Aquivos por Autor: zezecabrasil
Pizza de banana saindo!
Vai se confirmando mais uma vez a expressão que diz que, no Brasil, tudo acaba em pizza No caso da nossa república, pizza de banana. E isso tem uma tem uma razão de ser. Os ingredientes desta pizza são periodicamente separados e preparados sem fazer alarde.
A classe dominante brasileira e seus asseclas, a elite econômica bananeira com seu DNA escravocrata, nunca irão aceitar que um projeto de nação inclusivo e soberano possa ter sucesso. Se fez algumas concessões, se aceitou a libertação e eleição do Lula, foi porque a entrega do comando político do país a um fascista, apesar de útil , teve efeitos colaterais indesejáveis para a nossa elite colonial. Além do risco de prejuízos financeiros, trouxe danos à imagem internacional dos farialimers, principalmente por terem apoiado o negacionismo ambiental escrachado do governo Bozo. Quando o humorista Henfil fez o filme “Tanga – Deu no New York Times”, ele apontou bem esse temor da burguesia brasileira: ela não suporta que as elites das metrópoles expressem o que pensam sobre elite colonial brazuca: uma turma endinheirada, porém tosca. O ego dessa turma se ressente.
Pode ser que o Bozo permaneça inelegível, talvez até seja condenado pelos crimes que cometeu – como um alerta aos fascistas – mesmo que seguida de uma anistia negociada. Uma mis-en-scene, para avisar que, se insistirem em atacar a democracia, numa próxima oportunidade talvez, e põe talvez nisso, não sejam perdoados.
No portal de receitas de uma grande multinacional da indústria alimentícia, há uma reveladora receita de pizza de banana. Os ingredientes e modo de preparo, se lidos pelo viés da ciência política, servem de metáfora do que está sendo assado no forno do poder. Após enfatizar o cuidado para garantir uma massa homogênea que “não grude nas mãos” do cozinheiro, finaliza a fornada com leite condensado…
O fato é que o bolsonarismo é útil, é funcional para elite econômica, uma arma que não querem abrir mão. Pode ser necessário acioná-la de novo. Por isso promovem aqueles que, minimamente, sabem algumas regras de etiqueta..
Um grande jornal dedicou três páginas inteiras para promover o governador neofascista de São Paulo; O telejornalismo abriu um generoso espaço ao governador hiper-neoliberal do RS, não para questioná-lo sobre suas omissões na prevenção da tragédia, mas para promovê-lo. A imprensa faz ressurgir das tumbas um ex-candidato à presidência que julgava-se politicamente morto (o “primeiro a ser comido”). E o STF, cansado de ser o único poder a pagar o alto preço de enfrentamento do fascismo, resolveu fazer concessões, libertando terroristas do 8 de janeiro e relaxando na punição aos lavajatistas. Paralelamente, Tribunais eleitorais decidiram passar pano para crimes eleitorais, com argumentos de que os crimes não interferiram decisivamente no resultado. Porteira aberta para beneficiar os de sempre. Tudo em nome de uma suposta pacificação e conciliação entre os poderes.
Enquanto isso, os militares, em silêncio tático, aproveitaram a tragédia gaúcha para tentar recompor a imagem pública arranhada e esfolada pela tentativa de golpe. Mas devem ter ficado felizes com a visita do seu superior hieráquico de coração: o Comando Militar do Sul dos EUA. A bordo de um super porta-aviões, uma General deu uma entrevista que parece ter saído do bizarro Projeto de Nação 2023-2035 dos “intelectuais” militares. Em entrevista a um jornal de economia, disse com todas as letras que cabe ao Brasil “alimentar e abastecer o mundo com a soja, o milho, o açúcar, o petróleo bruto pesado, o petróleo bruto leve, as terras raras, o lítio, a Amazônia” . Ou seja, um papel periférico numa ordem neocolonial. Música para os ouvidos dos nossos militares bananeiros. No íntimo, devem ter tido sonhos e delírios com uma nova operação “Brother Sam”.
Com ou sem Trump, um novo golpe ainda nos ameaça
Enquanto TRUMP não vem….
Este blog se manteve em silêncio nos últimos meses. Muita coisa aconteceu, mas foi sempre mais do mesmo do que vínhamos publicando aqui desde o início. Não quisemos ser por demais repetitivos. Desde o início deste blog falamos que o golpismo militar é uma doença crônica do Brasil, o que nos faz a maior república bananeira do planeta. Avisamos que um golpe seria tentado e alertamos para o risco de ações (para)militares terroristas. Para quem nos via como simplórios adeptos de teorias conspiratórias, o tempo nos deu razão.
Fracassada a intentona golpista, o que vimos nos últimos meses foram as FFAA golpistas negociando impunidade e manutenção do seu status quo até a próxima oportunidade de dar uma quartelada. Tudo com a mediação pública de um ministro fantoche, para evitar expor as fardas sujas e manchadas.
