Teatro bananeiro

Enquanto aguardamos que o indiciamento dos golpistas seja despachado pelo PGR, que até o presente momento tem demonstrado não ter nenhuma pressa para isso, só nos restam as analogias dramáticas.  A peça de Samuel Beckett, “Esperando Godot”, ganha a versão bananeira “Esperando Gonet”.

A fala chave do texto teatral é dita por um dos personagens, que esperam inutilmente por um tal de Godot (que nunca chega): – “Nada acontece, ninguém vem, ninguém vai, é terrível.”

Nada que surpreenda a nossa república bananeira deitada eternamente em berço esplêndido.  A tal ponto que o principal denunciado anuncia que cogita se refugiar em alguma embaixada amiga. E ficamos esperando Gonet que, pelas últimas declarações públicas, parece não ter a menor pressa. Cogita que pode solicitar mais investigações e indiciamentos. Chega a sugerir que golpes devem ser impedidos com medidas do legislativo que impeçam militares de ocupar cargos administrativos civis. Como se uma boa lei fosse suficiente para impedir golpes. Claro que o PGR não é ingênuo. Ele está fazendo suas escolhas.

Traduzindo para o cotidiano de um cidadão comum: imagine que a sua casa é furtada, e que câmeras de vigilância captam o meliante em fuga com os objetos furtados. Pelas imagens fica claro que se trata de um criminoso já conhecido na região.  Aí as autoridades decidem adiar a prisão do sujeito, pois pode ser que apareçam mais evidências de outros crimes dele ou cúmplices. Esse é, mais ou menos,  o argumento do PGR.

Todos são iguais perante a lei. Mas na maior república bananeira do mundo, alguns são mais iguais que outros. Altas autoridades civis e militares são julgadas por uma régua muito mais política do que jurídica. E as decisões dependem da coragem, covardia ou cumplicidade dos julgadores. Em alguns casos, até mesmo da honestidade de juízes, como demonstram os recentes escândalos de venda de sentenças. A pressão dos grupos de mídia para tirar o Xandão do jogo passa por aí. Querem um juiz vacilante, cooptável,  medroso ou covarde à frente das ações. Adivinhem o por que.

A  grande imprensa e inúmeros parlamentares e governadores ditos “liberais” relativizam a gravidade do ataque golpista. Nunca foram amantes da democracia. E podem se alinhar a uma ruptura democrática se for do interesse deles ou de quem representam. Por isso não tem pressa nem vontade de punir os neofascistas. Eles poderão lhes ser úteis novamente. . Seguem a máxima de Mises, que disse explicitamente que “o fascismo salvou a Europa”. E emendou dizendo que apesar da barbárie,foi possível a retomada do “livre mercado”.

O golpe falhou porque não construiu uma base de apoio sólida. Nem interna nem externamente. Teria apoio da maioria dos parlamentares, muitos governadores, três juízes do STF, do agronegócio, mas isso não seria suficiente.  Mesmo assim não ocorreu por detalhes. É certo que falta de apoio o condenaria ao fracasso em curto ou médio prazo, tal qual o último golpe que ocorreu na Bolívia. Mas deixaria um rastro de sangue dos adversários assassinados.

Há fortes evidências de que, a partir de 20 de janeiro, a dupla Trump/Musk irá fazer coro com a tese da “perseguição política” e do “cerceamento da liberdade de expressão”.  Com que intensidade, como isso se dará, ou que efeitos irá provocar, é uma grande incógnita. Mas não se deve esperar boa coisa do Tio Sam.  Quais bravatas ele será capaz de cumprir é um mistério. Mas provavelmente irá causar uma zona na economia mundial que poderá ser utilizada para desestabilizar a governança nos países que ele considera como o seu quintal. E a esperar por Godot/Gonet poderá ser inútil.

Na nossa república bananeira, 2025 não será nada fácil.

PS.: Chega a ser enfadonho o discurso de alguns que celebram uma suposta resiliência da nossa democracia. Com tudo que acaba de vir à tona, esse tipo de discurso deveria ser ridicularizado. A nossa débil democracia não ruiu por detalhes.  Mais uma vez, não há ingenuidade naqueles que enunciam essa tese.

