Na República Bananeira, todo dia é dia de golpe

 

O jornalão carioca (e seu canal de notícias), habitué em passar pano para os militares bananeiros, já começou a construir a versão “oficial” da tentativa de golpe terrorista que acaba de ser revelada. Seus colonistas (como dizia o saudoso Paulo Henrique Amorim), já começaram a difundir o “mal-estar” que tomou contas das FFAA. Dizem que a caserna foi tomada pela “tristeza”, “surpresa” e “decepção”, pela “traição” de uma “minoria” que causou “estrago terrível”, alimentando preconceitos contra os militares.

Seria hilário se não fosse trágico. O golpe sempre foi o plano A no caso de derrota do bozo. O lançamento do intelectualmente medíocre “Projeto Brasil 2035” já anunciava a intenção dos militares de permanecerem no poder. A ação de desacreditar as urnas eletrônicas foi apenas uma das ações preparatórias. Outra foi a nota das três forças do dia 11 de novembro, que defendeu os acampamentos nos quartéis e reafirmou explicitamente o papel “moderador” dos militares (e que, agora sabemos, foi na véspera da reunião dos golpistas na casa de de um general). E ainda há outras dúzias de evidências de que as forças armadas, em uníssono, estavam preparando um golpe.

O Plano teve, no entanto, uma oposição de peso. De acordo com matérias do Financial Times. assessores de segurança nacional de Joe Biden vieram aos Brasil e deixaram claro que os EUA não só não apoiariam como condenariam qualquer ruptura institucional. Ironias da história: os que sempre patrocinaram golpes e desestabilizações do nosso país, por conta de uma conjuntura doméstica (o fator Trump), decidiram se opor ao golpe de seus vassalos.

Foi um balde de água fria na milicada. Afinal, sua desobediência seria um ato de rebeldia aos olhos de seus reais comandantes, o Comando Militar Sul dos EUA, com consequências que poderiam ser bem desagradáveis. Isso dividiu o comando militar. Em áudio de um coronel golpista, do dia 19/11/2022, tornado público pela PF nesta semana, ele diz claramente sobre o alto comando do exército: “cinco não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto”. Ou seja, dos 16 integrantes, apenas 5 não queriam aderir (e talvez somente por não ter o apoio do Tio Sam).

Foi nesse momento que a arquitetura do golpe tomou outro rumo. De forma planejada ou velada, foi dada carta branca para a ala mais radicalizada. Porque nada foi feito para impedi-los de prosseguir com o plano criminoso. E isso não foi omissão, foi estratégia. Com um golpe fadado ao fracasso, contavam que os radicalizados fariam o trabalho sujo e “deram corda para eles se enforcarem”. Diante do isolamento internacional, aí sim os “legalistas” entrariam em cena para colocar ordem na casa. Claro, depois de terem sido assassinadas as principais lideranças da república. E ficaram posando de “salvadores da democracia”.

Esse era o plano. Não é difícil enumerar as evidências que conformam essa tese. Aliás, essa é a versão que o jornalão carioca, sabujo dos militares, está tentando emplacar: os militares impediram que a ala radicalizada desse o golpe e salvaram a república. Quem é otário que acredite.

O escândalo que acaba de vir à tona, da trama de um golpe que culminaria com o assassinato das maiores autoridades da república, exige uma resposta contundente e imediata. As FFAA bananeiras digo, brasileiras, são golpistas desde a sua origem. As escolas que formam os futuros oficiais deveriam ser objeto de uma intervenção pedagógica do poder civil. Estão completamente contaminadas. São centros formadores de “bolsonaros do amanhã” criados à imagem e semelhança da criatura mais repugnante e desprezível que já ocupou a presidência do nosso país. Isso tem que acabar.

Não é hora de titubear. Os golpistas mais empedernidos estão contando com um sinal verde vindo de Washington após a posse de Trump para voltar a conspirar e golpear. Não há joio a ser separado do trigo. Os fardados são ervas daninhas plantadas no mesmo canteiro. Como não será possível arrancá-las, devem ser severamente podadas. Ou a nossa democracia não sobreviverá até 2026.

As repúblicas bananeiras nunca saem da quinta-série

O anúncio da nova equipe do Presidente Trump parece uma série de horror. Ou melhor, muito parecida com uma série de streaming que retrata o círculo próximo de Hitler. Um grupo que reúne gente desqualificada, muitos desequilibrados e oportunistas de toda espécie. O único traço em comum é a fidelidade canina ao líder. Terão o poder de influenciá-lo, porém jamais de contrariá-lo, mesmo diante de equívocos evidentes. Assim funciona com todo autocrata.

