Diário da guerra contra o Brasil

Consumada a condenação dos golpistas pelo STF, aguarda-se para qualquer momento uma nova retaliação do governo Trump, que tomou as dores do seu lambe-botas e aplicou tarifas espúrias a produtos brasileiros, cancelamento de vistos e sanções da Lei Magnitsky à autoridades brasileiras. Nos momentos que antecederam o julgamento, ainda colocou a porta-voz da Casa Branca para jogar no ar uma surreal hipótese de intervenção militar.

As medidas tomadas fracassaram. Não conseguiram interferir nas decisões do STF (ainda que um magistrado tenha dobrado os joelhos de forma um tanto vexaminosa). Há quem diga que a pressão estrangeira até piorou a situação dos réus. E Trump ainda teve que ler no New York Times uma coluna do presidente do Brasil sapateando no tablado.

A condenação dos golpistas é um momento histórico. Estamos diante da oportunidade de, finalmente, darmos um sólido passo no sentido de romper com a sina de sermos uma eterna república bananeira. Como nada é fácil, essa oportunidade surge no momento em que o neofascismo avança no mundo, capitaneada pela maior potência econômica e militar do globo. E o maior interessado em impedir o nosso desenvolvimento soberano.

Desde a sua criação, este blog sempre demonstrou um grande ceticismo quanto ao futuro do nosso país. Embora desagradando a muitos, afirmamos que o Brasil nunca deixou de ser, em essência, uma grande república bananeira. Apesar de ter logrado significativos avanços sociais, econômicos e culturais, nosso país se manteve refém de militares com ideias anacrônicas, de uma elite econômica neocolonial-predadora e de uma classe política predominantemente patrimonialista. Essa combinação impediu e ainda impede a construção de um projeto de nação soberana. A cada avanço, a cada conquista, ressurgem forças que nos submetem a retrocessos.

Imaginamos que esse também foi o diagnóstico de Trump ao decidir tomar as dores da família golpista. Esperava que a pressão daqueles grupos prejudicados obrigassem o governo a ceder. Só que Trump avaliou mal a conjuntura. Não percebeu que os militares estavam momentaneamente acuados, que havia divisões na elite econômica, e que o infeliz ataque ao PIX queridinho dos brasileiros mexeria com os brios nacionalistas. Além disso, subestimou a liderança do Lula e a inimaginável resistência do Xandão (quem diria, o mesmo que apoiou o golpe do impeachment da Dilma).

Trump errou na dose das retaliações, abusou da arrogância, se equivocou na certeza de uma capitulação fácil. Não compreendeu que tomou a defesa de um traste, um sujeito deplorável, um aliado político medíocre. Mal comparando, Hitler só tardiamente percebeu que avaliou mal o aliado Mussolini, muito popular mas também um grande fanfarrão, incapaz de entregar o que prometeu.

Um novo ataque virá em breve. Sabemos que o diabo laranja não sabe perder. Trump dobrará a aposta? Ou deixará o big stick de lado momentaneamente e voltará ao soft-power, que sempre deu resultados? Talvez novas tarifas, vistos negados, mais nomes alvos da Lei Magnitsky. Boas chances de algum factóide durante a Assembléia da ONU. Possivelmente pressões sobre os chefes do legislativo estão em andamento, sem grande alarde. A PEC da impunidade e a  anistia marota ainda estão na ordem do dia. Logo saberemos.

Porém tem algo de muito grave sendo gestado, que é o enquadramento pelos EUA do tráfico de drogas do PCC e do CV como terrorismo. È a senha para atropelar a soberania dos paises latino-americanos com intervenções militares. Uma arma típica de guerra híbrida.

O assassinato do delegado ex-chefe da Policia Civil de São Paulo tem toda a cara de ter sido facilitado. A própria vítima, já havia manifestado que não tinha proteção oficial, mesmo sendo constantemente ameaçado e declarado inimigo número 1 do PCC. E o secretário de segurança bolsonarista, como era de se esperar, recusa o apoio da Polícia Federal. Teoria da conspiração? O tempo dirá.

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