Nas repúblicas bananeiras, golpista é todo oficial militar pego em flagrante.

Que Nélson Rodrigues nos perdoe. Mas a paráfrase de uma das brilhantes citações dele foi irresistível (ele disse “Tarado é todo sujeito normal pego em flagrante”).

É uma verdade que deve ser dita, depois que o garoto de recados da caserna veio a público falar o que pensam seus comandantes. Diante da escandalosa mancha de batom na cueca, parece que os generais optaram por sacrificar alguns de seus “irmãos por escolha”. Disse que interessa às FFAA que a culpa seja colocada no “CPF”, não no “CNPJ”, que a pecha de golpismo não pode manchar a instituição e os que estão na ativa. Em outras palavras: dado o tamanho do flagrante, aceitarão que alguns dos seus sejam punidos.

(Obs. “Irmãos por escolha” é como se tratam os futuros oficiais formados na AMAN. Para criar um laço de camaradagem, um compromisso de nunca abandonar um dos seus.)

A verdade é que, se o Comando Militar do Sul tivesse dado o sinal verde, quase todos teriam embarcado nesse barco, ajudando nas “manobras para guiar o barco em direção ao porto seguro que queremos” (segundo as palavras públicas do almirante golpista). Só que entrou água no barco e agora é a hora do salve-se quem puder.

Infelizmente, parece que estamos diante de mais uma oportunidade que será perdida, a chance de darmos um importante passo no sentido de romper com a sina de sermos uma eterna república bananeira. Além de punições exemplares para os golpistas, era o momento de reformular a formação dos militares. As academias são hoje centro de formação dos golpistas do amanhã, reféns do ideário de submissão ao “irmão do norte”. Abandonaram de vez a ideia de uma nação soberana em sentido lato. Alguns militares de 1964, mesmo com todo o golpismo, tinham alguma noção da grandeza do Brasil. Atualmente, estão rendidos ao mais simplório neoliberalismo periférico. O tal plano “Brasil 2035” é reflexo dessa visão medíocre que domina a caserna.

Mas o abandono dos “irmãos por escolha” não é total. Um ex-capitão da missão no Haiti e atual governador de São Paulo saiu em defesa dos seus. Disse que o indiciamento do seu mito carece de provas e que ele sempre respeitou o processo democrático. Em outras palavras, disse o que já sabemos: “– Ainda somos os mesmos e golpearemos como os nossos pares”(perdão, Belchior!).

Historicamente, no Brasil, o apreço à democracia não existe na caserna. Sobrevive apenas como figura de retórica. Nosso destino bananeiro é fruto de décadas de passadas de pano, conciliação e impunidade. Se agora os golpistas estão na defensiva, mais à frente não hesitarão em atacar novamente o Estado Democrático, se tiverem essa chance.

Após três dias de sabermos do covarde plano de assassinatos, um dos maiores escândalos da nossa história, ouvimos das principais autoridades da república condenações tímidas, dúbias e vacilantes. Os jornalões, com um prato cheio para praticar o jornalismo investigativo, reduzem de forma sutil e progressiva o espaço destinado ao crime. O PGR diz que, diante de tanto informação nova, só vai se manifestar no ano que vem…Talvez queira saber a opinião de Trump e Elon Musk sobre o assunto.

É difícil, muito difícil, ser otimista numa república bananeira.

Na República Bananeira, todo dia é dia de golpe

 

O jornalão carioca (e seu canal de notícias), habitué em passar pano para os militares bananeiros, já começou a construir a versão “oficial” da tentativa de golpe terrorista que acaba de ser revelada. Seus colonistas (como dizia o saudoso Paulo Henrique Amorim), já começaram a difundir o “mal-estar” que tomou contas das FFAA. Dizem que a caserna foi tomada pela “tristeza”, “surpresa” e “decepção”, pela “traição” de uma “minoria” que causou “estrago terrível”, alimentando preconceitos contra os militares.

