2026: Ano do grande confronto

 

Muita expectativa sobre a reunião de Lula com Trump na Malásia neste final de semana. Não pelo que sairá de concreto dessa conversa, mas pelo que ela sinalizará. A grande imprensa – porta-voz da elite econômica do país – se dedicará a cobrir o que ela chama de “normalização das relações” entre os dois países.

Na aparência, o debate será sobre tarifas, investimentos, regulação econômica. A nossa elite neocolonial não tem projeto para o país, nada além da vontade de multiplicar os seus próprios ganhos. Quer apenas fazer bons negócios com o mercado norte-americano. Na essência, o que realmente estará em jogo é até que ponto o governo brasileiro aceitará abrir mão de sua soberania. E até que ponto os EUA nos querem submetidos à sua esfera de influência.

Não teremos respostas claras nem definitivas. Apenas declarações diplomáticas escorregadias, mensagens subliminares, ameaças dissimuladas, promessas de concessões que talvez nunca sejam cumpridas, saudações cordiais mais falsas do que nota de 3 dólares.

Mas é possível arriscar um resultado: Lula poderá capitalizar uma trégua na guerra tarifária, reafirmar que não é inimigo do ocidente, que Brasil e EUA sempre foram ótimos parceiros e não há porque deixar de continuar a ser assim. E Trump, em seu transtorno narcísico, poderá capitalizar como uma vitória o movimento agressivo que fez. Dirá o que sempre tem dito: ninguém quer ser inimigo dos EUA e todos tem que aceitar negociar nos termos deles. Provavelmente ambos terão louros para exibir para as suas plateias.

Declarações tão elogiosas quanto cínicas não esconderão o fato de que o Império decadente do norte jogará pesado para garantir que seus testas de ferro controlem o que consideram o seu quintal. No próximo ano, em razão das eleições para a presidência e parlamento, viveremos o ápice do nosso embate com o neofascismo e o novo projeto de Reich (o MAGA).

Bom lembrar que estas conversas na Malásia irão ocorrer sob a sombra uma ação cirúrgica iminente na Venezuela, com o possível assassinato de Maduro e outras lideranças locais que a CIA identificar como alvos relevantes. Dessa forma os EUA creem que provocarão uma reorganização interna do núcleo de poder e buscarão um novo interlocutor que se ajoelhe. E mandarão um recado aos que ousam defender a soberania nacional de seus países na América Latina.

Então pode ser que o encontro Lula-Trump não termine neste falso clima de “é namoro ou amizade”. Nos últimos dias começou uma escalada de agressão sem tamanho ao presidente da Colômbia, cujas eleições serão em maio (as do Brasil em outubro). Talvez ainda não seja agora mas, em algum momento, o big stick se voltará contra o Brasil.

Por isso os quinta-colunas do patropi estão alvoroçados. Mesmo que um tanto frustrados por não terem conseguido a liberdade de seu líder, trabalham obstinadamente para dar um novo golpe na democracia. O ano eleitoral dará o cenário que os neofascistas desejam. O apoio que não tiveram no 8 de janeiro de 2024 poderá vir no ano que vem.

As movimentações estão adiantadas. O Centrão se desgarrou de vez da base de apoio do governo e vai se alinhar com os neofascistas. Os clãs de parlamentares que dependem da miséria do povo – para manter seus feudos eleitorais com políticas assistencialistas e demagógicas – escolheram o lado que melhor lhes convêm. E trabalham agora para derrotar qualquer pauta legislativa que turbine programas sociais.

O STF virou o grande alvo da disputa, antes mesmo da definição da nova composição do Senado, casa onde o neofascismo pretende conquistar a hegemonia na próxima legislatura. O autodeclarado neoiluminista pediu pra sair. Apresentou, obviamente, uma desculpa esfarrapada cheia de pompa. O fato é que precisa recuperar o visto para tocar seus empreendimentos nos EUA. Jogada claramente articulada. Não por acaso, o candidato a Carl Schmitt dos trópicos, após tirar a máscara e expor o seu alinhamento ao neofascismo, pediu para mudar de turma. Como bom arrivista que sempre foi, dispensa a dissimulação na hora que lhe convém. E assim vai garantir uma maioria neofascista em metade do STF. Além disso, quando do julgamento dos recursos, poderá fazer um novo teatro em defesa de seu protegido. Por razões que desconhecemos (vistos?), os colegas de toga cederam (poderiam ter impedido). E a aprovação do novo nome para o STF tende a ser tensa.

O ano de 2026 vai ser pura pancadaria.

MAGA, o novo Reich

Moeda do último imperador romano e projeto de moeda do imperador ianque.

É sempre bom recordar que aquilo que chamamos de democracia existiu apenas em alguns momentos da história da humanidade e circunscrita a alguns territórios. Na Cidade Estado de Atenas até a ocupação macedônia, na República Romana que antecedeu o império e, após a revolução francesa, aquela que floresceu em alguns países ocidentais e chamada de democracia liberal. Em todas essas experiências históricas houve exclusões (mulheres, escravizados, estrangeiros, negros, pobres, analfabetos, etc.). Na maior parte das vezes o que existiu foi uma democracia limitada, legitimada pela existência de eleições periódicas, restritas, nem sempre justas, algumas vezes fraudulentas.

O modelo de democracia liberal aperfeiçoou-se após as grandes guerras, no contexto da guerra fria, em oposição à URSS. Ampliou-se o sufrágio universal. O chamado estado de bem estar social expandiu-se, ainda que restrito às antigas metrópoles coloniais na maioria dos casos. Um eficaz sistema de solução de conflitos, com liberdade de organização e expressão, legitimado por eleições regulares, porém com sutis salvaguardas para impedir que a hegemonia dos que detém o poder econômico fosse ameaçada.

A queda da república soviética incitou teorias mirabolantes, desde a do “fim da história” até a de uma “onda democratizante” inexorável. A ciência política ianque saudava com entusiasmo essa suposta consolidação democrática e deslocava o debate para o que seria a discussão da “qualidade” das diferentes democracias, inspirado pelo engenhoso modelo analítico da Poliarquia de Robert Dahl.