Enquanto isso, nossa grande mídia – porta-voz das elites neocoloniais – ainda se dedica a fazer muito barulho por nada. O xingamento da esposa do presidente ao Musk (“primeira-dama” é uma expressão infeliz) ocupou boa parte do espaço midiático nos últimos dias. Até parece que a política externa dos EUA vai mudar alguma coisa por conta das falas da Janja. Quem sabe se, num próximo evento público, a Janja faça uma tréplica e diga que o Musk terá que se entender com o Mário…o jornalismo brazuca terá orgasmos múltiplos. Talvez nossos jornalões até se animem a abrir mais espaço para o ex-presidente sabotador da democracia “defender” a democracia…

O que deveria ser, no máximo, uma preocupação da diplomacia de “punhos de renda”, ganhou um destaque imbecil. Isso porque os debates no Brasil continuam na quinta série. Nossa elite neocolonial se escandaliza com coisas irrelevantes porque é resignada com o fato de que, para os EUA, nós somos o seu quintal e nada vai mudar essa visão. Nenhum esperneio, nenhum xingamento muda esse fato. Musk vai continuar bancando um golpe por aqui, e Trump idem.

O Musk replicou dizendo que “- vocês vão perder a próxima eleição”. É o mesmo que disse em 2019, após o golpe na Bolívia:“- Vamos dar golpe em quem quisermos. Lide com isso”. A resistência do Alexandre de Moraes foi uma surpresa para o Musk, que jamais imaginava que alguém no seu quintal iria tão longe. Recuou por pressão dos acionistas. Mas não desistiu de patrocinar um golpe.

A ofensiva agora virá bem mais forte e organizada.

Para a nossa gigantesca república bananeira o cenário é o pior possível. Uma Doutrina Monroe 4.0 está reservada para nós. O campo democrático no Brasil tem cerca de dois meses para montar suas barricadas. Serão dois anos de guerra contra a ofensiva do Tio Sam. Todos os governos não vassalos da América do Sul e Central serão objeto de desestabilização. Com a ajuda de um vizinho importante atuando como um medíocre fantoche à serviço dos EUA

Como lembramos em outra postagem, a participação de uma brasileira sendo servida pelo Trump num fast-food não foi gratuita. Não era um recado para o eleitorado norte-americano. Era pra nós. E ele tem muitos aliados por aqui.

A punição para os golpistas que tramaram o 8 de janeiro não pode tardar mais. A regulação das redes sociais deve ser tratada como prioridade. Qualquer projeto de anistia deve definitivamente enterrado. Urge estreitar os laços com os concorrentes chinês do Musk.

Uma tempestade avassaladora está se formando. Temos que garantir, minimamente, a sobrevivência da resistência democrática ao furacão que se avizinha.

O retorno das bananas explosivas

Um lobo solitário, decidido a explodir o STF, acabou por explodir a si mesmo. Os neofascistas começarem rapidamente a difundir a tese de que foi o ato isolado de um sujeito desequilibrado mentalmente, nada que se possa generalizar. Estão preocupados com o que pode ser um golpe definitivo no projeto de anistiar os golpistas. Nessa hora é preciso relembrar o histórico da sanha terrorista que sempre caracterizou o fascismo no Brasil.

O discurso do ódio, base do Ur-fascismo, sempre alimenta dissonâncias cognitivas, insanidades e distúrbios diversos nas mentes de seus seguidores. Pode atingir tanto uma manada de zé-ninguéns ressentidos, como no 8 de janeiro de 2023, quanto pessoas com poderes reais de causar sérios estragos.

Um 1971 um brigadeiro alucinado planejou explodir a adutora do Guandu e o antigo Gasômetro do Rio de Janeiro, que poderia ter causado mais de cem mil mortos. Graças ao Capitão Sérgio Macaco, que teve a sua carreira arruinada, o plano não foi em frente. Em 1981, militares do Exército de Caxias, tentaram explodir uma bomba num show no Riocentro, que mataria milhares de jovens e vários artistas da MPB. Por obra do destino, a bomba explodiu no colo de um deles e a tragédia não se consumou. Tivemos bombas em bancas de jornais e na OAB-RJ. Depois, um certo tenente do Exécito, em busca de aumentos salariais, também planejou explodir bombas. Mais recentemente, logo após as ultimas eleições presidenciais, por sorte não tivemos a explosão de uma bomba no aeroporto de Brasília, que causaria um número inimaginável de vítimas. E recentemente soubemos que “kids pretos”, também do valoroso Exército de Caxias , além de terem cometidos “atos isolados de indisciplina” derrubando torres de transmissão, planejavam sequestrar o Ministro presidente do STF e o Presidente da República, sabe-se lá pra fazer o que com eles.

