Não seremos o quintal de ninguém! Ou seremos?

No momento em que esta postagem é escrita, os  EUA ameaçam intervir militarmente na Venezuela, com o deslocamento significativo de poderosíssima força naval para a costa atlântica da América do Sul. Como sempre,  apresentam uma desculpa esfarrapada, como sempre fizeram ao longo da história. Já foi a ameaça comunista, a posse ou desenvolvimento de armas químicas ou nucleares, a presença de supostos terroristas ou conluio com narcotraficantes, esta última a falácia da vez.
Este blog tem alguns palpites:
1) a intervenção militar vai ocorrer. Não foi a troco de nada que há pouco mais de um mês a embaixada dos EUA em Caracas recomendou fortemente que os cidadãos norte-americanos deixassem o país. Se vai ser algo pontual, somente para intimidar, para assassinatos cirúrgicos ou para entregar o poder a um capacho local, não se sabe. A Venezuela é o alvo principal, mas a ameaça é um recado para nós também.Logo saberemos se estamos diante de mais uma bravata de Trump ou testemunhando o início de uma nova onda de intervenções militares ianques.
2) Não sabemos o que Putin negociou com Trump. Publicamente foi dito que nenhum país será punido pela compra de produtos russos. E que os EUA aceitam que eles incorporem territórios tomados da Ucrânia.Ótimo para o Putin. Mas o que foi negociado em troca? Teria sido o direito de cada um se impor sobre o seu quintal? OK, pode ser especulação deste blog, mas é bom ficar atento. O BRICS não é uma aliança política, mas um acordo de relações comerciais pautado pelo pragmatismo. Nem Putin ou qualquer outro líder do BRICS irá nos oferecer um apoio que vá além da simples retórica.  A briga com o Tio Sam é nossa, e só nossa.
Se a via escolhida por Trump para dominar as Américas for a militar, o Brasil poderá ser um alvo futuro. Por enquanto devem prosseguir as ações de guerra híbrida. Com a já certa submissão da Bolívia, e após a vitória de um aliado no Equador, os EUA sabem que tem boas chances de terem vassalos eleitos na Colômbia e no Chile. Faltará apenas o Brasil, a maior jóia da coroa a ser conquistada. Porque é o único país da América do Sul que conta com um líder de expressão popular reconhecido nacional e internacionalmente, além de não ser submisso ao império.
Fora isso, sabem que não haverá resistência interna relevante. Se Trump não recuar, não tenham dúvidas de que  a nossa elite neocolonial vai se ajoelhar e jogar a culpa de uma eventual crise no atual presidente. Vão se dobrar fácil, fácil. Aliás, já estão se envergando.
Os bancos com negócios internacionais sugeriram que os alvos da Lei Magnitsky transferissem seus ativos para salários para cooperativas de crédito, que atuam fora do sistema financeiro internacional.  Ou seja, uma completa capitulação. O governador de São Paulo sugeriu dar a Trump o que ele quer, “uma vitória”. Uma submissão rastejante, quase inacreditável. Mas é esse tipo de “patriota” que as nossas academias militares formam.
Outros segmentos da elite nacional já estão prontos para ficarem de quatro, sem qualquer constrangimento. Se não impedirem o governo federal de dar subsídios para as suas exportações para a China, a turma do Agro aceitará de bom grado uma intervenção estrangeira. Pelo mesmo motivo, mantidos os subsídios e as isenções fiscais generosas, a maioria do setor industrial também não se importará.
E a maioria dos deputados e senadores se venderão facilmente na hora da xepa. Para eles bastam as emendas secretas e impositivas no bolso.
Ademais, não existe nenhuma possibilidade de resistência militar por parte das FFAA brasileiras, subordinadas que são ao Southcom (Comando Sul dos EUA). Se mantidos os treinamentos e a “cooperação técnica” que lhes dê acesso aos brinquedinhos de guerra de alta tecnologia, também não se importarão. Topam bater continência pra bandeira norte americana igual ao monstrinho que criaram em sua academia militar, sem o menor constrangimento. O patriotismo meramente retórico é a marca dessas forças que mataram mais cidadãos brasileiros do que estrangeiros ao longo de sua história.
We are your Backyard, Uncle Sam! Come on!,  dirão todos eles… E ainda terão o cinismo de dizer que é em prol de uma suposta “pacificação” do país…
Sim, porque essa turma não tem qualquer projeto de nação. Com seus ganhos e privilégios garantidos e protegidos, vale tudo. Até abrir mão da independência e soberania nacional.Todos esses grupos só se importam com seus lucros ou interesses patrimonialistas.
Se não for organizada – e rapidamente – uma forte resistência popular ao domínio imperial, o futuro do nosso país estará comprometido por décadas.

O golpe vem aí. O que fazer?

As reiteradas manifestações oficiais do governo dos EUA, diretamente endereçadas ao governo do Brasil, não deixam a menor sombra de dúvidas. Eles vão intervir em nosso país. Não com a quinta frota, mas com ações desestabilizadoras tramadas no submundo do ambiente digital. Uma versão 4.0 da “operação Brother Sam”.

Por enquanto, atacam o nosso Poder Judiciário e chantageiam as elites econômicas do nosso país com os tarifaços. Exigem que ambos, obedientemente, se ponham de joelhos.

E eles vão ceder logo, logo. São muitos interesses empresariais, bancários e pessoais em jogo, ao lado de uma clara e vergonhosa covardia. Veremos segmentos econômicos e altas autoridades da República jogando a toalha em breve, escudando-se nas mais esfarrapadas desculpas. Os editoriais de seus jornalões sutilmente já antecipam a rendição.

Dos nove juízes do STF supostamente independentes (dois não contam, pois são vassalos), um já demonstrou que nele “them trust”. Outro, “o iluminista”, já acusou o golpe e cogita a aposentadoria como uma saída que, supostamente, para ele seria honrosa. Entre os demais há aqueles que, em momentos críticos do passado recente, fraquejaram facilmente diante de pressões mais poderosas. Enfim, tudo indica que poucos resistirão. Xandão corre o risco de ser fritado pelos próprios colegas do tribunal.

Lá pelos idos de 1962, o então jovem cientista político Wanderley Guilherme dos Santos publicou um pequeno livro que deu o alerta para o golpe que estava a caminho e sugeriu caminhos para a resistência (Quem dará o golpe no Brasil ).

Passados mais de 60 anos, muita coisa ali escrita permanece atual. Há que se relativizar a retórica própria daquela época, algumas que hoje soam um tanto ingênuas. Porém, o método de análise deve ser resgatado. Os capítulos concebidos em forma de perguntas para as quais se apresentam possíveis respostas. Taí um exercício a ser feito no contexto atual, e urgentemente.