Só que, neste contexto, triunfou no campo econômico o neoliberalismo predatório da Escola de Chicago, filhotes da escola austríaca de Mises e Hayek, impulsionado por Ronald Reagan e Margareth Thatcher com o seu lema “ não há outra alternativa”. Parafraseando o velho Marx, podemos dizer que os vitoriosos da guerra fria – os democratas liberais – criaram os seus próprios coveiros. A desigualdade social intensificou-se brutalmente e, após a crise de 2008, assistimos a uma ascensão de políticos autocratas pelo mundo, nomeadas pelo impreciso e inútil conceito de “populismo”. Melhor seria denominá-los como ur-fascistas, o fascismo trans-histórico que Umberto Eco desnudou: práticas autoritárias que, ao manipular questões morais, são armas na defesa dos privilégios daqueles que se apropriam das riquezas materiais da sociedade.

Como já havia alertado o filósofo francês Paul Ricouer, a democracia é frágil. O dramaturgo alemão Bertold Brecht avisou que a derrota do nazismo nunca seria definitiva, pois a cadela do fascismo permaneceria sempre no cio. Primo Levi, sobrevivente do holocausto, também deixou o seu aviso: cada geração tem o seu fascismo para enfrentar.

Estamos agora diante da ascensão do fascismo do nosso tempo, capitaneado pelo führer  Donald Trump e seu projeto de reich, o MAGA. Um movimento do supremacismo branco que muito provavelmente levará o mundo a uma nova tragédia. Não se trata de sermos fatalistas. Mas a experiência histórica nos leva a essa conclusão.

Grosso modo, há duas proposições sobre como enfrentar o momento que estamos vivendo. Há os que acreditam que ainda é possível barrar o avanço do neofascismo. Outros veem que, apesar da necessária resistência, a derrocada da democracia ocidental é inevitável, o que nos levará a algumas décadas de trevas.

O intelectual italiano Franco Berardi está entre os mais pessimistas. Ele recorre à metáfora da avalanche. Diz que quando ela está em formação, ainda é possível contê-la. Mas depois que ela começa não há muito o que ser feito. O que estiver no caminho dela será destruído. Só nos resta tentar sobreviver, buscar refúgio em locais seguros, construir abrigos, se preparar para tempos difíceis e se organizar para a reconstrução num cenário de terra arrasada. Berardi é pessimista porque enxerga uma esquerda perdida e acuada, que não tem demonstrado ser capaz de oferecer novas utopias.

A avalanche está se formando ou já começou? Essa é a questão cuja resposta logo saberemos. Se está difícil ser otimista, ainda é possível cultivar a esperança de que encontraremos uma alternativa.

O führer Trump não aceita ser derrotado e é obstinado. O que ele não conseguiu no primeiro mandato, o poder absoluto, tentará conquistar até o final de 2026, a qualquer custo. Já dominou a suprema corte, que tem anulado os atos de resistência das instâncias inferiores. As eleições de meio de mandato no próximo ano serão decisivas para Trump dominar de vez o Congresso. Mapas de votantes nos distritos já estão sendo manipulados e articula-se a proibição de voto pelos correios. Tudo para obter uma subordinação total das instituições estatais ao seu poder autocrático. Não medirá as consequências de seus atos para alcançar este objetivo. Cortou financiamentos de universidades, ameaça censurar meios de comunicação que considera hostis. De forma inédita, fez uso da Força Nacional de Segurança em grandes redutos democratas (Los Angeles, Chicago, Washington DC e, talvez em breve, Nova Iorque). Tanto interna quanto externamente, usa a desculpa de combater o crime comum, que é uma bandeira de grande apelo popular. Classifica como terroristas o tráfico internacional de drogas e movimentos antifascistas.

Por sofrer de um sério transtorno narcísico, o führer Trump se arrisca a meter os pés pelas mãos e sofrer um revés. Há quem aposte na sua morte, pois a saúde dele estaria seriamente debilitada. No entanto, mesmo que isso ocorra, o jovem vice-presidente J.D. Vance foi escolhido com cuidado para garantir a continuidade do Project 2025 em qualquer eventualidade. Trata-se do projeto de transição presidencial elaborado pela Heritage Foundation para o Partido Republicano e que está em plena execução. Visa dar um poder absoluto para o Presidente implementar uma segunda Revolução Americana, que permanecerá “sem derramamento de sangue se a esquerda permitir” (palavras do presidente da Fundação Heritage). E não faltarão Carls Schmidts para criar um teoria jurídica que legitime esse poder autocrático. Relembrando Marx, as farsas se repetem ao longo da história.

Os democratas dos EUA – considerados como a “esquerda” naquelas bandas – enfrentam um adversário sem quaisquer escrúpulos. E há sérias dúvidas de que são capazes de virar o jogo. Não entendem que o tabuleiro foi quebrado e as regras rasgadas. Trump já demonstrou que pode estimular à violência política aberta, que será capaz de provocar uma guerra civil se isso for necessário para afirmar o seu poder. O recente assassinato do jovem líder neofascista esteve a ponto de deflagrar uma onda de violência política sem precedentes. Os EUA poderão em breve promover a sua “noite das facas longas”. Se nem um ex-aliado belicista e supremacista como John Bolton foi poupado, os democratas de lá podem se preparar para o pior dos mundos.

Para o restante do mundo, o que muda é apenas a aparência. Trump autorizou a CIA e a NSA abertamente a sabotarem os países que não se submetam. Algo que os democratas sempre fizeram, porém com discrição, e sem exibir o seu big stick sem qualquer pudor.

Uma ação militar cirúrgica na Venezuela parece que já está decidida. Maduro talvez venha a ser o Sulaimani da vez. No longo prazo, tem tudo para dar errado. Mas o que importa para o Tio Sam neste momento é dar o seu recado para os sulamericanos: “-Vocês são o nosso quintal, portanto, submetam-se!”

