Mídia Bananeira

Já se gastou muita tinta sobre o papel da mídia bananeira nos golpes e sabotagens à democracia. Ninguém tem dúvidas de que ela tem um histórico de atuar neste sentido. Mas não como um ator político autônomo. Ela é só um instrumento da elite econômica neocolonial, a porta-voz dos interesses dessa elite, o seu diário oficial. A cobertura é geralmente tendenciosa. Vez por outra dá voz ao contraditório, mas é só um engodo para dar a aparência de uma prática jornalista honesta. Tudo o que ela não é.

A recente entrevista do Presidente foi, de forma escancarada, ilustrativa dessa forma de atuar. Quando o Presidente se queixou da perseguição judicial que sofreu, a entrevista foi editada para, de forma pouco dissimulada, chamá-lo de mentiroso, negando todo o lawfare que o jornalismo daquela organização defendeu durante todo o processo da lava-jato. E sem qualquer direito a réplica. Pior: a parte da entrevista em que o presidente defendeu a ampliação da isenção do imposto para os mais pobres e o aumento da taxação dos mais ricos foi….OMITIDA. Desde a fatídica edição do debate de 1989 que não víamos canalhice igual.

Não poderia haver forma mais didática de demonstrar como a elite econômica bananeira é cruel, torpe, vil, repugnante e neoescravocrata.

Aquilo que sempre foi claramente exposto nos editoriais dos grandes jornais, se travestiu de matéria jornalística de envergonhar qualquer profissional que tenha compromisso com a ética e a honestidade intelectual.

O contorcionismo dos jornalistas e especialistas convidados da grande mídia é impressionante A isenção de imposto de renda para quem ganha até cinco mil reais vira algo que pode prejudicar a economia, assim como a taxação dos dividendos e lucros dos super-ricos. Taxas de juros absurdas são vistas como algo positivo para equilibrar a contas do país, bem como a supressão direitos trabalhistas, a privatização de empresas lucrativas e a inviabilização da aposentadoria para os mais pobres (que vão contribuir até morrer, sem usufruir). Desde a escravidão o comportamento da elite bananeira é o mesmo. Deplorável. Apoiaram o neofascismo do Bozo e estão prontas para apoiá-lo de novo ou outro do mesmo naipe, como bem demonstrou a pesquisa feita recentemente entre os farialimers.

Até 2026, esse comportamento das grandes corporações de mídia só vai piorar.

A inédita prisão de um general 4 estrelas – articulador de um golpe de estado, foi um sopro de esperança na república das bananas. E pela obra e graça de um ministro do STF indicado por um golpista, quem diria. Será que, finalmente, quebraremos as amarras que nos impedem de fugir do destino bananeiro? Sem dúvida, a prisão de um general estrelado foi um passo importante, além de inédito. Mas ainda é preciso ir além. Punir os empresários financiadores desta aventura insana também é vital. Mas dificilmente saberemos o que os três juízes do STF foram debater no planalto na véspera do golpe planejado. Nem teremos os golpistas da classe política devidamente responsabilizados.

Sim, há uma esperança no ar. Mas que não nos permite ser demasiado otimistas.

No momento as FFAA estão envergonhadas, na defensiva, disposta a entregar alguns anéis (não todos) para não perder os dedos. Ao que parece, os “irmãos por escolha”, vão lançar ao mar alguns de seus brothers para preservar a instituição militar. A saída que pretendem “honrosa” será atribuir a alguns CPFs a responsabilidade individual pelo plano golpista, aqueles que desafiaram a hierarquia e a disciplina, pilares da instituição militar.

Querem vender a ideia pouco crível de que a oficialidade é majoritariamente legalista, uma falácia absoluta. Nas investigações da PF foi localizada uma apresentação interna de powerpoint no qual fica claríssimo que a caserna se vê como poder tutelar, moderador, ator político e dona de uma superioridade intelectual e moral diante dos civis. Um complexo de superioridade dos narcisos fardados.

Se não fosse o “papo reto” dos emissários do governo Biden, nosso país teria vivido outra página infeliz da nossa história, essa é a verdade. Há exceções? Como sempre, existem umas poucas, mas só para confirmar a regra. E que não são convidadas para fazer comentários na Globonews et caterva.