Há trechos que, mais de 60 anos depois, apresentam coincidências perturbadoras. Nesse momento, em que a soberania do nosso país é alvo de ataque, uma delas é fundamental:

(…)o golpe, para ser vitorioso, tem como elementos essenciais o inesperado e a rapidez com que for executado, rapidez e surpresa que supõem, como condição necessária, a traição. Em todo golpe há sempre alguém que trai alguém ou alguma coisa, pois não há golpe sem traição (…)”

Não se trata aqui da traição da familícia e seus seguidores neofascistas. Esta é a perfídia óbvia e sabuja. O que vai pesar é a traição que virá dos pseudo-defensores da nossa soberania, daqueles que irão capitular de forma vergonhosa diante do agressor. Em breve veremos Ministros do STF, Governadores de Estados e parlamentares de diversos matizes se deslocando com os pés e as mãos no chão.

E não nos esqueçamos dos militares. Apesar do atual comandante do exército fazer com frequência juras de amor à legalidade e à ordem democrática, sabemos que este apego ao legalismo está longe de ser confiável. No frigir dos ovos sabemos que o exército não consegue ir contra a sua própria e histórica natureza golpista, que faz parte do DNA deles, forjado nas academias militares. Sabem recuar de uma batalha quando as condições no campo não lhes são favoráveis. Aí se mantém aquartelados de forma dissimulada, mas não hesitam em contra-atacar assim que vêm uma oportunidade. Pinochet era tido como legalista e declarou lealdade a Allende até a véspera do golpe.

O alto comando militar é uma clube de marechais Pétains em potencial. Estão prontos para servirem à República de Vichy Brazuca. Dispostos a ficar de joelhos ao furher Trump.

O golpe pode ser evitado? Sim, claro, sempre pode. Porém quando se sofre o bullying de uma valentão muito mais forte há que se ter serenidade. Não se deve cair no jogo de provocações. Por isso a mis-en-scene diplomática é importante, mesmo que não tenha resultados práticos. Demonstrar que tem amigos fortões, também vale. Vimos nos últimos dias conversas públicas com os primos fortes do BRICS. Não que eles virão em nosso socorro, não se deve ter ilusões quanto a isso. Mas é uma fatura que a agressor sabe que, de alguma forma, será cobrada no futuro.

Só quem pode derrotar um golpe patrocinado pelo agressor estrangeiro é a mobilização do povo da nação agredida. E a bandeira pela soberania nacional é um valor com grande potencial de mobilização. O sete de setembro está chegando e, ao que tudo indica, vamos deixar mais uma vez a data para a expressão do falso patriotismo fascista.

Não tem como deixar de dar razão ao filósofo que recentemente constatou a morte da esquerda. Tantas bandeiras mobilizadoras prontas para serem empunhadas e nada acontece. Ninguém pra gritar, em alto e bom som, que não somos o quintal deles. Que não queremos as bigtechs ganhando bilhões corrompendo nossas crianças e adolescentes, que não aceitamos que os agiotas internacionais da Visa e do Mastercard faturem bilhões em cima dos nossos suados ganhos. Que Brasil com “Z”, jamais!

Ainda há tempo para reagirmos. Seremos capazes?

Brasil com “Z” jamais!

A guerra, a agressão dos EUA contra o Brasil continua. Logo sofreremos mais um ataque. Trump sabe que pode contar com o apoio dos traidores da nossa pátria, os bolzofascistas, os quinta-colunas que tentaram dar um golpe dentro do Congresso nos últimos dias.

Uma das principais características dos fascistas de todas as épocas e lugares é a mais completa e total ausência de escrúpulos. A guerra dos fascistas é suja. Para atingir os seus objetivos são capazes de tomar as atitudes mais torpes e vis. O único limite é a reação firme da sociedade aos seus atos infames. E eles vivem a testar estes limites todo o tempo. A cada “passada de pano” que normaliza e naturaliza os seus atos deploráveis, eles avançam mais algumas casas no seu jogo.

O problema é que essa forma de agir dos fascistas é frequentemente eficaz. É o que acabamos de ver no sequestro Congresso Nacional pelos bolzofascistas, os quinta-colunas do imperialismo ianque.

São bestas insaciáveis e obstinadas. Já não se contentam com injúrias, calúnias, ameaças pessoais, fakenews e disseminação de discursos de ódio. Recorrem também a abomináveis atuações teatrais. Vale levar um tombo e acusar quem estava ao seu lado de agressão. Vale usar o próprio bebê como escudo humano e afirmar esse uso com orgulho. Não há limites. Estamos a poucos passos do terror, de “noites dos cristais”, das “facas longas”, da queima de livros.

Sim, eles venceram uma batalha. Queriam pautar a anistia para o seu Fuhrer e o impeachment do Xandão. Não conseguiram de imediato, mas evitaram que essas propostas fossem definitivamente enterradas. Elas permanecem ao alcance do radar, prontas para ressurgir na primeira oportunidade. Por outro lado, conseguiram negociar para que seja colocada em votação uma PEC que visam blindar o “banditismo parlamentar”. Segundo essas propostas, parlamentares só poderão ser investigados com autorização do Congresso. Vejam bem, não se trata de impedir o processo, prisão ou a cassação, mas a simples investigação! Como cereja do bolo, se depois disso tudo ainda forem indiciados, o processo começa na primeira instância, não mais no foro privilegiado do STF. Uma mudança processual que garantirá, no mínimo, uma impunidade quase vitalícia. A corrupção com farra das emendas secretas fica garantida. Além de um sem número de outros crimes comuns (feminicídios, homicídios perpetrados por motoristas embriagados, estupros, etc.).

A cobertura da imprensa, generosa, permitiu que eles saíssem vitoriosos. A falácia da isenção jornalística é um grande trunfo para os golpistas. Afinal, é preciso ouvir todos os lados, dizem os editores chefes. Esses editores que, afinal “não são de esquerda, nem de direita, muito pelo contrário”. Hipocrisia sem fim.

Curioso é que, quando se tratam de temas como a reforma da previdência, arcabouço fiscal e outros assuntos de interesse do rentismo, só há espaço para “especialistas” que cantem em uníssono. Fazem questão de ouvir todos…todos que estão do mesmo lado. Se a palavra é dada a alguma voz dissonante, o jornalista transgressor é advertido e ainda fica com o emprego ameaçado.

Mas tudo isso se explica. Como este blog sempre relembra: a grande imprensa é o Diário Oficial da elite econômica. E essa elite, quando vê os seus interesses ameaçados, tem no fascismo uma arma funcional. Por isso ela o tolera, se recusa a contribuir para isolá-lo completamente. Podem precisar deles num futuro próximo. Mesmo que isso nos custe a soberania nacional. Afinal, soberania nunca foi importante para essa elite neocolonial. Desde que sejam mantidos seus lucros e privilégios, se submetem bovinamente ao domínio da metrópole.