Que ninguém se engane: as “conversas produtivas” com o Brasil sobre o tarifaço é uma grande escaramuça. Podem ter descartado o clã de idiotas, mas não desistirão de atuar para que um fantoche servil seja eleito no ano que vem. E eles têm aliados: parlamentares que se vendem por qualquer punhado de dólares e militares especialistas em terraplanagem para recepcionar golpistas. Como afirmamos em postagem anterior, não faltam quinta-colunas dispostos  a servir ao MAGA-Reich.

O Império vai contra-atacar

Há um misto de ingenuidade e otimismo exagerado nas interpretações correntes sobre as palavras que Donald Trump dirigiu ao Lula desde a Assembleia da ONU. Apesar de Trump ser um notório falastrão, cujas palavras não valem um dólar furado, ele ainda consegue fomentar o auto-engano naqueles que se deixam levar pelo “wishfull thinking”.

O fato é que havia a expectativa do Tio Sam de que o Brasil se ajoelharia facilmente diante das represálias tarifárias e da Lei Magnitsky, sem oferecer grandes resistências. Sim, subestimaram a capacidade política do governo brasileiro, do STF e da nossa diplomacia para defender a soberania nacional. Os neofascistas dos EUA confiaram nas informações fornecidas por interlocutores cuja burrice é estonteante. Por conta disso, deram com os burros n’água. Prejudicaram grandes setores econômicos do próprio país. Não devem largar totalmente na estrada os lambe-botas servis mas já perceberam que o Dudu Bananinha e o neto de ditador não passam de idiotas úteis.

Trump, que não é burro, aplicou um freio de arrumação. Do alto de seu “complexo de superioridade”, fez afagos ao Lula e encaminhou para o seu subordinado radical – que não tem nenhuma química com o Lula – a tarefa de desenrolar as negociações.

Que ninguém se engane: Trump não desistirá da capitulação do Brasil. O teor do discurso do Lula na Assembleia da ONU pouco significa para ele. Não temos poderio bélico nem arsenal nuclear. Nossa infraestrutura tecnológica é totalmente dependente. Somos reféns da “nuvem” das bigtechs. Se quiserem, podem minar a nossa economia, não somente com tarifas e sanções, mas com ataques cibernéticos e outras sabotagens.

O anunciado encontro presencial para breve é mera tática diversionista. Trump deve oferecer ao Lula uma rendição honrosa. Será o maior desafio que o hábil negociador sindical terá na sua vida. Aliás, de Lula há uma frase sábia, que desnudou o lugar comum dos manuais de negociações: “-não existe negociação ganha-ganha; existe o que ganha e o que finge que também ganha”. A vitória que conta não é o resultado material em si, mas o ganho estratégico obtido.

Talvez o Brasil possa obter recuos em sanções e tarifas. Há concessões fáceis para eles, já que empresas poderosas dos EUA estão amargando perdas significativas. É possível que obtenha a promessa de investimentos tecnológicos para exploração de minerais estratégicos do interesse deles. Mas a cereja do bolo, o alinhamento geopolítico não será resolvido na mesa de negociações: eles nos querem fora do BRICS.

Por isso, mesmo que ocorra alguma normalização superficial nas relações diplomáticas e comerciais, os ataques prosseguirão. Sejam através de ações de força, intimidatórias ou desestabilizadoras, ou com as armas da guerra híbrida. Não deixarão de interferir para eleger um capacho para a Presidência do nosso país no ano que vem. Nos veem como o seu quintal e de tudo farão para minar a nossa soberania.

Por essa razão, a tarefa número um é isolar e derrotar os quinta-colunas que atuam em nosso país.

A expressão “quinta-coluna” teve origem na guerra civil espanhola (1936-1939). O general fascista Emilio Mola cercou a capital Madri, então sob controle dos democratas republicanos, com quatro colunas militares. Naquela oportunidade disse que contava com o apoio de uma “quinta coluna” que atuava dentro da cidade, os fascistas apoiadores do general Franco que sabotavam a resistência interna, com a difusão de boatos e atos terroristas. A expressão passou a ser usada nos anos seguintes para denominar os que colaboravam com a invasão nazista em seus países. Hoje, é usada para os traidores da pátria, aqueles que atuam contra o próprio país para favorecer agressores estrangeiros.

Como já comentamos em outra postagem, décadas de soft power dos EUA colonizaram mentes por todo o planeta. Tal como os nazifascistas do século XX, esse neofascismo mobiliza hoje os seus quinta-colunas em todas as nações.

(…)Somos os camisas verdes no Brasil, os camisas pretas na Inglaterra, os camisas azuis na França!…Anauê! Anauê! …As cidades nos uniram! Somos os Camisas Cáquis nos Estados Unidos, os Camisas Douradas no México, os Camisas Amarelas na China!…(fala de Castro Cott, personagem integralista da peça teatral  “Rasga Coração”, de Oduvaldo Viana Filho).

No caso do Brasil, sempre foram muitos os quinta-colunas entre nós. É algo que vem de longe. O integralismo foi um movimento de grande alcance no Brasil. Seus herdeiros ideológicos seguem atuantes e barulhentos, hoje na forma do bolsonarismo, com uma ampla hegemonia entre os militares das diferentes forças. Uma legião pronta para servir aos interesses de uma nação estrangeira acreditando na estúpida tese de que isso pode ser o melhor para o nosso país. 

O ataque dos EUA ao Brasil é somente uma das batalhas da guerra em curso no mundo. Uma guerra em fase inicial, com ações claras de beligerância, que ainda não descambou para confrontos militares mais amplos.

O neofascismo mundial declarou guerra à democracia ocidental. Estão unidos e articulados com um mesmo objetivo. O excepcionalismo, o denominado destino manifesto dos EUA se configura como o nazifascismo do século XXI. Trump é o novo führer e o MAGA é o novo projeto de reich.

Também não devemos nos enganar com aqueles que enaltecem uma suposta “robustez” da democracia brasileira. Nossa democracia é frágil, e não sucumbiu por uma conjunção de fatores favoráveis. Se Trump, e não Biden, estivesse ocupando a presidência dos EUA? A maioria dos comandantes militares teria aderido ao golpe? E se Fux estivesse no lugar do Alexandre de Moraes? Se não tivesse tido a Vaza jato, Lula teria sido libertado? A velha sabedoria maquiaveliana nos demonstra que os democratas tiveram uma boa dose de virtu para se aproveitar de um momento de fortuna.

