As reiteradas manifestações oficiais do governo dos EUA, diretamente endereçadas ao governo do Brasil, não deixam a menor sombra de dúvidas. Eles vão intervir em nosso país. Não com a quinta frota, mas com ações desestabilizadoras tramadas no submundo do ambiente digital. Uma versão 4.0 da “operação Brother Sam”.
Por enquanto, atacam o nosso Poder Judiciário e chantageiam as elites econômicas do nosso país com os tarifaços. Exigem que ambos, obedientemente, se ponham de joelhos.
E eles vão ceder logo, logo. São muitos interesses empresariais, bancários e pessoais em jogo, ao lado de uma clara e vergonhosa covardia. Veremos segmentos econômicos e altas autoridades da República jogando a toalha em breve, escudando-se nas mais esfarrapadas desculpas. Os editoriais de seus jornalões sutilmente já antecipam a rendição.
Dos nove juízes do STF supostamente independentes (dois não contam, pois são vassalos), um já demonstrou que nele “them trust”. Outro, “o iluminista”, já acusou o golpe e cogita a aposentadoria como uma saída que, supostamente, para ele seria honrosa. Entre os demais há aqueles que, em momentos críticos do passado recente, fraquejaram facilmente diante de pressões mais poderosas. Enfim, tudo indica que poucos resistirão. Xandão corre o risco de ser fritado pelos próprios colegas do tribunal.
Lá pelos idos de 1962, o então jovem cientista político Wanderley Guilherme dos Santos publicou um pequeno livro que deu o alerta para o golpe que estava a caminho e sugeriu caminhos para a resistência (Quem dará o golpe no Brasil ).
Passados mais de 60 anos, muita coisa ali escrita permanece atual. Há que se relativizar a retórica própria daquela época, algumas que hoje soam um tanto ingênuas. Porém, o método de análise deve ser resgatado. Os capítulos concebidos em forma de perguntas para as quais se apresentam possíveis respostas. Taí um exercício a ser feito no contexto atual, e urgentemente.
Há trechos que, mais de 60 anos depois, apresentam coincidências perturbadoras. Nesse momento, em que a soberania do nosso país é alvo de ataque, uma delas é fundamental:
“(…)o golpe, para ser vitorioso, tem como elementos essenciais o inesperado e a rapidez com que for executado, rapidez e surpresa que supõem, como condição necessária, a traição. Em todo golpe há sempre alguém que trai alguém ou alguma coisa, pois não há golpe sem traição (…)”
Não se trata aqui da traição da familícia e seus seguidores neofascistas. Esta é a perfídia óbvia e sabuja. O que vai pesar é a traição que virá dos pseudo-defensores da nossa soberania, daqueles que irão capitular de forma vergonhosa diante do agressor. Em breve veremos Ministros do STF, Governadores de Estados e parlamentares de diversos matizes se deslocando com os pés e as mãos no chão.
E não nos esqueçamos dos militares. Apesar do atual comandante do exército fazer com frequência juras de amor à legalidade e à ordem democrática, sabemos que este apego ao legalismo está longe de ser confiável. No frigir dos ovos sabemos que o exército não consegue ir contra a sua própria e histórica natureza golpista, que faz parte do DNA deles, forjado nas academias militares. Sabem recuar de uma batalha quando as condições no campo não lhes são favoráveis. Aí se mantém aquartelados de forma dissimulada, mas não hesitam em contra-atacar assim que vêm uma oportunidade. Pinochet era tido como legalista e declarou lealdade a Allende até a véspera do golpe.
O alto comando militar é uma clube de marechais Pétains em potencial. Estão prontos para servirem à República de Vichy Brazuca. Dispostos a ficar de joelhos ao furher Trump.
O golpe pode ser evitado? Sim, claro, sempre pode. Porém quando se sofre o bullying de uma valentão muito mais forte há que se ter serenidade. Não se deve cair no jogo de provocações. Por isso a mis-en-scene diplomática é importante, mesmo que não tenha resultados práticos. Demonstrar que tem amigos fortões, também vale. Vimos nos últimos dias conversas públicas com os primos fortes do BRICS. Não que eles virão em nosso socorro, não se deve ter ilusões quanto a isso. Mas é uma fatura que a agressor sabe que, de alguma forma, será cobrada no futuro.
Só quem pode derrotar um golpe patrocinado pelo agressor estrangeiro é a mobilização do povo da nação agredida. E a bandeira pela soberania nacional é um valor com grande potencial de mobilização. O sete de setembro está chegando e, ao que tudo indica, vamos deixar mais uma vez a data para a expressão do falso patriotismo fascista.
Não tem como deixar de dar razão ao filósofo que recentemente constatou a morte da esquerda. Tantas bandeiras mobilizadoras prontas para serem empunhadas e nada acontece. Ninguém pra gritar, em alto e bom som, que não somos o quintal deles. Que não queremos as bigtechs ganhando bilhões corrompendo nossas crianças e adolescentes, que não aceitamos que os agiotas internacionais da Visa e do Mastercard faturem bilhões em cima dos nossos suados ganhos. Que Brasil com “Z”, jamais!
Ainda há tempo para reagirmos. Seremos capazes?