Seria hilário se não fosse trágico. O golpe sempre foi o plano A no caso de derrota do bozo. O lançamento do intelectualmente medíocre “Projeto Brasil 2035” já anunciava a intenção dos militares de permanecerem no poder. A ação de desacreditar as urnas eletrônicas foi apenas uma das ações preparatórias. Outra foi a nota das três forças do dia 11 de novembro, que defendeu os acampamentos nos quartéis e reafirmou explicitamente o papel “moderador” dos militares (e que, agora sabemos, foi na véspera da reunião dos golpistas na casa de de um general). E ainda há outras dúzias de evidências de que as forças armadas, em uníssono, estavam preparando um golpe.

O Plano teve, no entanto, uma oposição de peso. De acordo com matérias do Financial Times. assessores de segurança nacional de Joe Biden vieram aos Brasil e deixaram claro que os EUA não só não apoiariam como condenariam qualquer ruptura institucional. Ironias da história: os que sempre patrocinaram golpes e desestabilizações do nosso país, por conta de uma conjuntura doméstica (o fator Trump), decidiram se opor ao golpe de seus vassalos.

Foi um balde de água fria na milicada. Afinal, sua desobediência seria um ato de rebeldia aos olhos de seus reais comandantes, o Comando Militar Sul dos EUA, com consequências que poderiam ser bem desagradáveis. Isso dividiu o comando militar. Em áudio de um coronel golpista, do dia 19/11/2022, tornado público pela PF nesta semana, ele diz claramente sobre o alto comando do exército: “cinco não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto”. Ou seja, dos 16 integrantes, apenas 5 não queriam aderir (e talvez somente por não ter o apoio do Tio Sam).

Foi nesse momento que a arquitetura do golpe tomou outro rumo. De forma planejada ou velada, foi dada carta branca para a ala mais radicalizada. Porque nada foi feito para impedi-los de prosseguir com o plano criminoso. E isso não foi omissão, foi estratégia. Com um golpe fadado ao fracasso, contavam que os radicalizados fariam o trabalho sujo e “deram corda para eles se enforcarem”. Diante do isolamento internacional, aí sim os “legalistas” entrariam em cena para colocar ordem na casa. Claro, depois de terem sido assassinadas as principais lideranças da república. E ficaram posando de “salvadores da democracia”.

Esse era o plano. Não é difícil enumerar as evidências que conformam essa tese. Aliás, essa é a versão que o jornalão carioca, sabujo dos militares, está tentando emplacar: os militares impediram que a ala radicalizada desse o golpe e salvaram a república. Quem é otário que acredite.

O escândalo que acaba de vir à tona, da trama de um golpe que culminaria com o assassinato das maiores autoridades da república, exige uma resposta contundente e imediata. As FFAA bananeiras digo, brasileiras, são golpistas desde a sua origem. As escolas que formam os futuros oficiais deveriam ser objeto de uma intervenção pedagógica do poder civil. Estão completamente contaminadas. São centros formadores de “bolsonaros do amanhã” criados à imagem e semelhança da criatura mais repugnante e desprezível que já ocupou a presidência do nosso país. Isso tem que acabar.

Não é hora de titubear. Os golpistas mais empedernidos estão contando com um sinal verde vindo de Washington após a posse de Trump para voltar a conspirar e golpear. Não há joio a ser separado do trigo. Os fardados são ervas daninhas plantadas no mesmo canteiro. Como não será possível arrancá-las, devem ser severamente podadas. Ou a nossa democracia não sobreviverá até 2026.

As repúblicas bananeiras nunca saem da quinta-série

O anúncio da nova equipe do Presidente Trump parece uma série de horror. Ou melhor, muito parecida com uma série de streaming que retrata o círculo próximo de Hitler. Um grupo que reúne gente desqualificada, muitos desequilibrados e oportunistas de toda espécie. O único traço em comum é a fidelidade canina ao líder. Terão o poder de influenciá-lo, porém jamais de contrariá-lo, mesmo diante de equívocos evidentes. Assim funciona com todo autocrata.