A impunidade é a mãe de todos esses crimes continuados. Existem inúmeros “Tiu França” à solta por aí, muitos armados pelos CACs e outros vestindo uniformes militares. Por essas e por outras, só há uma coisa a dizer, aos berros: SEM ANISTIA!

Bananinhas Assanhadas

A vitória de Trump provocou orgasmos múltiplos nos neofascistas brasileiros que já se veem como vitoriosos no pleito de 2026. Podem inclusive tentar um outro putch antes mesmo do calendário eleitoral. Se os nossos democratas não corrigirem as suas estratégias, é bem provável que isto venha a ocorrer. E por duas razões: pelo apoio internacional que a milicada golpista (me perdoem o pleonasmo) poderá ter, e pela cumplicidade da nossa fétida elite neocolonial.

Em paralelo à eleição de Trump, soubemos de novas revelações sobre a intentona golpista de 8 de janeiro. Os Kids Pretos – uma espécie de SS do exército brasileiro – tinham a incumbência de sequestrar o Alexandre de Moraes e o presidente recém-empossado. Muito provavelmente seriam assassinados, dado o histórico deplorável dos militares bananeiros. Recentemente, com uma nota de um cinismo atroz, afirmaram que o que houve em 8 de janeiro foram apenas atos isolados de indisciplina.

Então, nas mãos do Procurador-Geral da República, está a principal decisão a ser tomada, sem postergar mais: indiciar sem dó a cúpula golpista, para que o STF avance na punição dos arquitetos do plano. Se não o fizer, o caminho dos golpistas estará pavimentado. O mesmo se dará se o Congresso avançar em qualquer tipo de anistia para a canalha golpista.

Dentro de poucos meses o governo Trump vai mostrar as suas garras para nós. O tempo é curto para demarcar claramente o nosso território e a nossa soberania. Sabemos do que o Tio Sam é capaz.

Da nossa elite bananeira não há muito o que se esperar. Um de seus jornais teve a indecência de dar espaço para o líder golpista posar de defensor da democracia. Algo de dar náuseas em qualquer cidadão minimamente comprometido com uma sociedade democrática. Ademais, os “especialistas” da grande imprensa vivem apresentando argumentos “técnicos” para clamar por corte nos gastos sociais, altas nas taxas de juros pornográficas, pedem uma nova reforma da previdência e, agora, agem contra a redução da jornada de trabalho. Até o pseudo-liberais que se dizem capazes de comer de garfo e faca mostram a sua verdadeira face. O Instituto Libertas, do Partido Novo, divulgou vagas de trabalho sem remuneração. Enfim, essa é a nossa elite bananeira, neocolonial e neoescravocrata. Os argumentos que usam não diferem muitos daqueles usados no século XIX.

Pra bom entendedor: bancam qualquer coisa para manter os seus privilégios. Atuam para impedir a tributação para super-ricos (15 mil brasileiros!) e a taxação dos ganhos e dividendos pornográficos obtidos na ciranda financeira. Deixam claro que apoiarão o retorno do neofascismo ao poder, caso sejam contrariados. E sem qualquer pudor. Lamentarão apenas serem governados por uma figura chula, rasteira, enquanto bebem uma e outra taça de moet&chandon. Coisa que já fizeram e que são capazes de fazer novamente.

Bananas is my Business

 

O resultado eleitoral mais aguardado do ano, da eleição dos EUA, foi uma vitória esmagadora de Trump. Para os norte-americanos será uma era de inúmeros retrocessos. Com maioria nas duas casas legislativas, vai liquidar de vez com o agonizante modelo de democracia liberal  instaurado pela Revolução Americana.

Para os demais países do mundo as consequências são imprevisíveis. Neste momento, proliferam muitas especulações. Alguns analistas dizem que será uma gestão pragmática e mais protecionista. Resta saber o que se entende por esse “pragmatismo”. 

Putin, pelo que se diz, sempre preferiu Trump. Afinal, falam uma linguagem parecida. Um quer restaurar a Grande Rússia. O outro quer fazer a “América grande”  outra vez. Putin sabe que o grande adversário dos EUA é a China. Essa é que será a grande briga de cachorro grande. São grandes as chances da Ucrânia ser entregue à própria sorte. Já o apoio ao genocídio praticado pro Israel prosseguirá. Resta saber se continuará a despejar recursos até a “solução final” ou se optará por uma pausa, mantendo uma guerra de atrito menos dispendiosa.

Por outro lado, as garras do Tio Sam serão mais agressivas naquilo que ele considera o seu quintal. E é aí que entra o destino da maior República Bananeira do planeta. Mas já dá para especular que, para o Brasil, o cenário futuro é muito ruim. Assim como para toda a América Latina. Golpes à vista na Colômbia e Bolívia, risco de guerra civil e intervenção  na Venezuela, ações de desestabilização em diversos países (México que se cuide).

