
Os quintas-colunas neofascistas do Brasil não desistem da ideia de serem salvos pelo Imperador Laranja. Por isso, se alinharam caninamente à estratégia do governo dos EUA para a retomada plena do que eles consideram o seu quintal. Após o fracasso do lobby tarifário, levantaram a bandeira da violência urbana. O combate ao narcotráfico será a bandeira eleitoral da direita. Fazem demagogia com o terror que o humilde cidadão comum vive no seu dia a dia. Governadores neofascistas devem intensificar as chacinas, apostar ainda mais na espetacularização da violência policial. Se inspiram com a popularidade do presidente salvadorenho Bukele. Não para encontrar soluções, mas para desviar o debate da desigualdade social e assim para colher dividendos eleitorais. E porque sabem da colossal dificuldade da esquerda em oferecer alternativas sólidas para o tema da segurança pública..
Os quinta-colunas alçaram o deputado que foi expulso da PM mais violenta do país – em razão de seus excessos no uso da violência (!) – para ser o relator de um projeto de Lei Antifacções. E ele desfigurou o projeto original para incluir o conceito de narcoterrorismo trumpista. Com a Amazônia brasileira com centenas de laboratórios de refino, seria um presentaço para o Führer laranja. Porém esta ideia não vingou. A presença militar estrangeira desperta desconfiança e mexe com brios nacionalistas. O pragmático Centrão preferiu não se arriscar com isso. Até porque, no último domingo essa ideia foi amplamente rechaçada em plebiscito popular no Equador, mesmo com aquele país sofrendo intensa violência provocada pelo narcotráfico.
Ainda assim, os deputados aproveitaram para incluir formas de esvaziar os poderes da Polícia Federal (que é quem prende os donos do dinheiro sujo que alimenta campanhas eleitorais do centrão e dos neofascistas) e incluíram brechas para a criminalização de movimentos sociais. Agora resta ao Senado colocar freio nas sandices. Resta saber como reagirão os senadores após a PF enjaular um banqueiro “amigo” e financiador de vários parlamentares.
Mesmo assim, o apoio do governo dos EUA aos neofascistas virá, com ações de guerra híbrida. Porém o projeto do Trump está patinando. A eleição parlamentar de meio de mandato seria o momento ideal para instaurar o seu poder absoluto. O putch final vinha sendo cuidadosamente arquitetado. Foi exigido dos altos oficiais total lealdade ao fürher, inclusive para ações repressivas contra cidadãos americanos. A preparação da noite das facas longas nos EUA ia de vento em popa. Porém, com resultados econômicos pífios, somadas as revelações que o assombram de seu passado pedófilo com Epstein, as coisas não vão indo muito bem para ele. A agenda anti woke e os apelos à xenofobia por si só não estão sendo suficientes. A popularidade dele está em queda acelerada, cresce a reação do movimento No King, as administrações democratas reagem, e ele assiste a derrotas no congresso e no judiciário.
Não é incomum que líderes fascistas, quando acuados, fabriquem uma guerra para recuperar a popularidade. São muitos os exemplos ao longo da história. Apelar ao nacionalismo costuma oferecer resultados a curto prazo. Na América do Sul há um precedente: a guerra das Malvinas, nos últimos suspiros da ditadura militar argentina.
Uma ação militar na Venezuela, quiçá na Colômbia, é iminente. Trump declarou que a forma de intervenção já está decidida. Pelo quantitativo de mariners, não deve ser uma invasão terrestre. Baixas norte-americanas poderiam causar mais oposição interna. Tudo indica que serão ações cirúrgicas, para criar o caos e alimentar divisões internas e forçar uma nova composição de governo.Mesmo assim, há um grande risco de dar merda. Em desespero, Trump pode cometer um erro fatal. China e Rússia não irão intervir além dos protestos diplomáticos veementes, mas estarão legitimadas para fazerem o mesmo em seus supostos quintais (Ucrânia e Taiwan).
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, declarou que os EUA pretendem designar os narcotraficantes do Cartel de los Soles como uma organização terrorista estrangeira sob o comando de Nicolás Maduro, mesmo que não haja qualquer evidência disso. O pretexto da vez é o narcoterrorismo, ou melhor, o enquadramento de um crime comum como terrorismo. Uma tática diversionista para conquistar simpatias. Sem muito alarde, movimentos antifascistas também ganharam o mesmo status. Mais do que isso, é uma aviso: depois do narcotráfico, os próximos alvos serão os movimentos sociais que contestarem o domínio imperial. Por isso os quintas-colunas do patropi ainda sonham.