O sete de setembro se aproxima. Os patriotas, de verdade, tem que assumir a convocação das manifestações, com o lema BRASIL com “Z” jamais!

É preciso demarcar nitidamente que há dois campos: os bolzofascistas traidores e os que defendem a soberania nacional.

À espera do próximo ataque ianque

 

Como já comentamos em postagem anterior: o nacionalismo da nossa elite neocolonial não passa da segunda página. Um dirigente de entidade empresarial já pede para dobrarmos os joelhos, sugerindo que, para preservarmos a parceria com o irmão do norte, ofereçamos a exploração conjunta dos nossos minérios e uma tributação generosa para as bigtechs. Nada que já não venha sendo articulado por lobbistas locais nos bastidores há algum tempo. Ou seja, oferecem música para os ouvidos do Tio Sam. Tudo com a esperança vã esperança de que, quem sabe, talvez assim eles se acalmem e nos deixem continuar a fazer negócios com a China.

Coincidentemente, ou não, a British Petroleum anuncia que encontrou uma mega reserva no bloco de pré-sal entregue a ela…Quase um propaganda da “Fatal Model”, rodando a bolsinha para os nossos agressores e exibindo suas terras raras….

Fosse nos tempos do Bush ou Obama, tava tudo certo. Eles só queriam impor os interesses econômicos deles. Sempre encontraram aliados por aqui, dispostos a “firmar parcerias”. Porém com Trump é pior, porque ele não quer apenas impor; além de querer nos submeter ao seu domínio, o quer de forma humilhante. O CEO de um dos maiores bancos privados do Brasil já entendeu o recado e afirmou que está pronto para cumprir a lei…dos EUA…

Portanto, sinto informá-los: veremos os representantes da nossa elite econômica e da classe política em franco processo de conversão de bípedes em quadrúpedes servis, fenômeno que vai se acentuar nas próximas semanas.

Trump muito provavelmente vai prosseguir na defesa da familícia Bolzo, aplicando punições a outras autoridades brasileiras (líderes do Senado serão possivelmente os próximos alvos). Não por amor ao sujeito. Trump, no íntimo, o deve olhar Bolzo com desprezo, pela descarada sabujice que demonstra. Mas continuará em sua defesa por duas simples razões. A primeira, porque é um elemento de desestabilização interna, já que o Bolzo mantém uma base fiel, nas ruas e no parlamento, capaz de fazer muito ruído nas negociações. E em segundo lugar, porque ele ainda tem um capital político para alavancar a candidatura de um vassalo do império para a presidência no próximo ano – o grande objetivo estratégico do governo dos EUA.

Então, preparem-se para um violento bombardeio nos próximos dias, quando uns e outros irão mais uma vez faturar alto na compra e venda de dólares.

A bandeira da soberania nacional tem um grande potencial de mobilização, de arregimentar forças sociais para a nossa resistência. Transformar esse potencial em força real é o grande desafio.

E tivemos mais um final de semana de manifestações bolzofascistas. Parte da blogosfera se divertiu reproduzindo imagens do habitual desfile de criaturas bizarras, tipo aquelas que rezam para pneus. Outros difundiram avaliações que fazem uso frequente do adjetivo “flopou”, para depreciar o quantitativo de público das manifestações. A decretação da prisão domiliciar do Bolzo levou alguns a um quase-orgasmo.

Nada contra a se divertir com isso. Mas há que se relativizar esses acontecimentos. Como se dizia antigamente, nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

A mitologia clássica nos deixou de legado várias lições. Uma delas é a da caixa de Pandora: depois de aberta, não há muito o que fazer. Temos que conviver com os males que foram liberados, enfrentá-los, contando apenas com a esperança, a única coisa que nos restou da caixa aberta. Esperança, porém sem otimismo.

O fenômeno Bolzo libertou da vergonha as mais deploráveis características humanas. E vamos ter que conviver com essa turba pelas próximas décadas.

Porque a vergonha só reaparece depois do estrago feito. Os alemães que abraçaram o nazismo só se recolheram após a a catástrofe instalada e o projeto ariano fracassado. Derrotados, os nazistas voltaram pra dentro do armário e foram contidos por décadas em que o ideário deles foi institucional e socialmente condenado e criminalizado. Porém, como bem escreveu o dramaturgo Bertold Brecht, a cadela do fascismo está sempre no cio, pronta para ressurgir sempre que vê uma oportunidade. O fascismo já germina novamente na Alemanha, assim com em todo o mundo.

O que chamamos genericamente de fascismo é um fenômeno internacional. Não podemos ignorar essa característica. Quando os nazistas ocuparam várias nações europeias, delegaram aos fascistas destes países a execução do trabalho sujo, de extermínio de judeus, ciganos, gays e comunistas. E eles o fizeram com fervor. Nunca se viam como traidores da pátria.  No Brasil, eles estão entre nós. Inclusive entre deputados e senadores, como vimos nessa semana.

Umberto Eco inventariou o modus operandi do que ele chamou de UR-fascismo. Não um fenômeno a-histórico, mas trans-histórico. Primo Levi, sobrevivente do holocausto, já havia dito que cada época tem o seu fascismo a ser combatido.

Portanto, a guerra que estamos vivenciando não é somente pela soberania nacional. Ela também é da civilização contra a barbárie.

Saldo da primeira batalha da guerra

Terminou a primeira batalha da guerra pela independência soberana do Brasil. Não sabemos como os historiadores do futuro irão denominar o embate que estamos vivendo nos próximos anos. O certo é que estamos em uma guerra para nos emancipar do quintal dos EUA. E que foi deflagrada por eles. Pelo visto, manter o domínio imperial sobre as nações da América Latina neste momento é uma questão “existencial” para os EUA (do ponto de vista geopolítico do conceito). A nossa adesão ao BRICS é inaceitável para eles.

O tigre, que para nós não é de papel, rugiu e mostrou suas garras. Porém fez um ataque menos agressivo do que o anunciado. Um recuo que se deu não por conta dos protestos brasileiros, mas pelas queixas domésticas de alguns setores econômicos nos EUA. Se não atendidas, seria um baita tiro no próprio pé.

De forma apressada, alguns estão comemorando com os já famosos memes TACO (Trump Always Chickens Out -Trump sempre amarela). Pelo que se diz, esse tipo de deboche irritaria profundamente o presidente norteamericano.

Os memes nos divertem, mas não se deve perder o foco. A guerra apenas começou. Vamos sorrir, porque o riso é uma forma de desafiar e ridicularizar opressores. Porém ainda não temos razões para comemorações efusivas. Até porque os recuos são parte da estratégia de negociação do diabo laranja, pois não se retorna ao ponto de partida e sim algumas casas à frente (o que já é um ganho pra ele).