A língua solta de Lula já criou um problema de saída: declarou torcer por Kamala e chamou Trump de nazista. Isso não será esquecido pelo recém-eleito.

O nazifascismo brazuca está em polvorosa. Já estavam animados com os resultados anêmicos da esquerda nas eleições municipais. Sabem que, na hora de uma “escolha difícil”, o Centrão pula no barco deles. Agora contam que terão o apoio dos EUA  para seus intentos. Sonham com a anistia dos golpistas e que Elon Musk voltará a desafiar o Xandão, o único agente institucional que, de fato, impõe limites ao neofascismo. Os próximos dois anos serão tenebrosos.

Naquela encenação do Trump servindo hamburgers num McDonalds, a inclusão de uma brasileira no roteiro não foi aleatória. Vem chumbo grosso por aí. 

Lula é hábil o suficiente para negociar com o novo governo dos EUA. O problema é que, sem grande poder de barganha,  o preço cobrado será caro, muito caro. As concessões feitas aos democratas (veto à Venezuela no BRICS e a preferência por “sinergias” com a nova rota da seda) serão fichinhas perto do que será exigido. 

Diante disso tudo, o mundo democrático refaz agora a clássica pergunta: O que fazer?

Eleições municipais na Bananolândia:

Tudo (quase tudo) como dantes no quartel de abrantes” na nossa República das Bananas.

Tivemos análises para todos os gostos acerca das eleições municipais. Até os derrotados usaram a famosa “teoria da pilha” em suas avaliações (sempre tem um lado positivo…). Porém, na essência, pouca coisa mudou na república bananeira. Conforme o entendimento deste blog, o que caracteriza uma república das bananas é um tripé formado por uma elite dominante de corte agrário-exportadora, instituições militares anacrônicas e uma classe política patrimonialista-paroquial.  Analisando os resultados das urnas, vemos que essa hegemonia se manteve, com ligeiras variações. 

O grande vencedor foi o patrimonialismo paroquial, impulsionado pela ampliação do controle do Congresso sobre orçamento via emendas  PIX. Nada muito diferente do que sempre foi. Os velhos PMDB e PFL agora se diluem nas novas legendas fisiológicas do “Centrão” (PSD, União Brasil, Republicanos, etc). 

A extrema-direita, o neofascismo, fincou o pé em 30% do eleitorado, além de ter vencido em cidades importantes com candidatos bizarros (Cuiabá é um exemplo).  E colocou candidatos com desempenhos inacreditáveis no segundo turno, até mesmo em cidades que viveram tragédias por conta do negacionismo (Porto Alegre e Manaus). Uma nova e intrigante realidade que veio para ficar por um longo período.

Os partidos de esquerda poderiam comemorar um pequeno avanço numérico em número de vereadores e prefeituras. Só que tomou uma coça nas grandes cidades do país. Em Belo Horizonte, foi um fiasco histórico. Nas cidades maiores onde chegou ao segundo turno, ganhou apenas em Fortaleza, e por uma margem mínima.  No simbólico ABC, perdeu em todas, salvando apenas Mauá. No “novo ABC”, Resende e arredores, lugar em que as novas montadoras estão se instalando, não foi eleito um vereador de esquerda sequer.  Em Belém, o candidato à reeleição nem foi ao segundo turno, superado por um negacionista climático, logo na cidade que irá sediar a COP2025. Resta “comemorar” as vitórias das coligações “frente ampla”, que derrotaram os candidatos da extrema direita em algumas cidades grandes. Convenhamos, é pouco, muito pouco.

O mais preocupante, no entanto, é que vimos o fisiologismo e o neofascismo cacifarem muitos de seus nomes para a disputa do Senado em 2026. Se esse projeto for vitorioso, a governabilidade do próximo presidente ficará totalmente refém do que existe de pior na sociedade brasileira. Sem falar na ruína do sistema de “pesos e contrapesos”, caso o Senado tenha maioria para avançar na destituição de ministros do STF. Retrocessos gigantescos à vista. A vitória folgada de Trump, com o Elon Musk de cabo eleitoral, é um prenúncio de que poderemos voltar a viver situações dramáticas por aqui.

As candidaturas baseadas em “bandeiras identitárias” tiveram alguns avanços. Porém também demonstraram os limites deste tipo de estratégia política. Foram eleitos 231 dos 3.040 candidatos registrados no TSE como LGBTQIA+. Dos  27 trans eleitos num universo de 967 candidaturas, 19 foram eleitos por partidos de centro-direita e extrema-direita (PP, PL, União Brasil e Republicanos). 