As revelações da PF sobre a investigação da intentona de 8 de janeiro, a partir dos áudios e vídeos deixados incólumes pela imprudência do ajudante de ordens da presidência, nos permitiu chegarmos a algumas conclusões:
1- A quase totalidade dos militares estava disposta a bancar um golpe. A pressão do Departamento de Estado dos EUA, a quem prestam obediência, jogou um balde de água fria no projeto golpista. Parte majoritária do alto comando das FFAA avaliou que seria uma aventura com grande risco de fracassar. Muito a contragosto, porém obedientes e resignados, decidiram não levar a quartelada adiante. Porém um grupo de golpistas convictos não se submeteu às ordens superiores e seguiu agindo em paralelo. Outros assumiram uma posição cômoda, colaborando com os preparativos de sedição num estilo low-profile, torcendo pra dar certo, mas não se envolvendo abertamente, a fim de se preservarem em caso de fiasco.Se desse certo, estariam dentro; se desse errado, diriam cinicamente não ter nada a ver com isso (como de fato fizeram). Estes são os supostos “legalistas”, que não agiram para frear o golpismo. Deixaram os subalternos se articularem livremente, fizeram vista grossa, se omitiram vergonhosamente. Se o golpe vingasse, mesmo com vida curta em razão de seu isolamento internacional, os tais “legalistas” entrariam em cena como os pseudorestauradores da ordem democrática. Mas só após terem afastado do poder todos os adversários inconvenientes. Talvez este fosse até mesmo o Plano B dos golpistas, Fracassada a intentona, o alto comando agiu para abafar o caso e garantir a impunidade de seus pares, seus “irmãos por escolha”, no bom e velho corporativismo da caserna. Sempre com a velha e esfarrapada desculpa de preservar a instituição militar.
2 – O que não estava nos planos foi o descuido do ajudante de ordens da presidência, que permitiu a descoberta da trama e expôs os dissensos entre os generais e alto oficiais A revelação das conversas dos golpistas escancarou uma ferida grave no meio militar: o veneno da insubordinação. Chamar um “irmão” de “cagão”, foi além dos limites toleráveis. Sem respeito à hierarquia e à disciplina, a instituição militar desaba. E isso abriu uma brecha para a punição de alguns golpistas mais empedernidos. Agora os comandantes já aceitam a punição individual de alguns oficiais, que serão entregues à própria sorte. Afinal, alguém terá que pagar o pato. Que não se espere uma punição dura e abrangente. Mas alguma penalização haverá, o que não deixa de ser alguma coisa. Em troca, parece que foram muitas as negociações de bastidores para frear a execração pública dos militares: Comissão da verdade enterrada, nada de ordens do dia em 31 de março, nenhum ato oficial em defesa da democracia. E não perderão uma oportunidade de anistiar os envolvidos, em nome de uma “pacificação nacional”.
3 – Dessa forma, o “coração golpista” das instituições militares seguirá vivo, ainda que momentaneamente recolhido, na defensiva. Porém o golpismo continuará a ser uma sombra a nos ameaçar, com as academias militares despejando centenas de “golpistas do amanhã” a cada ano. A maior república das bananas do globo ganha tempo para a sanha golpista recuperar o seu fôlego. A sociedade política demonstra ser incapaz, além de covarde, para enfrentar a chantagem militar. E a sociedade civil, fragilizada, tampouco é capaz de reagir à altura. Nossa sina de permanecermos como a maior república das bananas do planeta segue intacta.
4 – O respeito à hierarquia, no caso a externa, a submissão ao comando militar do sul dos EUA, provocou uma cisão nas FFAA. E o golpe só não ocorreu não pela intervenção de “legalistas” mas, como disse um golpista descaradamente, pela inação de generais “cagões”. É certo que, se tivesse sido implementado, a quartelada bananeira não teria vida longa. Mas provavelmente causaria prisões e assassinatos de autoridades e lideranças populares, com alto risco de derramamento de sangue pelas ruas, numa violência provavelmente terceirizada para os CACs. Esse era o projeto por trás da liberação desenfreada das armas e munições, que ninguém se engane quanto a isso.
5- Neste cenário, chega a ser patético e risível a atenção dada à decisão do STF que “esclarece” que o artigo 142 da Constituição não permite que os militares interfiram no poder civil. Tudo não passa de mais um ato do teatro de conciliação com a milicada golpista.Alguns poderão argumentar que esta decisão tem um significado simbólico e outros bla-bla-blás. Como se nas repúblicas bananeiras o ato de rasgar e pisotear a Constituição não fosse a primeira ação das quarteladas.
6 – Como o fascismo segue vivo e atuante, com alguns de seus líderes consagrados com votações expressivas, o risco de novas conspirações não está descartado. Que os órgãos de inteligência acompanhem de perto possíveis ações terroristas organizadas por oficiais militares ou paramilitares dos CACs. Aliás, um oficial tinha um verdadeiro paiol em casa, que explodiu acidentalmente. Não é difícil imaginar com que intenções ele mantinha esse armamento. E certamente existem outros paióis espalhados pelo país. Prova disso é que outro “cidadão do bem”, defensor da família tradicional, após matar a amante foi descoberto com 80 armas e mais de 16 mil munições em casa. Que ninguém se iluda: esses episódios revelam apenas a ponta do iceberg.
