Enquanto TRUMP não vem….

Este blog se manteve em silêncio nos últimos meses. Muita coisa aconteceu, mas foi sempre mais do mesmo do que vínhamos publicando aqui desde o início. Não quisemos ser por demais repetitivos. Desde o início deste blog falamos que o golpismo militar é uma doença crônica do Brasil, o que nos faz a maior república bananeira do planeta. Avisamos que um golpe seria tentado e alertamos para o risco de ações (para)militares terroristas. Para quem nos via como simplórios adeptos de teorias conspiratórias, o tempo nos deu razão.

Fracassada a intentona golpista, o que vimos nos últimos meses foram as FFAA golpistas negociando impunidade e manutenção do seu status quo até a próxima oportunidade de dar uma quartelada. Tudo com a mediação pública de um ministro fantoche, para evitar expor as fardas sujas e manchadas.

As revelações da PF sobre a investigação da intentona de 8 de janeiro, a partir dos áudios e vídeos deixados incólumes pela imprudência do ajudante de ordens da presidência, nos permitiu chegarmos a algumas conclusões:

1- A quase totalidade dos militares estava disposta a bancar um golpe. A  pressão do Departamento de Estado dos EUA, a quem prestam obediência, jogou um balde de água fria no projeto golpista. Parte majoritária do alto comando das FFAA avaliou que seria uma aventura com grande risco de fracassar. Muito a contragosto, porém obedientes e resignados, decidiram não levar a quartelada adiante. Porém um grupo de golpistas convictos não se submeteu às ordens superiores e seguiu agindo em paralelo. Outros assumiram uma posição cômoda, colaborando com os preparativos de sedição num estilo low-profile, torcendo pra dar certo, mas não se envolvendo abertamente, a fim de se preservarem em caso de fiasco.Se desse certo, estariam dentro; se desse errado, diriam cinicamente não ter nada a ver com isso (como de fato fizeram). Estes são os supostos “legalistas”, que não agiram para frear o golpismo. Deixaram os subalternos se articularem livremente, fizeram vista grossa, se omitiram vergonhosamente. Se o golpe vingasse, mesmo com vida curta em razão de seu isolamento internacional, os tais “legalistas” entrariam em cena como os pseudorestauradores da ordem democrática. Mas só após terem afastado do poder todos os adversários inconvenientes. Talvez este fosse até mesmo o Plano B dos golpistas, Fracassada a intentona, o alto comando agiu para abafar o caso e garantir a impunidade de seus pares, seus “irmãos por escolha”, no bom e velho corporativismo da caserna. Sempre com a velha e esfarrapada desculpa de preservar a instituição militar.

2 – O que não estava nos planos foi o descuido do ajudante de ordens da presidência, que permitiu a descoberta da trama e expôs os dissensos entre os generais e alto oficiais A revelação das conversas dos golpistas escancarou uma ferida grave no meio militar: o veneno da insubordinação. Chamar um “irmão” de “cagão”, foi além dos limites toleráveis. Sem respeito à hierarquia e à disciplina, a instituição militar desaba. E isso abriu uma brecha para a punição de alguns golpistas mais empedernidos. Agora os comandantes  já  aceitam a punição individual de alguns oficiais, que serão entregues à própria sorte. Afinal, alguém terá que pagar o pato. Que não se espere uma punição dura e abrangente. Mas alguma penalização haverá, o que não deixa de ser alguma coisa. Em troca, parece que foram muitas as negociações de bastidores para frear a execração pública dos militares: Comissão da verdade enterrada, nada de ordens do dia em 31 de março, nenhum ato oficial em defesa da democracia. E não perderão uma oportunidade de anistiar os envolvidos, em nome de uma “pacificação nacional”.

3 – Dessa forma, o “coração golpista” das instituições militares seguirá vivo, ainda que momentaneamente recolhido, na defensiva. Porém o golpismo continuará a ser uma sombra a nos ameaçar, com as academias militares despejando centenas de “golpistas do amanhã” a cada ano. A maior república das bananas do globo ganha tempo para a sanha golpista recuperar o seu fôlego.  A sociedade política demonstra ser incapaz, além  de covarde, para enfrentar a chantagem militar. E a sociedade civil, fragilizada, tampouco é capaz de reagir à altura. Nossa sina de permanecermos como a maior república das bananas do planeta segue intacta.

4 – O respeito à hierarquia, no caso a externa, a submissão ao comando militar do sul dos EUA, provocou uma cisão nas FFAA. E o golpe  só não ocorreu não pela intervenção de “legalistas” mas, como disse um golpista descaradamente, pela inação de generais “cagões”. É certo que, se tivesse sido implementado, a quartelada bananeira não teria vida longa. Mas provavelmente causaria prisões e assassinatos de autoridades e lideranças populares, com alto risco de derramamento de sangue pelas ruas, numa violência provavelmente terceirizada para os CACs. Esse era o projeto por trás da liberação desenfreada das armas e munições, que ninguém se engane quanto a isso.

5- Neste cenário, chega a ser patético e risível a atenção dada à decisão do STF que “esclarece” que o artigo 142 da Constituição não permite que os militares interfiram no poder civil. Tudo não passa de mais um ato do teatro de conciliação com a milicada golpista.Alguns poderão argumentar que esta decisão tem um significado simbólico e outros bla-bla-blás. Como se nas repúblicas bananeiras o ato de rasgar e pisotear a Constituição não fosse a primeira ação das quarteladas.

6 – Como o fascismo segue vivo e atuante, com alguns de seus líderes consagrados com votações expressivas, o risco de novas conspirações não está descartado. Que os órgãos de inteligência acompanhem de perto possíveis ações terroristas organizadas por oficiais militares ou paramilitares dos CACs. Aliás, um oficial tinha um verdadeiro paiol em casa, que explodiu acidentalmente. Não é difícil imaginar com que intenções ele mantinha esse armamento. E certamente existem  outros paióis espalhados pelo país. Prova disso é que outro “cidadão do bem”, defensor da família tradicional, após matar a amante foi descoberto com 80 armas e mais de 16 mil munições em casa. Que ninguém se iluda: esses episódios revelam apenas a ponta do iceberg.

7 – Enquanto isso, o Governo Lula segue sitiado e sabotado pela oposição, com sérias dificuldades de implementar mudanças que provoquem algum impacto relevante no cotidiano dos cidadãos brasileiros, seja no curto ou médio prazo. O Presidente, cujo carisma nos salvou da tragédia que seria a reeleição do inominável, vê a sua popularidade ser lentamente corroída.

8 – Uma provável vitória de Trump poderá ser o estopim de uma nova ofensiva golpista. Resta, pois, pouquíssimo tempo para desarmar as inúmeras minas espalhadas pelo caminho pelos fascistas nos quatro anos sob domínio do capetão.

Para finalizar

  • A intentona golpista recebeu o apelido de “golpe tabajara”. De fato, houve trapalhadas inacreditáveis. Mas sejamos francos: o golpe só não se consumou por detalhes. E a investigação da PF só revelou a trama por conta do descuido do Mauro Cid, que relaxou por estar muito seguro do sucesso da empreitada. O buraco em que estamos metidos, que nos condena ao republicanismo bananeiro, é muito mais profundo do que se supõe.
  •  A marionete da caserna que ocupa o cargo de Ministro da Defesa proferiu uma atrocidade: afirmou que os militares impediram o golpe de 2024. Se foram os artífices do golpe de 1964, estariam agora assim redimidos, com a história da ditadura militar podendo ser enterrada e esquecida. Triste papel para um Ministro de Estado.

BANANAS EM DISPUTA

O Equador parece que deseja tirar do Brasil o status de maior república bananeira do mundo. Acaba de eleger para a presidência um grande empresário exportador de bananas. Apesar da piada pronta, o Brasil segue na dianteira, e com folga.