Houve um ligeiro aumento entre as mulheres eleitas vereadoras e prefeitas,  que ocuparão cerca de 17% destes cargos eletivos. Só que 80% delas também por partidos de centro-direita ou extrema direita.

Cerca de 53% dos candidatos se declararam ao TSE como pretas ou pardas (56% da população do país segundo o IBGE), porém somam apenas 1/3 dos candidatos eleitos. A preferência partidária seguiu o mesmo padrão conservador dos demais grupos.

Ou seja,  fascismo pode obter hegemonia política nas representações de  LGBTQIS+, mulheres e negros, por mais esquizofênico que isso possa parecer.

A articulação de movimentos sociais, com as iniciativas recentes de construir redes de apoio para algumas candidaturas,  experimentou algum avanço. O MST elegeu 133 vereadores em 19 estados, dos quais 43 são militantes do próprio movimento. A articulação “Vote pelo Clima”, que começou nas eleições de 2020, elegeu 135 candidatos em 78 cidades brasileiras. E algumas dezenas de prefeitos e vereadores indígenas e quilombolas foram eleitos em pequenos municípios. Pode não ser muita coisa, mas é uma senda a ser mais e melhor explorada. Num universo de 58 mil vereadores e 5.600 municípios, ainda há muito espaço para avançar..

Por outro lado, centenas de líderes religiosos fundamentalistas e de militares de todas as forças conquistaram mandatos em todo o país. E tivemos ainda a novidade dos coaches– influencers e dezenas de médicos cloroquiners. E dúzias de prefeitos e vereadores armamentistas e/ou negacionistas climáticos. 

Porém teve algo de muito mais grave e temeroso nesta eleição: a consolidação do crime organizado nas disputas. Depois das milícias, o tráfico também entrou no jogo político e elegeu candidatos. Dinheiro sujo financiando campanhas, controle territorial de feudos eleitorais controlados pelo crime, coação de eleitores, assassinato de adversários e outras formas de violência política. Só em São Paulo foram 70 candidatos, sendo eleitos 10 vereadores e 2 prefeitos, segundo informações repassadas pelos órgãos de inteligência ao TRE. Em outros estados ocorreram fatos similares, com candidatos e eleitos com mandato de prisão em aberto, indicando que as leis em vigor têm sido pouco eficazes para impugnar candidaturas de criminosos. 

Enfim, as perspectivas continuam sombrias para a maior república bananeira do mundo. Aproveitemos a pausa que ganhamos para respirar e que não sabemos até quando vai durar.  Há que se buscar alternativas, e urgentemente.

República Bananeira de Gilead-Brasil

Vai se desenhando um futuro sombrio para a maior república das bananas do planeta. O resultado das eleições municipais, conforme se previa, foi péssimo para a democracia, ainda que menos pior do que o esperado. Mas não altera o rumo das coisas. Um batalhão de líderes religiosos fundamentalistas e de militares de todas as forças conquistaram mandatos em todo o país. O crime organizado também avançou. Depois das milícias, o tráfico também entrou no jogo político e elegeu candidatos. E tivemos ainda a novidade dos influencers de reputação pra lá de duvidosa.
O neofascismo, mesmo ficando aquém de suas próprias expectativas, consolidou um espaço relevante no jogo político, enquanto se prepara para conquistar o Senado em 2026. Como serão eleitos dois senadores por unidade da federação, tudo indica que colherão frutos expressivos. Ao lado do patrimonialismo do Centrão, poderão ferir de morte a democracia brasileira. E liquidar com o único poder que lhes coloca freios : o STF.
A maior surpresa desta eleição foi a votação de um coach criminoso, completamente inescrupuloso e amoral, alcançando quase 1/3 dos votos na maior cidade do país. Se ele permanecer impune, em 2026 teremos muitos outros iguais a ele em todos os estados brasileiros. Não bastará tirar os direitos políticos dele por 8 anos. Ele tem que ser preso e permanecer na cadeia por um bom tempo. Vamos ver se o Xandão banca mais essa, já que a grande imprensa, porta voz da Faria Lima,  normaliza esse tipo de criminoso. São funcionais para eles.
Seja como for, a governabilidade do Poder Executivo vai encontrar muitos mais obstáculos nos próximos dois anos.
Como se toda essa lama não fosse suficiente, temos um cenário externo pra lá de preocupante.  A eleição do Trump irá piorar em muito as coisas para a nossa bananolândia. Mesmo sabendo que os democratas também não nos darão uma vida fácil.