7 – Enquanto isso, o Governo Lula segue sitiado e sabotado pela oposição, com sérias dificuldades de implementar mudanças que provoquem algum impacto relevante no cotidiano dos cidadãos brasileiros, seja no curto ou médio prazo. O Presidente, cujo carisma nos salvou da tragédia que seria a reeleição do inominável, vê a sua popularidade ser lentamente corroída.
8 – Uma provável vitória de Trump poderá ser o estopim de uma nova ofensiva golpista. Resta, pois, pouquíssimo tempo para desarmar as inúmeras minas espalhadas pelo caminho pelos fascistas nos quatro anos sob domínio do capetão.
Para finalizar
- A intentona golpista recebeu o apelido de “golpe tabajara”. De fato, houve trapalhadas inacreditáveis. Mas sejamos francos: o golpe só não se consumou por detalhes. E a investigação da PF só revelou a trama por conta do descuido do Mauro Cid, que relaxou por estar muito seguro do sucesso da empreitada. O buraco em que estamos metidos, que nos condena ao republicanismo bananeiro, é muito mais profundo do que se supõe.
- A marionete da caserna que ocupa o cargo de Ministro da Defesa proferiu uma atrocidade: afirmou que os militares impediram o golpe de 2024. Se foram os artífices do golpe de 1964, estariam agora assim redimidos, com a história da ditadura militar podendo ser enterrada e esquecida. Triste papel para um Ministro de Estado.
BANANAS EM DISPUTA
O Equador parece que deseja tirar do Brasil o status de maior república bananeira do mundo. Acaba de eleger para a presidência um grande empresário exportador de bananas. Apesar da piada pronta, o Brasil segue na dianteira, e com folga.
Muita gente recusa a ideia, se ofende ou trata com desdém o mote deste blogue, que afirma que o Brasil é a maior república das bananas do planeta. Afinal, nosso país possui muitas áreas de excelência que nos enchem de orgulho. Temos o domínio da tecnologia aeronáutica, da exploração de petróleo em águas profundas, do desenvolvimento de vacinas e fármacos, de serviços bancários modernos como o Pix, sem falar da imensa riqueza da nossa diversidade cultural, entre muitas outras virtudes. O que acontece é que o senso comum associa a ideia de “república das bananas” a um estágio de subdesenvolvimento colonial, a um certo arcaísmo simplório. Porém, o que caracteriza de fato a “bananidade” é outra coisa: é o papel desempenhado pelos atores políticos hegemônicos num país, a qualquer tempo: a elite agrário-extrativista-exportadora, os militares que insistem num papel tutelar sob o poder civil, uma classe política patrimonialista e paroquial sem qualquer compromisso programático com o desenvolvimento soberano de um país. No Brasil, em tempos recentes isso foi sintetizado no trinômio “boi, bala e bíblia” (existiriam ainda outros “b” – de bancos, de brancos – que são transversais a essa tríade). E tudo isso pode conviver tranquilamente com uma modernidade tecnológica em diferentes campos.
No primeiro dia do julgamento dos primeiros acusados pela intentona de 8 de janeiro de 2023, uma coisa ficou clara: ainda estamos muito longe de deixarmos de ser uma típica “república bananeira”.
O subprocurador-Geral da República afirmou na abertura dos trabalhos: “- É importante registrar também que o Brasil há muito deixou de ser uma República das Bananas, e hoje goza de prestígio Internacional nas grandes democracias. Golpe de estado é página virada na nossa história“, disse ele.
Infelizmente, isso é uma meia verdade. A imagem internacional do Brasil foi seriamente abalada e ainda vai demorar muito para se restaurar. Se algum prestígio foi recuperado, isso se deve somente à habilidade e ao carisma do Presidente Lula. O espectro do golpismo permanece latente. Porque a nossa democracia se mostrou extremamente frágil e permitiu a consagração de um neofascista tosco, que não se reelegeu por uma margem muito pequena, mesmo após um governo desastroso. O mundo civilizado nos olha com certo alívio, mas sabe que retrocessos não estão fora do horizonte.
Iniciado o julgamento, o Ministro relator, a quem reconhecemos o mérito de ter enfrentado corajosamente o golpismo, também deu a sua “patinada” em relação aos militares: “– O fato de eventuais militares terem participado de ações golpistas e estarem sendo investigados não macula uma verdade histórica, que deve ser proclamada: o Exército brasileiro não aderiu a esse devaneio golpista de vários, inclusive políticos que estão sendo investigados”, disse o relator.
Ora, as digitais dos militares estão por todo lado. É óbvio que tramaram e executaram uma ação clandestina visando o golpe. Nas publicações anteriores já comentamos exaustivamente sobre isso. A fala do relator deixa claro que a impunidade dos militares foi negociada nos bastidores. Ao que parece, serão imolados apenas os “patriotários”, pessoas com profundas limitações cognitivas que se prestaram a massa de manobra de uma casta neofascista, porém esperta. Serão punidos também alguns bodes expiatórios fardados que ficaram numa situação indefensável e, talvez, poucos políticos do baixo clero e financiadores dos atos também serão chamados a pagar o pato. Uma anistia num futuro breve provavelmente os espera, em nome da “união nacional”. Os grandes mentores da intentona golpista provavelmente escaparão ilesos ou sofrerão punições simbólicas. Resta saber o destino do ex-presidente. Se será punido severamente ou se será apenas vitimizado para servir de mártir e manter acesa a causa golpista. Infelizmente, é a segunda opção que se desenha.