Enquanto tudo isso se passa, o exército anuncia a construção uma cidade cenográfica do Centro de Instrução de Operações Urbanas (CIOU), para treinar militares para atuar em “sequestros, ataques terroristas, desastres naturais e protestos violentos”. A grave disfunção das FFAA de atuar na segurança pública permanece e nem é questionada.

As academias militares diplomam anualmente algumas centenas de futuros oficiais que saem com uma visão deformada de seu papel na sociedade, que é reforçada por instruções e treinamentos ao longo de suas carreiras. São os bolsonaros do amanhã. Enquanto isso não for modificado, o fantasma do golpismo sempre irá nos assombrar

Saudemos a prisão do general golpista. Porém ainda falta muito para curar essa doença verde-oliva que corrói a nossa democracia.

Bananas marinhas

   

Nas últimas semanas vimos três instantâneos que comprovam o que sempre dizemos aqui: o Brasil é a maior república bananeira do planeta. A combinação perversa de militares anacrônicos, elites econômicas perversas e classe política patrimonialista. Tudo motivado pela proposta de reforma fiscal apresentada pelo governo. Aliás, uma proposta tímida, tendo em vista a imensa desigualdade que reina em nosso país. Surpreendeu por incluir, finalmente, a taxação de grandes fortunas e isenção de imposto de renda para ganhos até 5 mil reais.

Vimos retratos feios, repugnantes, que revelam o que impede o Brasil de ser um país melhor pra se viver.

Os farialimers foram os primeiros a reclamar, aliás, bem mais do que isso, claramente sabotaram a proposta. Provocaram uma disparada do dólar, assegurada pela omissão e cumplicidade de seu serviçal que comanda o banco central dito “independente”. Não queriam um ajuste com justiça social e se revoltaram com os cortes insuficientes nos benefícios sociais e orçamentos da saúde e educação.

Os militares, obviamente, chiaram. Com 80% do orçamento destinado a salários, pensões e benefícios (a título de comparação, nos EUA isso corresponde a 22%). E olha que a proposta do governo só visou os privilégios mais óbvios e injustificáveis, que respondem por apenas 2,8% dos valor dos benefícios a serem cortados para todos os brasileiros. O papel ridículo coube a Marinha, que até hoje não digere a Revolta da Chibata. Fez um vídeo patético em que seus marujos ralam enquanto os civis, que pagam os seus salários, apenas se divertem.

A classe política patrimonialista e paroquial se assustou com a proposta. Eles se preocupam apenas em garantir sua fatia no orçamento público, suas emendas impositivas e sem transparência, o que garante que compras e contratações pra lá de suspeitas em seus redutos eleitorais, que ficam livres de fiscalização. Mas já anunciaram que não querem isentar pobres nem taxar ricos, obedientes que são aos financiadores de suas candidaturas, a elite econômica bananeira. A cereja do bolo veio do governador do estado mais FaSCista do país, que disse abertamente ser contra acabar com a isenção de IPVA para barcos e aviões. Como bem o sabemos, são produtos essenciais na cesta básica do povo pobre brasileiro.

Enfim, esse tripé prenhe de estupidez, sordidez, comportamento predatório e sadismo domina o nosso Brasil. E como é difícil de erradicá-lo.

Bananas ao mar (Marinha bananeira)

Um vídeo comemorativo para o Dia do Marinheiro está dando o que falar. Parafraseando o saudoso Stanislaw Ponte Preta, “é de fazer psiquiatra se masturbar de alegria”.

O conteúdo é de um primarismo de quinta série. Porém, segundo dizem, foi aprovado pelo alto-comando. E isso é o que há de mais preocupante.

No vídeo, enquanto o povo se diverte, os militares se estropiam. Os marujos, pelo que o vídeo sugere, nem podem se dar ao luxo de ir à praia, dançar, beber uns goles, se divertir. Ademais, há uma crueldade naturalizada. Os que aparecem “ralando” são os praças, a marujada, submetidos a uma rígida disciplina, treinamentos extenuantes, por vezes abusivos e beirando o sadismo. Se esse vídeo for usado para estimular o alistamento militar na marinha, vai ser um fracasso…

Os oficiais da marinha não aceitam perder algumas das benesses que são negadas à população civil. E usam a marujada como bucha de canhão para defendê-las, aqueles que, de fato, vivem um cotidiano duro.

