Pizza de banana saindo!

Vai se confirmando mais uma vez a expressão que diz que, no Brasil,  tudo acaba em pizza No caso da nossa república, pizza de banana. E isso tem uma tem uma razão de ser. Os ingredientes desta pizza são periodicamente separados e preparados sem fazer alarde.

A classe dominante brasileira e seus asseclas, a elite econômica bananeira com seu DNA escravocrata, nunca irão aceitar que um projeto de nação inclusivo e soberano possa ter sucesso.  Se fez algumas concessões, se aceitou a libertação e eleição do Lula, foi porque a entrega do comando político do país a um fascista, apesar de útil , teve efeitos colaterais indesejáveis para a nossa elite colonial.  Além do risco de prejuízos financeiros, trouxe danos à imagem internacional dos farialimers, principalmente por terem apoiado o negacionismo ambiental escrachado do governo Bozo. Quando o humorista Henfil fez o filme “Tanga – Deu no New York Times”, ele apontou bem esse temor da burguesia brasileira: ela não suporta que as elites das metrópoles expressem o que pensam sobre elite colonial brazuca: uma turma endinheirada, porém tosca. O ego dessa turma se ressente.

Pode ser que o Bozo permaneça inelegível, talvez até seja condenado pelos crimes que cometeu – como um alerta aos fascistas –  mesmo que seguida de uma anistia negociada. Uma mis-en-scene, para avisar que, se insistirem em atacar a democracia, numa próxima oportunidade talvez, e põe talvez nisso, não sejam perdoados. 

No portal de receitas de uma grande multinacional da indústria alimentícia, há uma reveladora receita de pizza de banana. Os ingredientes e modo de preparo, se lidos pelo viés da ciência política, servem de metáfora do que está sendo assado no forno do poder. Após enfatizar o cuidado para garantir uma massa homogênea que “não grude nas mãos” do cozinheiro, finaliza a fornada com leite condensado…

O fato é que o bolsonarismo é útil, é funcional para elite econômica, uma arma que não querem abrir mão. Pode ser necessário acioná-la de novo. Por isso promovem aqueles que, minimamente, sabem algumas regras de etiqueta..

Um grande jornal dedicou três páginas inteiras para promover o governador neofascista de São Paulo; O telejornalismo abriu um generoso espaço ao governador hiper-neoliberal do RS, não para questioná-lo sobre suas omissões na prevenção da tragédia, mas para promovê-lo. A imprensa faz ressurgir das tumbas um ex-candidato à presidência que julgava-se politicamente morto (o “primeiro a ser comido”). E o STF, cansado de ser o único poder a pagar o alto preço de enfrentamento do fascismo, resolveu fazer concessões, libertando terroristas do 8 de janeiro e relaxando na punição aos lavajatistas. Paralelamente, Tribunais eleitorais decidiram passar pano para crimes eleitorais, com argumentos de que os crimes não interferiram decisivamente no resultado. Porteira aberta para beneficiar os de sempre. Tudo em nome de uma suposta pacificação e conciliação entre os poderes.

Enquanto isso, os militares, em silêncio tático, aproveitaram a tragédia gaúcha para tentar recompor a imagem pública arranhada  e esfolada pela tentativa de golpe.  Mas devem ter ficado felizes com a visita do seu superior hieráquico de coração: o Comando Militar do Sul dos EUA. A bordo de um super porta-aviões, uma General deu uma entrevista que parece ter saído do bizarro Projeto de Nação 2023-2035 dos “intelectuais” militares. Em entrevista a um jornal de economia, disse com todas as letras que cabe ao Brasil  “alimentar e abastecer o mundo com  a soja, o milho, o açúcar, o petróleo bruto pesado, o petróleo bruto leve, as terras raras, o lítio, a Amazônia”  . Ou seja, um papel periférico numa ordem neocolonial. Música para os ouvidos dos nossos militares bananeiros. No íntimo, devem ter tido sonhos e delírios com uma nova operação “Brother Sam”.

Com ou sem Trump, um novo golpe ainda nos ameaça

Atenção: postagem escrita antes da catástrofe climática que atingiu o sul do nosso país.