Enquanto isso, nossa grande mídia – porta-voz das elites neocoloniais – ainda se dedica a fazer muito barulho por nada. O xingamento da esposa do presidente ao Musk (“primeira-dama” é uma expressão infeliz) ocupou boa parte do espaço midiático nos últimos dias. Até parece que a política externa dos EUA vai mudar alguma coisa por conta das falas da Janja. Quem sabe se, num próximo evento público, a Janja faça uma tréplica e diga que o Musk terá que se entender com o Mário…o jornalismo brazuca terá orgasmos múltiplos. Talvez nossos jornalões até se animem a abrir mais espaço para o ex-presidente sabotador da democracia “defender” a democracia…

O que deveria ser, no máximo, uma preocupação da diplomacia de “punhos de renda”, ganhou um destaque imbecil. Isso porque os debates no Brasil continuam na quinta série. Nossa elite neocolonial se escandaliza com coisas irrelevantes porque é resignada com o fato de que, para os EUA, nós somos o seu quintal e nada vai mudar essa visão. Nenhum esperneio, nenhum xingamento muda esse fato. Musk vai continuar bancando um golpe por aqui, e Trump idem.

O Musk replicou dizendo que “- vocês vão perder a próxima eleição”. É o mesmo que disse em 2019, após o golpe na Bolívia:“- Vamos dar golpe em quem quisermos. Lide com isso”. A resistência do Alexandre de Moraes foi uma surpresa para o Musk, que jamais imaginava que alguém no seu quintal iria tão longe. Recuou por pressão dos acionistas. Mas não desistiu de patrocinar um golpe.

A ofensiva agora virá bem mais forte e organizada.

Para a nossa gigantesca república bananeira o cenário é o pior possível. Uma Doutrina Monroe 4.0 está reservada para nós. O campo democrático no Brasil tem cerca de dois meses para montar suas barricadas. Serão dois anos de guerra contra a ofensiva do Tio Sam. Todos os governos não vassalos da América do Sul e Central serão objeto de desestabilização. Com a ajuda de um vizinho importante atuando como um medíocre fantoche à serviço dos EUA

Como lembramos em outra postagem, a participação de uma brasileira sendo servida pelo Trump num fast-food não foi gratuita. Não era um recado para o eleitorado norte-americano. Era pra nós. E ele tem muitos aliados por aqui.

A punição para os golpistas que tramaram o 8 de janeiro não pode tardar mais. A regulação das redes sociais deve ser tratada como prioridade. Qualquer projeto de anistia deve definitivamente enterrado. Urge estreitar os laços com os concorrentes chinês do Musk.

Uma tempestade avassaladora está se formando. Temos que garantir, minimamente, a sobrevivência da resistência democrática ao furacão que se avizinha.

O retorno das bananas explosivas

Um lobo solitário, decidido a explodir o STF, acabou por explodir a si mesmo. Os neofascistas começarem rapidamente a difundir a tese de que foi o ato isolado de um sujeito desequilibrado mentalmente, nada que se possa generalizar. Estão preocupados com o que pode ser um golpe definitivo no projeto de anistiar os golpistas. Nessa hora é preciso relembrar o histórico da sanha terrorista que sempre caracterizou o fascismo no Brasil.

O discurso do ódio, base do Ur-fascismo, sempre alimenta dissonâncias cognitivas, insanidades e distúrbios diversos nas mentes de seus seguidores. Pode atingir tanto uma manada de zé-ninguéns ressentidos, como no 8 de janeiro de 2023, quanto pessoas com poderes reais de causar sérios estragos.

Um 1971 um brigadeiro alucinado planejou explodir a adutora do Guandu e o antigo Gasômetro do Rio de Janeiro, que poderia ter causado mais de cem mil mortos. Graças ao Capitão Sérgio Macaco, que teve a sua carreira arruinada, o plano não foi em frente. Em 1981, militares do Exército de Caxias, tentaram explodir uma bomba num show no Riocentro, que mataria milhares de jovens e vários artistas da MPB. Por obra do destino, a bomba explodiu no colo de um deles e a tragédia não se consumou. Tivemos bombas em bancas de jornais e na OAB-RJ. Depois, um certo tenente do Exécito, em busca de aumentos salariais, também planejou explodir bombas. Mais recentemente, logo após as ultimas eleições presidenciais, por sorte não tivemos a explosão de uma bomba no aeroporto de Brasília, que causaria um número inimaginável de vítimas. E recentemente soubemos que “kids pretos”, também do valoroso Exército de Caxias , além de terem cometidos “atos isolados de indisciplina” derrubando torres de transmissão, planejavam sequestrar o Ministro presidente do STF e o Presidente da República, sabe-se lá pra fazer o que com eles.