Portanto, é bom deixar as barbas de molho. A guerra está só começando.

Sobre bananas e aviões

Em 1979, Jaime Roldós Aguilera foi democraticamente eleito presidente do Equador, interrompendo uma sequência de governos militares. Ele se opôs aos interesses de petrolíferas norte americanas e foi acusado pelo então presidente Ronald Reagan de se aproximar da URSS. Em 1981 morreu num “acidente” de avião. Houve quem dissesse que havia uma bomba escondida num gravador que carregava consigo. Caso abafado e relegado para o rol das teorias conspiratórias.

Pouco depois, Omar Efraín Torrijos Herrera, o presidente do Panamá que negociou com Jimmy Carter o retorno do canal para o próprio país – soberania que Trump deseja reverter – também morreu num acidente aéreo. Torrijos negociava como o Japão uma ampliação do Canal do Panamá, quando Reagan assumiu e manifestou indignação com a entrega do Canal aos panamenhos pelo governo democrata. Há documentos que contém fortes indícios de uma bomba detonada no voo.

Há uma ampla literatura sobre esses dois acidentes, com fortes evidências de que teriam sido perpetrados pela CIA.

Ademais há um vasto inventário de mortes de lideranças democratas em acidentes, não somente aéreos, mas também casos de possível envenenamento, mortes súbitas supostamente de causas naturais e acidentes automobilísticos. Em alguns casos, tudo indica que foram fatalidades mesmo. Mas em outros é gritante a coincidência das fatalidades mal explicadas terem acontecido num momento em que as vítimas ameaçavam profundamente os interesses dos EUA.

Os EUA só não tiveram sucesso com Fidel Castro, o maior alvo de tentativas de assassinato pela CIA. Há dúzias de documentos oficiais que comprovam a existência de vários planos fracassados. De acordo com a Inteligência Cubana, forma centenas, conforme o livro 638 Ways to Kill Castro, de Fabián Escalante.

Após três sustos em viagens aéreas, Lula deveria, urgentemente, pedir à Cuba uma cooperação técnica para se prevenir. CIA e MOSSAD não brincam em serviço. Sem falar que boa parte da tecnologia de navegação aérea é de origem israelense.

Ranald Reagan hoje seria considerado um gentleman. Fascistas – como Trump e Netanyahu – não tem limites.

O que esperar da reunião de Lula com Trump

Como já foi dito, Trump é um sujeito que sofre de um grave transtorno narcísico. Então todos os seus atos e palavras devem ser interpretadas primeiramente por este prisma. Câmeras flagraram o presidente dos EUA assistindo atentamente o discurso do presidente brasileiro. Um discurso altivo, insubmisso, que não deixou pedra sobre pedra. Nem mesmo diante de sanções e reiteradas ameaças da maior potência econômica e militar do globo. Lula foi a voz de todo o Sul Global. O que seria um aperto de mão protocolar, virou um abraço efusivo seguido de uma mensagem improvisada, dizendo que gostou dele, que rolou uma química, que o convidou para um conversa.

Certamente será uma armadilha perigosíssima. “Gostei de você” e “ rolou uma química”, são frases de abusadores antes de praticar um estupro. Uma breve tentativa de sedução a partir de uma posição de poder, que precede o ato violento em caso de não submissão. E Trump é um abusador, coisa que o abafado caso Epstein comprova.

È presumível que Trump tenha ficado impressionado com o tamanho da ousadia e da coragem expressa no discurso de Lula. Certamente o presidente ganhou o respeito dele. Trump sabe que tem recursos ao seu alcance – militares, econômicos e de psi-op – que podem provocar um caos no Brasil, mesmo que com alto custo político. E sabe que nós sabemos disso. Ainda assim, o governo Lula não se enverga. Talvez Trump tenha até percebido a diferença da postura de seus aliados no Brasil, um bando de covardes e sabujos. Mas ele precisa de capachos locais. Não deve abandoná-los na beira da estrada. Pelo menos até que encontre outros da confiança de seus asseclas.

Trump tem margem de recuo. Há setores econômicos poderosos que estão sendo prejudicados nos EUA. A questão é o que ele exigirá em troca. Porque ele jamais aceitará normalizar as relações com o Brasil sem que possa capitalizar uma vitória. Se o Reino Unido e a União Europeia se ajoelharam, porque não o Brasil, esse abusado?

Do ponto de vista econômico, o que deve estar na mesa é a participação na exploração dos nossos recursos estratégicos e a regulação das bigtechs, que são temas vitais para o MAGA. Do ponto de vista geopolítico, os EUA desejam o enfraquecimento dos nossos laços com o BRICS, pois o objetivo é a retomada do que eles consideram o seu “quintal”. Mas sabem que não podem exigir isso de imediato, dada a dimensão das relações econômicas envolvidas.

Já a familicia não será moeda de troca. Mas ela poderá testemunhar o começo do abandono da sua causa, de forma lenta, gradual e progressiva.

Seja como for, o mais hábil negociador da história do Brasil terá, possivelmente, o seu maior desafio. A conferir.

É a guerra Híbrida, senhores…

Enquanto aguardamos os novos ataques do agressor ianque, Trump e seus asseclas devem estar avaliando onde foi que eles erraram. Rapidamente descobrirão o caminho das pedras. Atacaram os poderes Judiciário e Executivo, sem se dar conta que o elo mais fraco é o Poder Legislativo, fácil de comprar na hora da xepa. Por isso os próximos alvos serão os capos do legislativo que demonstrarem resistência. O líder da Câmara já se ajoelhou. O do Senado logo terá que decidir pra onde irá.

Os democratas brasileiros ficaram claramente atordoados com o voto de um ministro do STF para salvar a cabeça dos golpistas. A reação inicial foi bem humorada: tivemos uma chuva de memes, cada um mais hilário do que o outro. Em seguida vieram as declarações de juristas que, estupefatos com o teor do voto, apontaram contradições, argumentos equivocados e má técnica jurídica. Já outros portais se dedicaram a levantar a “ficha corrida” dos deslizes do magistrado, que foram muitos: o arrivismo para chegar ao STF, os excessos punitivistas, as ações para favorecer os filhos e outros atos de ética duvidosa.