Enquanto o julgamento decorria, na casa legislativa ao lado, com ampla margem de votos, era aprovado um novo regulamento para as disputas eleitorais, abrindo a porteira para todo tipo de fraude e manipulação do processo eleitoral. O Senado adiou a iniciativa, mas o fato demonstra que a república bananeira não descansa em serviço.
Ou seja, “tudo como dantes no quartel de abrantes”. Ou, tudo na mesma pasmaceira na república bananeira. As condições que nos mantêm atrelados ao passado seguirão intactas, ao que tudo indica. O governo segue sitiado, com a política econômica submissa ao aval dos Faria Limers, enquanto tenta emplacar programas sociais compensatórios. Nada de mudanças estruturais.
Difícil a situação do Brasil. Enquanto não reconhecermos e aceitarmos o fato de que somos uma república bananeira, não sairemos desse lodo no qual estamos atolados, não iremos superar essa nossa triste situação.
A psiquiatra Kubler-Ross concebeu uma teoria do luto em que a superação de algo doloroso passava pela vivência de cinco estágios emocionais, não necessariamente sequenciais: negação – raiva – negociação – depressão – aceitação. Comportamentos facilmente identificáveis em que se envolve no embate político. Reconhecer uma realidade desagradável é a última etapa para poder superá-la.
Como já dissemos, é preciso desbanananificar o Brasil. O desafio é descobrir como fazer isso.
SINAL AMARELO
SINAL AMARELO
Numa república bananeira – e nós somos a maior do mundo – sempre que uma liderança minimamente progressista é eleita, ela tem que governar em permanente estado de sítio. Para se manter no poder e implementar algumas políticas públicas de seu programa de governo, há que se fazer inúmeras e frequentes concessões. Há sempre uma linha vermelha que, se ultrapassada, dá início a articulações golpistas e/ou sabotagens externas. Historicamente sempre foi assim.
A decisão judicial que absolveu Dilma das acusações que a removeram da Presidência provocou uma resposta imediata da elite bananeira. Em menos de 24 horas os editoriais dos maiores jornais do país, redigidos às pressas, transbordando bílis, refutaram veementemente a ilegalidade do impeachment. Foi o recado das elites:”-Demos um golpe sim, e daremos de novo se o consideramos conveniente para os nossos interesses”. Este é o claro subtexto dos editoriais. O recado-ameaça da nossa elite golpista.
Já sabemos que uma tentativa de golpe militar foi tramada para o 8 de janeiro passado. Uma golpe em que todo o cuidado foi tomado para que não aparecessem as digitais dos comandantes militares. Conforme as investigações avançam, mais isso fica claro. Ao que tudo indica, era uma operação dos Destacamentos Operacionais de Forças Especiais (DOFEsp), treinados para atuar em cenários de conflitos políticos internos, que envolveram os chamados “Kids pretos”. Difícil de acreditar que os generais desconheciam essa movimentação.
Aparentemente, eles tinham a certeza de que, diante do caos produzido, seria criada uma situação que exigiria a convocação dos militares para uma operação de Garantia da Lei e da Ordem – GLO. Com a faca e o queijo na mão, eles poderiam quebrar resistências internas, tomar o controle do país e ainda teriam argumentos para se defender da acusação de golpismo perante o mundo. Graças a lucidez de Lula e Dino, que não morderam a isca, o plano golpista gorou. Os detalhes dessa trama só conheceremos daqui a alguns anos, provavelmente.
Pra nossa sorte, mais uma vez a bomba explodiu no colo dos militares. E enquanto vai sendo revelada uma quantidade imensa de cuecas verde-oliva manchadas de batom, os comandantes militares se empenham numa “operação abafa”, com direito a chantagens de todo tipo. Terão que sacrificar alguns anéis para preservarem os dedos. Para eles bastará preservar o status quo da instituição FFAA e da alta oficialidade, ainda que com uma reputação um tanto esfolada e a moral esfarrapada.
Dessa forma, o golpismo da milicada bananeira prosseguirá vivo, à espera de uma nova oportunidade para emergir.
O problema maior é que há uma perigosa tempestade em formação. Ela vem de fora e o tempo é muito curto para se preparar para ela.
Não podemos analisar a situação do Brasil sem observar o contexto geopolítico em que estamos inseridos, o da resistência dos EUA em ceder espaços de seu domínio imperial. O protagonismo de Lula está assumindo em relação ao BRICS – explorando as oportunidades que a “geometria variável” oferece para obter vantagens econômicas para o Brasil – talvez tenha um preço caro a ser pago num futuro próximo.
Sabemos que o Império norteamericano sempre considerou a América Latina como um quintal deles. Há um longo histórico de intervenções armadas, golpes patrocinados e assassinatos de lideranças políticas no continente. Com o acirramento das disputas com a China e a Rússia, eles não tardarão em colocar as suas garras à mostra novamente. Ainda mais com o cenário de uma guerra mundial que se delineia, que talvez se constitua numa soma de conflitos regionais (Ucrânia, países do Sahel, Oriente Médio, Pacífico sul e outros potenciais cenários explosivos), já que um conflito direto entre as superpotências nucleares aniquilaria a humanidade.