Muita gente recusa a ideia, se ofende ou trata com desdém o mote deste blogue, que afirma que o Brasil é a maior república das bananas do planeta. Afinal, nosso país possui muitas áreas de excelência que nos enchem de orgulho. Temos o domínio da tecnologia aeronáutica, da exploração de petróleo em águas profundas, do desenvolvimento de vacinas e fármacos, de serviços bancários modernos como o Pix, sem falar da imensa riqueza da nossa diversidade cultural, entre muitas outras virtudes. O que acontece é que o senso comum associa a ideia de “república das bananas” a um estágio de subdesenvolvimento colonial, a um certo arcaísmo simplório. Porém, o que caracteriza de fato a “bananidade” é outra coisa: é o papel desempenhado pelos atores políticos hegemônicos num país, a qualquer tempo: a elite agrário-extrativista-exportadora, os militares que insistem num papel tutelar sob o poder civil, uma classe política patrimonialista e paroquial  sem qualquer compromisso programático com o desenvolvimento soberano de um país. No Brasil,  em tempos recentes isso foi sintetizado no trinômio “boi, bala e bíblia” (existiriam ainda outros “b” – de bancos, de brancos – que são transversais a essa tríade). E tudo isso pode conviver tranquilamente com uma modernidade tecnológica em diferentes campos.

No primeiro dia do julgamento dos primeiros acusados pela intentona de 8 de janeiro de 2023, uma coisa ficou clara: ainda estamos muito longe de deixarmos de ser uma típica “república bananeira”.

O subprocurador-Geral da República afirmou na abertura dos trabalhos: “- É importante registrar também que o Brasil há muito deixou de ser uma República das Bananas, e hoje goza de prestígio Internacional nas grandes democracias. Golpe de estado é página virada na nossa história“, disse ele.

Infelizmente, isso é uma meia verdade. A imagem internacional do Brasil foi seriamente abalada e ainda vai demorar muito para se restaurar. Se algum prestígio foi recuperado, isso se deve somente à habilidade e ao carisma do Presidente Lula. O espectro do golpismo permanece latente. Porque a nossa democracia se mostrou extremamente frágil e permitiu a consagração de um neofascista tosco, que não se reelegeu por uma margem muito pequena, mesmo após um governo desastroso. O mundo civilizado nos olha com certo alívio, mas sabe que retrocessos não estão fora do horizonte.

Iniciado o julgamento, o Ministro relator, a quem reconhecemos o mérito de ter enfrentado corajosamente o golpismo, também deu a sua “patinada” em relação aos militares: “– O fato de eventuais militares terem participado de ações golpistas e estarem sendo investigados não macula uma verdade histórica, que deve ser proclamada: o Exército brasileiro não aderiu a esse devaneio golpista de vários, inclusive políticos que estão sendo investigados”, disse o relator.

Ora, as digitais dos militares estão por todo lado. É óbvio que tramaram e executaram uma ação clandestina visando o golpe. Nas publicações anteriores já comentamos exaustivamente sobre isso. A fala do relator deixa claro que a impunidade dos militares foi negociada nos bastidores. Ao que parece, serão imolados apenas os “patriotários”, pessoas com profundas limitações cognitivas que se prestaram a massa de manobra de uma casta neofascista, porém esperta. Serão punidos também alguns bodes expiatórios fardados que ficaram numa situação indefensável e, talvez, poucos políticos do baixo clero e financiadores dos atos também serão chamados a pagar o pato. Uma anistia num futuro breve provavelmente os espera, em nome da “união nacional”. Os grandes mentores da intentona golpista provavelmente escaparão ilesos ou sofrerão punições simbólicas. Resta saber o destino do ex-presidente. Se será punido severamente ou se será apenas vitimizado para servir de mártir e manter acesa a causa golpista. Infelizmente, é a segunda opção que se desenha.

Enquanto o julgamento decorria, na casa legislativa ao lado, com ampla margem de votos,  era aprovado um novo regulamento para as disputas eleitorais, abrindo a porteira para todo tipo de fraude e manipulação do processo eleitoral.  O Senado adiou a iniciativa, mas o fato demonstra que a república bananeira não descansa em serviço.

Ou seja, “tudo como dantes no quartel de abrantes”.  Ou, tudo na mesma pasmaceira na república bananeira. As condições que nos mantêm atrelados ao passado seguirão intactas, ao que tudo indica. O governo segue sitiado, com a política econômica submissa ao aval dos Faria Limers, enquanto tenta emplacar programas sociais compensatórios. Nada de mudanças estruturais.

Difícil a situação do Brasil. Enquanto não reconhecermos e aceitarmos o fato de que somos uma república bananeira, não sairemos desse lodo no qual estamos atolados, não iremos superar essa nossa triste situação.

A psiquiatra Kubler-Ross concebeu uma teoria do luto em que a superação de algo doloroso passava pela vivência de cinco estágios emocionais, não necessariamente sequenciais: negação – raiva – negociação – depressão – aceitação.  Comportamentos facilmente identificáveis em que se envolve no embate político. Reconhecer uma realidade desagradável é a última etapa para poder superá-la.

Como já dissemos, é preciso desbanananificar o Brasil. O desafio é descobrir como fazer isso.

SINAL AMARELO

SINAL AMARELO

Numa república bananeira – e nós somos a maior do mundo –  sempre que uma liderança minimamente progressista é eleita, ela tem que governar em permanente estado de sítio. Para se manter no poder e implementar algumas políticas públicas de seu programa de governo, há que se fazer inúmeras e frequentes concessões. Há sempre uma linha vermelha que, se ultrapassada, dá início a articulações golpistas e/ou sabotagens externas. Historicamente sempre foi assim.

A decisão judicial que absolveu Dilma das acusações que a removeram da Presidência provocou uma resposta imediata da elite bananeira. Em menos de 24 horas os editoriais dos maiores jornais do país, redigidos às pressas, transbordando bílis, refutaram veementemente a  ilegalidade do impeachment. Foi o recado das elites:”-Demos um golpe sim, e daremos de novo se o consideramos conveniente para os nossos interesses”. Este é o claro subtexto dos editoriais. O recado-ameaça da nossa elite golpista.

Já sabemos que uma tentativa de golpe militar foi tramada para o 8 de janeiro passado. Uma golpe em que todo o cuidado foi tomado para que não aparecessem as digitais dos comandantes militares. Conforme as investigações avançam, mais isso fica claro. Ao que tudo indica, era uma operação dos Destacamentos Operacionais de Forças Especiais (DOFEsp), treinados para atuar em cenários de conflitos políticos internos, que envolveram os chamados “Kids pretos”. Difícil de acreditar que os generais desconheciam essa movimentação.

Aparentemente, eles tinham a certeza de que, diante do caos produzido,  seria criada uma situação que exigiria a convocação dos militares para uma operação de Garantia da Lei e da Ordem – GLO. Com a faca e o queijo na mão, eles poderiam quebrar resistências internas, tomar o controle do país e ainda teriam argumentos para se defender da acusação de golpismo perante o mundo. Graças a lucidez de Lula e Dino, que não morderam a isca, o plano golpista gorou. Os detalhes dessa trama só conheceremos daqui a alguns anos, provavelmente.

Pra nossa sorte, mais uma vez a bomba explodiu no colo dos militares. E enquanto vai sendo revelada uma quantidade imensa de cuecas verde-oliva manchadas de batom, os comandantes militares se empenham numa “operação abafa”, com direito a chantagens de todo tipo. Terão que sacrificar alguns anéis para preservarem os dedos. Para eles bastará preservar o status quo da instituição FFAA e da alta oficialidade, ainda que com uma reputação um tanto esfolada e a moral esfarrapada.

Dessa forma, o golpismo da milicada bananeira prosseguirá vivo, à espera de uma nova oportunidade para emergir.