A punição aos magistrados do STF é uma mensagem clara: vocês não podem nos desafiar, não podem nos vencer. Lembra a frase de uma série trash de ficção-científica: “– vocês serão assimilados, é inútil resistir”. Não há resposta diplomática para este tipo de agressão. Não reconhecem nossa soberania, nem do ponto de vista político, nem econômico e nem cultural.

Na verdade, não há nenhuma novidade nisso. Esse sempre foi o pensamento do establishment norte americano em relação a nós. Só que raramente foi demonstrado assim, de forma tão explícita e desavergonhada. O que mudou é que agora eles tem um presidente com transtorno narcísico grave, que faz questão de ostentar as ideias das quais se orgulha, a essência do movimento MAGA.

A familícia Bolzo e seus seguidores estão radiantes. Ignoram que servem apenas como uma bucha de canhão, um instrumento vulgar a serviço de outros interesses. São os idiotas úteis do momento. Não haverá declaração de amor ou de fidelidade canina que os livrem de serem descartados num futuro próximo, quando já tiverem servido ao papel que lhes foi reservado.

A imprensa, o governo, a classe política, todos apelam à negociação. Porém, numa guerra, não há negociação pelos canais convencionais. Só conversas com interlocutores intermediários. É o que vem acontecendo, com os grupos econômicos sediados nos EUA que se sentiram prejudicados. Pelo menos é isso o que a imprensa nos informa.

Relevante foi a reunião que ocorreu nessa semana em Brasília, na qual o vice-presidente recebeu representantes da Meta, Google, Amazon, Apple, Visa e Expedia, acompanhados de um enviado da Secretaria de Comércio dos Estados Unidos. Na agenda pública, apenas temas genéricos: segurança jurídica, inovação tecnológica e ambiente regulatório. Em outras palavras, Alckmin ouviu os pleitos (ou ameaças veladas) das empresas dos oligarcas que sustentam o projeto MAGA do Trump.

Não é dificil imaginar o que querem as bigtechs: mínima regulação e portas (e pernas) abertas para ganhos financeiros em nosso país.

Enfim, aguardemos a próxima batalha. E o ataque virá na forma de guerra híbrida, com CIA, NSA e bigtechs trabalhando juntas. Vão jogar bombas pesadas até a eleição de 2026. As questões comerciais serão meras escaramuças. A prioridade deles é eleger um capacho para presidir o nosso país. Não faltam candidatos.

Enfim, apesar da coragem política, o governo brasileiro tem poucas cartas na manga. E as bigtechs tem todas as nossas informações estratégicas na “nuvem” que elas controlam.

A sociedade pode ajudar. Se não temos alternativas no curto prazo para substituir nossas redes sociais, podemos ao menos boicotar as operadoras de cartões bancários deles. As mudanças trazidas pelo PIX eles terão de engolir. E outros boicotes a setores sensíveis podem ser considerados. A nossa elite neocolonial detesta o anti-americanismo e não vai alimentar essa forma de resistência. Nem os partidos do governo, reféns do teatro da “negociação profissional e diplomática”.

Enfim, é uma guerra muito difícil de vencermos. Mal comparando, vale lembrar que também não era fácil para os veitcongs. Há que se explorar as contradições e conflitos internos no território do inimigo. Porém, com criatividade e disposição para resistir, nada é impossível.

A PRAGA QUE NOS AMEAÇA

De acordo com a EMBRAPA, existem muitas pragas que podem causar estragos imensos nas plantações de Banana: Sigatoka-negra, Sigatoka-amarela, Mal-do-Panamá, Murcha bacteriana, Moleque-da-bananeira e a Falsa-broca-da-bananeira. 

A nossa república bananeira também sofre com pragas. Nesse momento, a praga “molecagem-da-familícia-Bolzo” está a nos contaminar e coloca em risco o futuro do país.

Tão grave e danosa é esta praga que até mesmo as nossas elites neocoloniais se indignaram. Através dos editoriais de seus jornalões bradaram as seguintes ideias, que resumimos numa livre interpretação-síntese do conteúdo dos editoriais:

Submissão sim (deixemos o BRICS, vá lá) mas prejuízos econômicos só pra salvar um imbecil não admitimos”. “Ok, ele nos foi útil num passado recente, mas já o descartamos porque, sendo o idiota que é, hoje nos traz mais problemas que oportunidades”. “Já o Lula tem que deixar esse discurso ideológico de soberania, se ajoelhar e negociar para que não soframos maiores prejuízos”. “Somos colônia mesmo, e daí? Podemos continuar a ser felizes assim, com nossos lucros em alta e a desigualdade social que sempre nos assolou. Queremos voltar ao nosso histórico normal!”

Em busca de uma solução eleitoral anti-Lula, os editoriais exortaram os governadores que são pré-candidatos à presidência a abandonar o bolzofascismo. Mas os governadores relutam. E não é sem razão. Sabem que o legado de votos da familícia – ao menos 1/3 do eleitorado – assegura uma vaga no segundo turno e/ou uma cadeira no Senado.

Em recente evento de um badalado banco de investimentos, estes mesmos governadores presidenciáveis, sob aplausos fartos, afinaram o discurso, afirmando que a culpa do tarifaço é por conta das escolhas “ideológicas” do atual governo. Curiosamente, esse mesmo banco de investimentos faturou muitos milhões nas estranhas movimentações do mercado de dólar nas horas que se seguiram ao anúncio do tarifaço. Sem ideologia, claro…

Os jornalões também começaram a destacar as concessões feitas pelos países tarifados por Trump: Vietnã, Filipinas, Indonésia, Japão e a União Europeia. O subtexto é: “ora, se eles tiveram que se ajoelhar, porque nós não faremos o mesmo?”. Nessa lógica subalterna teríamos que ceder em busca de um acordo “menos pior”.

O problema é que, no nosso caso, o que Trump busca não é somente vantagem comercial. Ele quer submissão geopolítica total. Pode até ser que ele aceite negociar pontualmente algumas tarifas. Mas vai manter a espada de Dâmocles sobre as nossas cabeças. Não há nenhuma indicação de que o diabo laranja vai aceitar que seja lançado ao mar o seu lambe-botas mor. Deverá intensificar as represálias contra magistrados e outras autoridades brasileiras. Vai dobrar a aposta. E vai manter as ações de desestabilização da nossa economia de forma a tumultuar cenário eleitoral em benefício de seus fiéis vassalos (que, no íntimo, deve desprezar).

Conforme o andar da carruagem, a intolerância da elite com a familícia logo vai arrefecer.