O Brasil chegará nas eleições do ano que vim praticamente isolado (ao lado do nosso pequeno vizinho Uruguai). Até la, quase toda a América do Sul deverá ingressar na OPA – a Organização dos Países Ajoelhados, conforme a genial cena do filme de Fernando Solanas que já citamos em post anterior. Tudo indica que Chile e Colômbia voltarão para as mãos do neofascismo.
A guerra, portanto, vai se acirrar. E os quintas-colunas não descansarão. As farsas, que se repetem na história, seguem a todo vapor. O Governador do RJ já pediu apoio ao governo dos EUA para combater o “narcoterrorismo”. Nada de muito novo, porque às vésperas do golpe de 1964 os governadores de oposição Carlos Lacerda (Guanabara), Magalhães Pinto (Minas Gerais) e Adhemar de Barros (São Paulo) tinham canais diretos com o governo dos EUA para articular a conspiração.
Em 1963, o então Governador da Guanabara foi aos EUA pedir uma intervenção para derrubar o governo de João Goulart. Em entrevista ao“Los Angeles Times”, Carlos Lacerda acusou as Forças Armadas de adotarem “posturas hesitantes” em relação a um golpe de Estado. Tanto o seu partido (UDN) como os comandante militares repudiaram a atitude dele como sendo uma ação impatriótica.Um escrúpulo nacionalista dos golpistas que, pelo que observamos, já não existe mais nos golpistas da atualidade.







Como já foi dito, Trump é um sujeito que sofre de um grave transtorno narcísico. Então todos os seus atos e palavras devem ser interpretadas primeiramente por este prisma. Câmeras flagraram o presidente dos EUA assistindo atentamente o discurso do presidente brasileiro. Um discurso altivo, insubmisso, que não deixou pedra sobre pedra. Nem mesmo diante de sanções e reiteradas ameaças da maior potência econômica e militar do globo. Lula foi a voz de todo o Sul Global. O que seria um aperto de mão protocolar, virou um abraço efusivo seguido de uma mensagem improvisada, dizendo que gostou dele, que rolou uma química, que o convidou para um conversa.
Certamente será uma armadilha perigosíssima. “Gostei de você” e “ rolou uma química”, são frases de abusadores antes de praticar um estupro. Uma breve tentativa de sedução a partir de uma posição de poder, que precede o ato violento em caso de não submissão. E Trump é um abusador, coisa que o abafado caso Epstein comprova.
È presumível que Trump tenha ficado impressionado com o tamanho da ousadia e da coragem expressa no discurso de Lula. Certamente o presidente ganhou o respeito dele. Trump sabe que tem recursos ao seu alcance – militares, econômicos e de psi-op – que podem provocar um caos no Brasil, mesmo que com alto custo político. E sabe que nós sabemos disso. Ainda assim, o governo Lula não se enverga. Talvez Trump tenha até percebido a diferença da postura de seus aliados no Brasil, um bando de covardes e sabujos. Mas ele precisa de capachos locais. Não deve abandoná-los na beira da estrada. Pelo menos até que encontre outros da confiança de seus asseclas.
Trump tem margem de recuo. Há setores econômicos poderosos que estão sendo prejudicados nos EUA. A questão é o que ele exigirá em troca. Porque ele jamais aceitará normalizar as relações com o Brasil sem que possa capitalizar uma vitória. Se o Reino Unido e a União Europeia se ajoelharam, porque não o Brasil, esse abusado?
Do ponto de vista econômico, o que deve estar na mesa é a participação na exploração dos nossos recursos estratégicos e a regulação das bigtechs, que são temas vitais para o MAGA. Do ponto de vista geopolítico, os EUA desejam o enfraquecimento dos nossos laços com o BRICS, pois o objetivo é a retomada do que eles consideram o seu “quintal”. Mas sabem que não podem exigir isso de imediato, dada a dimensão das relações econômicas envolvidas.
Já a familicia não será moeda de troca. Mas ela poderá testemunhar o começo do abandono da sua causa, de forma lenta, gradual e progressiva.
Seja como for, o mais hábil negociador da história do Brasil terá, possivelmente, o seu maior desafio. A conferir.