O problema maior é que há uma perigosa tempestade em formação. Ela vem de fora e o tempo é muito curto para se preparar para ela.

Não podemos analisar a situação do Brasil sem observar o contexto geopolítico em que estamos inseridos, o da resistência dos EUA em ceder espaços de seu domínio imperial. O protagonismo de Lula está assumindo em relação ao BRICS – explorando as oportunidades que a  “geometria variável” oferece para obter vantagens econômicas para o Brasil – talvez tenha um preço caro a ser pago num futuro próximo.

Sabemos que o Império norteamericano sempre considerou a América Latina como um quintal deles. Há um longo histórico de intervenções armadas, golpes patrocinados e assassinatos de lideranças políticas no continente. Com o acirramento das disputas com a China e a Rússia, eles não tardarão em colocar as suas garras à mostra novamente. Ainda mais com o cenário de uma guerra mundial que se delineia, que talvez se constitua numa soma de conflitos regionais (Ucrânia, países do Sahel, Oriente Médio, Pacífico sul e outros potenciais cenários explosivos), já que um conflito direto entre as superpotências nucleares aniquilaria a humanidade.

Se Trump tivesse sido reeleito, talvez nossas eleições tivessem tido um outro desfecho. Fomos momentaneamente poupados por uma conjuntura política nos EUA extremamente fugaz. Os Democratas – os mesmos que implementaram a espionagem e a guerra híbrida contra o governo Dilma – mandaram um recado para as nossas elites e seus serviçais armados de que não dariam apoio a um golpe. Não interessava a eles ter um aliado de Trump por aqui nesse momento. Tanto que cobraram “gratidão” do governo Lula por esse gesto, pois esperavam um alinhamento automático e submisso na condenação da invasão russa.

Passadas as eleições norte-americanas, seja qual for o seu resultado, a opção em aprofundar as relações com o BRICS nos colocará novamente na alça de mira do Tio Sam. A desdolarização do comércio internacional é uma pedra no sapato dos EUA e ameaça seriamente a sua já abalada hegemonia.

A embaixadora dos EUA no Brasil, com a dubiedade típica da linguagem diplomática, deixou mais um recado. Ou seria uma ameaça? Até o ex-presidente francês Sarkozy, em seu livro de memórias, revelou o que os incautos fingem ignorar: Os EUA jamais permitirão que a nossa soberania ameaçe a hegemonia econômica deles. Para a nossa elite bananeira e seus generais sabulos, lamber as botas do Tio Sam não causa espécie.

Para piorar a situação, há um risco elevadíssimo de vitória da extrema-direita na Argentina, seja com a ultraliberal Bullrich, seja com Milei (um fascista alucinado). Nosso potencial aliado caminha para se tornar um vizinho indigesto. E, onde estão sendo eleitas lideranças progressistas (Guatemala, Honduras, Colômbia, talvez o Equador) o cerco aos governantes é contínuo. A guerra híbrida é permanente.

Não somos uma potência, nem econômica, nem militar. Nosso único trunfo é a gestão da Amazônia, peça fundamental da questão climática que hoje se tornou uma emergência global. Graças a estupidez da nossa elite predadora e seus guardiões militares, que deram provas fartas de incompetência para gerir esse território estratégico, herdamos esse ativo. É preciso usá-lo com sabedoria.

A derrota eleitoral do fascismo no Brasil tem um alfa e um ômega: chama-se Lula. Dificilmente ela teria ocorrido sem a liderança dele. A capacidade de mobilização das nossas esquerdas continua a dar sinais de debilidade, a ponto do próprio Lula reclamar publicamente da falta desse suporte. Mais do que ninguém, ele sabe o quanto isso é vital para a governabilidade.

Enfim, essa situação de Lulodependência é pra lá de preocupante. É difícil esquecer o destino que tiveram Jaime Roldós Aguilera, Omar Torrijos, Samora Machel. Sabemos muito bem que o Tio Sam nunca teve e nunca terá quaisquer escrúpulos.

O tempo é curto. Ou a sociedade brasileira é capaz de se articular e mobilizar a população ou, como vaticina o título de um romance, “não veremos país nenhum”.

É preciso desbananificar o Brasil urgentemente. As próximas publicações deste blog terão a pretensão de contribuir humildemente neste sentido.

É livre a reprodução, parcial ou integral, nos termos da licença CC BY-SA 

Banana, bananeira, República Brasileira…

Seria engraçado, se não fosse trágico. Enquanto as investigações da Polícia Federal e da CPMI sobre a intentona golpista do 8 de janeiro revelam que sobra batom nas cuecas,nas fardas, nos quepes, botinas e gandolas dos militares, há todo um esforço para que eles escapem impunes (os generais, em especial). Pelo que se vê, planeja-se sacrificar alguns oficiais como “bodes expiatórios”. Tanto a relatora quanto o presidente da CPMI deram declarações recentes que isentam de responsabilidades as Forças Armadas e seus generais, denotando que há um movimento para que os crimes sejam tratados como atos individuais, totalmente desvinculados das corporações militares e das suas cadeias de comando. Pizza com massa verde-oliva.
Já o Ministro da Defesa, que deveria personificar o controle civil sobre a caserna,  se comporta como um porta-voz dos comandantes militares – em tese seus subordinados – e tenta emplacar versões nada factíveis sobre os acontecimentos. Como um Nero que toca lira enquanto Roma arde em chamas, o ministro grava um álbum de canções românticas e divulga o seu lançamento nas redes de streaming em plena crise de credibilidade da caserna.
A cada nova revelação das investigações sobre o 8 de janeiro, fica mais do que evidente que havia uma ação coordenada de militares, e de natureza clandestina. Isso porque as instituições militares não poderiam assumir diretamente a conspiração, seja por falta de consenso interno dos comandantes, seja pelo temor de se exporem às consequências de um isolamento internacional. Mesmo com sólidas evidências, a investigação sobre a ação dos “kids pretos” nos atos na Esplanada e na sabotagem das torres de transmissão segue abafada (desconfia-se até do “apagão” de 15 de agosto, o que seria bem mais grave).
O momento atual, portanto, era mais do que propício para se discutir uma ampla reformulação das Forças Armadas, principalmente no que diz respeito à formação de seus quadros. Porém, enquanto a percepção pública da reputação e confiabilidade das instituições militares segue ladeira abaixo, nenhuma iniciativa nesse sentido é ventilada nem pelo Executivo, nem pelo Legislativo, nem pelo Judiciário. Pelo contrário, só testemunhamos declarações meramente protocolares dos porta-vozes oficiais  após cada reunião com os comandantes militares. Invariavelmente, todos dizem que os militares estão totalmente comprometidos com a legalidade democrática, com a despolitização das Forças Armadas e afirmam haver confiança mútua entre o governo eleito e o alto comando.
Quem, em sã consciência, acredita nisso?
Nessa omissão dos poderes constituídos, os militares apresentaram o seu próprio plano: a criação de uma associação nacional de ”Amigos do Exército”, com capilaridade em todo o território nacional. Entre as finalidades desta associação estariam a defesa da reputação do Exército e dos privilégios da “família militar”. Só que, pelos antecedentes recentes, essas associações têm um grande potencial para se converterem em células golpistas, quiçá terroristas, espalhadas por todo o país.
Coincidentemente – ou não – circula entre os militares a proposta de subordinar todas as tropas especializadas (operações especiais, artilharia, defesa cibernética e comunicação) a um único comandante (um general 4 estrelas). Pode ser apenas um “boi na sala”, parte de uma provocação, mais uma chantagem para tentar inibir punições mais abrangentes entre os militares. Seja como for, os propósitos golpistas da proposta saltam aos olhos.
O problema é que há um temor imenso de desagradar os militares. Um temor em parte compreensível, já que, conforme os trabalhos da CPMI vem demonstrando, eles são capazes de patrocinar o caos  para preservar o poder, privilégios corporativos e a impunidade para os seus. Sob uma retórica patriótica exaltada, decorada nas academias militares e sabidamente salpicado de hipocrisias, os militares chantageiam com o poder que possuem de comandar tropas armadas. E parece que ninguém quer pagar pra ver, pois vivemos num momento em que a seita bolsonarista ainda respira. A opção do governo parece ser fritar lentamente o ex-presidente para que seus seguidores mais fanatizados, finalmente envergonhados, retornem cabisbaixos para dentro do armário. Em paralelo, apostam na recuperação da economia para consolidar um vigoroso apoio popular ao governo. Aí, talvez, quem sabe, se não chover, nem coincidir com uma conjuntura astral de Mercúrio retrógrado, pode ser tentado algo mais contundente para enquadrar os militares.
É uma escolha cautelosa do governo, compreensível e, até certo ponto, justificável. Só que o preço desta escolha poderá ser muito alto para a nossa frágil democracia num futuro próximo.
Numa república democrática, as  instituições permanentes devem ser íntegras e inspirarem respeito. Se no Brasil atual a reputação dos militares se chafurda na lama, é unicamente por obra e graça deles mesmos, mera consequência de suas ações pregressas. No passado, ao invés de extirpar um câncer de seu corpo, os militares foram condescendentes com a própria doença. O tumor bolsonarista cresceu livremente e contaminou toda a corporação.  É hora deles submeterem-se a uma dura e sofrida quimioterapia. Pelo bem do da nação.
Os militares brasileiros precisam compreender isso. Mas não parecem ter ouvidos para tanto, pois são vítimas de uma dissonância cognitiva que só lhes permite enxergar uma “realidade imaginada” por eles próprios. Então há que se berrar, gritar, bradar isso aos quatro ventos. Ou o roteiro golpista se repetirá mais cedo ou mais tarde.
O Brasil precisa de Forças Armadas à altura da nossa posição no mundo. Profissionalizada, tecnologicamente equipada e capacitada, voltada primordialmente à sua missão institucional de proteger o nosso território. Não podemos mais viver sob o espectro de um golpismo latente.
O cientista político Robert Dahl, em sua clássica obra “Poliarquia”, nos ensinou que qualquer forma de democracia liberal só seria viável se fossem respeitados alguns axiomas.  Basicamente, a de que o custo político de uma ruptura democrática deveria ser o mais alto possível, pois somente assim poderia ser inibida a ação dos adversários da democracia. E isso inclui, obviamente, manter os militares sob controle, totalmente subordinados ao poder civil.
Diante da prudência dos poderes constituídos, cabe à sociedade civil, progressista e organizada, contribuir para elevar ao máximo o custo político para os  militares golpistas. Não bastam os muitos livros e artigos acadêmicos tratando dessa questão, nem as matérias na blogosfera alternativa, nem os ácidos programas de humor.  É preciso desencadear, de forma articulada, uma ampla campanha para colocar em pauta o fim da tutela militar no Brasil. O que falta para isso?

