Na República Bananeira, o golpismo vive à espreita

A cada nova revelação sobre os acontecimentos de 8 de janeiro, fica mais claro o quanto a milicada mamateira-bananeira deve estar contrariada por ter sido alijada do poder.  O golpe foi preparado com a discrição típica dos terroristas, de forma clandestina. Mas sempre ficam pontas soltas e a trama vai sendo revelada ao longo do tempo.
O alto comando sabia que não poderia se expor, porque não tinha o aval do Tio Sam. Porém permitiu que os mais radicais, os setores de inteligência e uma parte da média oficialidade tomassem as rédeas da iniciativa golpista. Se a instalação do caos fosse bem sucedida, fariam a intervenção com as “mãos limpas”. Se desse certo, poderiam se livrar de Lula e do Bozo ao mesmo tempo. Se desse errado, como deu, poderiam posar de legalistas. Como tentam fazer agora. Quem quiser que se iluda. A única preocupação deles agora é proteger os colegas de farda de punições severas.
A milicada bananeira–mamateira resiste a abrir mão de seu poder. A queda de braço agora é pelo controle da GSI. O lugar estratégico onde a trama golpista foi gestada.  A determinação em preservar esse espaço é a demonstração que o horizonte golpista permanece no horizonte da milicada.
Provavelmente viveremos um período similar aos anos entre os governos de JK e Jango. Veremos nos próximos anos tentativas de desestabilização constantes, a espera de uma tempestade perfeita, que reúna  crise econômica interna, classe média à beira de um ataque de nervos, cenário geopolítico favorável, entre outros fatores.
Não chega a ser estarrecedora a recente matéria de uma revista semanal que expõe o papel dos chamados “kids pretos” na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. Coordenaram a invasão da Esplanada, dinamitaram torres de transmissão, escaparam do cerco sob proteção de seus superiores. Provaram que estão mais espertos, treinados e cuidadosos: dessa vez nenhuma bomba explodiu no colo de um deles. É aí que mora o perigo: os terroristas formados na caserna estão muito melhor preparados. Se quiserem novamente explodir uma represa ou gasômetro para matar milhares de cidadãos inocentes, talvez sejam bem sucedidos.
O golpismo tem um modus operandi pra lá de manjado. O que tivemos recentemente foi bem semelhante ao roteiro usado no “golpe dentro do golpe” que resultou no Ato Institucional No. 5, o famigerado AI-5, em 1968. Desta vez não deu certo, mas enganam-se os que pensam que os golpistas estão derrotados. Apenas se recolheram à espera de uma nova oportunidade.
Quem quiser saber mais detalhes das histórias passadas, recomendamos a leitura da excelente reportagem de Vasconcelo Quadros na Agência Pública (Atentados de direita fomentaram o AI-5)  e do livro “A direita explosiva do Brasil”, dos jornalistas José Argolo, Kátia Ribeiro e Luiz Alberto Fortunato.
Há um episódio que guarda grandes semelhanças com os acontecimentos recentes. Em 1968, sob as orientações de um general de pijama, Paulo Trajano da Silva, do general Silvio Corrêa de Andrade, chefe da Polícia Federal em São Paulo e do general Jayme Portella, chefe da então Casa Militar da Presidência, um grupo terrorista praticou naquele ano uma série de atentados à bomba (17 comprovadamente) que as autoridades atribuiram à “esquerda”. O objetivo, bem sucedido à época, era fabricar pretextos para endurecer o regime.O grupo terrorista paramilitar  era chefiado por Aladino Félix um sujeito completamente desequilibrado, chegado a delírios messiânicos e  fanático anticomunista.  Usava o místico codinome “Sábado Dinotos”.Troque-se o nome dos generais citados por Braga Neto, Mourão e Heleno, e teremos um “remake” do mesmo filme. Ah, e ao invés da Casa Militar, leia-se GSI. Dentre os acampados nos quartéis não faltaram alucinados para o cargo messiânico de lider dos atentados.
Jamais escaparemos da sina de sermos uma eterna república bananeira se não tivermos uma profunda reforma nas instituições militares. Com a punição dos golpistas e profundas  transformações nas escolas de formação dos militares. Como bem disse recentemente um talentoso humorista, são escolas de formação de bolsonaros…Porém, conforme comentamos acima, os golpistas de hoje estão mais preparados: se anteciparam às críticas e produziram um documentário sobre a formação dos militares, recentemente lançado com destaque na principal rede de streaming.  Uma bizarrice que merecerá uma postagem à parte.