Brasil sob ataque

A semana começou com a expectativa da sentença dos golpistas no julgamento do STF. Mas também trazendo o impacto causado pela gigantesca bandeira dos EUA exposta na Avenida Paulista na dia de comemoração da Independência do Brasil. Uma bizarra demonstração de “patriotismo alheio” que não deveria surpreender a ninguém. Usando uma expressão meio gasta, podemos dizer que foi um exemplo claro dos efeitos da “colonização cultural” que atua sobre os povos periféricos. Uma colonização – que hoje se diz soft power – que teve no cinema a sua principal arma.

Um think tank chinês produziu há pouco tempo um estudo sobre o que chamam de guerra cognitiva dos EUA denominado “Colonization of the mind”, cuja leitura vale a pena. Um dos trechos do estudo assinala que

…a infiltração ideológica prolongada causou lavagem cerebral em certas elites em alguns países em desenvolvimento, fomentando uma síndrome de domesticação cultural na qual elas perdem a confiança nacional e agem como representantes dos interesses dos EUA. Isso, por sua vez, cultiva uma tendência a ceder à coerção e à intimidação dos EUA, corroendo a capacidade da nação de se defender.

É graças a isso que o “big stick” funciona.

Já em 1945 os chefões de Hollywood diziam: “-Não temos planos de efetivar qualquer socialização da indústria cinematográfica. Mas temos muitos planos para espalhar o modo de vida americano em todos os lugares. Acreditamos no modo de vida americano porque acreditamos que é o melhor modo de vida para todos os povos em todos os lugares”. (declaração atribuída a Eric Allen Johnston ativista do Partido Republicano e presidente da MPAA à época). Outro executivo teria dito que “enquanto o Estado envia tropas, nós enviamos o nosso cinema”. Uma exportação não somente de produtos produzidos por lá, mas também de uma estética hollywwoodiana que é reproduzida nas produções “nacionais”. Foi contra isso os chamados “cinemas novos” se insurgiram nos anos 60, sem grande sucesso, ainda que produzindo algumas obras primas da sétima arte.

Recentemente, o esporte foi usado para o mesmo fim. A embaixada dos EUA saudou a realização de um jogo da liga de futebol americano (NFL) em São Paulo dias atrás como um sucesso da “diplomacia esportiva em construir pontes e celebrar a excelência americana”.

Qualquer semelhança com o discurso nazista de superioridade da raça ariana não será mera coincidência.

Os próximos dias serão tensos. Já no primeiro dia do julgamento dos golpistas a Casa Branca mostrou os dentes. A porta-voz disse claramente que os EUA poderão usar todos meios não só econômicos como também militares para defender “a liberdade de expressão” seja onde for.

Uma ameaça que não chega a surpreender. Só faltou dizer que é a liberdade de expressão para a servidão ao domínio imperial deles. O que sempre fizeram ao longo de sua história na América latina e outros lugares do mundo. A única novidade é que nunca foram tão explícitos.

Novas sanções e represálias serão anunciadas pelo governo Trump contra o nosso país em breve. Uma hipótese que vem sendo ventilada é os EUA negarem os vistos para a delegação brasileira participar da Assembleia Geral da ONU que será realizada no final desse mês. Se isso se confirmar, as consequências serão inimagináveis.

A mudança do nome do Departamento de Defesa para Departamento de Guerra é uma sinalização preocupante. Algo que não pode ser interpretado como simples bravata. Espera-se a qualquer momento uma intervenção militar na Venezuela. Provavelmente uma ação cirúrgica e contundente, assassinando lideranças para instalar o caos naquele país, mas sem provocar uma guerra aberta. O recado será para todos os país da América latina: militarmente podemos esmagar vocês; então, submetam-se.

Quanto a ameaça de uma agressão militar ao Brasil, por enquanto, é algo que não deve ser levado a sério. Não estamos diplomaticamente isolados tal como Venezuela e o custo político de algo assim seria muito alto. A cúpula online do BRICS convocada às pressas foi uma mensagem das grandes potências da Ásia para o Tio Sam: uma agressão a um parceiro relevante implicará em respostas contundentes em outros cantos mundo.

Mas não tenham dúvidas: o uso de táticas de guerra híbrida vai se intensificar. Virão ataques pesados, muito pesados. Tudo com o objetivo de colocar um capacho dos EUA na presidência em 2026. Como já alertamos na postagem anterior, a CIA e a NSA vão investir em sabotagens e desestabilizações. O que fizeram na época do governo da Dilma vai parecer brincadeira de hacker amador.

Por fim, uma curiosidade: tudo indica que a bandeira usada na abertura do jogo da NFL foi a mesma levada para a Av. Paulista. Porém o mais interessante foi que ouviram-se vaias no estádio na hora do hino norte-americano. Prova de que, apesar de tudo, há brechas para a mobilização popular em torno da soberania nacional até entre admiradores do american way of lyfe. Esse é o nosso maior trunfo para organizar a resistência ao ataque imperialista. É preciso usá-lo com mais ênfase, e urgentemente

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