É livre a reprodução, parcial ou integral, nos termos da licença CC BY-SA 

Na maior república bananeira do mundo, o terrorismo militar é sempre uma ameaça viva

Conforme avançam as investigações e revelações sobre a intentona fascista de 8 de janeiro, fica cada vez mais evidente o DNA golpista e bananeiro dos militares brasileiros.

A história do golpismo militar no Brasil é um inventário de ações clandestinas e dissimuladas dos militares. Felizmente, os planos mais sanguinários da caserna fracassaram .Por isso que até alguns ateus, em certas horas, suspeitam que Deus existe e é brasileiro. Por obra do acaso, ou de “Deus”, o certo é que os executores falharam na execução do crime insano. Se houve alguma intervenção divina, ela deve ter sido o ato de abençoar os nossos militares fascistas com uma suma incompetência; a mesma que os fizeram fracassar nos planos de explosão do Gasômetro,  do show no Riocentro e, recentemente, da explosão do Aeroporto de Brasília, que poderia ter sido uma tragédia com inumeráveis vítimas .

Já se sabe que boa parte das ações do 8 de janeiro foram executadas pelos chamados “kids pretos”, as forças especiais para ações camufladas do exército. E eles não agem sem comando.  Paralelamente incitaram e mobilizaram setores civis fanatizados, para ocultar de onde partem as ordens e ocultar o protagonismo da caserna. E isso eles fizeram muito bem. Usar e manipular dementes civis para viabilizar as suas operações dissimuladas não é algo novo. Fazem isso desde os anos 60. Como fizeram no famigerado caso do  “grupo secreto”, que já foi objeto de publicação aqui . Ou como no caso dos atentados do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) em 1968 e da Aliança Anticomunista Brasileira (AAB) em 1976. Hoje a sigla que responde pelos trabalhos sujos é outra: seus integrantes são membros dos CACs – clubes de tiro para Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores. Uma rede paramilitar que se constituiu nos últimos quatro anos com a completa cumplicidade das FFAA (quem sabe, até como parte de um projeto interno e sigiloso das mesmas).

O atual ministro da defesa, que ao invés de Chefe se comporta como serviçal dos golpistas bananeiros, se apressou em dizer que os militares não queriam um golpe, que eles não tiveram qualquer participação no acontecido. Triste papel para um ministro de estado, ainda que isso revele muito do caráter e das intenções dos militares. Golpistas, sonham com uma mudança no cenário internacional para colocarem novamente as suas manguinhas de fora. Recuaram, mas não desistiram.

Por mais que saltem aos olhos a participação dos que foram os comandantes da trama golpista, as provas contundentes não aparecem.  Os oficiais flagrados se mostram dispostos a serem imolados e não revelar o que sabem. E isso não ocorre por acaso.  Foram adestrados para isso desde o primeiro dia na Academia Militar. É o que se pode comprovar num recente filme, disponível num canal de streaming,  sobre a (de)formação dos militares na AMAN . Um documentário produzido por encomenda intitulado “Irmãos por escolha”,cujo subtítulo é “nenhum de nós é tão forte quanto todos nós juntos”.

Cinematograficamente, o filme é uma nulidade. Quem suportar assisti-lo além dos 20 minutos iniciais – pois o filme é sonolento e entediante – vai compreender melhor o comportamento golpista dos nossos militares bananeiros. O documentário ilustra bem o que um humorista recentemente chamou de “fábrica de bolsonaros” (a AMAN).

Para poupar os leitores do desprazer de ver essa josta, façamos aqui uma brevíssima resenha do filme,  que documenta cada ano da dita “formação” dos militares.

O filme documenta uma sequência de treinamentos que levam os cadetes ao limite da exaustão, enquanto os instrutores incutem crenças e valores de “superação”, louvam o fato de que eles abdicaram do conforto da vida civil para estarem ali, que contam com  o apoio orgulhoso da família do lado de fora, desfiam um rosário de clichês patrióticos. Usam as técnicas de persuasão coercitiva pra lá de manjadas. Nos treinamentos os cadetes são expostos a atividades físicas extenuantes durante dias de privação de sono, fome, frio e calor intensos em ambientes inóspitos, que os conduzem a um estado de exaustão física e psicológica extrema. Induzidos a uma situação propícia à confusão sensorial, se expressam com brados, cânticos de guerra, orações, hinos anacrônicos, enquanto ouvem  mensagens motivacionais dos instrutores com ênfase no espírito de grupo e na criação de “laços inquebrantáveis” entre eles. Em um certo momento, um cadete diz: “-É a união que não deixa a gente ficar maluco”.

Tudo aquilo que, no jargão popular, é chamado de “lavagem cerebral”. Enfim, nada muito diferente do que é a formação de combatentes em qualquer exército do  mundo.  