A impunidade é a mãe de todos esses crimes continuados. Existem inúmeros “Tiu França” à solta por aí, muitos armados pelos CACs e outros vestindo uniformes militares. Por essas e por outras, só há uma coisa a dizer, aos berros: SEM ANISTIA!

Bananinhas Assanhadas

A vitória de Trump provocou orgasmos múltiplos nos neofascistas brasileiros que já se veem como vitoriosos no pleito de 2026. Podem inclusive tentar um outro putch antes mesmo do calendário eleitoral. Se os nossos democratas não corrigirem as suas estratégias, é bem provável que isto venha a ocorrer. E por duas razões: pelo apoio internacional que a milicada golpista (me perdoem o pleonasmo) poderá ter, e pela cumplicidade da nossa fétida elite neocolonial.

Em paralelo à eleição de Trump, soubemos de novas revelações sobre a intentona golpista de 8 de janeiro. Os Kids Pretos – uma espécie de SS do exército brasileiro – tinham a incumbência de sequestrar o Alexandre de Moraes e o presidente recém-empossado. Muito provavelmente seriam assassinados, dado o histórico deplorável dos militares bananeiros. Recentemente, com uma nota de um cinismo atroz, afirmaram que o que houve em 8 de janeiro foram apenas atos isolados de indisciplina.

Então, nas mãos do Procurador-Geral da República, está a principal decisão a ser tomada, sem postergar mais: indiciar sem dó a cúpula golpista, para que o STF avance na punição dos arquitetos do plano. Se não o fizer, o caminho dos golpistas estará pavimentado. O mesmo se dará se o Congresso avançar em qualquer tipo de anistia para a canalha golpista.

Dentro de poucos meses o governo Trump vai mostrar as suas garras para nós. O tempo é curto para demarcar claramente o nosso território e a nossa soberania. Sabemos do que o Tio Sam é capaz.

Da nossa elite bananeira não há muito o que se esperar. Um de seus jornais teve a indecência de dar espaço para o líder golpista posar de defensor da democracia. Algo de dar náuseas em qualquer cidadão minimamente comprometido com uma sociedade democrática. Ademais, os “especialistas” da grande imprensa vivem apresentando argumentos “técnicos” para clamar por corte nos gastos sociais, altas nas taxas de juros pornográficas, pedem uma nova reforma da previdência e, agora, agem contra a redução da jornada de trabalho. Até o pseudo-liberais que se dizem capazes de comer de garfo e faca mostram a sua verdadeira face. O Instituto Libertas, do Partido Novo, divulgou vagas de trabalho sem remuneração. Enfim, essa é a nossa elite bananeira, neocolonial e neoescravocrata. Os argumentos que usam não diferem muitos daqueles usados no século XIX.

Pra bom entendedor: bancam qualquer coisa para manter os seus privilégios. Atuam para impedir a tributação para super-ricos (15 mil brasileiros!) e a taxação dos ganhos e dividendos pornográficos obtidos na ciranda financeira. Deixam claro que apoiarão o retorno do neofascismo ao poder, caso sejam contrariados. E sem qualquer pudor. Lamentarão apenas serem governados por uma figura chula, rasteira, enquanto bebem uma e outra taça de moet&chandon. Coisa que já fizeram e que são capazes de fazer novamente.

Bananas is my Business

 

O resultado eleitoral mais aguardado do ano, da eleição dos EUA, foi uma vitória esmagadora de Trump. Para os norte-americanos será uma era de inúmeros retrocessos. Com maioria nas duas casas legislativas, vai liquidar de vez com o agonizante modelo de democracia liberal  instaurado pela Revolução Americana.

Para os demais países do mundo as consequências são imprevisíveis. Neste momento, proliferam muitas especulações. Alguns analistas dizem que será uma gestão pragmática e mais protecionista. Resta saber o que se entende por esse “pragmatismo”. 