Se Trump tivesse sido reeleito, talvez nossas eleições tivessem tido um outro desfecho. Fomos momentaneamente poupados por uma conjuntura política nos EUA extremamente fugaz. Os Democratas – os mesmos que implementaram a espionagem e a guerra híbrida contra o governo Dilma – mandaram um recado para as nossas elites e seus serviçais armados de que não dariam apoio a um golpe. Não interessava a eles ter um aliado de Trump por aqui nesse momento. Tanto que cobraram “gratidão” do governo Lula por esse gesto, pois esperavam um alinhamento automático e submisso na condenação da invasão russa.
Passadas as eleições norte-americanas, seja qual for o seu resultado, a opção em aprofundar as relações com o BRICS nos colocará novamente na alça de mira do Tio Sam. A desdolarização do comércio internacional é uma pedra no sapato dos EUA e ameaça seriamente a sua já abalada hegemonia.
A embaixadora dos EUA no Brasil, com a dubiedade típica da linguagem diplomática, deixou mais um recado. Ou seria uma ameaça? Até o ex-presidente francês Sarkozy, em seu livro de memórias, revelou o que os incautos fingem ignorar: Os EUA jamais permitirão que a nossa soberania ameaçe a hegemonia econômica deles. Para a nossa elite bananeira e seus generais sabulos, lamber as botas do Tio Sam não causa espécie.
Para piorar a situação, há um risco elevadíssimo de vitória da extrema-direita na Argentina, seja com a ultraliberal Bullrich, seja com Milei (um fascista alucinado). Nosso potencial aliado caminha para se tornar um vizinho indigesto. E, onde estão sendo eleitas lideranças progressistas (Guatemala, Honduras, Colômbia, talvez o Equador) o cerco aos governantes é contínuo. A guerra híbrida é permanente.
Não somos uma potência, nem econômica, nem militar. Nosso único trunfo é a gestão da Amazônia, peça fundamental da questão climática que hoje se tornou uma emergência global. Graças a estupidez da nossa elite predadora e seus guardiões militares, que deram provas fartas de incompetência para gerir esse território estratégico, herdamos esse ativo. É preciso usá-lo com sabedoria.
A derrota eleitoral do fascismo no Brasil tem um alfa e um ômega: chama-se Lula. Dificilmente ela teria ocorrido sem a liderança dele. A capacidade de mobilização das nossas esquerdas continua a dar sinais de debilidade, a ponto do próprio Lula reclamar publicamente da falta desse suporte. Mais do que ninguém, ele sabe o quanto isso é vital para a governabilidade.
O tempo é curto. Ou a sociedade brasileira é capaz de se articular e mobilizar a população ou, como vaticina o título de um romance, “não veremos país nenhum”.
É preciso desbananificar o Brasil urgentemente. As próximas publicações deste blog terão a pretensão de contribuir humildemente neste sentido.
É livre a reprodução, parcial ou integral, nos termos da licença CC BY-SA
Banana, bananeira, República Brasileira…
É livre a reprodução, parcial ou integral, nos termos da licença CC BY-SA
Na maior república bananeira do mundo, o terrorismo militar é sempre uma ameaça viva
Conforme avançam as investigações e revelações sobre a intentona fascista de 8 de janeiro, fica cada vez mais evidente o DNA golpista e bananeiro dos militares brasileiros.
A história do golpismo militar no Brasil é um inventário de ações clandestinas e dissimuladas dos militares. Felizmente, os planos mais sanguinários da caserna fracassaram .Por isso que até alguns ateus, em certas horas, suspeitam que Deus existe e é brasileiro. Por obra do acaso, ou de “Deus”, o certo é que os executores falharam na execução do crime insano. Se houve alguma intervenção divina, ela deve ter sido o ato de abençoar os nossos militares fascistas com uma suma incompetência; a mesma que os fizeram fracassar nos planos de explosão do Gasômetro, do show no Riocentro e, recentemente, da explosão do Aeroporto de Brasília, que poderia ter sido uma tragédia com inumeráveis vítimas .
Já se sabe que boa parte das ações do 8 de janeiro foram executadas pelos chamados “kids pretos”, as forças especiais para ações camufladas do exército. E eles não agem sem comando. Paralelamente incitaram e mobilizaram setores civis fanatizados, para ocultar de onde partem as ordens e ocultar o protagonismo da caserna. E isso eles fizeram muito bem. Usar e manipular dementes civis para viabilizar as suas operações dissimuladas não é algo novo. Fazem isso desde os anos 60. Como fizeram no famigerado caso do “grupo secreto”, que já foi objeto de publicação aqui . Ou como no caso dos atentados do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) em 1968 e da Aliança Anticomunista Brasileira (AAB) em 1976. Hoje a sigla que responde pelos trabalhos sujos é outra: seus integrantes são membros dos CACs – clubes de tiro para Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores. Uma rede paramilitar que se constituiu nos últimos quatro anos com a completa cumplicidade das FFAA (quem sabe, até como parte de um projeto interno e sigiloso das mesmas).