Esse adestramento é sólido e deixa marcas profundas. Porém, no Brasil, o espírito de corpo vai além dos limites do razoável. Recente matéria jornalística revelou que até mesmo para os oficiais expulsos das FFAA por crimes comuns (tráfico de drogas, estupro, assassinato, roubo, estelionato, etc.) uma pensão vitalícia é garantida às suas famílias.   São os tais “laços inquebrantáveis” criados entre eles. Se não abandonam bandidos comuns, também não o farão com golpistas e terroristas. A raiz da impunidade nasce no adestramento das academias militares. Não foi por desleixo que o tenente que queria explodir bombas no quartel foi perdoado e protagonizou o período mais desastroso da república brasileira desde o fim da ditadura militar de 1964.

Essa de-formação militar não seria algo tão grave se eles não fossem induzidos a intervir na vida civil como um poder moderador. E é aí que reside o maior silêncio do filme: praticamente nada é dito da formação intelectual deles, o que nos faz deduzir que isso é o que menos importa para ser levado ao conhecimento dos espectadores civis. Porém um punhado de citações de títulos dos TCCs dos futuros oficiais dá algumas pistas: falam da preparação para combate ao terrorismo, de guerras assimétricas, de psicologia de massas e armas cibernéticas. Apesar da amostra ínfima,fica a impressão de que o “inimigo interno” ainda é  o ideário teórico que orienta a formação  no treino de campo. Curiosamente, a parte final do filme , que se refere ao último ano do adestramento dos futuros oficiais, trata das operações contra “forças irregulares”, “adversários atores armados não estatais”. No treinamento exibido, a operação é contra uma suposta base de tráfico.  Na falta de guerrilha de esquerda, o tráfico é o inimigo interno que escolheram combater no momento. Mas que pode se voltar para os movimentos sociais num estalar de dedos. O foco em “inimigos internos” é a maior deturpação da missão das forças armadas, o que nos faz ser a maior república das bananas do planeta.

O final do filme é patético, quase surreal. Alguns cadetes refletem sobre a relação com a morte, já que poderão ter que matar ou morrer, pois juraram dar a vida pelo país. Mas aí vem a cereja do bolo, o sermão de um oficial capelão sobre a missão espiritual dos militares:  a guerra não seria criação dos homens nem do militarismo, pois a guerra primígena, que sobrevive até hoje , é a provocada pelos demônios rebeldes, pelos anjos decaídos.

Com essa xurumela na cabeça, são despejados centenas de novos oficiais a cada ano no Brasil, uma multidão de neobolsonaros. A omissão (ou medo) do poder civil de intervir nas academias militares só perpetua a continuidade da nossa nação bananeira.

O silêncio dos oficiais na CPMI em curso é mais uma prova de que esse adestramento funciona. O ajudante de ordens, ao comparecer fardado e permanecer em silêncio, manda as seguintes mensagens: não irei trair os meus “irmãos por escolha” (mantendo-se em silêncio) pois sei que eles me acolherão no que eu vier a sofrer. Se alguém tem dúvida disso, basta olhar a lista de visitantes que recebeu em seu curto período de cadeia (11 generais, alguns da ativa,  e dezenas de oficiais, fora o general ex-vice, não registrado sabe-se lá o por que, embora visitante confesso).

Enquanto isso, os dementes das CACs aguardam instruções. O espectro do terrorismo dissimulado “verde-kid-preto-oliva”, permanece mobilizado.

Os mamateiros patriotas, impunes,  ainda não se conformaram. E continuarão sonhando com um doce regresso, enquanto não sofrerem uma punição exemplar.

As repúblicas bananeiras e as suas lendas urbanas (I): “os militares são altamente qualificados e preparados”.

No início de 2023, o prefeito da cidade de Maracanaú (CE)  nomeou o Capitão Wagner (candidato do “partido fardado” derrotado nas eleições ao governo do Estado) para a Secretaria de Saúde do município. Questionado sobre a falta de experiência do indicado para o cargo, o prefeito retrucou:  “militar sabe fazer tudo, inclusive saúde”.

O prefeito apenas reproduziu uma das lendas mais estúpidas que circulam sobre os militares: a de que eles são altamente preparados e qualificados. E de que seriam imunes aos esquemas de corrupção tão frequente nos meios políticos.

Supostamente, podemos admitir que eles são muito qualificados no que diz respeito às técnicas militares, nada além disso.  Mesmo assim, supostamente, porque há muito o Brasil não participa de guerras, cenários em que tais competências poderiam ser postas à prova. Recentemente, um portal de internet chinês (SOHU) fez um ranking das piores Forças Armadas do  mundo, considerando o potencial de desempenho militar numa situação de combate. Nossos bravos foram avaliados entre os quatros piores. A falta de investimentos em equipamentos e tecnologia pode ser uma explicação.  Mas a responsabilidade da cúpula militar também é grande, pelo seu insulamento burocrático e recusa a qualquer tipo de supervisão externa. Tudo isso contribui para uma formação militar anacrônica em muitos aspectos.

Não sejamos injustos. Há ações sociais implementadas pelos militares nos rincões do país merecedoras dos maiores elogios. Mas nada que os faça “superiores” ou os aponte como detentores a priori  de uma competência diferenciada em relação aos agentes civis.

O que há é somente uma crença autista deles próprios, de que são uma “elite”. Fora disso, há uma coleção de desastres na atuação militar. Vamos relembrar apenas alguns exemplos, restritos aos últimos quatro anos, período em que eles tomaram de assalto milhares de cargos civis de forma quase pornográfica, com um desempenho pífio, senão trágico, em muitas das vezes.

Podemos começar citando o caso do “aerococa”, o uso do avião presidencial para o tráfico de cocaína, que só foi interrompido graças a uma ação da polícia espanhola. Ou mesmo pela omissão da inteligência militar, para não falar de cumplicidade, no caso da perigosa vizinhança do ex-presidente no “Vivendas da Barra” (o caso Marielle permaneceu sem solução, por razões obscuras). O descaso, ou até a cumplicidade com os crimes na Amazônia, foi motivo de vergonhosa repercussão internacional.

Mas, sem dúvida alguma, o caso mais escandaloso de incompetência foi a gestão militar do Ministério da Saúde em plena pandemia. Uma sucessão de trapalhadas de causar estupor a qualquer nação civilizada.A começar pelo fato do ministro fardado declarar,  sem a menor cerimônia, que não sabia o que era o SUS. Porém o mais patético foi a justificativa da nomeação do general: ele seria um dos maiores especialistas de logística do exército brasileiro.

E foi exatamente na parte logística o grande fiasco da gestão militar nessa área. A mundialmente reconhecida estrutura vacinal, construída ao longo de vários governos, sobreviveu a duras penas, graças aos esforços dos governos estaduais e municipais. O SUS, desconhecido do ministro de coturno, impediu que a tragédia da pandemia fosse maior. Sobrevivieu ao erros grosseiros de “logística” na remessa de oxigênio para Manaus, aos gastos absurdos e irresponsáveis com a fabricação de um medicamento notoriamente inútil para combater a pandemia (cloroquina). Sem falar nas tentativas de negociatas na compra de vacinas, felizmente abortadas antes que arrombassem os cofres públicos em benefício de militares corruptos (sim, eles existem, e não são poucos).

Não satisfeitos, os intelectuais da caserna, em seu projeto de nação para 2035, defenderam abertamente o fim da universalização da saúde, a extinção do SUS e a ampla privatização da saúde. Para os cidadãos civis, obviamente. Para eles, militares, essas criaturas que se acham superiores aos demais mortais, preservariam seu sistema de saúde próprio.

E assim eles contribuem decisivamente para continuarmos a ser a maior república bananeira do planeta.

