Bananas históricas

Da aprazível cidade de Aracati-CE, vem uma importante lição de História. Esta cidade costeira do Ceará é mais conhecida pela sua paradisíaca praia turística (Canoa Quebrada). Porém foi palco de alguns eventos bem simbólicos.

Foi lá que, em 1881, o jangadeiro e abolicionista Francisco José do Nascimento (ou Chico da Matilde) liderou um boicote ao transporte de escravos para os navios que os levariam para o Rio de Janeiro, onde seriam revendidos. Pela sua bravura neste episódio, passaria a história com o título de “Dragão do Mar”, o “Jangadeiro Nascimento”.

Após a Abolição, a jangada do Chico, batizada com o nome de “Liberdade”, foi trazida para o Rio de Janeiro. A princípio, seria exposta no Museu Nacional como uma peça histórica. Mas deram a infeliz ideia de levá-la para o Museu da Marinha. Desde então, o destino da embarcação é ignorado.

Entregar o destino da “liberdade” aos militares foi um imenso equívoco. Anos antes, em 1869, um jovem jornalista da mesma Aracati já tinha feito um alerta. O abolicionista e republicano Júlio Cesar Fonseca Filho publicou em seu jornal: “-Façamos a República! Fora o rei! Cuidado com o Exército: onde ele predomina, a liberdade é uma mentira”. (ver Nota final).

Dito e feito: militares monarquistas deram um golpe “republicano” que traiu os ideais da república.

Até hoje o Brasil não aprendeu a lição deixada por aqueles cidadãos de Aracati.

Benjamin Constant, mentor e ideólogo do movimento republicano, disse certa vez, de forma profética, que era preciso tomar cuidado com a ignorância no seio do Exército: ela seria uma espada de dois gumes, uma delas pronta para ferir o próprio povo.

Nesta nossa infeliz república bananeira, parece que pouca coisa mudou desde então. As FFAA dirigem suas armas para o “inimigo interno”, ou seja, concidadãos que não se submetem à sua pretensa superioridade moral.

Nota 1: O jornal era o “Barrete Phrygio” (nome do gorro vermelho que se tornou símbolo dos revolucionários franceses). Impresso em papel vermelho, é considerado o primeiro jornal republicano do Brasil. Teve a sua primeira e única edição apreendida e destruída, e o jornalista teve que fugir e se esconder, para não ser preso e levado à força ao front da Guerra do Paraguai.