Até havia a expectativa de que o juiz apresentaria algum tipo de divergência, pelo seu histórico e por conta de algumas sutis sinalizações prévias. O que não se esperava era o tamanho do escracho, que ele optasse por se expor de forma tão nauseabunda.

Alguns levantaram suspeitas de que o magistrado tem pretensões políticas, um cargo eletivo ou executivo no grupo político que se alinhou com o voto proclamado. Já outros até especularam que ele apenas leu algo escrito por outra pessoa, a quem prestou obediência. Se isso de fato ocorreu, o juiz teria sofrido uma pressão absurda de algum poder externo. É uma hipótese a ser considerada. Foi lembrado o caso denunciado pelo Edward Snowden, de um político chantageado por conta de informações privadas comprometedoras obtidas pela NSA. Teria o alto magistrado “podres” que o assombram caso sejam revelados? É uma mera conjectura. Seja como for, tudo indica que ele foi exposto a alguma pressão externa poderosa. Ser alvo da lei Magnitsky pode ser um estorvo. No entanto, somente isso não justificaria um voto bizarro que foi muito além dos pleitos dos advogados dos réus.

Entre as táticas de guerra híbrida está a cooptação de autoridades relevantes do país sob ataque. O Legislativo, por ter membros cuja reputação é mais suja que pau de galinheiro, será um alvo fácil. Porém chantagens com uso de informações privadas não são a única forma de se alcançar isso. Um simples punhado de dólares já dissolve quaisquer resistências.

Estamos sob ataque da maior potência do planeta, num cenário de conflito mundial iminente. A chance da nossa frágil democracia ser derrotada não é pequena. Em situações como essa, sempre haverá aqueles que, por suas idiossincrasias, estão prontos a “costear o alambrado”, como diria o saudoso Leonel Brizola (“-É uma expressão gaúcha. Um boi começa a costear o alambrado, vai para lá, vai para cá, bota a cabeça ali, não passa, até que encontra um buraco para passar para o outro lado).

Talvez por essas razões que o governador de São Paulo finalmente se assumiu como bolsonarista pleno. Vinha se manifestando de forma dúbia, mas decidiu deixar de lado quaisquer pruridos. Fez um cálculo político de que vale a pena fidelizar o nada desprezível eleitorado do ex-presidente, mesmo perdendo o apoio dos eleitores conservadores ditos moderados. E essa avaliação, sem dúvida alguma, levou em conta o cenário de agressão externa.

Fux, com o seu voto, foi outro a fazer a sua escolha. Não foi uma escolha tão natural quanto a do capitão engenheiro-militar. Mas foi quase uma escolha lógica. Fux, embora não faça alarde disso, é notório sionista. Na coalização que se configura no atual conflito mundial, não há dúvidas de que lado estará.

A cada dia que passa fica cada vez mais difícil para qualquer um manter a pose de “isentão”. Em guerras, chega o momento em que tomar partido por um dos lados é um passo incontornável.

Sem espaço para posturas dissimuladas, das manifestações do September 7th pra cá, já temos dois fantoches que se apresentaram para assumir um lugar na República Brazuca de Vichy.

Em breve, outras surpresas – talvez nem tão surpreendentes – virão. É assim que o Brasil Sifux…

Segue a guerra.

Diário da guerra contra o Brasil

Consumada a condenação dos golpistas pelo STF, aguarda-se para qualquer momento uma nova retaliação do governo Trump, que tomou as dores do seu lambe-botas e aplicou tarifas espúrias a produtos brasileiros, cancelamento de vistos e sanções da Lei Magnitsky à autoridades brasileiras. Nos momentos que antecederam o julgamento, ainda colocou a porta-voz da Casa Branca para jogar no ar uma surreal hipótese de intervenção militar.

As medidas tomadas fracassaram. Não conseguiram interferir nas decisões do STF (ainda que um magistrado tenha dobrado os joelhos de forma um tanto vexaminosa). Há quem diga que a pressão estrangeira até piorou a situação dos réus. E Trump ainda teve que ler no New York Times uma coluna do presidente do Brasil sapateando no tablado.

A condenação dos golpistas é um momento histórico. Estamos diante da oportunidade de, finalmente, darmos um sólido passo no sentido de romper com a sina de sermos uma eterna república bananeira. Como nada é fácil, essa oportunidade surge no momento em que o neofascismo avança no mundo, capitaneada pela maior potência econômica e militar do globo. E o maior interessado em impedir o nosso desenvolvimento soberano.

Desde a sua criação, este blog sempre demonstrou um grande ceticismo quanto ao futuro do nosso país. Embora desagradando a muitos, afirmamos que o Brasil nunca deixou de ser, em essência, uma grande república bananeira. Apesar de ter logrado significativos avanços sociais, econômicos e culturais, nosso país se manteve refém de militares com ideias anacrônicas, de uma elite econômica neocolonial-predadora e de uma classe política predominantemente patrimonialista. Essa combinação impediu e ainda impede a construção de um projeto de nação soberana. A cada avanço, a cada conquista, ressurgem forças que nos submetem a retrocessos.

Imaginamos que esse também foi o diagnóstico de Trump ao decidir tomar as dores da família golpista. Esperava que a pressão daqueles grupos prejudicados obrigassem o governo a ceder. Só que Trump avaliou mal a conjuntura. Não percebeu que os militares estavam momentaneamente acuados, que havia divisões na elite econômica, e que o infeliz ataque ao PIX queridinho dos brasileiros mexeria com os brios nacionalistas. Além disso, subestimou a liderança do Lula e a inimaginável resistência do Xandão (quem diria, o mesmo que apoiou o golpe do impeachment da Dilma).