Confissões dos generais bananeiros: “-Não demos o golpe porque não quisemos.”

Em recente entrevista a um grande jornal, o número 2 do Comando Militar da nossa República Bananeira fez uma confissão em tanto. Um festival de “atos falhos”, no dizer “freudiano”.  Ao negar as intenções golpistas da caserna, atestou a existência do golpismo nas FFAA. E  reconheceu que a instituição teria sido “capturada por assuntos políticos”.

Na linguagem castrense existem expressões que são verdadeiros lugares comuns, usadas sempre que os militares desejam dissimular o seu caráter golpista. Uma delas é famosa:”quando a política entra pela porta de frente dos quartéis, a disciplina sai pelos fundos”.

Essa frase é sempre dita quando os militares são acusados de se intrometer na vida civil, no jogo político da nossa frágil democracia. Habitualmente ela tem sido atribuída ao General Góes Monteiro, golpista de primeira linha e notório por fazer cotidianamente articulações políticas e golpistas.De triste memória, foi um dos mentores do “Plano Cohen”, que dizia haver planos avançados para promover uma insurreição comunista no Brasil. Uma fake news antes que existisse esse nome, que foi o pretexto para fechar o Congresso e implantar a sanguinária ditadura do Estado Novo.

A frase de Góis Monteiro, portanto, é tão verdadeira quanto cínica. A hipocrisia é que ela é usada quando os militares bananeiros querem se esquivar da acusação de que buscam tutelar e interferir na vida civil, pelo simples fato de terem o poder das armas.

Política é o lugar do debate e da disputa democráticas de ideias. De fato, dentro do quartel a política não presta pra nada. Numa tropa não há lugar para dissenso nem negociação de pontos de vista divergentes. A eficácia das FFAA se baseia no estrito respeito à hierarquia e disciplina, no qual um manda outro obedece.Para o bem e para o mal.

Golpistas e conspiradores não traçam os seus planos dentro do quartel, mas sim nas cúpulas de comando, nas alcovas dos clubes  militares e, na atualidade , nas salas dos Think Tanks bananeiros (Institutos Sagres, Federalista, Villas-Boas).

O fato, que a cada dia fica mais claro nas investigações do “8 de janeiro”, é que os militares estavam doidinhos pra dar um golpe.  Porém foram muitos os problemas que os impediu de levar seus intuitos adiante.Um quase total isolamento internacional, apoio interno restrito à própria caserna, somado a um bando de alucinados,  vivandeiras de quartéis e alguns tresloucados do ogronegócio fechando rodovias e financiando atos. Foi pouco. E faltou mesmo o principal: a chancela do Tio Sam, ao qual são submissos. Em reportagem recente do Financial Times soubemos que os recados dados a eles foram claros e diretos. Os governantes democratas dos EUA deixaram nítido que não aceitariam um “mascote vira-lata” do Trump mantido no poder por vias golpistas.

Mesmo assim, os milicos não conseguiram controlar os seus impulsos golpistas. Tentaram criar um clima caótico que justificasse uma intervenção militar.  Espertamente, terceirizaram a linha de frente do golpe e atuaram de forma clandestina, com seus batalhões de operações especiais (os “Kids pretos”).  Conceberam uma operação tipo “Para-sar/Riocentro versão 4.0“, em que pudessem sair de mãos limpas da sujeira que estavam dispostos a patrocinar. Se cercaram de máximos cuidados. Sabiam que, em caso de fracasso, poderiam acabar como os generais bolivianos recentemente, ou pior,  como os generais argentinos em 1985.

Não funcionou. Agora tratam de limpar as pontas soltas e salvar os seus “irmãos por escolha” de  maiores punições (“irmãos por escolha” é o  título de um filme sonolento e patético que estão divulgando, uma espécie de “ninguém larga a mão de ninguém” do meio militar) . Ao mesmo tempo, ainda tentam preservar os seus espaços institucionais estratégicos (vide GSI). Sabe-se lá os recados e barganhas que estão sendo intermediados pelo submisso Ministro da Defesa.

Os milicos bananeiros-mamateiros ficarão recolhidos até que sintam que surgiu uma nova janela de oportunidade. E, principalmente, na expectativa de uma mudança de orientação do Tio Sam.

Permanece, no entanto, um perigo grave no ar: os terroristas militares. O caldo no qual  fermentou o Para-Sar e o Riocentro continua intacto. Já dissemos antes aqui neste blog: é aí que mora o perigo. Nada garante que celerados treinados para o terrorismo (os “Kids Pretos“) não resolvam se subelevar. Só nos resta torcer para que a bomba exploda no colo deles. Ou que não exploda, como a que foi colocada no aeroporto de Brasília,com intenções similares. Não sabemos até quando a incompetência deles nos salvará de uma tragédia maior. Para garantir a mamata da corporação (a intenção real por trás do que chamam de “combate ao comunismo”), esses “patriotas” serão capazes de provocar uma tragédia que roubem a vida milhares de  inocentes, de promoverem verdadeiras carnificinas. Apesar dos fracassos do passado, nunca desistiram desses planos, como prova a recente tentativa no aeroporto de Brasília.

Na maior República das Bananas do mundo, os terroristas militares seguem livres. E impunes, prontos para planejar novas insanidades.

Na República Bananeira, o golpismo vive à espreita

A cada nova revelação sobre os acontecimentos de 8 de janeiro, fica mais claro o quanto a milicada mamateira-bananeira deve estar contrariada por ter sido alijada do poder.  O golpe foi preparado com a discrição típica dos terroristas, de forma clandestina. Mas sempre ficam pontas soltas e a trama vai sendo revelada ao longo do tempo.
O alto comando sabia que não poderia se expor, porque não tinha o aval do Tio Sam. Porém permitiu que os mais radicais, os setores de inteligência e uma parte da média oficialidade tomassem as rédeas da iniciativa golpista. Se a instalação do caos fosse bem sucedida, fariam a intervenção com as “mãos limpas”. Se desse certo, poderiam se livrar de Lula e do Bozo ao mesmo tempo. Se desse errado, como deu, poderiam posar de legalistas. Como tentam fazer agora. Quem quiser que se iluda. A única preocupação deles agora é proteger os colegas de farda de punições severas.
A milicada bananeira–mamateira resiste a abrir mão de seu poder. A queda de braço agora é pelo controle da GSI. O lugar estratégico onde a trama golpista foi gestada.  A determinação em preservar esse espaço é a demonstração que o horizonte golpista permanece no horizonte da milicada.
Provavelmente viveremos um período similar aos anos entre os governos de JK e Jango. Veremos nos próximos anos tentativas de desestabilização constantes, a espera de uma tempestade perfeita, que reúna  crise econômica interna, classe média à beira de um ataque de nervos, cenário geopolítico favorável, entre outros fatores.
Não chega a ser estarrecedora a recente matéria de uma revista semanal que expõe o papel dos chamados “kids pretos” na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. Coordenaram a invasão da Esplanada, dinamitaram torres de transmissão, escaparam do cerco sob proteção de seus superiores. Provaram que estão mais espertos, treinados e cuidadosos: dessa vez nenhuma bomba explodiu no colo de um deles. É aí que mora o perigo: os terroristas formados na caserna estão muito melhor preparados. Se quiserem novamente explodir uma represa ou gasômetro para matar milhares de cidadãos inocentes, talvez sejam bem sucedidos.
O golpismo tem um modus operandi pra lá de manjado. O que tivemos recentemente foi bem semelhante ao roteiro usado no “golpe dentro do golpe” que resultou no Ato Institucional No. 5, o famigerado AI-5, em 1968. Desta vez não deu certo, mas enganam-se os que pensam que os golpistas estão derrotados. Apenas se recolheram à espera de uma nova oportunidade.
Quem quiser saber mais detalhes das histórias passadas, recomendamos a leitura da excelente reportagem de Vasconcelo Quadros na Agência Pública (Atentados de direita fomentaram o AI-5)  e do livro “A direita explosiva do Brasil”, dos jornalistas José Argolo, Kátia Ribeiro e Luiz Alberto Fortunato.
Há um episódio que guarda grandes semelhanças com os acontecimentos recentes. Em 1968, sob as orientações de um general de pijama, Paulo Trajano da Silva, do general Silvio Corrêa de Andrade, chefe da Polícia Federal em São Paulo e do general Jayme Portella, chefe da então Casa Militar da Presidência, um grupo terrorista praticou naquele ano uma série de atentados à bomba (17 comprovadamente) que as autoridades atribuiram à “esquerda”. O objetivo, bem sucedido à época, era fabricar pretextos para endurecer o regime.O grupo terrorista paramilitar  era chefiado por Aladino Félix um sujeito completamente desequilibrado, chegado a delírios messiânicos e  fanático anticomunista.  Usava o místico codinome “Sábado Dinotos”.Troque-se o nome dos generais citados por Braga Neto, Mourão e Heleno, e teremos um “remake” do mesmo filme. Ah, e ao invés da Casa Militar, leia-se GSI. Dentre os acampados nos quartéis não faltaram alucinados para o cargo messiânico de lider dos atentados.
Jamais escaparemos da sina de sermos uma eterna república bananeira se não tivermos uma profunda reforma nas instituições militares. Com a punição dos golpistas e profundas  transformações nas escolas de formação dos militares. Como bem disse recentemente um talentoso humorista, são escolas de formação de bolsonaros…Porém, conforme comentamos acima, os golpistas de hoje estão mais preparados: se anteciparam às críticas e produziram um documentário sobre a formação dos militares, recentemente lançado com destaque na principal rede de streaming.  Uma bizarrice que merecerá uma postagem à parte.