O atual ministro da defesa, que ao invés de Chefe se comporta como serviçal dos golpistas bananeiros, se apressou em dizer que os militares não queriam um golpe, que eles não tiveram qualquer participação no acontecido. Triste papel para um ministro de estado, ainda que isso revele muito do caráter e das intenções dos militares. Golpistas, sonham com uma mudança no cenário internacional para colocarem novamente as suas manguinhas de fora. Recuaram, mas não desistiram.
Por mais que saltem aos olhos a participação dos que foram os comandantes da trama golpista, as provas contundentes não aparecem. Os oficiais flagrados se mostram dispostos a serem imolados e não revelar o que sabem. E isso não ocorre por acaso. Foram adestrados para isso desde o primeiro dia na Academia Militar. É o que se pode comprovar num recente filme, disponível num canal de streaming, sobre a (de)formação dos militares na AMAN . Um documentário produzido por encomenda intitulado “Irmãos por escolha”,cujo subtítulo é “nenhum de nós é tão forte quanto todos nós juntos”.
Cinematograficamente, o filme é uma nulidade. Quem suportar assisti-lo além dos 20 minutos iniciais – pois o filme é sonolento e entediante – vai compreender melhor o comportamento golpista dos nossos militares bananeiros. O documentário ilustra bem o que um humorista recentemente chamou de “fábrica de bolsonaros” (a AMAN).
Para poupar os leitores do desprazer de ver essa josta, façamos aqui uma brevíssima resenha do filme, que documenta cada ano da dita “formação” dos militares.
O filme documenta uma sequência de treinamentos que levam os cadetes ao limite da exaustão, enquanto os instrutores incutem crenças e valores de “superação”, louvam o fato de que eles abdicaram do conforto da vida civil para estarem ali, que contam com o apoio orgulhoso da família do lado de fora, desfiam um rosário de clichês patrióticos. Usam as técnicas de persuasão coercitiva pra lá de manjadas. Nos treinamentos os cadetes são expostos a atividades físicas extenuantes durante dias de privação de sono, fome, frio e calor intensos em ambientes inóspitos, que os conduzem a um estado de exaustão física e psicológica extrema. Induzidos a uma situação propícia à confusão sensorial, se expressam com brados, cânticos de guerra, orações, hinos anacrônicos, enquanto ouvem mensagens motivacionais dos instrutores com ênfase no espírito de grupo e na criação de “laços inquebrantáveis” entre eles. Em um certo momento, um cadete diz: “-É a união que não deixa a gente ficar maluco”.
Tudo aquilo que, no jargão popular, é chamado de “lavagem cerebral”. Enfim, nada muito diferente do que é a formação de combatentes em qualquer exército do mundo.
Esse adestramento é sólido e deixa marcas profundas. Porém, no Brasil, o espírito de corpo vai além dos limites do razoável. Recente matéria jornalística revelou que até mesmo para os oficiais expulsos das FFAA por crimes comuns (tráfico de drogas, estupro, assassinato, roubo, estelionato, etc.) uma pensão vitalícia é garantida às suas famílias. São os tais “laços inquebrantáveis” criados entre eles. Se não abandonam bandidos comuns, também não o farão com golpistas e terroristas. A raiz da impunidade nasce no adestramento das academias militares. Não foi por desleixo que o tenente que queria explodir bombas no quartel foi perdoado e protagonizou o período mais desastroso da república brasileira desde o fim da ditadura militar de 1964.
Essa de-formação militar não seria algo tão grave se eles não fossem induzidos a intervir na vida civil como um poder moderador. E é aí que reside o maior silêncio do filme: praticamente nada é dito da formação intelectual deles, o que nos faz deduzir que isso é o que menos importa para ser levado ao conhecimento dos espectadores civis. Porém um punhado de citações de títulos dos TCCs dos futuros oficiais dá algumas pistas: falam da preparação para combate ao terrorismo, de guerras assimétricas, de psicologia de massas e armas cibernéticas. Apesar da amostra ínfima,fica a impressão de que o “inimigo interno” ainda é o ideário teórico que orienta a formação no treino de campo. Curiosamente, a parte final do filme , que se refere ao último ano do adestramento dos futuros oficiais, trata das operações contra “forças irregulares”, “adversários atores armados não estatais”. No treinamento exibido, a operação é contra uma suposta base de tráfico. Na falta de guerrilha de esquerda, o tráfico é o inimigo interno que escolheram combater no momento. Mas que pode se voltar para os movimentos sociais num estalar de dedos. O foco em “inimigos internos” é a maior deturpação da missão das forças armadas, o que nos faz ser a maior república das bananas do planeta.
O final do filme é patético, quase surreal. Alguns cadetes refletem sobre a relação com a morte, já que poderão ter que matar ou morrer, pois juraram dar a vida pelo país. Mas aí vem a cereja do bolo, o sermão de um oficial capelão sobre a missão espiritual dos militares: a guerra não seria criação dos homens nem do militarismo, pois a guerra primígena, que sobrevive até hoje , é a provocada pelos demônios rebeldes, pelos anjos decaídos.
Com essa xurumela na cabeça, são despejados centenas de novos oficiais a cada ano no Brasil, uma multidão de neobolsonaros. A omissão (ou medo) do poder civil de intervir nas academias militares só perpetua a continuidade da nossa nação bananeira.