Os deputados do centrão, por enquanto, observam a evolução do embate, se preservando. Não querem se precipitar e se arriscar a “abraçar um afogado”. A única que coisa importante para eles são os bilhões do orçamento para manusear livremente em beneficio de seus clãs e redutos eleitorais. Para onde a elite neocolonial for, eles irão.

Por fim, discretamente, nestes mesmos dias os militares mandaram os seus recadinhos. Nas entrelinhas deixaram claro que serão sempre fiéis ao Comando Militar Sul dos EUA, ao qual sempre foram ideológica e intelectualmente subordinados. Em seu patriotismo reverso (submisso à outra pátria) estão esperançosos de que o apoio que não veio ao golpe de 8 de janeiro de 2023 poderá vir numa oportunidade próxima, com o apoio do Diabo Laranja. Eles ainda são os mesmos golpistas, bolzofascistas em sua maioria.

Curiosamente, o ogronegócio, o setor econômico mais bolzofascista de todos, é o que enfrenta o maior dilema. O silêncio da China, o seu principal comprador, os incomoda. Em poucos anos poderão perder o seu maior cliente. Os chineses poderão investir na infraestrutura de agronegócio em países africanos em busca de alternativas (já há movimentos nesse sentido).

A realidade é uma só: Trump declarou guerra contra o Brasil. Nosso problema é que, militarmente, não temos como enfrentá-lo. Não só por não termos um arsenal bélico e tecnológico próprio. Mas porque temos forças armadas submissas e uma elite econômica subserviente.

Não temos grandes armas. Só a capacidade de sabotar e boicotar os agentes econômicos deles e de seus vassalos. E isso não é de responsabilidade dos partidos governantes, reféns de inúmeros condicionantes. Essa tarefa cabe à sociedade.

Será preciso disseminar um amplo, profundo e contundente sentimento anti-imperialista (ou melhor, anti-EUA, personificado no Trump) na sociedade brasileira.

Por hora, é a nossa única arma.

COMEÇA  A GRANDE GUERRA PATRIÓTICA

E  não é que o  jornalão paulistano colocou as quatro patas no chão? Depois de um breve surto nacionalista, com firme e ereta indignação diante do tarifaço imposto por Trump ao Brasil, a elite econômica da nossa república bananeira nos informa que vai jogar a toalha. Um novo editorial conclamou o Brasil a abandonar o BRICS. Surpresa zero. Nossa elite neocolonial rentista quer apenas sustentar os seus lucros pornográficos, mesmo que às custas de uma vida miserável para milhões de brasileiros. Perceberam que Trump não quer simplesmente rever as relações comerciais entre os países. Nunca houve qualquer intenção de negociar absolutamente nada. A diplomacia, nesse contexto, é reduzida a um mero teatro para afirmação de princípios. Importante, mas sem resultados práticos. O que Trump nos exige é submissão total, que abdiquemos da nossa soberania. E isso é inegociável.

 Por isso essa elite sugere que abandonemos o projeto do BRICS. Eles entendem perfeitamente o que, de fato, incomoda o império. Daí defendem que devemos abrir os braços – e as pernas – para o grande irmão do norte. Têm a esperança de que, dessa forma, tudo retorne à velha normalidade. Só que, com Trump, nada será como antes.

Trump acena que o fim da prossecução penal do líder de seus capachos é o único ato que poderá levá-lo a rever o tarifaço.  Falácia. Somente os ingênuos acreditam nisso. Trump nos quer de joelhos, e usa a familícia canalha como instrumento de chantagem. Porém isso é somente a ponta de um ariete para arrebentar com as nossas defesas.

O perigo não está  na subserviência da nossa elite econômica. Nem no falso patriotismo do bolzofascismo, que também infesta as instituições militares, completamente submissas ao Comando Militar Sul dos EUA e conformadas com a dependência tecnológica de outras nações.

 Não estamos mais diante de um Golpe Tabajara. Agora estamos assistindo aos primeiros passos da escalada de uma agressão estrangeira, vindo da maior potência militar do globo. E, como todo interventor estrangeiro, Trump aposta na rendição dos covardes. Sabe que sempre aparecem os candidatos à testa de ferro, vassalos traidores da pátria dispostos a colaborar com a ocupação e fazer o trabalho sujo. Não faltarão oficiais militares candidatos ao posto de “General Pétain”, dispostos a servirem capachos para uma potência estrangeira (que cinicamente chamarão de “aliada”). E uma penca de magistrados cúmplices, prontos a “matar no peito” qualquer contestação. Sem falar dos muitos deputados e senadores que se vendem por qualquer michê na hora da xepa.

Uma vez rompida a resistência, virá a plena liberdade das bigtechs, a explosão do nosso sistema PIX para a entrada das fintechs dos EUA,  a exigência de privatização total dos nossos recursos minerais estratégicos (petróleo e terras raras) e uma base militar gringa em nosso território. Sobrarão presidenciáveis com o boné MAGA para levar adiante essa vergonhosa submissão a um país estrangeiro.

O Brasil está sob ataque. Somos  a nação que mais ameaça a hegemonia dos EUA no que eles consideram o seu quintal (a América Latina). O ataque ao nosso país está apenas começando. Será uma guerra suja. O inimigo tem um poderio econômico, tecnológico, informático e militar incomparavelmente superior ao nosso. Não duvidem de mortes inesperadas e suspeitas, nem de improváveis acidentes trágicos (tipo a explosão do programa espacial brasileiro em 2003).

 O tarifaço que se anuncia, que poderá ser incrementado para 100% em breve, tem por objetivo debilitar a nossa economia (frear o crescimento e alimentar a inflação) para insuflar a insatisfação popular. É assim que Trump quer ressuscitar o bolzofascismo nas nossas eleições em 2026. Todo cuidado será pouco porque, sabidamente, nossa elite econômica é capaz de voltar a abraçar o bolzofascismo no primeiro “peteleco” que levar. Só não quer a figura do Bolzo nem de seus filhos abjetos. Por isso implora para que o seu queridinho governador de São Paulo se desvincule da criatura que o pariu.

Só nos resta uma estratégia: a guerra de guerrilhas. Não no sentido mili  tar, obviamente. Mas de resistir no campo econômico e cultural, na esfera comunicacional, com criatividade, astúcia, boicotes e sabotagens. E apostar no desgaste do inimigo dentro de suas próprias fronteiras com os seus cidadãos e empresas.