Um dos maiores estudiosos da vida militar no Brasil (Manuel Domingos Neto) ressalta um aspecto importante entre os militares: eles, via de regra, formam uma comunidade fechada, só se relacionam entre eles mesmos, com pouca ou nenhuma integração social com os civis. Vivem e constroem seus valores sociais num mundo paralelo, dissociado da realidade de seu entorno.

Se o Brasil quiser fugir de seu destino bananeiro, tem que submeter a formação militar ao controle civil. E isso não se dará apenas com uma mudança curricular nas academias militares. O buraco é bem mais embaixo. Sem isso, jamais seremos uma democracia consolidada.

Um celebrado cientista político norte-americano, Robert Dahl, formulou alguns critérios para avaliar o quanto um país pode ser considerado como uma democracia (que ele chamava de Poliarquia). Porém, para aplicar os seus critérios, temos que ter algumas premissas (ela chama de axiomas). Em resumo, essas premissas dizem que o custo politico de quebrar as regras do jogo deve ser elevado, para que nenhuma parte opte por rompê-las. Outra premissa que o autor ressalta é que os militares devem ser “controlados”.

Pois bem: no Brasil sequer superamos estas premissas básicas. E ainda tem autoridades, cheias de pompa, que celebram a maturidade a resiliência das nossas instituições. Tão patéticos quanto o vídeo da marinha.

Ainda há um longo caminho para escaparmos da sina bananeira. Estamos diante de uma chance de ouro para enquadrar o poder militar. Sabe-se lá quando teremos outra.

Teatro bananeiro

Enquanto aguardamos que o indiciamento dos golpistas seja despachado pelo PGR, que até o presente momento tem demonstrado não ter nenhuma pressa para isso, só nos restam as analogias dramáticas.  A peça de Samuel Beckett, “Esperando Godot”, ganha a versão bananeira “Esperando Gonet”.

A fala chave do texto teatral é dita por um dos personagens, que esperam inutilmente por um tal de Godot (que nunca chega): – “Nada acontece, ninguém vem, ninguém vai, é terrível.”

Nada que surpreenda a nossa república bananeira deitada eternamente em berço esplêndido.  A tal ponto que o principal denunciado anuncia que cogita se refugiar em alguma embaixada amiga. E ficamos esperando Gonet que, pelas últimas declarações públicas, parece não ter a menor pressa. Cogita que pode solicitar mais investigações e indiciamentos. Chega a sugerir que golpes devem ser impedidos com medidas do legislativo que impeçam militares de ocupar cargos administrativos civis. Como se uma boa lei fosse suficiente para impedir golpes. Claro que o PGR não é ingênuo. Ele está fazendo suas escolhas.

Traduzindo para o cotidiano de um cidadão comum: imagine que a sua casa é furtada, e que câmeras de vigilância captam o meliante em fuga com os objetos furtados. Pelas imagens fica claro que se trata de um criminoso já conhecido na região.  Aí as autoridades decidem adiar a prisão do sujeito, pois pode ser que apareçam mais evidências de outros crimes dele ou cúmplices. Esse é, mais ou menos,  o argumento do PGR.

Todos são iguais perante a lei. Mas na maior república bananeira do mundo, alguns são mais iguais que outros. Altas autoridades civis e militares são julgadas por uma régua muito mais política do que jurídica. E as decisões dependem da coragem, covardia ou cumplicidade dos julgadores. Em alguns casos, até mesmo da honestidade de juízes, como demonstram os recentes escândalos de venda de sentenças. A pressão dos grupos de mídia para tirar o Xandão do jogo passa por aí. Querem um juiz vacilante, cooptável,  medroso ou covarde à frente das ações. Adivinhem o por que.

A  grande imprensa e inúmeros parlamentares e governadores ditos “liberais” relativizam a gravidade do ataque golpista. Nunca foram amantes da democracia. E podem se alinhar a uma ruptura democrática se for do interesse deles ou de quem representam. Por isso não tem pressa nem vontade de punir os neofascistas. Eles poderão lhes ser úteis novamente. . Seguem a máxima de Mises, que disse explicitamente que “o fascismo salvou a Europa”. E emendou dizendo que apesar da barbárie,foi possível a retomada do “livre mercado”.