O silêncio dos oficiais na CPMI em curso é mais uma prova de que esse adestramento funciona. O ajudante de ordens, ao comparecer fardado e permanecer em silêncio, manda as seguintes mensagens: não irei trair os meus “irmãos por escolha” (mantendo-se em silêncio) pois sei que eles me acolherão no que eu vier a sofrer. Se alguém tem dúvida disso, basta olhar a lista de visitantes que recebeu em seu curto período de cadeia (11 generais, alguns da ativa, e dezenas de oficiais, fora o general ex-vice, não registrado sabe-se lá o por que, embora visitante confesso).
Enquanto isso, os dementes das CACs aguardam instruções. O espectro do terrorismo dissimulado “verde-kid-preto-oliva”, permanece mobilizado.
Os mamateiros patriotas, impunes, ainda não se conformaram. E continuarão sonhando com um doce regresso, enquanto não sofrerem uma punição exemplar.
As repúblicas bananeiras e as suas lendas urbanas (I): “os militares são altamente qualificados e preparados”.
No início de 2023, o prefeito da cidade de Maracanaú (CE) nomeou o Capitão Wagner (candidato do “partido fardado” derrotado nas eleições ao governo do Estado) para a Secretaria de Saúde do município. Questionado sobre a falta de experiência do indicado para o cargo, o prefeito retrucou: “militar sabe fazer tudo, inclusive saúde”.
O prefeito apenas reproduziu uma das lendas mais estúpidas que circulam sobre os militares: a de que eles são altamente preparados e qualificados. E de que seriam imunes aos esquemas de corrupção tão frequente nos meios políticos.
Supostamente, podemos admitir que eles são muito qualificados no que diz respeito às técnicas militares, nada além disso. Mesmo assim, supostamente, porque há muito o Brasil não participa de guerras, cenários em que tais competências poderiam ser postas à prova. Recentemente, um portal de internet chinês (SOHU) fez um ranking das piores Forças Armadas do mundo, considerando o potencial de desempenho militar numa situação de combate. Nossos bravos foram avaliados entre os quatros piores. A falta de investimentos em equipamentos e tecnologia pode ser uma explicação. Mas a responsabilidade da cúpula militar também é grande, pelo seu insulamento burocrático e recusa a qualquer tipo de supervisão externa. Tudo isso contribui para uma formação militar anacrônica em muitos aspectos.
Não sejamos injustos. Há ações sociais implementadas pelos militares nos rincões do país merecedoras dos maiores elogios. Mas nada que os faça “superiores” ou os aponte como detentores a priori de uma competência diferenciada em relação aos agentes civis.
O que há é somente uma crença autista deles próprios, de que são uma “elite”. Fora disso, há uma coleção de desastres na atuação militar. Vamos relembrar apenas alguns exemplos, restritos aos últimos quatro anos, período em que eles tomaram de assalto milhares de cargos civis de forma quase pornográfica, com um desempenho pífio, senão trágico, em muitas das vezes.
Podemos começar citando o caso do “aerococa”, o uso do avião presidencial para o tráfico de cocaína, que só foi interrompido graças a uma ação da polícia espanhola. Ou mesmo pela omissão da inteligência militar, para não falar de cumplicidade, no caso da perigosa vizinhança do ex-presidente no “Vivendas da Barra” (o caso Marielle permaneceu sem solução, por razões obscuras). O descaso, ou até a cumplicidade com os crimes na Amazônia, foi motivo de vergonhosa repercussão internacional.
Mas, sem dúvida alguma, o caso mais escandaloso de incompetência foi a gestão militar do Ministério da Saúde em plena pandemia. Uma sucessão de trapalhadas de causar estupor a qualquer nação civilizada.A começar pelo fato do ministro fardado declarar, sem a menor cerimônia, que não sabia o que era o SUS. Porém o mais patético foi a justificativa da nomeação do general: ele seria um dos maiores especialistas de logística do exército brasileiro.
E foi exatamente na parte logística o grande fiasco da gestão militar nessa área. A mundialmente reconhecida estrutura vacinal, construída ao longo de vários governos, sobreviveu a duras penas, graças aos esforços dos governos estaduais e municipais. O SUS, desconhecido do ministro de coturno, impediu que a tragédia da pandemia fosse maior. Sobrevivieu ao erros grosseiros de “logística” na remessa de oxigênio para Manaus, aos gastos absurdos e irresponsáveis com a fabricação de um medicamento notoriamente inútil para combater a pandemia (cloroquina). Sem falar nas tentativas de negociatas na compra de vacinas, felizmente abortadas antes que arrombassem os cofres públicos em benefício de militares corruptos (sim, eles existem, e não são poucos).
Não satisfeitos, os intelectuais da caserna, em seu projeto de nação para 2035, defenderam abertamente o fim da universalização da saúde, a extinção do SUS e a ampla privatização da saúde. Para os cidadãos civis, obviamente. Para eles, militares, essas criaturas que se acham superiores aos demais mortais, preservariam seu sistema de saúde próprio.
E assim eles contribuem decisivamente para continuarmos a ser a maior república bananeira do planeta.
