INTERNACIONAL BANANEIRA

O neo-nazifascismo ainda vai nos infernizar por um bom tempo. Isto porque é, também, um fenômeno mundial.  Existe um ensaio da  Hannah Arendt, publicado em junho 1945, intitulado ” As sementes de uma internacional fascista”.  A autora alertava que a derrota do nazifascismo não significou o seu fim para os seus partidários, mas apenas um revés temporário. A derrota teria até mesmo reafirmado a crença deles: fora da ordem fascista, resta somente o caos. Aliás, eles semeiam o caos para “fabricar” esta verdade.E, ao perder o controle da máquina estatal, livres da responsabilidade de governar, ganharam uma maior liberdade de ação.

É o que vemos no Brasil pós-bolsonaro.  Uma sabotagem constante, que ainda conta com os “independentes” que sobrevivem na máquina pública com seus mandatos intocáveis, do Banco Central às Agências Reguladoras, dos órgãos militares aos incrustados no sistema de justiça. Sem falar nos que conquistaram mandatos parlamentares, nas urnas eletrônicas que diziam ser fraudulentas.

Voltando a Arendt, ela concluiu que o fascismo continuaria a existir internacionalmente com fundamentos racistas, nacionalistas e antissemitas. Pela via acadêmica, ela chegou à mesma conclusão do dramaturgo seu conterrâneo, Bertold Brecht (“a cadela do fascismo está sempre no cio”).

É uma observação importante da Arendt: o nazifascismo é um fenômeno internacional e a luta contra ele deve levar isso em conta. É preciso, no nosso caso, que a barbárie do bolsonarismo, desse nazifascismo brasileiro, repercuta em todo o mundo democrático. As imagens do Auschwitz Yanomami correram o mundo e assim deve continuar a acontecer. A questão ambiental deve estar em evidência constante. É o grande trunfo que temos para que as nações ditas democráticas não silenciem diante dos ataques à nossa frágil democracia.

A lacuna que Arendt não preenche, em razão da limitação da sua visão liberal, é que o sucesso do fascismo depende das movimentações e interesses do grande capital.  Para suprirmos essa lacuna, temos o livro do norte-americano Michel Parenti, lançado recentemente no Brasil: “Os camisas negras e a esquerda radical: fascismo racional e a derrubada do comunismo”. O autor salienta que fascismo cresceu com as bênçãos do grande capital, pois foi funcional aos seus interesses. E pode sobreviver mesmo depois de derrotado pelo mesmo motivo.

Parenti também se debruça sobre um tema geralmente negligenciado pelos pesquisadores: a cooperação dos aliados ocidentais com fascismo. Com exceção do julgamento das principais lideranças nazistas em Nuremberg, “a polícia, os tribunais, as Forças Armadas, às agências de segurança e a burocracia permaneceram, em grande medida, nas mãos de indivíduos que haviam trabalhado para os antigos regimes fascistas ou nas de seus recrutas ideológicos”.  Foi isso o que permitiu que redes fascistas sobrevivessem e continuassem a agir até os dias de hoje. Voltando à alegoria de Brecht, a “cadela no cio” permanece sempre pronta para ser fecundada e parir novas bestas.

O Tio Sam nos ajudou a frustrar um golpe fascista, milico-bananeiro. Porém, a qualquer momento, conforme seus interesses sejam contrariados, pode voltar a insuflar o golpismo. Nossa democracia, sem um sólida base de apoio popular organizada e mobilizada, permanece frágil.