O golpe falhou porque não construiu uma base de apoio sólida. Nem interna nem externamente. Teria apoio da maioria dos parlamentares, muitos governadores, três juízes do STF, do agronegócio, mas isso não seria suficiente.  Mesmo assim não ocorreu por detalhes. É certo que falta de apoio o condenaria ao fracasso em curto ou médio prazo, tal qual o último golpe que ocorreu na Bolívia. Mas deixaria um rastro de sangue dos adversários assassinados.

Há fortes evidências de que, a partir de 20 de janeiro, a dupla Trump/Musk irá fazer coro com a tese da “perseguição política” e do “cerceamento da liberdade de expressão”.  Com que intensidade, como isso se dará, ou que efeitos irá provocar, é uma grande incógnita. Mas não se deve esperar boa coisa do Tio Sam.  Quais bravatas ele será capaz de cumprir é um mistério. Mas provavelmente irá causar uma zona na economia mundial que poderá ser utilizada para desestabilizar a governança nos países que ele considera como o seu quintal. E a esperar por Godot/Gonet poderá ser inútil.

Na nossa república bananeira, 2025 não será nada fácil.

PS.: Chega a ser enfadonho o discurso de alguns que celebram uma suposta resiliência da nossa democracia. Com tudo que acaba de vir à tona, esse tipo de discurso deveria ser ridicularizado. A nossa débil democracia não ruiu por detalhes.  Mais uma vez, não há ingenuidade naqueles que enunciam essa tese.

Nas repúblicas bananeiras, golpista é todo oficial militar pego em flagrante.

Que Nélson Rodrigues nos perdoe. Mas a paráfrase de uma das brilhantes citações dele foi irresistível (ele disse “Tarado é todo sujeito normal pego em flagrante”).

É uma verdade que deve ser dita, depois que o garoto de recados da caserna veio a público falar o que pensam seus comandantes. Diante da escandalosa mancha de batom na cueca, parece que os generais optaram por sacrificar alguns de seus “irmãos por escolha”. Disse que interessa às FFAA que a culpa seja colocada no “CPF”, não no “CNPJ”, que a pecha de golpismo não pode manchar a instituição e os que estão na ativa. Em outras palavras: dado o tamanho do flagrante, aceitarão que alguns dos seus sejam punidos.

(Obs. “Irmãos por escolha” é como se tratam os futuros oficiais formados na AMAN. Para criar um laço de camaradagem, um compromisso de nunca abandonar um dos seus.)

A verdade é que, se o Comando Militar do Sul tivesse dado o sinal verde, quase todos teriam embarcado nesse barco, ajudando nas “manobras para guiar o barco em direção ao porto seguro que queremos” (segundo as palavras públicas do almirante golpista). Só que entrou água no barco e agora é a hora do salve-se quem puder.

Infelizmente, parece que estamos diante de mais uma oportunidade que será perdida, a chance de darmos um importante passo no sentido de romper com a sina de sermos uma eterna república bananeira. Além de punições exemplares para os golpistas, era o momento de reformular a formação dos militares. As academias são hoje centro de formação dos golpistas do amanhã, reféns do ideário de submissão ao “irmão do norte”. Abandonaram de vez a ideia de uma nação soberana em sentido lato. Alguns militares de 1964, mesmo com todo o golpismo, tinham alguma noção da grandeza do Brasil. Atualmente, estão rendidos ao mais simplório neoliberalismo periférico. O tal plano “Brasil 2035” é reflexo dessa visão medíocre que domina a caserna.

Mas o abandono dos “irmãos por escolha” não é total. Um ex-capitão da missão no Haiti e atual governador de São Paulo saiu em defesa dos seus. Disse que o indiciamento do seu mito carece de provas e que ele sempre respeitou o processo democrático. Em outras palavras, disse o que já sabemos: “– Ainda somos os mesmos e golpearemos como os nossos pares”(perdão, Belchior!).

Historicamente, no Brasil, o apreço à democracia não existe na caserna. Sobrevive apenas como figura de retórica. Nosso destino bananeiro é fruto de décadas de passadas de pano, conciliação e impunidade. Se agora os golpistas estão na defensiva, mais à frente não hesitarão em atacar novamente o Estado Democrático, se tiverem essa chance.

