República Bananeira de Gilead-Brasil

Vai se desenhando um futuro sombrio para a maior república das bananas do planeta. O resultado das eleições municipais, conforme se previa, foi péssimo para a democracia, ainda que menos pior do que o esperado. Mas não altera o rumo das coisas. Um batalhão de líderes religiosos fundamentalistas e de militares de todas as forças conquistaram mandatos em todo o país. O crime organizado também avançou. Depois das milícias, o tráfico também entrou no jogo político e elegeu candidatos. E tivemos ainda a novidade dos influencers de reputação pra lá de duvidosa.
O neofascismo, mesmo ficando aquém de suas próprias expectativas, consolidou um espaço relevante no jogo político, enquanto se prepara para conquistar o Senado em 2026. Como serão eleitos dois senadores por unidade da federação, tudo indica que colherão frutos expressivos. Ao lado do patrimonialismo do Centrão, poderão ferir de morte a democracia brasileira. E liquidar com o único poder que lhes coloca freios : o STF.
A maior surpresa desta eleição foi a votação de um coach criminoso, completamente inescrupuloso e amoral, alcançando quase 1/3 dos votos na maior cidade do país. Se ele permanecer impune, em 2026 teremos muitos outros iguais a ele em todos os estados brasileiros. Não bastará tirar os direitos políticos dele por 8 anos. Ele tem que ser preso e permanecer na cadeia por um bom tempo. Vamos ver se o Xandão banca mais essa, já que a grande imprensa, porta voz da Faria Lima,  normaliza esse tipo de criminoso. São funcionais para eles.
Seja como for, a governabilidade do Poder Executivo vai encontrar muitos mais obstáculos nos próximos dois anos.
Como se toda essa lama não fosse suficiente, temos um cenário externo pra lá de preocupante.  A eleição do Trump irá piorar em muito as coisas para a nossa bananolândia. Mesmo sabendo que os democratas também não nos darão uma vida fácil.

Porém o que aparece de mais grave é o risco de um conflito global. Nove entre cada dez analistas de relações internacionais afirmam sem pestanejar: a deflagração de um novo conflito de abrangência mundial é quase certa nos próximos anos. Para alguns, a guerra até já começou, apenas não passou para um cenário de guerra aberta entre as potências mundiais. De um lado, os que se consideram os donos do mundo, os EUA e a Europa Ocidental submissa à OTAN. Do outro, China e Rússia.
A guerra já estaria em seus primeiros movimentos na Ucrânia e no Oriente Médio. Se alguma das partes cruzar uma linha vermelha, o caos será instalado. Se as escaramuças entre Israel e Irã fugirem ao controle, poderemos ter uma nova crise do petróleo que arrastará todo o ocidente para uma crise econômica sem precedentes. Bom lembrar que essas crises sempre funcionam como alimento para o fascismo.
Se mísseis de longo alcance fornecidos pelo ocidente atingirem a Rússia causando estragos, será o fim da estratégia de “guerra de atrito” e a Ucrânia poderá ser arrasada.
Enfim, o mundo caminha no fio de uma navalha.
Nesse cenário, surge a maior preocupação: o uso de armas nucleares. Não sabemos qual será o alcance e a intensidade do uso destas armas. Poucos duvidam que elas serão usadas em algum momento. Resta saber até que ponto irá a estupidez dos meios militares e belicistas. O fato é que a humanidade poderá retroceder décadas, séculos, ou mesmo se extinguir. O número de mortos poderá chegar à casa das centenas de milhões ou mesmo bilhões.
Diante de um conflito mundial, os países periféricos serão chamados a um alinhamento. Nossa república bananeira terá que escolher o seu lado. Ou melhor, não terá escolha. Tio Sam não admitirá dissensos no que considera como o seu quintal, a América do Sul e Central. Aos governos dessa parte do mundo só restará barganhar de forma pragmática a sua posição. Uma adesão à “nova rota da seda” será torpedeada, seja pelos meios políticos seja “a la nordstream“.
Na segunda grande guerra, Getúlio Vargas, com habilidade, negociou indústrias de base em troca do abandono de uma posição de neutralidade. Foi o que tornou possível a nossa industrialização.
A ainda indefinida eleição norte-americana pouco irá alterar esse horizonte. Se Trump vencer, certamente vai bancar o retorno do neofascismo ao poder, o que significará um caminho livre para a destruição da civilidade na vida social brasileira. Se vencerem os democratas, talvez seja menos pior, mas não muito. Porque poderá haver, quem sabe, uma solução negociada para a redução de danos.  O preço, no entanto, será alto: abdicar de qualquer possibilidade de desenvolvimento soberano.
Nossos militares já abriram mão da soberania política há tempos (refletem, apenas sobre a territorial, e mal). Já deixaram isso claro isso numa das mais patéticas publicações já patrocinadas pela caserna: o Plano Brasil 2035.
Para nossos militares bananeiros bastam os privilégios corporativos para a alta oficialidade e acesso a  armamentos modernos, sem transferência de tecnologia, para brincarem em seus exercícios militares. A inquestionável submissão ao Comando Sul dos EUA é de uma viralatice vergonhosa. E o minúsculo “ministro da defesa” reclama da suspensão da compra de equipamentos militares de Israel, por ser uma decisão “ideológica”.
Resta torcer para que, num futuro breve, surjam outras lideranças políticas com alguma habilidade para lidar com esse cenário difícil que se avizinha. Mas não há evidências que nos permitam ser otimistas. Os próximos dois anos serão decisivos, para o Brasil e para o mundo.