 O governo brasileiro ficará de mãos atadas, refém do lobby de uma elite econômica servil. Talvez nem seja capaz de criar uma sala de situação (ou de crise), o que seria de se esperar já que estamos sob ataque. A iniciativa dessa “guerrilha” caberá à sociedade civil. Algumas sugestões:

– Boicotar as bandeiras Visa e Mastercard, alertar que elas querem faturar em cima do nosso PIX.  Incentivar a adesão ao ELO e, assim que disponível, à bandeira UnionPay;

– Identificar grupos econômicos norte americanos que podem ser objeto de boicote em nosso país, preferencialmente os trumpistas assumidos;

– Lançar uma campanha de denúncias sobre a quantidade de fraudes e propagandas enganosas que lesam o consumidor difundidas irresponsavelmente nas redes da META, caprichando no alarmismo. É preciso destruir a credibilidade dos anúncios veiculados no Instagram e Facebook. Alertar que comprar produtos e serviços ofertados nelas é arriscado, inclusive para a privacidade dos cidadãos. Não faltam testemunhos para dar visibilidade a essas denúncias;

– Repercutir à exaustão os casos mais dramáticos de imigrantes brasileiros expulsos por Trump;

– Incentivar o uso das redes sociais alternativas;

– Radicalizar o uso do nacionalismo. Colar na testa dos bolzofascistas a pecha de traidores da pátria. Viralizar o Samba da Caprichosos de Pilares de 1986: “Brazil Com Z, Não Seremos Jamais, Ou Seremos?”

– Inundar as redes com memes tipo “Donald Trump e seus miquinhos amestrados”.

 Enfim, estas são apenas algumas propostas preliminares. A guerra já foi iniciada. Quanto mais tardar a reação, mais difícil se tornará a nossa resistência.

 Sobre a ineficácia de uma saída diplomática, além do que já foi dito acima, há um dado que não podemos ignorar. Estaremos guerreando contra um governante que, além de mau caráter, sofre de graves transtornos psíquicos. Em 2017, na Universidade de Yale, um grupo de psiquiatras criou o movimento Duty to Warn (Dever de Avisar). Publicaram o livro “The Dangerous Case of Donald Trump” em que apresentam cientificamente um diagnóstico clínico de Donald Trump: uma combinação de transtornos psíquicos que inclui um narcisismo doentio, fortes traços de sociopatia e personalidade paranóica. Ou seja, um sujeito que não sabe perder. Que tende sempre a dobrar a aposta. Só que isso pode ter repercussões muito negativas dentro dos EUA. Vale lembrar a vitória do Vietnã: a derrota dos norte-americanos começou dentro do seu próprio país. Trump tem que cair, antes que seja tarde.

 Enfim, viveremos em breve tempos difíceis, quiçá trágicos.

 

Bananeira na encruzilhada

O Brasil inteiro acaba de descobrir, e pelos editoriais dos jornalões, que são os diários oficiais da elite econômica nacional, que até uma república bananeira tem seus limites.

Que as nossas elites sempre aceitaram que o Brasil fosse inserido numa ordem econômica mundial de forma submissa, ocupando eternamente um papel periférico, isso sempre soubemos. Obviamente, desde que o fluxo de dinheiro para os cofres dessa mesma elite se mantivesse constante, ainda que às custas de uma brutal desigualdade na distribuição das riquezas geradas e da superexploração da população mais vulnerável.

Foi preciso que uma família de políticos medíocres se superassem em sua própria burrice e estupidez para que viessem à tona os limites que existem para esta submissão.

É inacreditável, mas o Bolzo conseguiu ficar politicamente inviabilizado. Foi capaz desta proeza. Nem que prometa colocar o Campos Neto de Ministro da Fazenda e indicados da Faria Lima nos Ministérios. Acabou, porra! É o recado que as elites do país passam através dos editoriais dos seus jornalões. Não é mais uma opção diante de uma “escolha difícil”. Mais do que isso: os jornalões passaram um recado extensivo aos presidenciáveis que buscam herdar os votos da famíglia Bolzo. Avisaram-os de que correm o risco de dar um abraço num afogado. Os que quiserem o apoio da elite para as suas candidaturas terão que concordar em jogar o clã do Bolzo na vala. Até porque a cadeia os espera. Pode ser uma prisão domiciliar ou um generoso asilo político na Disneyworld land, lugar mais adequado para dar abrigo a um bando de patetas.

Não por acaso o neofascismo brasileiro está em transe, à beira de um ataque de nervos, sem saber muito bem o que fazer. Mas é preciso muita calma nessa hora. No dizer maquiavélico,é hora de se ter a virtu necessária para aproveitar um momento de fortuna. Sem grandes ilusões.

A bravata de Trump foi uma cena teatral para enviar uma mensagem clara: não vai permitir que ninguém no que ele considera como o  seu quintal irá “cantar de galo”.  A defesa do Bolzo foi um balão de ensaio, um pretexto para manter excitadas as bases do neofascismo internacional. Concretamente, não há nenhuma racionalidade técnica no tarifaço anunciado. Causou estupor até na Câmara de Comércio deles (U.S. Chamber of Commerce) que antevê claros prejuízos para as cadeias produtivas deles. Portanto, é uma mera cortina de fumaça. Se engana quem diz estarmos diante de meras atitudes tresloucadas.

 

É preciso ficar muito atento ao comportamento da elite neocolonial. Após ser tomada de um breve arroubo nacionalista, suplicou ao governo que busque uma negociação com os EUA. Trump esperava por isso. Que lhe fosse oferecido um pretexto para o recuo. O que vem em seguida é o que importa.

O primeiro sinal já veio: Trump encomendou uma investigação comercial à USTR (o poderoso Escritório do Representante de Comércio dos EUA). Eles têm em mão a famigerada lista do Sistema Geral de Preferências e a “Special 301”, que oferecem benefícios tarifários para países em desenvolvimento, desde que respeitem a propriedade intelectual dos titulares norte americanos (patentes,marcas e direito autoral)  Historicamente, é um dos principais instrumentos de chantagem usados pelos EUA. É por esse meio que virá a pressão, que sempre contou com grandes aliados na CNI, FIESP, CNA e assemelhados. O nacionalismo deles é de fachada. Não se importam com a nossa inserção submissa no comércio internacional desde que seus ganhos sejam preservados.

Que ninguém se surpreenda caso ressurjam com vigor as queixas sobre o “custo Brasil”. Talvez ele volte a ser usado para golpear as bandeiras de justiça tributária, direitos trabalhistas e do fim da escala 6 x1. Estas bandeiras poderão ser acusadas de causar dificuldades competitivas no novo contexto comercial criado por Trump. Uma pesquisa encomendada para fragilizar o “nós contra eles”, o “pobres contra ricos” já está sendo estampada nos jornalões.

Mas com o devido cuidado para que os que defendem a soberania nacional não capitalizem o episódio como uma vitória.  E será bom tomar cuidado com o uso do ataque bizarro ao PIX. Talvez seja uma armadilha plantada com a intenção de reabrir um episódio recente que deixou feridas no governo. Os meios de pagamento das bigtechs  (Google pay, Whatsapp pay) tomaram uma bela rasteira com o PIX e estão com sede de vingança. É bom ficar atento.