Porém o que aparece de mais grave é o risco de um conflito global. Nove entre cada dez analistas de relações internacionais afirmam sem pestanejar: a deflagração de um novo conflito de abrangência mundial é quase certa nos próximos anos. Para alguns, a guerra até já começou, apenas não passou para um cenário de guerra aberta entre as potências mundiais. De um lado, os que se consideram os donos do mundo, os EUA e a Europa Ocidental submissa à OTAN. Do outro, China e Rússia.
A guerra já estaria em seus primeiros movimentos na Ucrânia e no Oriente Médio. Se alguma das partes cruzar uma linha vermelha, o caos será instalado. Se as escaramuças entre Israel e Irã fugirem ao controle, poderemos ter uma nova crise do petróleo que arrastará todo o ocidente para uma crise econômica sem precedentes. Bom lembrar que essas crises sempre funcionam como alimento para o fascismo.
Se mísseis de longo alcance fornecidos pelo ocidente atingirem a Rússia causando estragos, será o fim da estratégia de “guerra de atrito” e a Ucrânia poderá ser arrasada.
Enfim, o mundo caminha no fio de uma navalha.
Nesse cenário, surge a maior preocupação: o uso de armas nucleares. Não sabemos qual será o alcance e a intensidade do uso destas armas. Poucos duvidam que elas serão usadas em algum momento. Resta saber até que ponto irá a estupidez dos meios militares e belicistas. O fato é que a humanidade poderá retroceder décadas, séculos, ou mesmo se extinguir. O número de mortos poderá chegar à casa das centenas de milhões ou mesmo bilhões.
Diante de um conflito mundial, os países periféricos serão chamados a um alinhamento. Nossa república bananeira terá que escolher o seu lado. Ou melhor, não terá escolha. Tio Sam não admitirá dissensos no que considera como o seu quintal, a América do Sul e Central. Aos governos dessa parte do mundo só restará barganhar de forma pragmática a sua posição. Uma adesão à “nova rota da seda” será torpedeada, seja pelos meios políticos seja “a la nordstream“.
Na segunda grande guerra, Getúlio Vargas, com habilidade, negociou indústrias de base em troca do abandono de uma posição de neutralidade. Foi o que tornou possível a nossa industrialização.
A ainda indefinida eleição norte-americana pouco irá alterar esse horizonte. Se Trump vencer, certamente vai bancar o retorno do neofascismo ao poder, o que significará um caminho livre para a destruição da civilidade na vida social brasileira. Se vencerem os democratas, talvez seja menos pior, mas não muito. Porque poderá haver, quem sabe, uma solução negociada para a redução de danos.  O preço, no entanto, será alto: abdicar de qualquer possibilidade de desenvolvimento soberano.
Nossos militares já abriram mão da soberania política há tempos (refletem, apenas sobre a territorial, e mal). Já deixaram isso claro isso numa das mais patéticas publicações já patrocinadas pela caserna: o Plano Brasil 2035.
Para nossos militares bananeiros bastam os privilégios corporativos para a alta oficialidade e acesso a  armamentos modernos, sem transferência de tecnologia, para brincarem em seus exercícios militares. A inquestionável submissão ao Comando Sul dos EUA é de uma viralatice vergonhosa. E o minúsculo “ministro da defesa” reclama da suspensão da compra de equipamentos militares de Israel, por ser uma decisão “ideológica”.
Resta torcer para que, num futuro breve, surjam outras lideranças políticas com alguma habilidade para lidar com esse cenário difícil que se avizinha. Mas não há evidências que nos permitam ser otimistas. Os próximos dois anos serão decisivos, para o Brasil e para o mundo.

