
O Brasil, a maior república bananeira do mundo, cujas elites fazem de tudo para perpetuar essa condição, parece estar à beira de uma confrontação. Durante 13 anos as elites bananeiras aceitaram – meio que a contragosto – um governo com modesta inclinação para a justiça social. Porém elas logo se incomodaram e patrocinaram um golpe híbrido em forma de “impeachment” logo que viram uma oportunidade. Depois usaram o ‘lawfare‘ para impedir o retorno do governante anterior, mesmo às custas de abrir as portas do inferno para o político mais nauseabundo da história brasileira, em muito similar à descrição de Marx sobre Napoleão III : “um chefe do lumpemproletariado, porque é nele que identifica maciçamente os interesses que persegue pessoalmente, reconhecendo, nessa escória, nesse dejeto, nesse refugo de todas as classes, a única classe na qual pode se apoiar incondicionalmente”.
Parte da elite bananeira letrada, um tanto envergonhada pela criatura tosca e seus asseclas deploráveis que pariram, aceitaram mais uma vez a eleição de um governo de orientação social. Muito mais por falta de alternativas, é bom que se diga. Porém, não sem antes garantir de que este novo governo ficaria sitiado desde o primeiro momento, sem margem para manobras ousadas, com uma governabilidade extremamente frágil. Um governo que, por muito pouco, quase não começou. Após quatro anos alimentando serpentes de uma instituição de ideias anacrônicas – a caserna brasileira – faltou pouco para assistirmos a uma quartelada liderada por uma milicada delirante e perigosa.
A saída golpista só fracassou porque parte da elite bananeira ainda foi capaz de sentir vergonha. Não perante o público interno, claro. É um constrangimento que os incomoda diante das classes dominantes das metrópoles, nas quais tentam se espelhar. Acontece que, com o acelerado avanço do neofascismo pelo mundo, esse sentimento de vergonha está se esvaindo. Uma nova conjuntura internacional que se desenha favorece isso.
Ao que parece, a elite bananeira optou pelo confronto aberto contra qualquer força política que ouse desafiar a pornográfica desigualdade econômica e social que reina no Brasil. Caminham para, simbolicamente, revogar a Lei Áurea, já que não aceitam mais fazer concessões e exigem retrocessos. Acabou o tempo das conciliações, bonapartismos, golpes dissimulados e intentonas de neo-quarteladas. Agora trata-se de impedir de governar, sabotar, fazer sangrar e desgastar. Tudo para que qualquer alternativa de governo com uma mínima inclinação social chegue nas eleições do próximo ano sem grandes possibilidades de vitória. Não aceitam mais negociar com o maior negociador que o Brasil já teve, capaz de fazer grandes concessões em troca de poder implementar políticas compensatórias que diminuam o sofrimento da população mais vulnerável.
Portanto, caminhamos para um confronto. Uma análise do cenário atual aponta para uma vitória da elite bananeira nas eleições de 2026. A extrema direita deve ampliar a maioria na Câmara e conquistar o Senado, ponto de partida para subjugar o Poder Judiciário. Mesmo que não conquiste a presidência, isso já não importará tanto. Um Poder Executivo raquítico, será refém e poderá ser facilmente derrubado, tal como um castelo de cartas.
A sabotagem do governo já começou e não vai parar. O Congresso, retomando as pautas bomba, irá fazer o governo sangrar até as eleições, com o total apoio do jornalismo de guerra – os jornalões que são os diários oficiais da elite econômica. As redes sociais dominadas pelo neofascismo amplificarão os ataques, turbinando as fakenews com os recursos da inteligência artificial. Os pastores arautos do anticristo também intensificarão as suas pregações. Tudo com apoio simpático da internacional neofascista. A recente matéria da revista ” The Economist” é só uma primeira sinalização.
Sem saída, um governo de conciliação fica sem alternativas. Não há sequer espaço para a tal Realpolitik. Apesar de ter pautas de grande apelo popular, o governo não demonstra capacidade de mobilizar as ruas. Resta apenas recorrer ao Tik Tok para atacar a imagem da elite bananeira e de seus deputados-mercadoria (quando não são meros prepostos, são produtos facilmente compráveis na hora da xepa). Como reconheceu o pastor destilador de ódio (que deveria estar procurando uma rola), “grande parte da direita é prostituta e vagabunda, que se vende”, em um curioso sincericídio na Avenida Paulista recentemente.
Parece não haver outra opção senão o confronto. Há pautas que ajudam: a isenção de impostos para os mais pobres, a redução da jornada de trabalho, a reposição do salário mínimo e outros benefícios sociais. Temas que assustam as elites herdeiras dos escravocratas. A tal ponto que assistimos o maior telejornal do país, de propriedade de uma das mais bilionárias famílias do país, colocar no ar em horário nobre mais uma matéria infame, entre tantas que fez ao longo de sua história.
Nesse cenário, cabe resgatar a ideia do filósofo esloveno Zizek sobre a necessidade de recuperar Lênin, líder que tinha a inigualável habilidade de identificar e manobrar com a virtu e a fortuna. Quando não há mais condições de governabilidade, instaura-se uma crise revolucionária cuja saída só pode ser uma ruptura. Lênin percebeu isso em 1917 e, de uma posição extremamente minoritária, em poucos meses foi capaz de mobilizar o povo para sustentar uma insurreição. Não faltam bandeiras que poderão fazer o papel do “pão, terra e paz” para incitar um levante.
Em tese, poderíamos até sonhar com a hoje esquecida ideia de “revolução brasileira”. A má notícia é que, infelizmente, não temos um Lênin patropi. O confronto pode redundar numa acachapante derrota. Mas não há outra alternativa. Quando muito, talvez seja possível fazer com que eles sintam vergonha novamente. E aí, quem sabe, abram-se novas possibilidades de negociação. E assim mudar para que nada mude, cumprindo a eterna sina de república das bananas.
Post Scriptum
Pelas informações que chegam de Lisboa, onde a elite bananeira está reunida nestes dias, discute-se por lá que o confronto com uma pauta de grande apelo popular poderá ter um efeito contrário ao desejado para os fins eleitorais da elite bananeira. Lá estão reunidos o alto escalão do judiciário brasileiro (inclusive os “neo iluministas”), os principais expoentes do capitalismo industrial e financeiro do Brazil, além dos principais caciques dos interesses paroquiais e patrimonialistas do parlamento brasileiro. Todos imbuídos do firme propósito de perpetuar a república bananeira. Tudo indica que teremos mais um acordão à vista.