Como já comentamos em postagem anterior: o nacionalismo da nossa elite neocolonial não passa da segunda página. Um dirigente de entidade empresarial já pede para dobrarmos os joelhos, sugerindo que, para preservarmos a parceria com o irmão do norte, ofereçamos a exploração conjunta dos nossos minérios e uma tributação generosa para as bigtechs. Nada que já não venha sendo articulado por lobbistas locais nos bastidores há algum tempo. Ou seja, oferecem música para os ouvidos do Tio Sam. Tudo com a esperança vã esperança de que, quem sabe, talvez assim eles se acalmem e nos deixem continuar a fazer negócios com a China.
Coincidentemente, ou não, a British Petroleum anuncia que encontrou uma mega reserva no bloco de pré-sal entregue a ela…Quase um propaganda da “Fatal Model”, rodando a bolsinha para os nossos agressores e exibindo suas terras raras….
Fosse nos tempos do Bush ou Obama, tava tudo certo. Eles só queriam impor os interesses econômicos deles. Sempre encontraram aliados por aqui, dispostos a “firmar parcerias”. Porém com Trump é pior, porque ele não quer apenas impor; além de querer nos submeter ao seu domínio, o quer de forma humilhante. O CEO de um dos maiores bancos privados do Brasil já entendeu o recado e afirmou que está pronto para cumprir a lei…dos EUA…
Portanto, sinto informá-los: veremos os representantes da nossa elite econômica e da classe política em franco processo de conversão de bípedes em quadrúpedes servis, fenômeno que vai se acentuar nas próximas semanas.
Trump muito provavelmente vai prosseguir na defesa da familícia Bolzo, aplicando punições a outras autoridades brasileiras (líderes do Senado serão possivelmente os próximos alvos). Não por amor ao sujeito. Trump, no íntimo, o deve olhar Bolzo com desprezo, pela descarada sabujice que demonstra. Mas continuará em sua defesa por duas simples razões. A primeira, porque é um elemento de desestabilização interna, já que o Bolzo mantém uma base fiel, nas ruas e no parlamento, capaz de fazer muito ruído nas negociações. E em segundo lugar, porque ele ainda tem um capital político para alavancar a candidatura de um vassalo do império para a presidência no próximo ano – o grande objetivo estratégico do governo dos EUA.
Então, preparem-se para um violento bombardeio nos próximos dias, quando uns e outros irão mais uma vez faturar alto na compra e venda de dólares.
A bandeira da soberania nacional tem um grande potencial de mobilização, de arregimentar forças sociais para a nossa resistência. Transformar esse potencial em força real é o grande desafio.
E tivemos mais um final de semana de manifestações bolzofascistas. Parte da blogosfera se divertiu reproduzindo imagens do habitual desfile de criaturas bizarras, tipo aquelas que rezam para pneus. Outros difundiram avaliações que fazem uso frequente do adjetivo “flopou”, para depreciar o quantitativo de público das manifestações. A decretação da prisão domiliciar do Bolzo levou alguns a um quase-orgasmo.
Nada contra a se divertir com isso. Mas há que se relativizar esses acontecimentos. Como se dizia antigamente, nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
A mitologia clássica nos deixou de legado várias lições. Uma delas é a da caixa de Pandora: depois de aberta, não há muito o que fazer. Temos que conviver com os males que foram liberados, enfrentá-los, contando apenas com a esperança, a única coisa que nos restou da caixa aberta. Esperança, porém sem otimismo.
O fenômeno Bolzo libertou da vergonha as mais deploráveis características humanas. E vamos ter que conviver com essa turba pelas próximas décadas.
Porque a vergonha só reaparece depois do estrago feito. Os alemães que abraçaram o nazismo só se recolheram após a a catástrofe instalada e o projeto ariano fracassado. Derrotados, os nazistas voltaram pra dentro do armário e foram contidos por décadas em que o ideário deles foi institucional e socialmente condenado e criminalizado. Porém, como bem escreveu o dramaturgo Bertold Brecht, a cadela do fascismo está sempre no cio, pronta para ressurgir sempre que vê uma oportunidade. O fascismo já germina novamente na Alemanha, assim com em todo o mundo.
O que chamamos genericamente de fascismo é um fenômeno internacional. Não podemos ignorar essa característica. Quando os nazistas ocuparam várias nações europeias, delegaram aos fascistas destes países a execução do trabalho sujo, de extermínio de judeus, ciganos, gays e comunistas. E eles o fizeram com fervor. Nunca se viam como traidores da pátria. No Brasil, eles estão entre nós. Inclusive entre deputados e senadores, como vimos nessa semana.
Umberto Eco inventariou o modus operandi do que ele chamou de UR-fascismo. Não um fenômeno a-histórico, mas trans-histórico. Primo Levi, sobrevivente do holocausto, já havia dito que cada época tem o seu fascismo a ser combatido.
Portanto, a guerra que estamos vivenciando não é somente pela soberania nacional. Ela também é da civilização contra a barbárie.