Novas mudas de banana da república bananeira

A retirada do ar “X” de Elon Musk no Brasil foi a grande polêmica das últimas semanas. O “Xandão”, mais uma vez,  demonstrou coragem em contrariar interesses poderosos. Enquanto os neofascistas urraram de raiva, outros saudaram o ato como uma demonstração de que não seríamos uma república das bananas.  Ledo engano.
Musk acatou decisões similares em inúmeros outros países sem reclamar. Por que esperneou tanto no Brasil? Simples: ele nos vê exatamente como somos, uma república bananeira. Xandão é uma rara – e, no momento, salvadora –  exceção.
Subitamente, descobrimos que parte substancial de nosso sistema de defesa é dependente da Starlink, ou seja, do Musk. Com tal descaso com a soberania tecnológica por  parte da nossa milicada, Musk raciocinou corretamente.  Compreendeu, com razão, a essência bananeira da nossa república. Não esperava uma reação não submissa. Até porque tem como advogado no Brasil o filho do Comandante do Exército. Por isso dobrou a aposta, coisa que não fez em situações similares em outros países.
Isso não ocorre à toa. A formação dos nossos militares é completamente anacrônica. Um portal de notícias independente divulgou recentemente o conteúdo de trabalhos acadêmicos de futuros comandantes. E o retrato foi deprimente. Defesa do golpismo, teorias conspiratórias, fake news tratadas  como fatos, referências a teses anacrônicas dos tempos da guerra fria. Nossa milicada se contenta em ser um mero apêndice do Comando Sul do Tio Sam. Indignações ficam reservadas para quem ameaça seus privilégios previdenciários.
Por isso nossas bananeiras não param de frutificar.
A derrota do Bozo nos deu um tempo para respirar, mas o neofascismo avança. Na maior cidade do país, duas chapas neofascistas disputam a eleição com o apoio descarado da elite quatrocentona. Seus jornalões normalizam um “coach” pra lá de pilantra e divulgam falsas acusações contra a única chapa capaz de derrotá-los. Como sabemos, esses órgãos de imprensa tem know-how na fabricação de falsos dossiês incriminatórios. Essa elite não se importa com o futuro da cidade ou do país. Típica elite da república bananeira. Nem o céu e o ar poluído os fazem refletir o quão desastroso é o seu proceder. Para eles basta uma polícia truculenta para cercar os pobres e a garantia de oportunidades para multiplicar os seus lucros.
A normalização do “coach” pilantra é o maior exemplo. Sequer precisava estar nos debates, pois seu partido não tem representação parlamentar. Ele fala as maiores abominações impunemente.  Nem Trump contou com tamanha condescendência, pois foi desmentido várias vezes em tempo real pelo mediador no debate com Kamala.
No resto do país, o cenário das eleições municipais não é nada animador. O fascismo ameaça tomar até mesmo algumas capitais importantes do nordeste.
Enquanto isso, nossa esquerda no poder, porém quase impotente, se anima com uma virada dos democratas, com a possibilidade de vitória da Kamala Harris sobre Trump. Lula, desnecessariamente, externou sua preferência por Kamala.  O republicano não esquecerá disso se ganhar. Se o neofascismo vencer nos EUA, os próximos dois anos serão ainda mais difíceis por aqui.

Não deu no New York Times…

O saudoso humorista Henfil, no único filme que dirigiu ao longo da vida (TANGA – Deu no New York Times), fez uma interessante paródia da nossa república bananeira. Num país fictício (tal como a Anchúria e Bruzundanga) a única coisa que incomodava a elite bananeira era a imagem negativa estampada no principal jornal da metrópole. Porque, na imprensa local, as bananices sempre geravam manchetes convenientes.

Como pouca coisa mudou na cabecinha das nossas elites bananeiras, as donas dos grandes meios de comunicação da imprensa local, a história sempre se repete. Criaram um factóide em torno do Ministro do STF que enfrentou a escumalha golpista, com a clara intenção de livrar a cara nos neofascistas e dar fôlego para a negociação de uma anistia aos golpistas. O recado é claro: vão apoiar de novo o fascismo caso o governo não desista de desviar recursos que engordam as suas contas com juros estratosféricos. Não querem que se invista no bem-estar da população mais sofrida (saúde e educação públicas, seguridade social e habitação popular). Além disso, cobram privatizações tão escandalosas quanto foi a da SABESP. Tudo para engordar ainda mais suas obesas fortunas.

Os jornalões já emprestaram seus veículos para a sequestro, tortura e morte de opositores durante a ditadura militar, já divulgaram fichas sabidamente falsas de pessoas indesejáveis para as nossas elites (muito antes da epidemia de fakenews), deram palco a agentes públicos vergonhosos quando operaram fraudes jurídicas. Ainda são os mesmos, como os nossos generais, com sua velha farda verde-oliva que pode lhes servir ainda mais (Perdão, Belchior!).

E também mandam um recado para aqueles que comem de garfo e faca, supostamente defensores das conquistas civilizatórias da democracia liberal. Como a clássica cena de outro filme que parodiou a nossa república bananeira (a república de Eldorado, de Terra em Transe, do Gláuber Rocha):

http://<iframe width=”683″ height=”384″ src=”https://www.youtube.com/embed/90oZOkiTNwc” title=”&quot;Qualé a sua classe?&quot; cena de Terra em Transe (1967)” frameborder=”0″ allow=”accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share” referrerpolicy=”strict-origin-when-cross-origin” allowfullscreen></iframe> https://youtu.be/90oZOkiTNwc

https://www.youtube.com/watch?v=90oZOkiTNwc

Usando conceitos de Gramsci, faltam lideranças orgânicas entre as classes subalternas para resisitir com mais vigor a esse ataque neofascista.

BOLÍVIA, VENEZUELA, BRASIL.

BOLÍVIA, VENEZUELA, BRASIL.

