Novo cenário da Guerra de Agressão do Império.

O Brasil venceu a primeira batalha na guerra de agressão do Império do Tio Sam. Uma vitória que se deu no campo das negociações diplomáticas. Trump recuou com grande parte das sanções tarifárias e concordou com a suspensão da aplicação da Lei Magnitsky. O governo dos EUA entendeu que estava prejudicando mais a si mesmo ao abraçar a defesa de uma família de imbecis, de loosers. Porém, como em toda negociação, o Brasil teve que fazer algumas concessões, que permanecem no segredo dos bastidores (terras raras, bigtechs, streaming audiovisual, etc.).

E tem outra coisa que deve ser celebrada: a prisão dos golpistas – incluindo o ex-presidente e mais um almirante e quatro generais estrelados – um verdadeiro marco na nossa história. Mesmo que, a exemplo do que ocorreu no Chile, tenha havido uma negociação para que eles ficassem detidos em suítes confortáveis. Ainda que eles não percam as suas patentes, cumpram só parte da pena ou ganhem prisão domiciliar, o que importa é que estamos diante de um fato inédito e de grande força simbólica, um passo importantíssimo para nos livrarmos da sina de república bananeira. Porque essa é uma guerra longa e outras importantes batalhas se avizinham. As forças bananeiras ainda não foram derrotadas. Longe disso. A aprovação do PL da dosimetria é um exemplo disso (ou uma concessão aos EUA, segundo uma versão). E estas forças irão com todas as suas energias para disputar as eleições do ano que vem, que serão as mais importantes da história do nosso país.

A mentalidade dos nossos militares não mudou, ainda que momentaneamente eles tenham saído dos holofotes para se preservarem. As centenas de oficiais despejados pelas academias militares seguem atrelados a uma mesma doutrina anacrônica. A elite econômica neocolonial, predadora, sem projeto de nação e anti-povo, ainda é a mesma. E a classe política paroquial e patrimonialista, a cada dia está mais degenerada e ambiciosa. Estas são as forças bananeiras.

Por isso é que em 2026 teremos a mãe de todas as batalhas. E sob o espectro da nova face da Doutrina Monroe: a recém divulgada Nova Estratégia de Segurança Nacional dos EUA.

Ao ler esse documento percebemos que não houve a mínima preocupação em dissimular os objetivos do Império: submeter todos os países do continente americano aos interesses de Washington. Seja pelo “convencimento” ou, se necessário, pelo uso da força militar. A única coisa que mudou é que, o que antes era dissimulado de forma hipócrita, agora se tornou explícito da forma mais desavergonhada possível.

Logo após a divulgação do documento, Trump regozijou-se da vitória dos candidatos que apoiou nas eleições presidenciais de Honduras e Chile. No primeiro caso, chegou a conceder indulto a um ex-presidente condenado a 45 anos por narcotráfico. Isso sem qualquer preocupação em ser coerente, já que acusa o presidente venezuelano do mesmo crime, mesmo sem nenhuma evidência. E já faz as mesmas acusações e ameaças de sanções ao presidente colombiano, de olho nas eleições presidenciais daquele país que ocorrerão em poucos meses. Na verdade, a única coisa que importa para Trump é que as lideranças políticas dos países das Américas do Sul e Central sejam subservientes ao domínio dos EUA no continente. E não faltam aqueles que se apressam para demonstrar a sua fidelidade canina. O Governo paraguaio assinou um acordo de cooperação militar, que garante livre acesso das tropas dos EUA ao seus território (sob o pretexto de combater uma suposta presença do Hezbollah na tríplice fronteira). E o recém eleito presidente do Chile já declarou apoio político a uma intervenção militar na Venezuela.

Assim, vai se consolidando na América do Sul e Central a OPA – Organização dos Países Ajoelhados. ( Sempre é bom rever a cena hilária do filme de Fernando Solanas: https://www.youtube.com/watch?v=RAB98PtJgcA )

O alvo da vez é a Venezuela. O momento atual é tenso, com o recém-decretado bloqueio à navegação das embarcações que transportam o petróleo venezuelano, além do confisco desta carga transportada por qualquer navio que saia da Venezuela. Um petróleo que tem por principal destino a China, que compra 80% da produção venezuelana. Não sabemos como a potência asiática reagirá.

