificado, o fantasma do golpismo sempre irá nos assombrar

Saudemos a prisão do general golpista. Porém ainda falta muito para curar essa doença verde-oliva que corrói a nossa democracia.

Bananas marinhas

   

Nas últimas semanas vimos três instantâneos que comprovam o que sempre dizemos aqui: o Brasil é a maior república bananeira do planeta. A combinação perversa de militares anacrônicos, elites econômicas perversas e classe política patrimonialista. Tudo motivado pela proposta de reforma fiscal apresentada pelo governo. Aliás, uma proposta tímida, tendo em vista a imensa desigualdade que reina em nosso país. Surpreendeu por incluir, finalmente, a taxação de grandes fortunas e isenção de imposto de renda para ganhos até 5 mil reais.

Vimos retratos feios, repugnantes, que revelam o que impede o Brasil de ser um país melhor pra se viver.

Os farialimers foram os primeiros a reclamar, aliás, bem mais do que isso, claramente sabotaram a proposta. Provocaram uma disparada do dólar, assegurada pela omissão e cumplicidade de seu serviçal que comanda o banco central dito “independente”. Não queriam um ajuste com justiça social e se revoltaram com os cortes insuficientes nos benefícios sociais e orçamentos da saúde e educação.

Os militares, obviamente, chiaram. Com 80% do orçamento destinado a salários, pensões e benefícios (a título de comparação, nos EUA isso corresponde a 22%). E olha que a proposta do governo só visou os privilégios mais óbvios e injustificáveis, que respondem por apenas 2,8% dos valor dos benefícios a serem cortados para todos os brasileiros. O papel ridículo coube a Marinha, que até hoje não digere a Revolta da Chibata. Fez um vídeo patético em que seus marujos ralam enquanto os civis, que pagam os seus salários, apenas se divertem.

A classe política patrimonialista e paroquial se assustou com a proposta. Eles se preocupam apenas em garantir sua fatia no orçamento público, suas emendas impositivas e sem transparência, o que garante que compras e contratações pra lá de suspeitas em seus redutos eleitorais, que ficam livres de fiscalização. Mas já anunciaram que não querem isentar pobres nem taxar ricos, obedientes que são aos financiadores de suas candidaturas, a elite econômica bananeira. A cereja do bolo veio do governador do estado mais FaSCista do país, que disse abertamente ser contra acabar com a isenção de IPVA para barcos e aviões. Como bem o sabemos, são produtos essenciais na cesta básica do povo pobre brasileiro.

Enfim, esse tripé prenhe de estupidez, sordidez, comportamento predatório e sadismo domina o nosso Brasil. E como é difícil de erradicá-lo.

Bananas ao mar (Marinha bananeira)

Um vídeo comemorativo para o Dia do Marinheiro está dando o que falar. Parafraseando o saudoso Stanislaw Ponte Preta, “é de fazer psiquiatra se masturbar de alegria”.

O conteúdo é de um primarismo de quinta série. Porém, segundo dizem, foi aprovado pelo alto-comando. E isso é o que há de mais preocupante.

No vídeo, enquanto o povo se diverte, os militares se estropiam. Os marujos, pelo que o vídeo sugere, nem podem se dar ao luxo de ir à praia, dançar, beber uns goles, se divertir. Ademais, há uma crueldade naturalizada. Os que aparecem “ralando” são os praças, a marujada, submetidos a uma rígida disciplina, treinamentos extenuantes, por vezes abusivos e beirando o sadismo. Se esse vídeo for usado para estimular o alistamento militar na marinha, vai ser um fracasso…

Os oficiais da marinha não aceitam perder algumas das benesses que são negadas à população civil. E usam a marujada como bucha de canhão para defendê-las, aqueles que, de fato, vivem um cotidiano duro.

Um dos maiores estudiosos da vida militar no Brasil (Manuel Domingos Neto) ressalta um aspecto importante entre os militares: eles, via de regra, formam uma comunidade fechada, só se relacionam entre eles mesmos, com pouca ou nenhuma integração social com os civis. Vivem e constroem seus valores sociais num mundo paralelo, dissociado da realidade de seu entorno.

Se o Brasil quiser fugir de seu destino bananeiro, tem que submeter a formação militar ao controle civil. E isso não se dará apenas com uma mudança curricular nas academias militares. O buraco é bem mais embaixo. Sem isso, jamais seremos uma democracia consolidada.

Um celebrado cientista político norte-americano, Robert Dahl, formulou alguns critérios para avaliar o quanto um país pode ser considerado como uma democracia (que ele chamava de Poliarquia). Porém, para aplicar os seus critérios, temos que ter algumas premissas (ela chama de axiomas). Em resumo, essas premissas dizem que o custo politico de quebrar as regras do jogo deve ser elevado, para que nenhuma parte opte por rompê-las. Outra premissa que o autor ressalta é que os militares devem ser “controlados”.

Pois bem: no Brasil sequer superamos estas premissas básicas. E ainda tem autoridades, cheias de pompa, que celebram a maturidade a resiliência das nossas instituições. Tão patéticos quanto o vídeo da marinha.

Ainda há um longo caminho para escaparmos da sina bananeira. Estamos diante de uma chance de ouro para enquadrar o poder militar. Sabe-se lá quando teremos outra.