Confissões dos generais bananeiros: “-Não demos o golpe porque não quisemos.”
Em recente entrevista a um grande jornal, o número 2 do Comando Militar da nossa República Bananeira fez uma confissão em tanto. Um festival de “atos falhos”, no dizer “freudiano”. Ao negar as intenções golpistas da caserna, atestou a existência do golpismo nas FFAA. E reconheceu que a instituição teria sido “capturada por assuntos políticos”.
Na linguagem castrense existem expressões que são verdadeiros lugares comuns, usadas sempre que os militares desejam dissimular o seu caráter golpista. Uma delas é famosa:”quando a política entra pela porta de frente dos quartéis, a disciplina sai pelos fundos”.
Essa frase é sempre dita quando os militares são acusados de se intrometer na vida civil, no jogo político da nossa frágil democracia. Habitualmente ela tem sido atribuída ao General Góes Monteiro, golpista de primeira linha e notório por fazer cotidianamente articulações políticas e golpistas.De triste memória, foi um dos mentores do “Plano Cohen”, que dizia haver planos avançados para promover uma insurreição comunista no Brasil. Uma fake news antes que existisse esse nome, que foi o pretexto para fechar o Congresso e implantar a sanguinária ditadura do Estado Novo.
A frase de Góis Monteiro, portanto, é tão verdadeira quanto cínica. A hipocrisia é que ela é usada quando os militares bananeiros querem se esquivar da acusação de que buscam tutelar e interferir na vida civil, pelo simples fato de terem o poder das armas.
Política é o lugar do debate e da disputa democráticas de ideias. De fato, dentro do quartel a política não presta pra nada. Numa tropa não há lugar para dissenso nem negociação de pontos de vista divergentes. A eficácia das FFAA se baseia no estrito respeito à hierarquia e disciplina, no qual um manda outro obedece.Para o bem e para o mal.
Golpistas e conspiradores não traçam os seus planos dentro do quartel, mas sim nas cúpulas de comando, nas alcovas dos clubes militares e, na atualidade , nas salas dos Think Tanks bananeiros (Institutos Sagres, Federalista, Villas-Boas).
O fato, que a cada dia fica mais claro nas investigações do “8 de janeiro”, é que os militares estavam doidinhos pra dar um golpe. Porém foram muitos os problemas que os impediu de levar seus intuitos adiante.Um quase total isolamento internacional, apoio interno restrito à própria caserna, somado a um bando de alucinados, vivandeiras de quartéis e alguns tresloucados do ogronegócio fechando rodovias e financiando atos. Foi pouco. E faltou mesmo o principal: a chancela do Tio Sam, ao qual são submissos. Em reportagem recente do Financial Times soubemos que os recados dados a eles foram claros e diretos. Os governantes democratas dos EUA deixaram nítido que não aceitariam um “mascote vira-lata” do Trump mantido no poder por vias golpistas.
Mesmo assim, os milicos não conseguiram controlar os seus impulsos golpistas. Tentaram criar um clima caótico que justificasse uma intervenção militar. Espertamente, terceirizaram a linha de frente do golpe e atuaram de forma clandestina, com seus batalhões de operações especiais (os “Kids pretos”). Conceberam uma operação tipo “Para-sar/Riocentro versão 4.0“, em que pudessem sair de mãos limpas da sujeira que estavam dispostos a patrocinar. Se cercaram de máximos cuidados. Sabiam que, em caso de fracasso, poderiam acabar como os generais bolivianos recentemente, ou pior, como os generais argentinos em 1985.
Não funcionou. Agora tratam de limpar as pontas soltas e salvar os seus “irmãos por escolha” de maiores punições (“irmãos por escolha” é o título de um filme sonolento e patético que estão divulgando, uma espécie de “ninguém larga a mão de ninguém” do meio militar) . Ao mesmo tempo, ainda tentam preservar os seus espaços institucionais estratégicos (vide GSI). Sabe-se lá os recados e barganhas que estão sendo intermediados pelo submisso Ministro da Defesa.
Os milicos bananeiros-mamateiros ficarão recolhidos até que sintam que surgiu uma nova janela de oportunidade. E, principalmente, na expectativa de uma mudança de orientação do Tio Sam.
Permanece, no entanto, um perigo grave no ar: os terroristas militares. O caldo no qual fermentou o Para-Sar e o Riocentro continua intacto. Já dissemos antes aqui neste blog: é aí que mora o perigo. Nada garante que celerados treinados para o terrorismo (os “Kids Pretos“) não resolvam se subelevar. Só nos resta torcer para que a bomba exploda no colo deles. Ou que não exploda, como a que foi colocada no aeroporto de Brasília,com intenções similares. Não sabemos até quando a incompetência deles nos salvará de uma tragédia maior. Para garantir a mamata da corporação (a intenção real por trás do que chamam de “combate ao comunismo”), esses “patriotas” serão capazes de provocar uma tragédia que roubem a vida milhares de inocentes, de promoverem verdadeiras carnificinas. Apesar dos fracassos do passado, nunca desistiram desses planos, como prova a recente tentativa no aeroporto de Brasília.
Na maior República das Bananas do mundo, os terroristas militares seguem livres. E impunes, prontos para planejar novas insanidades.