Bem que os milicos bolivianos tentaram mais uma vez. Atingiram a incrível marca de 194  quarteladas na história da Bolívia. Algumas bem sucedidas, mas quase sempre com vida curta. Desta vez o fracasso foi imediato. Ou melhor, nem tão imediato assim, já que durou o suficiente para a escória do golpismo brasileiro celebrar com aquela típica euforia do torcedor antes do VAR assinalar que o gol foi anulado. Mas a turma verde-oliva dos andes ainda está longe de nos roubar a taça  de maior república bananeira do planeta. E é fácil dizer o porquê.

Lá os golpistas foram em cana. Aqui, os fardados golpistas seguem impunes, alguns sequer são investigados, apesar das inúmeras evidências, há ainda aqueles golpistas que permanecem ocupando cargos e funções de relevo na corporação.  E, para os que foram escolhidos para servir de “boi de piranha”, no silêncio dos bastidores vai sendo articulada uma anistia ou, no máximo, alguma punição simbólica. A grande imprensa  – porta voz das classes dominantes – finge que não vê. O golpe é um recurso que querem sempre ter ao seu alcance. Parlamentares golpistas celebraram a quartelada dos vizinhos no primeiro minuto, algo tratado com a maior naturalidade pela mídia e pelas instituições ditas republicanas.

A elite bananeira não se escandaliza. Enquanto se chafurda nos juros pornográficos que lhes dá rendas  astronômicas, exige cortes e maior austeridade nos gastos públicos. Nos editoriais de seus jornalões clamam por uma nova reforma da previdência, mas omitem o peso da previdência dos militares. Usam a fragilidade da democracia para que o governo não enfrente privilégios. Os milicos bananeiros são os seus cães de guarda e não cogitam desagradá-los.

Desiste, milicada da  Bolívia. Vocês podem chutar mais ao gol, mas o que conta é a bola balançando a rede pelo lado de dentro.. Essa taça do mundo é nossa, ninguém tasca. O título de maior república bananeira do mundo ainda é nosso.

Diante da quartelada fracassada, a reação do Tio Sam foi reveladora. Nenhuma condenação contundente. Seguramente seus órgãos de inteligência sabiam da articulação golpista. Continuam os mesmos. Com o avanço do neofascismo no cenário internacional, os prognósticos para as nossas frágeis democracias não é nada animador.

O caso da Venezuela, com suas inúmeras versões e contraversões, desnuda uma contradição que poucos analistas têm a coragem de expor com franqueza: que a democracia liberal não dá conta de garantir  a soberania de nações periféricas diante dos interesses econômicos do imperialismo ianque. Hugo Chavez, inverteu a lógica militar ao reestruturar as forças armadas numa orientação nacionalista (além de conceder benesses corporativas, claro). Assim, privou o Tio Sam de seu principal ator golpista. Sem eles, as tradicionais ações de desestabilização – sanções econômicas e outros atos de guerra híbrida – têm sido insuficientes. Tudo indica que o governo Maduro aparelhou todas as instituições para trabalharem a seu favor. Porém as elites bananeiras sempre fizeram isso, de forma sutil ou não, sem nunca despertar qualquer indignação nos “formadores de opinião”, pelo contrário.

Não há lugar para republicanismo ingênuo na luta de classes. As instituições da república sempre foram objeto de disputa política. Agentes públicos nunca são isentos.  Quando muito, agem com honestidade, mas só quando o custo político da parcialidade é muito alto.

Pode ser que as eleições da Venezuela tenham sido fraudadas, mesmo reconhecendo que o chavismo ainda possui relevante base social. Talvez o governo Maduro seja realmente desastroso. Mas o que acontece lá não é uma disputa democrática, é um confronto geopolítico, uma guerra híbrida em andamento. Em que a situação tenta preservar a soberania sobre a principal riqueza da nação – o petróleo – e uma oposição neofascista (fato omitido e naturalizado pela mídia) opera a serviço dos interesses econômicos dos EUA.

O mesmo EUA que silenciou no golpe boliviano, reconheceu quase de imediato o opositor venezuelano como presidente. O neofascismo não é o inimigo dos EUA; é um instrumento para garantir a sua hegemonia no seu quintal. Se no plano interno Trump é um problema para a democracia deles, no plano externo o neofascismo é funcional e, quando conveniente, um importante aliado.

O  mais preocupante é que, o fiel da balança nessa disputa, são os militares. Herança bananeira que até hoje infesta as nações latinoamericanas. As elites venezuelanas têm tentado cooptá-los, até agora sem sucesso. Difícil a situação da Venezuela. Tem tudo para terminar em mais uma sangria pelas veias abertas da américa latina, como escreveu Galeano.

O grande desafio que se coloca é a reinvenção da democracia para as nações do sul global, diante da evidente falência do modelo liberal.