O Brasil inteiro acaba de descobrir, e pelos editoriais dos jornalões, que são os diários oficiais da elite econômica nacional, que até uma república bananeira tem seus limites.
Que as nossas elites sempre aceitaram que o Brasil fosse inserido numa ordem econômica mundial de forma submissa, ocupando eternamente um papel periférico, isso sempre soubemos. Obviamente, desde que o fluxo de dinheiro para os cofres dessa mesma elite se mantivesse constante, ainda que às custas de uma brutal desigualdade na distribuição das riquezas geradas e da superexploração da população mais vulnerável.
Foi preciso que uma família de políticos medíocres se superassem em sua própria burrice e estupidez para que viessem à tona os limites que existem para esta submissão.
É inacreditável, mas o Bolzo conseguiu ficar politicamente inviabilizado. Foi capaz desta proeza. Nem que prometa colocar o Campos Neto de Ministro da Fazenda e indicados da Faria Lima nos Ministérios. Acabou, porra! É o recado que as elites do país passam através dos editoriais dos seus jornalões. Não é mais uma opção diante de uma “escolha difícil”. Mais do que isso: os jornalões passaram um recado extensivo aos presidenciáveis que buscam herdar os votos da famíglia Bolzo. Avisaram-os de que correm o risco de dar um abraço num afogado. Os que quiserem o apoio da elite para as suas candidaturas terão que concordar em jogar o clã do Bolzo na vala. Até porque a cadeia os espera. Pode ser uma prisão domiciliar ou um generoso asilo político na Disneyworld land, lugar mais adequado para dar abrigo a um bando de patetas.
Não por acaso o neofascismo brasileiro está em transe, à beira de um ataque de nervos, sem saber muito bem o que fazer. Mas é preciso muita calma nessa hora. No dizer maquiavélico,é hora de se ter a virtu necessária para aproveitar um momento de fortuna. Sem grandes ilusões.
A bravata de Trump foi uma cena teatral para enviar uma mensagem clara: não vai permitir que ninguém no que ele considera como o seu quintal irá “cantar de galo”. A defesa do Bolzo foi um balão de ensaio, um pretexto para manter excitadas as bases do neofascismo internacional. Concretamente, não há nenhuma racionalidade técnica no tarifaço anunciado. Causou estupor até na Câmara de Comércio deles (U.S. Chamber of Commerce) que antevê claros prejuízos para as cadeias produtivas deles. Portanto, é uma mera cortina de fumaça. Se engana quem diz estarmos diante de meras atitudes tresloucadas.
É preciso ficar muito atento ao comportamento da elite neocolonial. Após ser tomada de um breve arroubo nacionalista, suplicou ao governo que busque uma negociação com os EUA. Trump esperava por isso. Que lhe fosse oferecido um pretexto para o recuo. O que vem em seguida é o que importa.
O primeiro sinal já veio: Trump encomendou uma investigação comercial à USTR (o poderoso Escritório do Representante de Comércio dos EUA). Eles têm em mão a famigerada lista do Sistema Geral de Preferências e a “Special 301”, que oferecem benefícios tarifários para países em desenvolvimento, desde que respeitem a propriedade intelectual dos titulares norte americanos (patentes,marcas e direito autoral) Historicamente, é um dos principais instrumentos de chantagem usados pelos EUA. É por esse meio que virá a pressão, que sempre contou com grandes aliados na CNI, FIESP, CNA e assemelhados. O nacionalismo deles é de fachada. Não se importam com a nossa inserção submissa no comércio internacional desde que seus ganhos sejam preservados.
Que ninguém se surpreenda caso ressurjam com vigor as queixas sobre o “custo Brasil”. Talvez ele volte a ser usado para golpear as bandeiras de justiça tributária, direitos trabalhistas e do fim da escala 6 x1. Estas bandeiras poderão ser acusadas de causar dificuldades competitivas no novo contexto comercial criado por Trump. Uma pesquisa encomendada para fragilizar o “nós contra eles”, o “pobres contra ricos” já está sendo estampada nos jornalões.
Mas com o devido cuidado para que os que defendem a soberania nacional não capitalizem o episódio como uma vitória. E será bom tomar cuidado com o uso do ataque bizarro ao PIX. Talvez seja uma armadilha plantada com a intenção de reabrir um episódio recente que deixou feridas no governo. Os meios de pagamento das bigtechs (Google pay, Whatsapp pay) tomaram uma bela rasteira com o PIX e estão com sede de vingança. É bom ficar atento.
A luta de classes e antiimperialista é complexa. Mas não podemos nos desviar dela. Enfim, há uma janela de oportunidade aberta. Resta ter a sabedoria para tirar proveito dela em benefício do povo brasileiro.