Após três dias de sabermos do covarde plano de assassinatos, um dos maiores escândalos da nossa história, ouvimos das principais autoridades da república condenações tímidas, dúbias e vacilantes. Os jornalões, com um prato cheio para praticar o jornalismo investigativo, reduzem de forma sutil e progressiva o espaço destinado ao crime. O PGR diz que, diante de tanto informação nova, só vai se manifestar no ano que vem…Talvez queira saber a opinião de Trump e Elon Musk sobre o assunto.

É difícil, muito difícil, ser otimista numa república bananeira.

Na República Bananeira, todo dia é dia de golpe

 

O jornalão carioca (e seu canal de notícias), habitué em passar pano para os militares bananeiros, já começou a construir a versão “oficial” da tentativa de golpe terrorista que acaba de ser revelada. Seus colonistas (como dizia o saudoso Paulo Henrique Amorim), já começaram a difundir o “mal-estar” que tomou contas das FFAA. Dizem que a caserna foi tomada pela “tristeza”, “surpresa” e “decepção”, pela “traição” de uma “minoria” que causou “estrago terrível”, alimentando preconceitos contra os militares.

Seria hilário se não fosse trágico. O golpe sempre foi o plano A no caso de derrota do bozo. O lançamento do intelectualmente medíocre “Projeto Brasil 2035” já anunciava a intenção dos militares de permanecerem no poder. A ação de desacreditar as urnas eletrônicas foi apenas uma das ações preparatórias. Outra foi a nota das três forças do dia 11 de novembro, que defendeu os acampamentos nos quartéis e reafirmou explicitamente o papel “moderador” dos militares (e que, agora sabemos, foi na véspera da reunião dos golpistas na casa de de um general). E ainda há outras dúzias de evidências de que as forças armadas, em uníssono, estavam preparando um golpe.

O Plano teve, no entanto, uma oposição de peso. De acordo com matérias do Financial Times. assessores de segurança nacional de Joe Biden vieram aos Brasil e deixaram claro que os EUA não só não apoiariam como condenariam qualquer ruptura institucional. Ironias da história: os que sempre patrocinaram golpes e desestabilizações do nosso país, por conta de uma conjuntura doméstica (o fator Trump), decidiram se opor ao golpe de seus vassalos.

Foi um balde de água fria na milicada. Afinal, sua desobediência seria um ato de rebeldia aos olhos de seus reais comandantes, o Comando Militar Sul dos EUA, com consequências que poderiam ser bem desagradáveis. Isso dividiu o comando militar. Em áudio de um coronel golpista, do dia 19/11/2022, tornado público pela PF nesta semana, ele diz claramente sobre o alto comando do exército: “cinco não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto”. Ou seja, dos 16 integrantes, apenas 5 não queriam aderir (e talvez somente por não ter o apoio do Tio Sam).

Foi nesse momento que a arquitetura do golpe tomou outro rumo. De forma planejada ou velada, foi dada carta branca para a ala mais radicalizada. Porque nada foi feito para impedi-los de prosseguir com o plano criminoso. E isso não foi omissão, foi estratégia. Com um golpe fadado ao fracasso, contavam que os radicalizados fariam o trabalho sujo e “deram corda para eles se enforcarem”. Diante do isolamento internacional, aí sim os “legalistas” entrariam em cena para colocar ordem na casa. Claro, depois de terem sido assassinadas as principais lideranças da república. E ficaram posando de “salvadores da democracia”.

Esse era o plano. Não é difícil enumerar as evidências que conformam essa tese. Aliás, essa é a versão que o jornalão carioca, sabujo dos militares, está tentando emplacar: os militares impediram que a ala radicalizada desse o golpe e salvaram a república. Quem é otário que acredite.

O escândalo que acaba de vir à tona, da trama de um golpe que culminaria com o assassinato das maiores autoridades da república, exige uma resposta contundente e imediata. As FFAA bananeiras digo, brasileiras, são golpistas desde a sua origem. As escolas que formam os futuros oficiais deveriam ser objeto de uma intervenção pedagógica do poder civil. Estão completamente contaminadas. São centros formadores de “bolsonaros do amanhã” criados à imagem e semelhança da criatura mais repugnante e desprezível que já ocupou a presidência do nosso país. Isso tem que acabar.

Não é hora de titubear. Os golpistas mais empedernidos estão contando com um sinal verde vindo de Washington após a posse de Trump para voltar a conspirar e golpear. Não há joio a ser separado do trigo. Os fardados são ervas daninhas plantadas no mesmo canteiro. Como não será possível arrancá-las, devem ser severamente podadas. Ou a nossa democracia não sobreviverá até 2026.