Trump errou na dose das retaliações, abusou da arrogância, se equivocou na certeza de uma capitulação fácil. Não compreendeu que tomou a defesa de um traste, um sujeito deplorável, um aliado político medíocre. Mal comparando, Hitler só tardiamente percebeu que avaliou mal o aliado Mussolini, muito popular mas também um grande fanfarrão, incapaz de entregar o que prometeu.

Um novo ataque virá em breve. Sabemos que o diabo laranja não sabe perder. Trump dobrará a aposta? Ou deixará o big stick de lado momentaneamente e voltará ao soft-power, que sempre deu resultados? Talvez novas tarifas, vistos negados, mais nomes alvos da Lei Magnitsky. Boas chances de algum factóide durante a Assembléia da ONU. Possivelmente pressões sobre os chefes do legislativo estão em andamento, sem grande alarde. A PEC da impunidade e a  anistia marota ainda estão na ordem do dia. Logo saberemos.

Porém tem algo de muito grave sendo gestado, que é o enquadramento pelos EUA do tráfico de drogas do PCC e do CV como terrorismo. È a senha para atropelar a soberania dos paises latino-americanos com intervenções militares. Uma arma típica de guerra híbrida.

O assassinato do delegado ex-chefe da Policia Civil de São Paulo tem toda a cara de ter sido facilitado. A própria vítima, já havia manifestado que não tinha proteção oficial, mesmo sendo constantemente ameaçado e declarado inimigo número 1 do PCC. E o secretário de segurança bolsonarista, como era de se esperar, recusa o apoio da Polícia Federal. Teoria da conspiração? O tempo dirá.

Brasil sob ataque

A semana começou com a expectativa da sentença dos golpistas no julgamento do STF. Mas também trazendo o impacto causado pela gigantesca bandeira dos EUA exposta na Avenida Paulista na dia de comemoração da Independência do Brasil. Uma bizarra demonstração de “patriotismo alheio” que não deveria surpreender a ninguém. Usando uma expressão meio gasta, podemos dizer que foi um exemplo claro dos efeitos da “colonização cultural” que atua sobre os povos periféricos. Uma colonização – que hoje se diz soft power – que teve no cinema a sua principal arma.

Um think tank chinês produziu há pouco tempo um estudo sobre o que chamam de guerra cognitiva dos EUA denominado “Colonization of the mind”, cuja leitura vale a pena. Um dos trechos do estudo assinala que

…a infiltração ideológica prolongada causou lavagem cerebral em certas elites em alguns países em desenvolvimento, fomentando uma síndrome de domesticação cultural na qual elas perdem a confiança nacional e agem como representantes dos interesses dos EUA. Isso, por sua vez, cultiva uma tendência a ceder à coerção e à intimidação dos EUA, corroendo a capacidade da nação de se defender.

É graças a isso que o “big stick” funciona.

Já em 1945 os chefões de Hollywood diziam: “-Não temos planos de efetivar qualquer socialização da indústria cinematográfica. Mas temos muitos planos para espalhar o modo de vida americano em todos os lugares. Acreditamos no modo de vida americano porque acreditamos que é o melhor modo de vida para todos os povos em todos os lugares”. (declaração atribuída a Eric Allen Johnston ativista do Partido Republicano e presidente da MPAA à época). Outro executivo teria dito que “enquanto o Estado envia tropas, nós enviamos o nosso cinema”. Uma exportação não somente de produtos produzidos por lá, mas também de uma estética hollywwoodiana que é reproduzida nas produções “nacionais”. Foi contra isso os chamados “cinemas novos” se insurgiram nos anos 60, sem grande sucesso, ainda que produzindo algumas obras primas da sétima arte.

Recentemente, o esporte foi usado para o mesmo fim. A embaixada dos EUA saudou a realização de um jogo da liga de futebol americano (NFL) em São Paulo dias atrás como um sucesso da “diplomacia esportiva em construir pontes e celebrar a excelência americana”.

Qualquer semelhança com o discurso nazista de superioridade da raça ariana não será mera coincidência.

Os próximos dias serão tensos. Já no primeiro dia do julgamento dos golpistas a Casa Branca mostrou os dentes. A porta-voz disse claramente que os EUA poderão usar todos meios não só econômicos como também militares para defender “a liberdade de expressão” seja onde for.

Uma ameaça que não chega a surpreender. Só faltou dizer que é a liberdade de expressão para a servidão ao domínio imperial deles. O que sempre fizeram ao longo de sua história na América latina e outros lugares do mundo. A única novidade é que nunca foram tão explícitos.

Novas sanções e represálias serão anunciadas pelo governo Trump contra o nosso país em breve. Uma hipótese que vem sendo ventilada é os EUA negarem os vistos para a delegação brasileira participar da Assembleia Geral da ONU que será realizada no final desse mês. Se isso se confirmar, as consequências serão inimagináveis.

A mudança do nome do Departamento de Defesa para Departamento de Guerra é uma sinalização preocupante. Algo que não pode ser interpretado como simples bravata. Espera-se a qualquer momento uma intervenção militar na Venezuela. Provavelmente uma ação cirúrgica e contundente, assassinando lideranças para instalar o caos naquele país, mas sem provocar uma guerra aberta. O recado será para todos os país da América latina: militarmente podemos esmagar vocês; então, submetam-se.

Quanto a ameaça de uma agressão militar ao Brasil, por enquanto, é algo que não deve ser levado a sério. Não estamos diplomaticamente isolados tal como Venezuela e o custo político de algo assim seria muito alto. A cúpula online do BRICS convocada às pressas foi uma mensagem das grandes potências da Ásia para o Tio Sam: uma agressão a um parceiro relevante implicará em respostas contundentes em outros cantos mundo.

Mas não tenham dúvidas: o uso de táticas de guerra híbrida vai se intensificar. Virão ataques pesados, muito pesados. Tudo com o objetivo de colocar um capacho dos EUA na presidência em 2026. Como já alertamos na postagem anterior, a CIA e a NSA vão investir em sabotagens e desestabilizações. O que fizeram na época do governo da Dilma vai parecer brincadeira de hacker amador.