Putin, pelo que se diz, sempre preferiu Trump. Afinal, falam uma linguagem parecida. Um quer restaurar a Grande Rússia. O outro quer fazer a “América grande”  outra vez. Putin sabe que o grande adversário dos EUA é a China. Essa é que será a grande briga de cachorro grande. São grandes as chances da Ucrânia ser entregue à própria sorte. Já o apoio ao genocídio praticado pro Israel prosseguirá. Resta saber se continuará a despejar recursos até a “solução final” ou se optará por uma pausa, mantendo uma guerra de atrito menos dispendiosa.

Por outro lado, as garras do Tio Sam serão mais agressivas naquilo que ele considera o seu quintal. E é aí que entra o destino da maior República Bananeira do planeta. Mas já dá para especular que, para o Brasil, o cenário futuro é muito ruim. Assim como para toda a América Latina. Golpes à vista na Colômbia e Bolívia, risco de guerra civil e intervenção  na Venezuela, ações de desestabilização em diversos países (México que se cuide).

A língua solta de Lula já criou um problema de saída: declarou torcer por Kamala e chamou Trump de nazista. Isso não será esquecido pelo recém-eleito.

O nazifascismo brazuca está em polvorosa. Já estavam animados com os resultados anêmicos da esquerda nas eleições municipais. Sabem que, na hora de uma “escolha difícil”, o Centrão pula no barco deles. Agora contam que terão o apoio dos EUA  para seus intentos. Sonham com a anistia dos golpistas e que Elon Musk voltará a desafiar o Xandão, o único agente institucional que, de fato, impõe limites ao neofascismo. Os próximos dois anos serão tenebrosos.

Naquela encenação do Trump servindo hamburgers num McDonalds, a inclusão de uma brasileira no roteiro não foi aleatória. Vem chumbo grosso por aí. 

Lula é hábil o suficiente para negociar com o novo governo dos EUA. O problema é que, sem grande poder de barganha,  o preço cobrado será caro, muito caro. As concessões feitas aos democratas (veto à Venezuela no BRICS e a preferência por “sinergias” com a nova rota da seda) serão fichinhas perto do que será exigido. 

Diante disso tudo, o mundo democrático refaz agora a clássica pergunta: O que fazer?

Eleições municipais na Bananolândia:

Tudo (quase tudo) como dantes no quartel de abrantes” na nossa República das Bananas.

Tivemos análises para todos os gostos acerca das eleições municipais. Até os derrotados usaram a famosa “teoria da pilha” em suas avaliações (sempre tem um lado positivo…). Porém, na essência, pouca coisa mudou na república bananeira. Conforme o entendimento deste blog, o que caracteriza uma república das bananas é um tripé formado por uma elite dominante de corte agrário-exportadora, instituições militares anacrônicas e uma classe política patrimonialista-paroquial.  Analisando os resultados das urnas, vemos que essa hegemonia se manteve, com ligeiras variações. 

O grande vencedor foi o patrimonialismo paroquial, impulsionado pela ampliação do controle do Congresso sobre orçamento via emendas  PIX. Nada muito diferente do que sempre foi. Os velhos PMDB e PFL agora se diluem nas novas legendas fisiológicas do “Centrão” (PSD, União Brasil, Republicanos, etc). 

A extrema-direita, o neofascismo, fincou o pé em 30% do eleitorado, além de ter vencido em cidades importantes com candidatos bizarros (Cuiabá é um exemplo).  E colocou candidatos com desempenhos inacreditáveis no segundo turno, até mesmo em cidades que viveram tragédias por conta do negacionismo (Porto Alegre e Manaus). Uma nova e intrigante realidade que veio para ficar por um longo período.