As repúblicas bananeiras nunca saem da quinta-série

O anúncio da nova equipe do Presidente Trump parece uma série de horror. Ou melhor, muito parecida com uma série de streaming que retrata o círculo próximo de Hitler. Um grupo que reúne gente desqualificada, muitos desequilibrados e oportunistas de toda espécie. O único traço em comum é a fidelidade canina ao líder. Terão o poder de influenciá-lo, porém jamais de contrariá-lo, mesmo diante de equívocos evidentes. Assim funciona com todo autocrata.

Enquanto isso, nossa grande mídia – porta-voz das elites neocoloniais – ainda se dedica a fazer muito barulho por nada. O xingamento da esposa do presidente ao Musk (“primeira-dama” é uma expressão infeliz) ocupou boa parte do espaço midiático nos últimos dias. Até parece que a política externa dos EUA vai mudar alguma coisa por conta das falas da Janja. Quem sabe se, num próximo evento público, a Janja faça uma tréplica e diga que o Musk terá que se entender com o Mário…o jornalismo brazuca terá orgasmos múltiplos. Talvez nossos jornalões até se animem a abrir mais espaço para o ex-presidente sabotador da democracia “defender” a democracia…

O que deveria ser, no máximo, uma preocupação da diplomacia de “punhos de renda”, ganhou um destaque imbecil. Isso porque os debates no Brasil continuam na quinta série. Nossa elite neocolonial se escandaliza com coisas irrelevantes porque é resignada com o fato de que, para os EUA, nós somos o seu quintal e nada vai mudar essa visão. Nenhum esperneio, nenhum xingamento muda esse fato. Musk vai continuar bancando um golpe por aqui, e Trump idem.

O Musk replicou dizendo que “- vocês vão perder a próxima eleição”. É o mesmo que disse em 2019, após o golpe na Bolívia:“- Vamos dar golpe em quem quisermos. Lide com isso”. A resistência do Alexandre de Moraes foi uma surpresa para o Musk, que jamais imaginava que alguém no seu quintal iria tão longe. Recuou por pressão dos acionistas. Mas não desistiu de patrocinar um golpe.

A ofensiva agora virá bem mais forte e organizada.

Para a nossa gigantesca república bananeira o cenário é o pior possível. Uma Doutrina Monroe 4.0 está reservada para nós. O campo democrático no Brasil tem cerca de dois meses para montar suas barricadas. Serão dois anos de guerra contra a ofensiva do Tio Sam. Todos os governos não vassalos da América do Sul e Central serão objeto de desestabilização. Com a ajuda de um vizinho importante atuando como um medíocre fantoche à serviço dos EUA

Como lembramos em outra postagem, a participação de uma brasileira sendo servida pelo Trump num fast-food não foi gratuita. Não era um recado para o eleitorado norte-americano. Era pra nós. E ele tem muitos aliados por aqui.

A punição para os golpistas que tramaram o 8 de janeiro não pode tardar mais. A regulação das redes sociais deve ser tratada como prioridade. Qualquer projeto de anistia deve definitivamente enterrado. Urge estreitar os laços com os concorrentes chinês do Musk.

Uma tempestade avassaladora está se formando. Temos que garantir, minimamente, a sobrevivência da resistência democrática ao furacão que se avizinha.

O retorno das bananas explosivas

Um lobo solitário, decidido a explodir o STF, acabou por explodir a si mesmo. Os neofascistas começarem rapidamente a difundir a tese de que foi o ato isolado de um sujeito desequilibrado mentalmente, nada que se possa generalizar. Estão preocupados com o que pode ser um golpe definitivo no projeto de anistiar os golpistas. Nessa hora é preciso relembrar o histórico da sanha terrorista que sempre caracterizou o fascismo no Brasil.

O discurso do ódio, base do Ur-fascismo, sempre alimenta dissonâncias cognitivas, insanidades e distúrbios diversos nas mentes de seus seguidores. Pode atingir tanto uma manada de zé-ninguéns ressentidos, como no 8 de janeiro de 2023, quanto pessoas com poderes reais de causar sérios estragos.