Por fim, uma curiosidade: tudo indica que a bandeira usada na abertura do jogo da NFL foi a mesma levada para a Av. Paulista. Porém o mais interessante foi que ouviram-se vaias no estádio na hora do hino norte-americano. Prova de que, apesar de tudo, há brechas para a mobilização popular em torno da soberania nacional até entre admiradores do american way of lyfe. Esse é o nosso maior trunfo para organizar a resistência ao ataque imperialista. É preciso usá-lo com mais ênfase, e urgentemente

Notícias de um futuro próximo

A manchete acima, que ainda não é verdadeira, é totalmente verossímil. O Brasil está em guerra com os EUA, declarada unilateralmente pelo governo Trump. Nessa guerra atípica, ações militares não são necessárias, pois as Forças Armadas brasileiras são sabidamente subordinadas ao SouthCom (o Comando Militar Sul dos EUA). Uma submissão ideológica que se traduz numa dissimulada subordinação hierárquica. Além do que a discrepância do poder bélico é brutal.

Portanto, numa guerra deste tipo, de agressão unilateral, sem bombas nem tiros, prevalecem as armas da chamada “guerra híbrida”: ações de inteligência que incluem sabotagens diversas, desestabilização econômica, fomento a atritos internos para provocar um caos político e social e etc.. A CIA e a NSA são as forças mobilizadas para esse tipo de ação. E o fazem ocultando habilmente as suas digitais. Tipo a explosão da base de Alcântara, que anos atrás matou (literalmente) o programa espacial brasileiro. Há quem acredite que isso não passa de mera teoria da conspiração – exatamente o que a CIA e a NSA sempre nos querem fazer crer. Tem gente que esquece rápido tudo o que Edward Snowden e Julian Assange nos revelaram.

Nos últimos dias foi lançado um ataque a um operador da infraestrutura do PIX. Os danos foram mitigados, porém ficou demonstrada uma preocupante vulnerabilidade. E um alerta sobre a necessidade de investimentos urgentes na soberania digital, hoje dependentes das bigtechs norte-americanas.

Não se deve desconsiderar a possibilidade de que estamos diante de um balão de ensaio, um teste, uma ponta de lança para novos ataques, com consequências bem mais graves.

O PIX é uma ameaça para os EUA. Não somente pelo o que já foi manifestado – a óbvia redução dos lucros bilionários da Visa e Mastercard, bem como dos meios de pagamento das bigtechs (Google pay e WhatsApp pay). O PIX está se revelando um meio tecnológico que pode fomentar a criação de plataformas internacionais de pagamento que não utilizem o dólar norte-americano. E isso será um golpe pesadíssimo na hegemonia econômica ianque.

Essa semana, em que os golpistas serão julgados e, ao que tudo indica, condenados, teremos novas agressões ao nosso país. A grande imprensa fala que sanções em tempo real que poderão anunciadas durante o julgamento. Fala-se em mais tarifas ou até mesmo algum tipo de embargo comercial.

O mais provável é a inclusão de outras autoridades na Lei Magnitsky, provavelmente do Congresso Nacional. A maioria dos deputados e senadores não possuem estofo moral para resistir a esse tipo de pressão e podem ceder. Diante da resistência do STF, as pressões agora se voltarão para o Congresso, em particular para os partidos do Centrão. União Brasil e Progressistas já decidiram sair da base do governo (malandramente, sem entregar as estatais que controlam – CEF, Correios, Codevasp). Uma anistia, mesmo que inconstitucional, deverá entrar em pauta. Querem fazer do governador de São Paulo o próximo presidente querem o eleitorado do Bolzo, mesmo ao custo da entrega da soberania do nosso país.

A guerra prossegue e novas e duras batalhas se avizinham.

Dias imperfeitos

O acaso, as coincidências ou, como diria Maquiavel, a fortuna, prega peças inesperadas. Essa semana os roteiristas da ópera bufa Brasil ficaram atordoados. Foram muitos os acontecimentos inesperados.

– Os neofascistas do Congresso, avessos a qualquer regulação das bigtechs, se viram em apuros. A defesa da “liberdade de expressão” (que eles entendem como “liberdade de difamação”) foi atropelada pela explosiva denúncia da exploração de menores de idade, atividade que enche os cofres das redes da Meta e do Google. Apesar da resistência dos neofascistas, a  lei de “desadultização” foi aprovada. Ficou ruim para boa parte dos que se auto intitulam “defensores da família” compactuarem publicamente com facilidades para pedófilos;

– Uma operação da Polícia Federal desbaratou um esquema bilionário do PCC nas fintechs da Faria Lima. A falácia de acusar a esquerda de defender o crime organizado perdeu força. Descobriu-se que a cúpula do crime está encastelada na meca dos financiadores das campanhas dos neofascistas. A PF só não descobriu isso antes por conta  das dificuldades criadas pelos mesmos neofascistas do Congresso, que usaram  fake news para sabotar a proposta de fiscalização do PIX.  A pergunta que não quer calar: – Teria sido uma ação encomendada para aqueles parlamentares?;

– A revista internacional que é a bíblia dos neoliberais, em matéria de capa, deu um esculacho fenomenal no ex-presidente golpista. Na verdade, mandou um recado: colaboradores dessa estirpe não queremos mais. Nem que prometa entregar a direção da economia para o Campos Neto, o Paulo Guedes da vez. Escolham alguém que não seja tão deplorável e abjeto. Esqueçam a ideia de anistiá-lo. Tratem de deixar o caminho livre para o MAGA-Thorsício e seu martelo privatizador;

– Às vésperas da ação policial, e de forma quase cronometrada, ocorreu um movimento intenso da bancada neofascista para aprovar uma PEC que sujeitaria qualquer investigação de crimes comuns dos parlamentares à aprovação prévia de seus pares. Ou seja, um mandato parlamentar seria um caminho para a garantia de impunidade não só para os corruptos do orçamento secreto, mas também para estupradores, assassinos e traficantes.  Em paralelo, soubemos que a ação da PF vazou, o que permitiu que muitos mandatos de prisão não fossem efetivados. “Coincidências” às vezes são fulminantes. A PEC que estava pronta para ser votada foi abandonada abruptamente, até por alguns de seus patrocinadores. Vai que o eleitorado junta lé com cré, não é mesmo?

