Nas repúblicas bananeiras, golpista é todo oficial militar pego em flagrante.

Que Nélson Rodrigues nos perdoe. Mas a paráfrase de uma das brilhantes citações dele foi irresistível (ele disse “Tarado é todo sujeito normal pego em flagrante”).

É uma verdade que deve ser dita, depois que o garoto de recados da caserna veio a público falar o que pensam seus comandantes. Diante da escandalosa mancha de batom na cueca, parece que os generais optaram por sacrificar alguns de seus “irmãos por escolha”. Disse que interessa às FFAA que a culpa seja colocada no “CPF”, não no “CNPJ”, que a pecha de golpismo não pode manchar a instituição e os que estão na ativa. Em outras palavras: dado o tamanho do flagrante, aceitarão que alguns dos seus sejam punidos.

(Obs. “Irmãos por escolha” é como se tratam os futuros oficiais formados na AMAN. Para criar um laço de camaradagem, um compromisso de nunca abandonar um dos seus.)

A verdade é que, se o Comando Militar do Sul tivesse dado o sinal verde, quase todos teriam embarcado nesse barco, ajudando nas “manobras para guiar o barco em direção ao porto seguro que queremos” (segundo as palavras públicas do almirante golpista). Só que entrou água no barco e agora é a hora do salve-se quem puder.

Infelizmente, parece que estamos diante de mais uma oportunidade que será perdida, a chance de darmos um importante passo no sentido de romper com a sina de sermos uma eterna república bananeira. Além de punições exemplares para os golpistas, era o momento de reformular a formação dos militares. As academias são hoje centro de formação dos golpistas do amanhã, reféns do ideário de submissão ao “irmão do norte”. Abandonaram de vez a ideia de uma nação soberana em sentido lato. Alguns militares de 1964, mesmo com todo o golpismo, tinham alguma noção da grandeza do Brasil. Atualmente, estão rendidos ao mais simplório neoliberalismo periférico. O tal plano “Brasil 2035” é reflexo dessa visão medíocre que domina a caserna.

Mas o abandono dos “irmãos por escolha” não é total. Um ex-capitão da missão no Haiti e atual governador de São Paulo saiu em defesa dos seus. Disse que o indiciamento do seu mito carece de provas e que ele sempre respeitou o processo democrático. Em outras palavras, disse o que já sabemos: “– Ainda somos os mesmos e golpearemos como os nossos pares”(perdão, Belchior!).

Historicamente, no Brasil, o apreço à democracia não existe na caserna. Sobrevive apenas como figura de retórica. Nosso destino bananeiro é fruto de décadas de passadas de pano, conciliação e impunidade. Se agora os golpistas estão na defensiva, mais à frente não hesitarão em atacar novamente o Estado Democrático, se tiverem essa chance.

Após três dias de sabermos do covarde plano de assassinatos, um dos maiores escândalos da nossa história, ouvimos das principais autoridades da república condenações tímidas, dúbias e vacilantes. Os jornalões, com um prato cheio para praticar o jornalismo investigativo, reduzem de forma sutil e progressiva o espaço destinado ao crime. O PGR diz que, diante de tanto informação nova, só vai se manifestar no ano que vem…Talvez queira saber a opinião de Trump e Elon Musk sobre o assunto.

É difícil, muito difícil, ser otimista numa república bananeira.

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