Terminou a primeira batalha da guerra pela independência soberana do Brasil. Não sabemos como os historiadores do futuro irão denominar o embate que estamos vivendo nos próximos anos. O certo é que estamos em uma guerra para nos emancipar do quintal dos EUA. E que foi deflagrada por eles. Pelo visto, manter o domínio imperial sobre as nações da América Latina neste momento é uma questão “existencial” para os EUA (do ponto de vista geopolítico do conceito). A nossa adesão ao BRICS é inaceitável para eles.
O tigre, que para nós não é de papel, rugiu e mostrou suas garras. Porém fez um ataque menos agressivo do que o anunciado. Um recuo que se deu não por conta dos protestos brasileiros, mas pelas queixas domésticas de alguns setores econômicos nos EUA. Se não atendidas, seria um baita tiro no próprio pé.
De forma apressada, alguns estão comemorando com os já famosos memes TACO (Trump Always Chickens Out -Trump sempre amarela). Pelo que se diz, esse tipo de deboche irritaria profundamente o presidente norteamericano.
Os memes nos divertem, mas não se deve perder o foco. A guerra apenas começou. Vamos sorrir, porque o riso é uma forma de desafiar e ridicularizar opressores. Porém ainda não temos razões para comemorações efusivas. Até porque os recuos são parte da estratégia de negociação do diabo laranja, pois não se retorna ao ponto de partida e sim algumas casas à frente (o que já é um ganho pra ele).
A punição aos magistrados do STF é uma mensagem clara: vocês não podem nos desafiar, não podem nos vencer. Lembra a frase de uma série trash de ficção-científica: “– vocês serão assimilados, é inútil resistir”. Não há resposta diplomática para este tipo de agressão. Não reconhecem nossa soberania, nem do ponto de vista político, nem econômico e nem cultural.
Na verdade, não há nenhuma novidade nisso. Esse sempre foi o pensamento do establishment norte americano em relação a nós. Só que raramente foi demonstrado assim, de forma tão explícita e desavergonhada. O que mudou é que agora eles tem um presidente com transtorno narcísico grave, que faz questão de ostentar as ideias das quais se orgulha, a essência do movimento MAGA.
A familícia Bolzo e seus seguidores estão radiantes. Ignoram que servem apenas como uma bucha de canhão, um instrumento vulgar a serviço de outros interesses. São os idiotas úteis do momento. Não haverá declaração de amor ou de fidelidade canina que os livrem de serem descartados num futuro próximo, quando já tiverem servido ao papel que lhes foi reservado.
A imprensa, o governo, a classe política, todos apelam à negociação. Porém, numa guerra, não há negociação pelos canais convencionais. Só conversas com interlocutores intermediários. É o que vem acontecendo, com os grupos econômicos sediados nos EUA que se sentiram prejudicados. Pelo menos é isso o que a imprensa nos informa.
Relevante foi a reunião que ocorreu nessa semana em Brasília, na qual o vice-presidente recebeu representantes da Meta, Google, Amazon, Apple, Visa e Expedia, acompanhados de um enviado da Secretaria de Comércio dos Estados Unidos. Na agenda pública, apenas temas genéricos: segurança jurídica, inovação tecnológica e ambiente regulatório. Em outras palavras, Alckmin ouviu os pleitos (ou ameaças veladas) das empresas dos oligarcas que sustentam o projeto MAGA do Trump.
Não é dificil imaginar o que querem as bigtechs: mínima regulação e portas (e pernas) abertas para ganhos financeiros em nosso país.
Enfim, aguardemos a próxima batalha. E o ataque virá na forma de guerra híbrida, com CIA, NSA e bigtechs trabalhando juntas. Vão jogar bombas pesadas até a eleição de 2026. As questões comerciais serão meras escaramuças. A prioridade deles é eleger um capacho para presidir o nosso país. Não faltam candidatos.
Enfim, apesar da coragem política, o governo brasileiro tem poucas cartas na manga. E as bigtechs tem todas as nossas informações estratégicas na “nuvem” que elas controlam.
A sociedade pode ajudar. Se não temos alternativas no curto prazo para substituir nossas redes sociais, podemos ao menos boicotar as operadoras de cartões bancários deles. As mudanças trazidas pelo PIX eles terão de engolir. E outros boicotes a setores sensíveis podem ser considerados. A nossa elite neocolonial detesta o anti-americanismo e não vai alimentar essa forma de resistência. Nem os partidos do governo, reféns do teatro da “negociação profissional e diplomática”.
Enfim, é uma guerra muito difícil de vencermos. Mal comparando, vale lembrar que também não era fácil para os veitcongs. Há que se explorar as contradições e conflitos internos no território do inimigo. Porém, com criatividade e disposição para resistir, nada é impossível.