Enfim, muito material a ser explorado no combate ao neofascismo. Mas o otimismo deve ser moderado.  O fascismo conquistou corações e mentes muito além de qualquer racionalidade. Pelo menos 45% do eleitorado seguirá fiel ao neofascismo. Porque ele se alimenta de um caldo cultural que está na base da formação do nosso país. Os que atuam de forma inescrupulosa continuam a colher seus frutos, independente dos fatos. 

Atribui-se ao general Jarbas Passarinho uma frase que demoveu os que ainda resistiam à edição do AI-5, o ato que radicalizou a ditadura militar em 1968. Teria dito ele ao general presidente Costa e Silva, “– Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência.” Eram tempos em que, até mesmo os generais, tinham algum escrúpulo a ser descartado. Não muitos, é bem verdade. Mas na atualidade já não há mais qualquer pudor. Vivemos uma era no Brasil que está muito mais além de simplesmente mandar os escrúpulos às favas.

Para os bolzofascistas, civis ou militares, vale tudo, qualquer golpe baixo, qualquer ataque covarde, baseado em mentiras e deturpações. Tudo é uma questão de oportunidade. “Vale tudo” aliás, é um remake em cartaz de novela que bem retrata o “espírito do tempo”, o nosso “zeitgeist”. Só que, na novela da vida real, nada garante punição para os vilões e redenção para os virtuosos ao final. Assistimos ao abandono de quaisquer escrúpulos e, pior, a naturalização destas ações pela grande imprensa “isentona”.   

Pouco tempo atrás, tivemos uma grande polêmica após o ataque a uma estátua do Borba Gato. O bandeirante é a personificação do impulso predador do colonizador que invadiu, matou e estuprou o gentio sem dó nem piedade, sempre em busca de riqueza pessoal (há cínicos que os chamam de desbravadores que ajudaram a  construir a nação…). O mito dos bandeirantes sintetiza um traço na cultura dos nossos empreendedores-predadores, que ainda hoje invadem, matam, estupram e escravizam, mesmo ao arrepio da Lei e do Estado de Direito. São garimpeiros e grileiros, sonegadores e fraudadores, devastadores do meio-ambiente, fascistas e golpistas de todas as estirpes. Atuam sempre para eliminar os limites à sua predação. O recém aprovado PL da devastação é fruto disso, assim como foi o desmonte da CLT e a liberação desenfreada de agrotóxicos no governo passado. Os exemplos são muitos.

E essa característica bandeirante infelizmente rasga, de cima para baixo, todo o nosso tecido social. O sucesso eleitoral da familícia deve-se a isso. Ela está presente não só nos tubarões, mas também na arraia-miúda, que nos últimos tempos vem sendo chamada de “pobre de direita”. Aquele pobre que se espelha nos “bem sucedidos” para fugir da sua condição social vulnerável. E o faz porque vê a ausência de escrúpulos naturalizada e premiada. Na base da pirâmide social os pastores evangélicos oferecem a libertação do sentimento de culpa dos católicos e pregam a busca de prosperidade individual.  Aliados aos neofascistas, se apegam a bandeiras de ordem moral para tirar o foco das causas reais dos problemas sociais. Só que o falso moralismo deles  transborda diariamente. Dizem defender os valores da família, mas relativizam a misoginia, o feminicídio, o abuso e a exploração de crianças e adolescentes. Vez por outra são flagrados em situações constrangedoras, dando razão à genial máxima de Nelson Rodrigues: “– Tarado é um sujeito normal pego em flagrante”. Vai do bizarro caso da Flordelis ao pastor investigador de peruca e calcinha.

Os microempreendedores-predadores tem forte antipatia pelo bolsa família e demais  programas sociais. Porém, inescrupulosos que são, adeptos do vale tudo, não perdem a oportunidade de recorrer a fraudes para usufruir dos benefícios que condenam. Os exemplos vão dos milionarios que se declaram pobres para cursarem uma universidade gratuitamente aos que, depois de alugarem um carro, urinam no tanque de gasolina para devolver à locadora o veículo totalmente “abastecido”.

Não se trata de um comportamento novo ou desconhecido de nós. Nos anos 70 publicitários exploraram o mote “- O negócio é levar vantagem em tudo, certo?” , que ficou conhecida como “Lei de Gérson” (o craque da Copa de 70 que protagonizou o anúncio de marca de cigarros ficou com essa pecha, coitado). 

Sim, os espertos voltaram com tudo. Naturalizada a esperteza, perderam a vergonha e expressam a sua hipocrisia sem qualquer pudor. Expressam indignação diante da corrupção, mas de forma seletiva. Só a veem em agentes públicos que colocam limites ao seu empreendedorismo-predador.  Qualquer regulação é acusada de “inibir investimentos que geram empregos”. Essa revolta desaparece diante das incontáveis falcatruas de empresários que são exemplos de sucesso. Cedo ou tarde, emergem fatos reveladores sobre a construção de seus negócios: mestres da sonegação de impostos, corruptores de agentes públicos, especialistas em fraudes contábeis, uso desenfreados de isenções e subsídios do mesmo Estado que dizem que “atrapalha”. Fiquemos só nos casos famosos: Eric Batista, Lojas Americanas, Havan e os recentes casos da Ultrafarma e Colombo. Corruptos são somente os outros, principalmente se estiverem ao lado de quem defenda a redução da desigualdade social. Para esses não há perdão.

Porém não devemos reduzir os nossos dilemas a uma questão meramente moral. O aviltamento do ser humano oprimido decorre das suas condições materiais da sua existência. E a dita esquerda, de uma forma geral, tem se mostrado por demais incompetente para disputar uma hegemonia no campo das ideias e conquistar uma ampla maioria que empurre o neofascismo de volta para dentro do armário.

Oportunidades para desfraldar bandeiras emancipadoras não faltam. O recente sucesso do professor comunista nas redes sociais acaba de demonstrar isso. O que falta é a virtu maquiaveliana.

Ainda há tempo, mas não muito.