A luta de classes e antiimperialista é complexa. Mas não podemos nos desviar dela. Enfim, há uma janela de oportunidade aberta. Resta ter a sabedoria para tirar proveito dela em benefício do povo brasileiro.

 

BROTHER SAM ENTRA NA GUERRA DAS BANANAS

Como era de se esperar, Trump saiu explicitamente em defesa do Bolzo. Não que ele  tenha grande apreço pelo ex-presidente. Trump sabe que ele não passa de um idiota sabujo, um vassalo imbecil. Porém ele também sabe que o Bolzo pode ser um ativo útil para ser usado em benefício dos interesses dos EUA, pois ele ainda tem significativa base eleitoral no Brasil. O presidente dos EUA  age como um jogador de pôquer. Blefa e dissimula, para tirar a atenção de seus reais movimentos e intenções.

Cabe destacar que o momento para essa manifestação bizarra do governo norte-americano foi claramente planejado: logo após a reunião da cúpula do BRICS realizada no Brasil. O BRICS, capitaneado pela China, é hoje a grande ameaça à supremacia norte-americana. Para alguns analistas, trata-se de uma guerra já perdida para o Tio Sam. Porém o gigante vai espernear até o fim, vai vender caro a sua derrota. O problema é que os países periféricos sofrerão as piores consequências. Nós entre eles.

O Panamá, coitado, já foi subjugado.

O blá-blá-blá non sense da cartinha do Trump é puro teatro. O recado é claro: se o Brasil não se submeter aos interesses dos EUA, será sabotado por todos os meios disponíveis: desde sanções comerciais e tarifárias abertas, até ações do submundo da guerra híbrida, com a CIA e a NSA atuando a todo vapor. Vejam só: quase toda infraestrutura digital do governo está nas mãos das bigtechs (Microsoft, Google, etc).  Elas têm acesso em suas “nuvens” a muita documentação estratégica produzida pelo governo.  Não faltará material para sabotagem. A espionagem norte-americana no governo Dilma, que deu a base para a lava-jato, vai parecer “fichinha”.

As bravatas do Trump visam negociar em posição de força para impor seus interesses. Ele já afirmou que deseja bases militares em pontos do nosso território que utilizaram na Segunda Guerra Mundial (Natal e Fernando de Noronha).  Na época, sem ter como resistir, Vargas negociou em troca o investimento na nossa indústria de base. Agora Trump se acha no direito de cobrar essa conta.

O fato é que, para os EUA, um país da dimensão do Brasil, com os recursos naturais que possui, pode se tornar um competidor perigoso caso se desenvolva de forma soberana. Passada a segunda guerra, a pressão dos EUA para manter o país asfixiado foi contínua. Cooptou a elite econômica e militar local com o terror da “guerra fria” e a suposta ameaça do comunismo.   A criação da Petrobrás e da Eletrobrás custou a vida de Vargas. A industrialização do país foi dificultada e mesmo Juscelino Kubitschek não teve vida fácil. Até a ditadura militar encontrou resistências. O tal “milagre econômico” se deu de forma submissa, com dependência de capital externo e sem transferência de tecnologia. Teve que negociar com a Alemanha o programa nuclear. Mais recentemente, a cooperação com a França para desenvolver a tecnologia de propulsão nuclear em submarinos sofreu pressões pesadas, como o próprio ex-presidente francês admitiu em sua biografia. Tivemos ainda um “misterioso” acidente no programa aeroespacial (inovadores foguetes com combustível sólido), com a morte dos principais cientistas (o recente assassinato de cientistas iranianos por Israel talvez tenha essa inspiração), seguido da entrega da base de Alcântara para os EUA pelo Bolzo.  E ainda houve a pressão para reverter a compra de caças suecos por causa da transferência de tecnologia. Isso entre muitos outros exemplos (a lava-jato é um capítulo à parte).

Enfim, os EUA sempre farão de tudo para impedir que o Brasil tenha um desenvolvimento soberano e se torne uma potência econômica e tecnológica. Para eles, somos o seu quintal, destinado a ocupar uma posição periférica e dependente. Um quintal que foi continuamente objeto de golpes e ações desestabilizadoras.

Os EUA, quando estimularam o desenvolvimento de algum país ou região, foi somente para afastá-los da influência soviética. O Plano Marshall foi o que permitiu o Estado de bem estar social na Europa. A reconstrução do Japão e a ascensão da Coréia do Sul seguiu o mesmo script. Com a queda da URSS, os EUA sentaram nos louros da vitória. Arrogantes, subestimaram a revolução silenciosa que estava sendo gestada na China.

A China está se desenvolvendo de forma muito interessante para os países parceiros: oferece fortes investimentos em infraestruturas nacionais que servem de rotas para o escoamento de seus produtos pelo mundo. Oferece ganhos mútuos. Dessa forma o BRICS se tornou uma imensa ameaça para o Tio Sam. E o Brasil é um dos elos mais fracos dessa aliança (ao lado da África do Sul). Por isso será alvo de ataques impiedosos.

O ano de 2026 será difícil. Teremos uma amostra do que virá já nesse segundo semestre, quando iremos testemunhar as ações desestabilizadoras nas eleições do Chile, Colômbia, Bolívia e Honduras, sob a batuta de Marc Rubio.

O governo brasileiro, preso à diplomacia de punhos de renda que caracteriza o Itamaraty, não irá além de declarações genéricas sobre soberania e autodeterminação e, talvez, acrescida de alguns arroubos retóricos do Presidente.

Só a sociedade organizada poderá oferecer alguma resistência. Está na hora de sacudir velhas bandeiras, retomar slogans – que alguns acham meio surrados – das velhas lutas anti-imperialistas. E não haverá anacronismo algum nisso. Será importante vincular a resistência às intervenções trumpianas com a pauta da luta de classes em nosso país, que hoje passa pelo fim da escala 6×1 e a exigência de justiça tributária. Se essa articulação for bem sucedida, fragilizando os quinta-colunas da elite política e econômica nacional, haverá chances de vitória.

Um fato a ser considerado com cuidado é a reação da elite brasileira (agronegócio, indústria, bancos) diante das ameaças trumpistas. A histórica submissão da dessa elite neocolonial, por pura opção de classe, está abalada ao vislumbrar graves riscos para os seus lucros. Os seus jornalões estão publicando editoriais e matérias que parecem manifestos de uma revolução burguesa.  Que ninguém se iluda que a suposta burguesia nacional irá despertar para a necessidade de que tenham um projeto de país inclusivo. Fica o alerta. A elite econômica brasileira não é vítima. Ela pariu o Bolzo. E está preparando um substituto similar, que apenas saiba se portar à mesa. É bom nunca esquecer disso.