A estratégia dos EUA é muito similar aos antigos cercos das cidades medievais, que se rendiam após serem submetidas à fome. É certo que, sem o comércio do petróleo a Venezuela sucumbirá em algumas semanas. Alguns ataques militares cirúrgicos podem ocorrer. E é pouco provável uma invasão por terra. Essa hipótese sempre soou como um blefe, pois teria um alto custo político, principalmente estando às vésperas de eleições legislativas de meio de mandato. O povo norte-americano não gosta de ver mariners sendo repatriados em caixões, mesmo que sejam poucos. A Venezuela, apesar a imensa inferioridade militar, tem um poderio capaz de causar danos no inimigo.

Alguns objetivos parecem claros. Trump não abre mão da cabeça de Maduro. É uma vitória simbólica que ele precisa. Oferece até prêmio milionário pelo assassinato dele. Chegou a oferecer ao mandatário a alternativa de um exílio. Por isso afirmou que ele tem os dias contados. E tudo indica que assim será. O passo seguinte é quem ocupará o poder. Talvez um governo provisório de transição, com chavistas inclusive, que se comprometa com a realização de eleições em alguns meses. No entanto, o ponto principal será os termos dos contratos de exploração do petróleo com as empresas norte-americanas. Trump falou claramente que as reservas da Venezuela – as maiores do mundo – são dos EUA!

Aconteça o que acontecer, tudo dependerá das negociações que acontecem em âmbito reservado entre os EUA, China e Rússia. Entre eles há linhas vermelhas que não podem ser cruzadas, sob o risco de uma grave crise global. E elas estão na Venezuela, na Ucrânia e no Mar da China.

Dominada a Venezuela, as atenções se voltarão para as duas maiores economias da América Latina: México e Brasil. Como o primeiro tem 80% da sua economia integrada à do Império, não chega a ser uma grave ameaça aos EUA, exceto pelas questões fronteiriças. O Brasil sim é a jóia da coroa a ser conquistada. E o jogo sujo será pesado no próximo ano, com as armas de guerra híbrida sendo usadas em todas as suas alternativas. Uma delas já se anuncia: a mobilização da tal geração “Z”, que teve um recente balão de ensaio no México.

Alguns analistas minimizam este risco de sabotagem ao Brasil citando um trecho da estratégia de segurança dos EUA que fala em “realismo flexível”, que seria a busca de “boas relações e relações comerciais pacíficas com as nações do mundo sem impor a eles mudanças democráticas ou sociais que diferem amplamente de suas tradições e histórias”. Prossegue o documento: “ reconhecemos e afirmamos que não há nada inconsistente ou hipócrita ao agir segundo essa avaliação realista ou em manter boas relações com países cujos sistemas de governo e as sociedades diferem das nossas mesmo enquanto incentivamos amigos com ideias semelhantes a defender nossas normas compartilhadas, promovendo nossos interesses enquanto fazemos isso”.

Seria preciso ser muito tolo ou cínico para crer que a suposta “química” entre Trump e Lula nos coloca no âmbito desse tal “realismo flexível”. O trecho parece mais ser endereçado às ditaduras árabes, aliados históricos do Tio Sam. Mas o recado é claro e vale para todos: o que os EUA querem é submissão das nações aos seus interesses. Pouco importa o contexto interno.

Nessa guerra, um confronto aberto é impossível. Para o governo brasileiro, só resta negociar dentro daquilo que a diplomacia chama de “geometria variável”. Só isso explica o esforço do governo para fechar o acordo Mercosul-União Europeia. Um acordo cujos termos são muito ruins para o Brasil, mas que é estratégico dentro da perspectiva do multilateralismo. Além disso, há um trunfo importante: a China, nosso maior parceiro comercial, sustenta a ala mais retrógrada da república bananeira, o agronegócio exportador. O Brasil não aderiu formalmente à nova rota da seda ao cinturão, preservando a nossa flexibilidade. A equação não é simples para nós, mas também não é para o Tio Sam. Por isso Trump precisa de um capacho na nossa presidência.

O Brasil, que terá uma eleição crucial para o seu futuro, será o principal alvo do Império em 2026. E a reeleição poderá ser uma vitória de Pirro, caso o Congresso prossiga com uma mesma composição, ou até pior que a atual.

A sina de ser uma república bananeira não é uma fatalidade histórica. Esta condição foi uma cuidadosa e sólida construção colonial. E que, na sua essência, pouco mudou. A guerra de libertação dessa dominação não se resume em derrotar o neofascismo nas eleições. É uma luta que vai durar ao menos uma geração.

Assim este blog encerra as postagens de 2025. Sem nenhum otimismo, mas com algumas esperanças para 2026. Voltaremos em janeiro para comentar sobre o que pode alimentar as nossas esperanças.

Deixe um comentário