Os partidos de esquerda poderiam comemorar um pequeno avanço numérico em número de vereadores e prefeituras. Só que tomou uma coça nas grandes cidades do país. Em Belo Horizonte, foi um fiasco histórico. Nas cidades maiores onde chegou ao segundo turno, ganhou apenas em Fortaleza, e por uma margem mínima.  No simbólico ABC, perdeu em todas, salvando apenas Mauá. No “novo ABC”, Resende e arredores, lugar em que as novas montadoras estão se instalando, não foi eleito um vereador de esquerda sequer.  Em Belém, o candidato à reeleição nem foi ao segundo turno, superado por um negacionista climático, logo na cidade que irá sediar a COP2025. Resta “comemorar” as vitórias das coligações “frente ampla”, que derrotaram os candidatos da extrema direita em algumas cidades grandes. Convenhamos, é pouco, muito pouco.

O mais preocupante, no entanto, é que vimos o fisiologismo e o neofascismo cacifarem muitos de seus nomes para a disputa do Senado em 2026. Se esse projeto for vitorioso, a governabilidade do próximo presidente ficará totalmente refém do que existe de pior na sociedade brasileira. Sem falar na ruína do sistema de “pesos e contrapesos”, caso o Senado tenha maioria para avançar na destituição de ministros do STF. Retrocessos gigantescos à vista. A vitória folgada de Trump, com o Elon Musk de cabo eleitoral, é um prenúncio de que poderemos voltar a viver situações dramáticas por aqui.

As candidaturas baseadas em “bandeiras identitárias” tiveram alguns avanços. Porém também demonstraram os limites deste tipo de estratégia política. Foram eleitos 231 dos 3.040 candidatos registrados no TSE como LGBTQIA+. Dos  27 trans eleitos num universo de 967 candidaturas, 19 foram eleitos por partidos de centro-direita e extrema-direita (PP, PL, União Brasil e Republicanos). 

Houve um ligeiro aumento entre as mulheres eleitas vereadoras e prefeitas,  que ocuparão cerca de 17% destes cargos eletivos. Só que 80% delas também por partidos de centro-direita ou extrema direita.

Cerca de 53% dos candidatos se declararam ao TSE como pretas ou pardas (56% da população do país segundo o IBGE), porém somam apenas 1/3 dos candidatos eleitos. A preferência partidária seguiu o mesmo padrão conservador dos demais grupos.

Ou seja,  fascismo pode obter hegemonia política nas representações de  LGBTQIS+, mulheres e negros, por mais esquizofênico que isso possa parecer.

A articulação de movimentos sociais, com as iniciativas recentes de construir redes de apoio para algumas candidaturas,  experimentou algum avanço. O MST elegeu 133 vereadores em 19 estados, dos quais 43 são militantes do próprio movimento. A articulação “Vote pelo Clima”, que começou nas eleições de 2020, elegeu 135 candidatos em 78 cidades brasileiras. E algumas dezenas de prefeitos e vereadores indígenas e quilombolas foram eleitos em pequenos municípios. Pode não ser muita coisa, mas é uma senda a ser mais e melhor explorada. Num universo de 58 mil vereadores e 5.600 municípios, ainda há muito espaço para avançar..

Por outro lado, centenas de líderes religiosos fundamentalistas e de militares de todas as forças conquistaram mandatos em todo o país. E tivemos ainda a novidade dos coaches– influencers e dezenas de médicos cloroquiners. E dúzias de prefeitos e vereadores armamentistas e/ou negacionistas climáticos. 

Porém teve algo de muito mais grave e temeroso nesta eleição: a consolidação do crime organizado nas disputas. Depois das milícias, o tráfico também entrou no jogo político e elegeu candidatos. Dinheiro sujo financiando campanhas, controle territorial de feudos eleitorais controlados pelo crime, coação de eleitores, assassinato de adversários e outras formas de violência política. Só em São Paulo foram 70 candidatos, sendo eleitos 10 vereadores e 2 prefeitos, segundo informações repassadas pelos órgãos de inteligência ao TRE. Em outros estados ocorreram fatos similares, com candidatos e eleitos com mandato de prisão em aberto, indicando que as leis em vigor têm sido pouco eficazes para impugnar candidaturas de criminosos. 

Enfim, as perspectivas continuam sombrias para a maior república bananeira do mundo. Aproveitemos a pausa que ganhamos para respirar e que não sabemos até quando vai durar.  Há que se buscar alternativas, e urgentemente.