Na postagem anterior dissemos que uma provável eleição de Trump dará um novo ânimo ao golpismo na nossa república bananeira. Aliás, os neofascistas brazucas estão apostando todas as suas fichas nessa via. Com a desmoralização temporária dos militares que, de trapalhada em trapalhada, perderam temporariamente o seu protagonismo para afiançar um golpe, os golpistas civis arregaçaram as mangas e foram em busca do apoio internacional que lhes faltou. Para isso, contam com uma rede articulada de líderes e grupos de extrema-direita espalhados pelo mundo.
Buscam um apoio que não tiveram para violentar os resultados das últimas eleições presidenciais. Pelo contrário, a quartelada recebeu uma mensagem explícita de veto do Departamento de Estado dos EUA . E esse foi o fator decisivo para desarticular o golpe. A tal ponto que Biden chegou a cobrar de Lula demonstrações de gratidão por essa ajuda, na forma de alinhamento a posições norte-americanas no plano multilateral.
Mês passado o Comitê Judiciário da Câmara dos Representantes dos EUA,  controlado pelo Partido Republicano, divulgou o relatório  “O ataque à liberdade de expressão no exterior e o silêncio do governo Biden: o caso do Brasil”. Em suma, em plena sintonia com os ataques recentes do bilionário trumpista Elon Musk ao STF. No momento, o relatório é uma peça inócua, que faz muito barulho por nada, a não ser servir de apito de cachorro para uma matilha raivosa. Porém, no caso de uma eleição do Trump, poderemos ter ração de sobra para alimentar as bestas golpistas.
Isso não quer dizer que uma vitória dos democratas vá melhorar o cenário para a democracia brasileira. Com a ameaça trumpista afastada por quatro anos, a desestabilização do elo mais fraco do BRICS poderá ganhar um novo impulso. O que está em jogo é a resistência do Império diante das ameaças à sua hegemonia. E um projeto de nação soberana num país gigante como o Brasil será, mais cedo ou mais tarde, sabotado.
As tempestades estão anunciadas. Resta saber se virão na forma de fortes tormentas tropicais ou de furacões catastróficos.Tempos difíceis virão, em qualquer caso. Se alguém tem alguma dúvida, sugerimos a leitura do recente relatório do Centro de Estudios Geopolíticos Multidisciplinarios-CEGM: América Latina en el ojo de la tormenta – La posible victoria de Estados Unidos y la recolonización de América Latina (Plan Simón Bolívar). Tio Sam segue de olho no controle daquilo que ele acha que é o seu quintal.
O que resta ao Brasil, então? Nossas lideranças políticas devem usar da sabedoria de Maquiavel, atuando com virtú diante do contexto que a fortuna nos oferece ou não. E isso nunca é fácil. Os dados estão sempre rolando nesse jogo da política. As regras limitam as chances de vitória. Porém sempre existe a possibilidade de obter alguns ganhos ou minimizar as perdas.
A milicada bananeira observa a janela de oportunidade para voltar à cena. Cinicamente, lutam para vincular o orçamento de defesa a um percentual mínimo de 2% do PIB. Um de seus líderes ditos “legalistas”, no afã de defender a bufunfa pra caserna, 85% destinada  ao custeio de pessoal, demonstrou a mediocridade castrense. Afirmou que as FFAA fazem mais entregas que as universidades. E soltou a seguinte pérola: “Grama cortada, quartel limpo, arrumado. Vamos entrar em uma universidade qualquer para ver como está, em termos de manutenção, e ver quanto se gasta para manter um quartel e quanto se gasta para manter uma universidade.” É a esse tipo de pensamento que a nossa defesa territorial está sujeita…
Triste sina de República das Bananas!
O Comandante da Marinha se refere à “Revolta da Chibata” como ato de delinquentes; crescem as articulações para uma anistia aos golpistas da intentona do 8 de janeiro de 2023; de forma articulada, a mídia hegemônica propugna por um “bolsonarismo moderado”. Enquanto isso, uma bancada de deputados golpistas viajam para pedir ao Congresso dos EUA sanções econômicas contra o Brasil. Em resumo: a elite econômica brasileira, sem qualquer projeto de nação, depois de tudo que passamos, reafirma a sua bananice. Temos um imenso passado pela frente, como disse o saudoso humorista.
A catástrofe climática que atingiu o RS está retratando como nunca o DNA bananeiro das nossas elites, agora turbinada pela produção industrial de fake news.  Mas isso é assunto para a próxima postagem.