BANANAS, CASCA E POLPA

A fruta mais popular do país, que nos define enquanto sistema político (república das bananas) é composta de duas partes: a casca, a superfície aparente, que oculta dos nossos olhos a polpa, que contém a essência do fruto.

Entre a aparência e a essência de uma fruta há diferenças brutais. Não se pode confundi-las. Assim como devemos nos cuidar diante da aparência dos atos cotidianos, que muita das vezes oculta a essência  das suas reais intenções.

Nos últimos dias, com certa dose de otimismo, muita ênfase foi dada na casca da nossa república bananeira.

Um curioso “vazamento” revelou a compreensão de um comandante sobre o papel dos militares que, mesmo descontentes com o resultado eleitoral, deveriam submeter-se à ordem legal. Algumas vozes do STM concordaram que militares envolvidos no ataque aos poderes do dia 8 de janeiro sejam julgados pelo STF. Um jornalista sénior, notório por psicografar autoridades falecidas e desejosas de dar conselhos sobre a ação dos vivos (alguns vivíssimos e até alguns vivaldinos) discorreu sobre a inutilidade do debate sobre a revisão do artigo 142 da Constituição. O argumento utilizado, óbvio e ululante (como diria Nélson Rodrigues), destaca que quem quer dar um golpe pouco se importa com impedimentos constitucionais. Para completar o cenário,divulgou-se o anúncio da supressão da ordem do dia da caserna em louvor ao 31 de março de 1964.

Ora, ora, ora. Tudo casca de banana que, como é notório, pode provocar tombos vexatórios nos incautos.

A ausência de condições objetivas para um golpe frustrou a caserna. Essa era a vontade majoritária no meio castrense. Como são treinados em estratégias e táticas de combate, sabem a hora de recuar e sabem dissimular suas reais intenções. Em paralelo, negociam a ocupação de espaços de importância tática no terreno político. E lá permanecerão de forma sorrateira, à espera de uma oportunidade para, se possível, atacar novamente. O DNA golpista sempre fala mais alto.

Nós sabemos o que os militares ditos “legalistas” e “moderados” pensam e despudoradamente disseram em verões passados.

Yes, nós temos bananas!