BROTHER SAM ENTRA NA GUERRA DAS BANANAS

Como era de se esperar, Trump saiu explicitamente em defesa do Bolzo. Não que ele  tenha grande apreço pelo ex-presidente. Trump sabe que ele não passa de um idiota sabujo, um vassalo imbecil. Porém ele também sabe que o Bolzo pode ser um ativo útil para ser usado em benefício dos interesses dos EUA, pois ele ainda tem significativa base eleitoral no Brasil. O presidente dos EUA  age como um jogador de pôquer. Blefa e dissimula, para tirar a atenção de seus reais movimentos e intenções.

Cabe destacar que o momento para essa manifestação bizarra do governo norte-americano foi claramente planejado: logo após a reunião da cúpula do BRICS realizada no Brasil. O BRICS, capitaneado pela China, é hoje a grande ameaça à supremacia norte-americana. Para alguns analistas, trata-se de uma guerra já perdida para o Tio Sam. Porém o gigante vai espernear até o fim, vai vender caro a sua derrota. O problema é que os países periféricos sofrerão as piores consequências. Nós entre eles.

O Panamá, coitado, já foi subjugado.

O blá-blá-blá non sense da cartinha do Trump é puro teatro. O recado é claro: se o Brasil não se submeter aos interesses dos EUA, será sabotado por todos os meios disponíveis: desde sanções comerciais e tarifárias abertas, até ações do submundo da guerra híbrida, com a CIA e a NSA atuando a todo vapor. Vejam só: quase toda infraestrutura digital do governo está nas mãos das bigtechs (Microsoft, Google, etc).  Elas têm acesso em suas “nuvens” a muita documentação estratégica produzida pelo governo.  Não faltará material para sabotagem. A espionagem norte-americana no governo Dilma, que deu a base para a lava-jato, vai parecer “fichinha”.

As bravatas do Trump visam negociar em posição de força para impor seus interesses. Ele já afirmou que deseja bases militares em pontos do nosso território que utilizaram na Segunda Guerra Mundial (Natal e Fernando de Noronha).  Na época, sem ter como resistir, Vargas negociou em troca o investimento na nossa indústria de base. Agora Trump se acha no direito de cobrar essa conta.

O fato é que, para os EUA, um país da dimensão do Brasil, com os recursos naturais que possui, pode se tornar um competidor perigoso caso se desenvolva de forma soberana. Passada a segunda guerra, a pressão dos EUA para manter o país asfixiado foi contínua. Cooptou a elite econômica e militar local com o terror da “guerra fria” e a suposta ameaça do comunismo.   A criação da Petrobrás e da Eletrobrás custou a vida de Vargas. A industrialização do país foi dificultada e mesmo Juscelino Kubitschek não teve vida fácil. Até a ditadura militar encontrou resistências. O tal “milagre econômico” se deu de forma submissa, com dependência de capital externo e sem transferência de tecnologia. Teve que negociar com a Alemanha o programa nuclear. Mais recentemente, a cooperação com a França para desenvolver a tecnologia de propulsão nuclear em submarinos sofreu pressões pesadas, como o próprio ex-presidente francês admitiu em sua biografia. Tivemos ainda um “misterioso” acidente no programa aeroespacial (inovadores foguetes com combustível sólido), com a morte dos principais cientistas (o recente assassinato de cientistas iranianos por Israel talvez tenha essa inspiração), seguido da entrega da base de Alcântara para os EUA pelo Bolzo.  E ainda houve a pressão para reverter a compra de caças suecos por causa da transferência de tecnologia. Isso entre muitos outros exemplos (a lava-jato é um capítulo à parte).

Enfim, os EUA sempre farão de tudo para impedir que o Brasil tenha um desenvolvimento soberano e se torne uma potência econômica e tecnológica. Para eles, somos o seu quintal, destinado a ocupar uma posição periférica e dependente. Um quintal que foi continuamente objeto de golpes e ações desestabilizadoras.

Os EUA, quando estimularam o desenvolvimento de algum país ou região, foi somente para afastá-los da influência soviética. O Plano Marshall foi o que permitiu o Estado de bem estar social na Europa. A reconstrução do Japão e a ascensão da Coréia do Sul seguiu o mesmo script. Com a queda da URSS, os EUA sentaram nos louros da vitória. Arrogantes, subestimaram a revolução silenciosa que estava sendo gestada na China.

A China está se desenvolvendo de forma muito interessante para os países parceiros: oferece fortes investimentos em infraestruturas nacionais que servem de rotas para o escoamento de seus produtos pelo mundo. Oferece ganhos mútuos. Dessa forma o BRICS se tornou uma imensa ameaça para o Tio Sam. E o Brasil é um dos elos mais fracos dessa aliança (ao lado da África do Sul). Por isso será alvo de ataques impiedosos.

O ano de 2026 será difícil. Teremos uma amostra do que virá já nesse segundo semestre, quando iremos testemunhar as ações desestabilizadoras nas eleições do Chile, Colômbia, Bolívia e Honduras, sob a batuta de Marc Rubio.

O governo brasileiro, preso à diplomacia de punhos de renda que caracteriza o Itamaraty, não irá além de declarações genéricas sobre soberania e autodeterminação e, talvez, acrescida de alguns arroubos retóricos do Presidente.

Só a sociedade organizada poderá oferecer alguma resistência. Está na hora de sacudir velhas bandeiras, retomar slogans – que alguns acham meio surrados – das velhas lutas anti-imperialistas. E não haverá anacronismo algum nisso. Será importante vincular a resistência às intervenções trumpianas com a pauta da luta de classes em nosso país, que hoje passa pelo fim da escala 6×1 e a exigência de justiça tributária. Se essa articulação for bem sucedida, fragilizando os quinta-colunas da elite política e econômica nacional, haverá chances de vitória.

Um fato a ser considerado com cuidado é a reação da elite brasileira (agronegócio, indústria, bancos) diante das ameaças trumpistas. A histórica submissão da dessa elite neocolonial, por pura opção de classe, está abalada ao vislumbrar graves riscos para os seus lucros. Os seus jornalões estão publicando editoriais e matérias que parecem manifestos de uma revolução burguesa.  Que ninguém se iluda que a suposta burguesia nacional irá despertar para a necessidade de que tenham um projeto de país inclusivo. Fica o alerta. A elite econômica brasileira não é vítima. Ela pariu o Bolzo. E está preparando um substituto similar, que apenas saiba se portar à mesa. É bom nunca esquecer disso.

Para nos inspirar, podemos relembrar versos do hino original dos Sandinistas: 

Los hijos de Sandino

ni se venden ni se rinden

luchamos contra el yankee

enemigo de la humanidad.

Deixe um comentário