LIBERAIS E FASCISTAS: FRUTOS DO MESMO CACHO DA REPÚBLICA BANANEIRA

 

No passado, existiram militares bananeiros no Brasil que, ao menos, tinham sonhos desenvolvimentistas e um projeto de nação soberana. O anticomunismo arraigado não os impedia de promover o investimento estatal em indústrias de base estratégicas, inclusive visando o domínio do ciclo completo da  tecnologia nuclear e aeroespacial.

Curiosamente, com o fim da guerra fria, vimos os “intelectuais” da caserna abraçarem o mais tosco liberalismo que se conhece, o da escola austríaca. O DNA fascista dos nossos militares se casou perfeitamente com o neoliberalismo mais rastaqueiro.  Junte-se a isso o anseio por ampliar o acesso ao orçamento público para garantir mamatas descaradas para a caserna.  Esse casamento de conveniência deu no que deu: o desastre do bolsonarismo.

Repetindo o que publicamos em postagem anterior: o fascismo cresceu com as bênçãos do grande capital, pois serviu aos seus interesses. E pode sobreviver mesmo depois de derrotado pelo mesmo motivo. O nazifascismo pode ser ora funcional, ora disfuncional para os interesses do capital. Não por acaso que a ascensão do fascismo contou com a tolerância, senão entusiasmo, do pai do neoliberalismo, Ludwig Von Mises.

Em” “Liberalismo segundo a tradição clássica” (1927), Mises escreveu:

(…)”Não se pode negar que o fascismo e movimentos semelhantes, visando ao estabelecimento de ditaduras, estejam cheios das melhores intenções e que sua intervenção, até o momento, salvou a civilização europeia. O mérito que, por isso, o fascismo obteve para si estará inscrito na história. Porém, embora sua política tenha propiciado salvação momentânea, não é do tipo que possa prometer sucesso continuado. O fascismo constitui um expediente de emergência. Encará-lo como algo mais seria um erro fatal.(…)” [ página 77 da edição brasileira]

E qual seria a “melhor das intenções”? A garantia e a promoção da propriedade privada e da livre iniciativa. Mises, temendo que a revolução bolchevique se alastrasse pela Europa, não hesitou em abraçar o nazifascismo.

Um político brasileiro de triste memória disse certa vez:” -Quer estuprar, estupra. Mas não mata!”. É a mesma lógica da escola austríaca:”- Quer sacrificar as liberdades individuais, sacrifique. Mas preserve a propriedade privada e o livre mercado!”

É certo que o saldo trágico do holocausto obrigou Mises e seus discípulos a recorrerem a certos malabarismos conceituais.  Passaram a refutar a barbárie nazifascista igualando-a ao stalinismo, todos enfiados no mesmo saco da categoria de “totalitarismo”. Nasceu aí a bizarrice conceitual de acusar os nazistas de serem “socialistas”, pois impunham a intervenção estatal no domínio da economia, tal como a URSS.

Nessa sofrível e distorcida operação intelectual, Mises acaba por revelar a concepção política dos neoliberais: o que iguala ou distingue regimes políticos ditatoriais dos democráticos seria o respeito à livre iniciativa e à propriedade privada. Foi essa ideia que garantiu ao nazifascismo uma avaliação mais tolerante de Mises. Ainda que ele condenasse as teorias de superioridade racial dos nazistas, não as via como o diferencial fundamental da barbárie.

No livro “Governo Onipotente“, escrito após a tragédia da guerra (1944), Mises condenava o ataque às liberdades individuais e o intervencionismo estatal dos “totalitários”, mas oferecia uma ressalva aos fascistas: estes, ao menos, respeitavam a propriedade privada. Mises faz um contorcionismo quase circense para, na essência, continuar a defender o mesmo fascismo que saudara antes do holocausto como uma espécie de “mal necessário”:

“El modelo alemán difiere del ruso en que, exterior y nominalmente, conserva la propiedad privada de los medios de producción y las apariencias de precios ordinarios, salarios y mercados. Pero ya no existen empresarios; no hay más que gerentes de empresa (Betriebsführers), que son quienes hacen las compras y las ventas, pagan a los obreros, contraen deudas y pagan intereses y amortizaciones. No existe el mercado de trabajo: los sueldos y salarios los fija el gobierno.(…)Es el gobierno, no el consumidor, quien dirige la producción. Se trata de un socialismo bajo la apariencia exterior del capitalismo. Se conservan algunas etiquetas de la economía de mercado, pero significan algo completamente distinto de lo que significan en la auténtica economía de mercado. (…)El sistema alemán tiene otra ventaja. Los capitalistas alemanes y los Betriebsführers, antiguos empresarios, no creen que el régimen nazi sea eterno. Están, por el contrario, convencidos de que el dominio de Hitler acabará un día y que entonces volverán a poseer las plantas industriales que en los días anteriores al nazismo eran de su propiedad.(…)”. [página 93 da edição  em espanhol]

Ou seja, se for para preservar o direito de propriedade, a barbárie se justifica. Se o intervencionismo estatal relegou aos proprietários ao papel de meros gerentes de suas empresas, ao menos eles estão seguros de que irão retomá-las num futuro breve. A base material para sobrevivência do liberalismo está assegurada sob a égide do nazifascismo.

Pobres empresários transformados em meros gerentes! Mises é de um cinismo estonteante (já que não podemos considerá-lo ingênuo). No livro recém-lançado no Brasil, “Bilionários Nazistas”, o seu autor David de Jong prova que os empresários alemães construíram imensas fortunas com a apropriação de empresas tomadas de judeus e uso em larga escala de trabalho escravo. Muito além de meros gerentes, convenhamos.