Para nos inspirar, podemos relembrar versos do hino original dos Sandinistas: 

Los hijos de Sandino

ni se venden ni se rinden

luchamos contra el yankee

enemigo de la humanidad.

Bananeira em Transe

O Brasil, a maior república bananeira do mundo, cujas elites fazem de tudo para perpetuar essa condição, parece estar à beira de uma confrontação. Durante 13 anos as elites bananeiras aceitaram – meio que a contragosto – um governo com modesta inclinação para a justiça social. Porém elas logo se incomodaram e patrocinaram um golpe híbrido em forma de “impeachment” logo que viram uma oportunidade. Depois usaram o ‘lawfare‘ para impedir o retorno do governante anterior, mesmo às custas de abrir as portas do inferno para o político mais nauseabundo da história brasileira, em muito similar à descrição de Marx sobre Napoleão III :  “um chefe do lumpemproletariado, porque é nele que identifica maciçamente os interesses que persegue pessoalmente, reconhecendo, nessa escória, nesse dejeto, nesse refugo de todas as classes, a única classe na qual pode se apoiar incondicionalmente”.
Parte da elite bananeira letrada, um tanto envergonhada pela criatura tosca e seus asseclas deploráveis que pariram, aceitaram mais uma vez a eleição de um governo de orientação social. Muito mais por falta de alternativas, é bom que se diga. Porém, não sem antes garantir de que este novo governo ficaria sitiado desde o primeiro momento, sem margem para manobras ousadas, com uma governabilidade extremamente frágil. Um governo que, por muito pouco, quase não começou.  Após quatro anos alimentando serpentes de uma instituição de ideias anacrônicas – a caserna brasileira –  faltou pouco para assistirmos a uma quartelada liderada por uma milicada delirante e perigosa.
A saída golpista só fracassou porque parte da elite bananeira ainda foi capaz de sentir vergonha. Não perante o público interno, claro. É um constrangimento que os incomoda diante das classes dominantes das metrópoles, nas quais tentam se espelhar. Acontece que, com o acelerado avanço do neofascismo pelo mundo, esse sentimento de vergonha está se esvaindo. Uma nova conjuntura internacional que se desenha favorece isso.
Ao que parece, a elite bananeira optou pelo confronto aberto contra qualquer força política que ouse desafiar a pornográfica desigualdade econômica e social que reina no Brasil. Caminham para, simbolicamente, revogar a Lei Áurea, já que não aceitam mais fazer concessões e exigem retrocessos. Acabou o tempo das conciliações, bonapartismos, golpes dissimulados e intentonas de neo-quarteladas. Agora trata-se de impedir de governar, sabotar, fazer sangrar e desgastar. Tudo para que  qualquer alternativa de governo com uma mínima inclinação social chegue nas eleições do próximo ano sem grandes possibilidades de vitória. Não aceitam mais negociar com o maior negociador que o Brasil já teve, capaz de fazer grandes concessões em troca de poder implementar políticas compensatórias que diminuam o sofrimento da população mais vulnerável.
Portanto, caminhamos para um confronto. Uma análise do cenário atual aponta para uma vitória da elite bananeira nas eleições de 2026. A extrema direita deve ampliar a maioria na Câmara e conquistar o Senado, ponto de partida para subjugar o Poder Judiciário. Mesmo que não conquiste a presidência, isso já não importará tanto. Um Poder Executivo raquítico, será refém e poderá ser facilmente derrubado, tal como um castelo de cartas.
A sabotagem do governo já começou e não vai parar.  O Congresso, retomando as pautas bomba, irá fazer o governo sangrar até as eleições, com o total apoio do jornalismo de guerra – os jornalões que são os diários oficiais da elite econômica. As redes sociais dominadas pelo neofascismo amplificarão os ataques, turbinando as fakenews com os recursos da inteligência artificial. Os pastores arautos do anticristo também intensificarão as suas pregações. Tudo com apoio simpático da internacional neofascista. A recente matéria da revista ” The Economist” é só uma primeira sinalização.
Sem saída, um governo de conciliação fica sem alternativas. Não há sequer espaço para a tal Realpolitik. Apesar de ter pautas de grande apelo popular, o governo não demonstra capacidade de mobilizar as ruas. Resta apenas recorrer ao Tik Tok para atacar a imagem da elite bananeira e de seus deputados-mercadoria (quando não são meros  prepostos, são produtos facilmente compráveis na hora da xepa). Como reconheceu o pastor destilador de ódio (que deveria estar procurando uma rola), “grande parte da direita é prostituta e vagabunda, que se vende”, em um curioso sincericídio na Avenida Paulista recentemente.
Parece não haver outra opção senão o confronto. Há pautas que ajudam: a isenção de impostos para os mais pobres, a redução da jornada de trabalho, a reposição do salário mínimo e outros benefícios sociais. Temas que assustam as elites herdeiras dos escravocratas. A tal ponto que assistimos o maior telejornal do país, de propriedade de uma das mais bilionárias famílias do país, colocar no ar em horário nobre mais uma matéria infame, entre tantas que fez ao longo de sua história.
Nesse cenário, cabe resgatar a ideia do filósofo esloveno Zizek sobre a necessidade de recuperar Lênin, líder que tinha a inigualável habilidade de identificar e manobrar com a virtu e a fortuna. Quando não há mais condições de governabilidade, instaura-se uma crise revolucionária cuja saída só pode ser uma ruptura. Lênin percebeu isso em 1917 e, de uma posição extremamente minoritária, em poucos meses foi capaz de mobilizar o povo para sustentar uma insurreição. Não faltam bandeiras que poderão fazer o papel do “pão, terra e paz” para incitar um levante.
Em tese, poderíamos até sonhar com a hoje esquecida ideia de “revolução brasileira”. A má notícia é que, infelizmente, não temos um Lênin patropi. O confronto pode redundar numa acachapante derrota. Mas não há outra alternativa. Quando muito, talvez seja possível fazer com que eles sintam vergonha novamente. E aí, quem sabe, abram-se novas possibilidades de negociação. E assim mudar para que nada mude, cumprindo a eterna sina de república das bananas.
Post Scriptum
Pelas informações que chegam de Lisboa, onde a elite bananeira está reunida nestes dias, discute-se por lá que o confronto com uma pauta de grande apelo popular poderá ter um efeito contrário ao desejado para os fins eleitorais da elite bananeira. Lá estão reunidos o alto escalão do judiciário brasileiro (inclusive os “neo iluministas”), os principais expoentes do capitalismo industrial e financeiro do Brazil, além dos principais caciques dos interesses paroquiais e patrimonialistas do parlamento brasileiro. Todos imbuídos do firme propósito de perpetuar a república bananeira. Tudo indica que teremos mais um acordão à vista.