Um 1971 um brigadeiro alucinado planejou explodir a adutora do Guandu e o antigo Gasômetro do Rio de Janeiro, que poderia ter causado mais de cem mil mortos. Graças ao Capitão Sérgio Macaco, que teve a sua carreira arruinada, o plano não foi em frente. Em 1981, militares do Exército de Caxias, tentaram explodir uma bomba num show no Riocentro, que mataria milhares de jovens e vários artistas da MPB. Por obra do destino, a bomba explodiu no colo de um deles e a tragédia não se consumou. Tivemos bombas em bancas de jornais e na OAB-RJ. Depois, um certo tenente do Exécito, em busca de aumentos salariais, também planejou explodir bombas. Mais recentemente, logo após as ultimas eleições presidenciais, por sorte não tivemos a explosão de uma bomba no aeroporto de Brasília, que causaria um número inimaginável de vítimas. E recentemente soubemos que “kids pretos”, também do valoroso Exército de Caxias , além de terem cometidos “atos isolados de indisciplina” derrubando torres de transmissão, planejavam sequestrar o Ministro presidente do STF e o Presidente da República, sabe-se lá pra fazer o que com eles.

A impunidade é a mãe de todos esses crimes continuados. Existem inúmeros “Tiu França” à solta por aí, muitos armados pelos CACs e outros vestindo uniformes militares. Por essas e por outras, só há uma coisa a dizer, aos berros: SEM ANISTIA!

Bananinhas Assanhadas

A vitória de Trump provocou orgasmos múltiplos nos neofascistas brasileiros que já se veem como vitoriosos no pleito de 2026. Podem inclusive tentar um outro putch antes mesmo do calendário eleitoral. Se os nossos democratas não corrigirem as suas estratégias, é bem provável que isto venha a ocorrer. E por duas razões: pelo apoio internacional que a milicada golpista (me perdoem o pleonasmo) poderá ter, e pela cumplicidade da nossa fétida elite neocolonial.

Em paralelo à eleição de Trump, soubemos de novas revelações sobre a intentona golpista de 8 de janeiro. Os Kids Pretos – uma espécie de SS do exército brasileiro – tinham a incumbência de sequestrar o Alexandre de Moraes e o presidente recém-empossado. Muito provavelmente seriam assassinados, dado o histórico deplorável dos militares bananeiros. Recentemente, com uma nota de um cinismo atroz, afirmaram que o que houve em 8 de janeiro foram apenas atos isolados de indisciplina.

Então, nas mãos do Procurador-Geral da República, está a principal decisão a ser tomada, sem postergar mais: indiciar sem dó a cúpula golpista, para que o STF avance na punição dos arquitetos do plano. Se não o fizer, o caminho dos golpistas estará pavimentado. O mesmo se dará se o Congresso avançar em qualquer tipo de anistia para a canalha golpista.

Dentro de poucos meses o governo Trump vai mostrar as suas garras para nós. O tempo é curto para demarcar claramente o nosso território e a nossa soberania. Sabemos do que o Tio Sam é capaz.

Da nossa elite bananeira não há muito o que se esperar. Um de seus jornais teve a indecência de dar espaço para o líder golpista posar de defensor da democracia. Algo de dar náuseas em qualquer cidadão minimamente comprometido com uma sociedade democrática. Ademais, os “especialistas” da grande imprensa vivem apresentando argumentos “técnicos” para clamar por corte nos gastos sociais, altas nas taxas de juros pornográficas, pedem uma nova reforma da previdência e, agora, agem contra a redução da jornada de trabalho. Até o pseudo-liberais que se dizem capazes de comer de garfo e faca mostram a sua verdadeira face. O Instituto Libertas, do Partido Novo, divulgou vagas de trabalho sem remuneração. Enfim, essa é a nossa elite bananeira, neocolonial e neoescravocrata. Os argumentos que usam não diferem muitos daqueles usados no século XIX.

Pra bom entendedor: bancam qualquer coisa para manter os seus privilégios. Atuam para impedir a tributação para super-ricos (15 mil brasileiros!) e a taxação dos ganhos e dividendos pornográficos obtidos na ciranda financeira. Deixam claro que apoiarão o retorno do neofascismo ao poder, caso sejam contrariados. E sem qualquer pudor. Lamentarão apenas serem governados por uma figura chula, rasteira, enquanto bebem uma e outra taça de moet&chandon. Coisa que já fizeram e que são capazes de fazer novamente.