Essa concepção de Mises foi levada adiante por seus discípulos.  Em O caminho da Servidão Friedrich Hayek destila excrescências como essa:

“(…) Não temos, contudo, a intenção de converter a democracia em fetiche. (…) A democracia é, em essência, um meio, um instrumento utilitário para salvaguardar a paz interna e a liberdade individual. E, como tal, não é, de modo algum, perfeita ou infalível. Tampouco devemos esquecer que muitas vezes houve mais liberdade cultural e espiritual sob os regimes autocráticos do que em certas democracias – e é concebível que, sob o governo de uma maioria muito homogênea e ortodoxa, o regime democrático possa ser tão opressor quanto a pior das ditaduras. Não queremos dizer, contudo, que a ditadura leva inevitavelmente à abolição da liberdade, e sim que a planificação conduz à ditadura porque esta é o instrumento mais eficaz de coerção e de imposição de ideais, sendo, pois, essencial para que o planejamento em larga escala se torne possível. O conflito entre planificação e democracia decorre, simplesmente, do fato de que esta constitui um obstáculo à supressão da liberdade exigida pelo dirigismo econômico. Mas, ainda que a democracia deixe de ser uma garantia da liberdade individual, mesmo assim ela pode subsistir de algum modo num regime totalitário. (…) “. [página 93 da edição brasileira]

A argumentação é tortuosa e conduz a uma inversão curiosa: a democracia pode ser opressora e uma ditadura pode não  levar inevitavelmente à abolição da liberdade… Tudo um grande eufemismo para defender as ditaduras militares com as quais ele e seus discípulos colaboraram, de Salazar a Franco, de Stroessner a Pinochet. Afinal, estas ditaduras eram preferíveis às democracias que, ao combater as desigualdades sociais, ameaçavam os pilares do “livre mercado”. Esta é a razão do neoliberalismo sempre andar de mãos dadas com os neofascismos e os neonazismos. São como unha e carne.

Essa forma de julgar os regimes políticos pela ótica da economia de mercado, é reveladora do neoliberalismo. O aspecto mais trágico e deplorável do nazifascismo – a ideia de superioridade racial – é secundária para os neoliberais. Por isso historicamente o liberalismo conviveu tão bem com a escravidão e o colonialismo, com o extermínio dos povos originários. A tragédia vivida pelo povo Yanomami recentemente se insere perfeitamente nessa lógica neoliberal, que anseia pela exploração predatória da Amazônia (a “livre iniciativa” pela qual tanto clamam).

Para o neoliberalismo, vale tudo. Até mesmo a tolerância com a barbárie, quando “necessária” para os interesses da “economia de mercado”.  Aceitaram o nazifascismo como um mal necessário e temporário, pois foram funcionais para garantir a hegemonia do “livre mercado” quando este se vê ameaçado. Assim sempre estiveram ao lado de inúmeras ditaduras militares que sufocaram demandas da sociedade por mais justiça social.

Esta é a razão dos grandes jornais, porta-vozes do grande capital, serem tolerantes com os fascistas. Sabem que eles podem ser úteis num futuro próximo. A captura dos militares por este ideário foi um casamento perfeito para os neoliberais. É o que, na atualidade, assegura a longevidade da nossa República Bananeira, a maior do planeta.

***

Post scriptum

1) Não devemos colocar no mesmo saco o liberalismo clássico, que tem suas virtudes,  com o neoliberalismo da escola austríaca (hoje hegemônico). Noam Chomsky disse certa vez que os neoliberais não leram Adam Smith até o final, ou não defenderiam teses tão esdrúxulas.

2) Neoliberais e nazifascistas estão entre nós, e são muitos. Estão em todas as instituições da sociedade civil e na caserna. Só não são muitos nas instituições de natureza cultural, matéria a qual eles não são lá muito afeitos…Para eles, a crença em pseudo-intelectuais, alguns de bizarrice quase inacreditável (tal como o falecido astrólogo Olavo de Carvalho), satisfaz e acalma a face sádica deles. Sim, neoliberais são, em maior ou menor grau, criaturas sádicas.

 

Numa república bananeira, o golpismo é permanente

A semana termina com mais movimentações da milicada bananeira. O general alçado ao posto de legalista-mor  faz discurso contundente em defesa da democracia e condenando a partidarização das FFAA. Mas vazam imagens de outro general, tido como confiável, ajudando os golpistas na intentona fascista do 8 de janeiro. Pra bom entendedor: o dito general sabia do golpe em andamento e não quis se indispor com os golpistas, certamente porque considerava que o golpe poderia ser bem sucedido. E não estava errado. A decisão de não cair na armadilha de invocar a GLO salvou, literalmente, a nossa pátria da milicada mamateira-fascista.

O golpismo é permanente. E só não avança neste momento por conta de uma conjuntura internacional. Mas essa tensão vai permanecer no nosso cotidiano até o fim do governo, muito provavelmente.

A intentona fascista do 8 de janeiro ainda não acabou. Sem punição para os seus mentores, vai continuar viva. O indiciamento e prisão dos imbecis-úteis que invadiram a Praça dos 3 Poderes não bastará para conter o ânimo dos golpistas. Eles estão incrustados em todas as nossas instituições permanentes, sempre prontos para sabotar o governo e fomentar o caos do qual se alimentam. E os golpistas eleitos continuarão a fazer do Congresso Nacional um picadeiro bizarro.

***

Apesar do crescimento consistente em quase todo o mundo na atualidade, o neo-nazifascismo tem colecionado algumas derrotas. O bozo foi uma delas. Mas os liberais sabem usá-los a seu favor e descartá-los quando já cumpriram com o seu serviço sujo.  Porém nada impede que os utilizem novamente. Aliás, os liberais mantêm as bestas de prontidão para qualquer eventualidade. Elas podem voltar a ser funcionais para os donos do capital.

O caso brasileiro é bem delicado. Pela dimensão do país (econômica, territorial, populacional,etc), com recursos que podem alçar o país a uma condição de potência mundial, o Brasil é uma peça valiosa na geopolítica global.

Os EUA sempre sabotaram qualquer tentativa de desenvolvimento soberano, através do que hoje se chama de “guerra híbrida”. Por uma questão meramente conjuntural (a ameaça interna do trumpismo aos democratas e a emergência das questões ambientais), os EUA esvaziaram a intentona fascista no Brasil. Mas cobrarão caro o preço dessa ajuda à precária democracia brasileira. Num momento em que a hegemonia norte-americana está seriamente ameaçada, eles não hesitarão em nos jogar novamente no lodo fascista.

A nossa diplomacia já se viu na contingência de abandonar a neutralidade e condenar a invasão da Rússia na Ucrânia. E agora caminha no fio da navalha, ao buscar um aprofundamento nas relações econômicas com a China, ao mesmo tempo em que não quer provocar a ira do Tio Sam.  Que nosso governo e nossa diplomacia tenham habilidade e sabedoria para sobreviver nesse terreno pantanoso.

O Brasil tem um único grande trunfo no cenário global: a questão ambiental. O mundo sabe disso. A União Europeia acaba de nos chantagear, exigindo resultados práticos antes de liberar fundos.Claro que, antes da “pungente preocupação” em proteger nossas florestas, o que está em jogo são trade-offs, a busca de vantagens comerciais para o velho continente (vide o Acordo Mercosul-UE, em que eles ganham muito e nós quase nada).  E ainda nos exigem um alinhamento com a OTAN no caso da Ucrânia. O jogo é duro.

Assim, o governo se vê limitado em sua capacidade de ação e faz concessões espúrias. O Governo Lula está em permanente estado de sítio, se equilibrando entre as chantagens do mercado e as demandas patrimonialistas de um parlamento podre, entre a conciliação com os militares e punição aos golpistas do 8 de janeiro, entre a afirmação da soberania nacional e ameaça de intervenções da guerra híbrida.

Só a mobilização da sociedade civil organizada poderá ser capaz de  empurrar o nazifascismo de volta pro armário e dar suporte para uma estratégia soberana para o nosso país. Uma mobilização que, até o momento, não veio. Aí é que mora o maior perigo.